segunda-feira, fevereiro 20, 2012

Risco assumido - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 20/02/12

Nas últimas semanas, o Banco Central tem sinalizado de forma enfática -por meio de declarações e textos de diretores- que considera bem-sucedida a estratégia inovadora adotada a partir de fins de 2010 para conter a inflação.

A inovação foi recorrer a outras ferramentas, além dos tradicionais aumentos da taxa de juros básica, para moderar a ampliação do crédito e, assim, da demanda por produtos e dos aumentos de preços.

Os novos instrumentos incluem mudanças nas regras para depósitos compulsórios -que obrigam os bancos a deixar mais recursos nos cofres do BC- e medidas ditas "macroprudenciais". As últimas têm por alvo preservar a estabilidade do sistema financeiro; limitam os riscos assumidos pelas instituições financeiras, ao obrigá-las a aumentar provisões para precaver-se de eventual inadimplência nos empréstimos concedidos.

O BC menciona como vantagem da estratégia a celeridade com que as medidas não tradicionais afetaram a demanda. Aumentos da taxa básica de juros, o recurso convencional, demandariam mais tempo.

Outra vantagem é que as ferramentas menos convencionais não estimulam entradas de capital estrangeiro. Já aumentos da taxa de juros tornam aplicações em reais ainda mais atraentes e, portanto, reforçam o fluxo de capital estrangeiro e a valorização do real.

A situação em que o BC experimentou a nova estratégia é muito distinta da atual. A inflação, então ascendente, ora reflui, ainda que lentamente, e a economia já se desacelerou muito. A taxa básica Selic vem sendo cortada, e é geral a expectativa de que o BC prossiga nos cortes por mais algum tempo.

Ao lado disso, os bancos centrais dos EUA e da Europa anunciam que injetarão nos mercados uma montanha de recursos, que pode superar US$ 4 trilhões. Uma Selic mais baixa poderia amortecer o efeito desse tsunami de liquidez internacional, impedindo um derretimento do dólar no Brasil.

Há indícios de que se avizinha um segundo experimento combinando medidas menos ortodoxas para esfriar o crédito e contrabalançar reduções mais agressivas na taxa de juros. É crucial, porém, que o redesenho da política monetária não traga de contrabando uma indesejável leniência com a inflação.

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