domingo, fevereiro 12, 2012

General do povo, não - ELIO GASPARI


O GLOBO - 12/02/12

A cena de confraternização do general Gonçalves Dias, comandante da 6 Região Militar, com os PMs amotinados de Salvador foi constrangedora e impertinente.

Constrangedora porque o general foi aos amotinados, recebeu um bolo de aniversário e abraçou um deles. Esqueceu-se de que estava no comando de uma operação militar. Desde o início do motim, mais de 135 pessoas foram assassinadas em Salvador. A Assembleia Legislativa fora ocupada. Lojas e casas foram saqueadas. O prejuízo do comércio vai a centenas de milhões de reais, e os rebelados cantavam "Ôôô, o Carnaval acabou".

O general foi impertinente ao dizer o seguinte: "Peço aos senhores: se as pautas que estão sendo discutidas pelos políticos não forem atendidas, vamos voltar a uma negociação. Não poderá haver confronto entre os militares. Eu estarei aqui, bem no meio dos senhores, sem colete".

A primeira impertinência esteve na afirmação de que "as pautas estão sendo discutidas pelo políticos". A negociação estava na alçada dos poderes constituídos, aos quais as Forças Armadas estão subordinadas. A segunda impertinência estava na afirmação de que "não poderá haver confronto entre os militares". Os PMs amotinados não estavam ali como militares, mas como desordeiros, cabeças de ponte de um motim articulado que se estendeu ao Rio de Janeiro. A ideia de que a negociação estava nas mãos dos "políticos" e de que "não poderá haver confronto entre os militares" é subversiva e caquética.

A tropa do Exército é mobilizada para exercer um efeito dissuasório. O discurso do general e a cena do bolo transformaram o poderio militar em alegoria carnavalesca. Se "não poderia haver confronto", com que autoridade um coronel ordenaria a um capitão que respondesse a uma agressão? (No dia seguinte, no peito, cerca de 50 pessoas furaram o cerco da tropa e juntaram-se ao motim. Na quinta-feira, no Rio, a Polícia baixou o pau nos trabalhadores vitimados pela SuperVia.)

No século passado havia os "generais da UDN", e a eles contrapuseram-se os "generais do povo". Deu no que deu. O tenente que em 1964 comandava os tanques que guarneciam o Palácio Laranjeiras tornou-se um dos "doutores" da Casa da Morte, onde se assassinavam presos políticos. Em 1981, estava no carro que jogou a bomba na casa de força do Riocentro. Outra explodiu antes da hora, matou um sargento e estripou um capitão.

Justiça surda

A elite da magistratura nacional não entendeu o tamanho do fosso que cavou, afastando-a da patuleia que lhe paga os vencimentos.

Os desembargadores paulistas não viam nada de estranho em 2010, quando passavam pela Porsche Cayenne do então presidente da Corte, Antonio Carlos Viana Santos. A festa dos pagamentos especiais ocorreu em sua gestão, e o TJ ainda não conseguiu lidar com esse encosto.

Os vencimentos de Viana Santos somavam R$ 30 mil mensais. O carro valia R$ 300 mil. Ele morreu em janeiro de 2011, deixando também um apartamento avaliado em R$ 1,4 milhão.

Sua viúva é advogada, e o Ministério Público investiga-a por tráfico de influência. A morte de Viana Santos, que era diabético e teve um enfarte, está sendo investigada pela Delegacia de Homicídios.

O juiz Louis Brandeis ensinou: a luz do Sol é o melhor desinfetante.

Pesos-pesados

Chegará ao Brasil no fim do mês uma comitiva de 18 financistas, empresários e acadêmicos do Council of Foreign Relations, a mais renomada casa de debates de política externa dos Estados Unidos. Nela virá o presidente da instituição, Richard Haass, ex-diretor de Planejamento Político do Departamento de Estado.

Cinco e-mails para Dilma.Rousseff@gov

De Barack.Obama@gov:

"Onde está o general Stanley McChrystal? A senhora não sabe. Se eu não o tivesse mandado embora em 2010, depois de dizer bobagens, minha Presidência estaria na lata do lixo. (Ele é um dos diretores da Jet-Blue.)".

De João.Figueiredo@com:

"Se eu tivesse demitido o comandante do I Exército depois da explosão da bomba do Riocentro, não teria deixado o Palácio do Planalto pela porta lateral".

De Ernesto.Geisel@edu:

"Se eu não tivesse demitido o ministro Silvio Frota em outubro de 1977, a senhora teria voltado para a ''Torre das Donzelas''. Ele estava de olho na sua vida, e o SNI dizia que a senhora articulava uma tal de Junta de Coordenação Revolucionária, uma invenção do Pinochet".

De Castello.Branco@edu:

"Em 1965, quando o general Costa e Silva fez um discurso impertinente em Itapeva, eu deveria demiti-lo. O Costa emparedou-me e forçou sua indicação para a Presidência".

De João.Goulart@com:

"O general Castello Branco disse-me que, se eu tivesse prendido os marinheiros rebelados no início de março de 1964, não teria sido deposto. Ele não teria entrado na conspiração que acabou transformando-o em meu sucessor".

Mimi e Kennedy

Há 50 anos, Marion "Mimi" Beardsley tinha 19 anos, quando começou seu estágio na assessoria de imprensa da Casa Branca. Ela mal saíra do colégio onde estudara Jacqueline Kennedy. Quatro dias depois, estava na cama dela, com John Kennedy, o primeiro homem de sua vida. Naquela época chamava-se isso de romance. Hoje chama-se assédio e, no caso, uma modalidade de escravidão sexual.

Mimi guardou silêncio para o público por 41 anos e só admitiu a relação em 2003, numa nota seca de 80 palavras. Ela acaba de publicar "Once Upon a Aecret" ("Era uma Vez um Segredo -Meu caso com o presidente John Kennedy"), com o e-book a US$ 12,99. Avó, produziu a melhor e mais reveladora memória da alcova de JFK. As narrativas existentes são banais. A dela coloca-o na galeria dos potentados latino-americanos ou africanos. À beira da piscina da Casa Branca, Kennedy mandou que ela fizesse sexo oral com o assessor que administrava os encontros.

A moça foi levada primeiro para um banho de piscina para ser avaliada. Sua função era esperar. Esperava nos aposentos da Casa Branca, durante a crise dos mísseis de Cuba; na Jamaica, onde Kennedy reunia-se com o primeiro-ministro inglês; ou na casa do cantor Bing Crosby. Nunca se beijaram, e ela nunca deixou de chamá-lo de "senhor presidente".

Seu livro é uma elegante e madura narrativa, ilustrativa do respeito que as mulheres conquistaram nos últimos 50 anos. Metade tem a ver com a cama de Kennedy. A outra parte conta quatro incríveis décadas de piração de uma garota que só se achou aos 60 anos.

Casa da Moeda

O ministro Guido Mantega informa que coube ao PTB nomear o diretor da Casa da Moeda e ainda quer que a choldra perca tempo ouvindo suas explicações.

Erro

Estava errada a informação aqui publicada, segundo a qual um turista carioca pagou uma diária de R$ 10 mil num hotel do Nordeste. Ele pagou essa quantia por cinco noites.

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