domingo, fevereiro 19, 2012

Os homens se fantasiam com patacões - ELIO GASPARI


O GLOBO - 19/02/12

Os homens gostam de se divertir à custa da vaidade das mulheres e de seus balangandãs, mas são eles quem sustentam boa parte de um dos ramos mais lucrativos da indústria do luxo, o dos relógios de pulso extravagantes. Depois de um tempo em que prevaleceram relógios baratos, como os Swatch, ou mesmo caros, porém, discretos, como os Piaget, deu-se uma epidemia de patacões. Marmanjos que jamais fizeram um exercício físico ostentam cronômetros de mergulhadores. O mercado de relógios de luxo chegou a US$ 19 bilhões no ano passado (incluindo os femininos) e o filé mignon está na China, com o Brasil em posição emergente. Um patacão que se preza custa em torno de US$ 5 mil. Um blogueiro chinês caçou os relógios dos hierarcas do Império do Meio e achou uma coleção que vale US$ 62 mil enfeitando o ministro dos Transportes, ex-chefe da Receita. O que aconteceu com o blogueiro, não se sabe, mas o seu site saiu do ar.

Depois que o comissário José Dirceu ganhou um Rolex estimado em R$ 15 mil e verificou-se que era falso, é impossível avaliar quanto os brasileiros notáveis levam nos pulsos. Os maiores patacões do Executivo estão com os ministros José Eduardo Cardozo e Aloizio Mercadante (pelo menos dois). No Congresso, o senador Aécio Neves lidera a bancada com dois, um dos quais é o maior do país. O presidente da Câmara, Marco Maia, já mostrou três. No Judiciário, o campeão é o ministro Luiz Fux, cujo patacão é quase do tamanho do nó de sua gravata. No bloco das mulheres predomina a discrição. A doutora Dilma já usou um, branco, com jeito de Chanel, mas ele sumiu.

O pavão mundial é o ex-presidente Bill Clinton. Enquanto esteve na Presidência, usava um Timex de US$ 50. Depois dela, tornou-se colecionador e tem um Jaeger-LeCoultre que chega a custar US$ 7 mil. Nicolas Sarkozy coleciona um Breitling (marca preferida de Fernando Collor), um Cartier e um Patek Phillippe. Vladimir Putin tem um bom estoque e já presenteou um operário com o Blancpain de US$ 10 mil que tinha no pulso. O companheiro Obama usou o mesmo Tag Heuer durante 15 anos. Na Casa Branca, ganhou um modelo presenteado pelo Serviço Secreto.

O mais curioso nessa moda é que ela surge numa época em que cada vez mais gente vê as horas no celular.

Trapalhões

O companheiro Obama não fez o governo que prometeu, mas os deuses deram-lhe adversários que são o sonho de qualquer político. Os republicanos Mitt Romney e Rick Santorum fazem campanhas nacionalistas, do tipo "compre produtos americanos".

Em 2008, Santorum tinha um Audi (alemão). O caso de Romney é pior. Ele apareceu numa peça publicitária destinada aos eleitores do Michigan (o Estado onde ficam as ruínas industriais de Detroit) dirigindo um Chrysler 300 montado no Canadá.

O poderoso diretor

No seu balanço do último trimestre de 2011, a Petrobras embaralhou os valores de quatro cifras. Numa das trocas, R$ 95,484 milhões viraram R$ 25,2 milhões. Ocorreram erros de digitação, tornando absurdas as informações. Coisas da vida, pois só encalha quem navega.

Na hora de explicar, o diretor financeiro da empresa, Almir Foster, na primeira entrevista que concedeu durante a gestão da nova presidente, Graça Barbassa, exercitou a sabedoria dos burocratas infalíveis: "Não foi trapalhada alguma, trocou-se uma linha pela outra".

Fica combinado que trocar o sobrenome doutor Almir Barbassa pelo de Graça Foster não é uma trapalhada.

Os cirurgiões plásticos acordaram

Foi-se o tempo em que o Conselho Federal de Medicina se opunha à exigência de uma simples comunicação formal, pelos médicos, dos riscos a que estavam submetidas as mulheres que fazem implantes mamários. Depois da ruína provocada pela vigarice do silicone PIP, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica está criando mecanismos que protegerão as pacientes e os médicos.

Ela instituiu um Cadastro Nacional de Implantes Mamários e combinou com a Anvisa a criação de um sistema mais eficiente para a notificação de problemas surgidos depois das cirurgias. De abril de 2010, quando os implantes de PIP foram proibidos, até o final do ano passado, nenhum médico notificou à Anvisa casos de rompimento de implantes. (É verdade que o portal da Agência é paleolítico.)

A SBCP promete que nos próximos meses colocará no seu portal um modelo de documento no qual a paciente informará que tomou conhecimento dos riscos da cirurgia. Mais: a SBCP redigirá uma cartilha, na qual detalhará os riscos do implante e pedirá aos médicos que recomendem sua leitura, com um carimbo no verso do receituário.

Se o médico oferecer um texto de consentimento com menos detalhes que o da SBCP, cuidado. Se ele também não se referir à cartilha, é melhor mudar de médico.

Mestre Tourinho

O desembargador Tourinho Neto, membro do Conselho Nacional de Justiça acha que os juízes estão sendo encurralados pela exibição da contabilidade de alguns tribunais: "O juiz desonesto deve ser punido, mas não é assim que a imprensa está fazendo. Precisamos de associações para lutarmos contra essa imprensa marrom".

Numa trapaça do destino, na mesma sessão, por 12 a 2, o Conselho aposentou compulsoriamente o desembargador Roberto Wider, do Tribunal de Justiça do Rio. Em 2009, os repórteres Chico Otavio e Cássio Bruno informaram que o doutor facilitava a vida de amigos em nomeações para cartórios e litígios imobiliários. No ano seguinte, Tourinho Neto relatou o processo de Wider e defendeu sua absolvição.

Sem imprensa e sem o CNJ, nada disso teria acontecido.

Eremildo, o idiota

Eremildo é um idiota e pede que se registre a infinita confiança que deposita no desempenho do deputado Aguinaldo Ribeiro, novo ministro das Cidades.

O idiota pede esse registro porque soube que o doutor destina R$ 1.500,00 mensais do dinheiro da Viúva para subsidiar sites que falam bem de sua augusta pessoa. Espera que o doutor corresponda à confiança que deposita nele, botando um capilé na conta da Estação Primeira de Mangueira.

Madame Natasha

Madame Natasha zela pela harmonia do idioma e concedeu mais uma de suas bolsas de estudo ao economista Samuel Pessoa pela seguinte evolução:

"Todos os complexos modelos ''dinâmicos e estocásticos de equilíbrio geral'' que os bancos centrais utilizam para auxiliar na formulação da política monetária empregam o princípio da demanda efetiva. Assim, estou ciente que a causalidade é da poupança para o investimento."

Madame desconfia que ele quis dizer o seguinte: "Todas as estimativas têm margem de erro. Entendo que a poupança determina o investimento possível".

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