domingo, janeiro 08, 2012

Compasso de espera - UGO GIORGETTI


O Estado de S.Paulo - 08/01/12


Os clubes olham uns para os outros vendo o que acontece. Isto é, quem contrata quem. Quem se saiu bem no ano passado sai com vantagem. Pode parar, refletir, e ver o que vai fazer. Quem se saiu mal tem de mostrar serviço. Quem se saiu muito mal se desespera e contrata quem pode, sem medir muito bem as consequências. A derrota horrorosa do Santos para o Barcelona curiosamente veio facilitar um pouco a vida dos demais clubes.

Somos todos mais ou menos iguais na nossa mediocridade. Um ou outro nome, de resto já conhecidos, são disputados arduamente. Como hoje em dia ninguém mais respeita contrato algum, todos também estão em perigo de perder alguém. Ter um jogador não significa exatamente poder contar com ele. À primeira proposta, incitado e aconselhado por patrocinadores e agentes, ele pode exigir ser negociado. A razão é sempre a mesma: dinheiro. A chamada independência financeira. Gostaria de saber quanto, na verdade, fica para o jogador no fim de todas as operações. Quanto ele recebe, deduzidas as quantias de todos os envolvidos que nessas transações é impossível calcular exatamente. Não é a independência financeira mero sonho no fim das contas?

Mas é assim que se move o futebol atualmente. Principalmente em certos clubes desesperados, acostumados a mal negociar, as coisas não se pronunciam muito boas. Acho que nessa altura ficou muito mais importante na hora de negociar observar a máxima "primeiro o homem, depois o jogador". Um jogador é formado principalmente de caráter. Inclusive no campo, na relação, com adversários e colegas. Todos os grandes times e seleções sempre se basearam nesses jogadores. Atualmente estão mais raros, é verdade. A tentação do dinheiro, a entrada de outras fontes de renda no futebol são quase irresistíveis. Mas existem, como na sociedade em geral.

Os dirigentes é que não se importam nas escolhas. Preferem, volto a dizer, principalmente nos clubes inferiorizados, em descrédito e em decadência, acreditar em milagres, em soluções que dependem do sobrenatural. Os efeitos vão se sentir depois, com jogadores encostados ganhando fortunas, quantias absurdas ainda que estivem jogando, imagine-se ganhá-las sem fazer nada. A culpa é do jogador? Nunca. A culpa é de quem contratou sem levar em conta uma série de indícios, informações que todos conhecem e que compõe o perfil de qualquer atleta. E vão se afundando cada vez mais na mediocridade e no apequenamento.

Quem não tem equipes de base fica ao sabor do mercado. E o mercado vive do desespero de quem precisa comprar. Entre ao vários clubes que contratam mal, precipitadamente e de qualquer jeito, só não entendo o caso do Palmeiras. Embora malsucedido nos últimos anos o Palmeiras é, entretanto, o único clube que devia estar tranquilo e com tempo para pensar o que é melhor para si. Recentemente foi confirmado pela CBF com títulos que lhe dão a posição de ser o clube mais campeão do Brasil. Na frente de todos, até do Santos. Os outros deveriam estar desesperados para alcançá-lo e a ele sobrar tempo para agir com a cabeça. E, no entanto, é o que pior contrata, na precipitação de um desespero injustificável.

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