sexta-feira, fevereiro 10, 2012

A volta do Carnaval de dinheiro - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 10/02/12

Festa deriva da calma na Europa, dinheiro barato no mundo rico e da volta do ânimo de investir no país


A BOLSA de São Paulo não ia tão bem faz nove meses, desde antes da última erupção da crise greco-europeia -entrou capital de fora como nunca antes num janeiro. O capital externo flui numa torrente grossa ainda por outros canais pelo menos desde que o governo "testou" o mercado lá fora e tomou empréstimos baratinhos.

Os diretores do Banco Central dizem quase todas as semanas que a taxa de juros (Selic) irá a um dígito (está em 10,5% ao ano). A taxa real de juros no mercado voltou a baixar dos 4% (em julho do ano passado estava em 7%, logo antes de começar a despencar, antecipando os cortes de juros do BC).

Parece que sobra dinheiro. Na verdade, está sobrando mesmo.

Em dezembro, o Banco Central Europeu emprestou aos bancos da eurozona quase meio trilhão de euros a juros café com leite (1%).

O presente do BCE estancou a sangria da crise que ameaçava levar bancos à lona, o que não apenas reduziu o medo paralisante na finança como irrigou o mundo com mais capital. No dia 29 próximo o BCE vai perguntar de novo "quem quer dinheiro", aceitando quase qualquer coisa como garantia.

O Fed, o BC dos EUA, insinuou que pode jogar mais moeda na praça, pois não está satisfeito com a de fato mui medíocre despiora da economia deles. Parte do mercado já conta com a terceira leva de "impressão" trilionária de dinheiro, iniciada na crise de 2008. O Banco da Inglaterra, o BC deles, vai continuar nessa mesma toada.

Não é de espantar, pois, que o preço dos ativos de risco venha decolado, ainda mais com a calmaria na Europa (note-se que, nas calmarias, os barcos não afundam, mas também não navegam adiante).

No Brasil, a turma está especialmente animada, com exceção de parte da indústria, que vai padecer com o real forte, dada a enxurrada de recursos estrangeiros.

Mas note-se que voltou a ferver o negócio (ou conversas de negócio) de fusões, aquisições, lançamento de ações e similares (vide o enorme caso Itaú-Redecard).

A privatização dos aeroportos foi um sucesso, pelo menos, até agora, no papel e nos preços exorbitantes tanto das propostas vencedoras como das derrotadas.

É importante frisar o "das derrotadas", pois se trata de indício de que há muito personagem à procura de um autor -de dinheiro à procura de investimento.

As empresas grandes parecem mais animadas a investir mais neste 2012. Depois de um ano e pouco de atrasos, a Petrobras, a investidora-líder do país, vai colocar capital para trabalhar e vai licitar contratos bilionários de equipamentos.

Herança maldita ou não, o gasto com as pirâmides da Copa (estádios) vai andar mais rápido.

O investimento do governo vai crescer um pouquinho, ao menos no setor de transporte, ainda mais paralisado que de costume devido à descoberta de badernas (queda de ministro etc.), e no setor de construção de casas populares. Meio esquecido, o investimento em energia elétrica (geração e transmissão) está indo bem e crescendo.

Não falta massa bruta para fazer a economia rodar, ainda que em ritmo e com qualidade não muito brilhantes. Mas falta luz, gente qualificada, modos mais eficientes de fazer as coisas.

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