quarta-feira, janeiro 11, 2012

PIB do puxadinho - CELSO MING


O Estado de S.Paulo - 11/01/12


Afinal, quanto dá para a economia brasileira crescer? Mais do que um projeto firme, o governo Dilma fez uma aposta de que faria o PIB avançar uns 5,0%. A crise global, a puxada inflacionária e a esticada do déficit em Conta Corrente (fluxo de pagamentos com o exterior) estão obrigando os administradores da política econômica a segurar as rédeas com maior força. O Banco Central, por exemplo, avisou que já não conta com um avanço do PIB maior do que 3,5%.

Quando o brasileiro imagina que se livrou da sina do voo de galinha e que pode, afinal, aproveitar o crescimento sustentado acima de 5,0% ao ano, vêm as forças de sempre e empurram a elevação do PIB para perto do chão. É a volta do limitador que os economistas chamam de "crescimento potencial", ou seja, o teto possível de sustentar sem riscos de inflação.

Há alguns meses, o economista Edmar Bacha, um dos pais do Plano Real, vem advertindo que, nas atuais condições, não dá para esperar demais: "Nossa economia não consegue crescer mais do que 4% ao ano". Para Bacha, os grandes entraves ao potencial de crescimento da economia brasileira são o baixo nível de poupança (de aproximadamente 17% do PIB), o ritmo lento da incorporação da tecnologia e a precariedade do grau de educação da população.

O problema de fundo é a pouca competitividade dos produtos brasileiros em relação aos do exterior, em consequência do altíssimo custo Brasil. São a carga tributária excessiva; o desproporcionalmente alto custo do crédito; o encarecimento da mão de obra; o enorme preço da energia elétrica; a precariedade da infraestrutura em estradas, portos, comunicações, armazenagem; etc.

É necessário mais investimento e mais gerenciamento. Os enormes problemas denunciados pelos jornais mostram que os projetos do governo federal estão atrasados ou em franca deterioração (caso das obras de transposição do Rio São Francisco). E não há o que tire as reformas da gaveta (a política, a do sistema trabalhista, a do regime tributário e a da Previdência Social).

Há dois dias, Yoshiaki Nakano, economista da Fundação Getúlio Vargas, examinou o problema por outro ângulo. Ele entende que a atividade econômica nacional poderia crescer pelo menos 6% ao ano - desde que fosse melhorada a gestão da política econômica. Para isso, a disciplina das contas públicas teria de inverter o atual rombo de 2% do PIB para um superávit nominal (inclusive despesas com juros) de até 8% do PIB. Além de expandir a poupança, essa decisão permitiria a derrubada dos juros a padrões internacionais.

Como falta coragem para adotar esse caminho, o governo Dilma se entrega, então, ao manjado estratagema dos puxadinhos: dá um tapa no IPI da indústria automobilística; finge que protege a indústria têxtil; continua garantindo o cala-boca dos dirigentes com financiamentos subsidiados do BNDES; lá pelas tantas, muda uma regra que provoca a alta do dólar no câmbio interno... É a receita do crescimento econômico medíocre.

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