segunda-feira, dezembro 12, 2011

Mais um consultor - REVISTA VEJA

REVISTA VEJA

As consultorias que encrencam Pimentel

No período em que coordenava a campanha presidencial de Dilma Rousseff, entre 2009 e 2010, o hoje ministro Fernando Pimentel atuou como consultor por meio de sua empresa, a P-21. Não há ilegalidade no trabalho. O problema são as suspeitas que rondam os contratos.

No último domingo, tão logo voltou de viagem à Venezuela, a presidente Dilma Rousseff demitiu Carlos Lupi do Ministério do Trabalho. Foi o sétimo ministro a deixar o governo – e o sexto abatido por denúncias que vão de tráfico de influência à corrupção. Com a decisão, Dilma esperava dar fim às mudanças que foi obrigada a fazer devido à revelação de irregularidades cometidas por auxiliares diretos. Pretendia suspender a "faxina ética" até janeiro, quando planejava realizar uma reforma ministerial. A demissão também encerraria se, no mesmo dia em que Lupi foi exonerado, a presidente não tivesse defrontado com uma nova acusação – desta vez contra Fernando Pimentel, titular do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, mineiro como Dilma, amigo da presidente há mais de quarenta anos e ex-companheiro dela na resistência á ditadura militar.

Pimentel foi um dos coordenadores da campanha presidencial do PT. Durante a transição de governo, sonhou com o cargo de chefe da Casa Civil, mas foi preterido pelo também petista Antonio Palocci. Apesar disso, sempre figurou entre os ministros mais influentes, além de ser conselheiro e confidente de Dilma. Essa posição se tornou ainda mais privilegiada com a queda de Palocci, o antigo adversário na disputa do poder dentro do Palácio do Planalto, rival que foi atingido por uma denúncia muito parecida com a que pesa agora sobre os ombros de Pimentel. Como Palocci, o ministro fechou contratos milionários quando era consultor de empresas privadas, conforme revelou uma reportagem do jornal O Globo. Como Palocci, angariou clientes entre 2009 e 2010, quando ambos já trabalhavam, nos bastidores, na construção da candidatura presidencial com setores de ponta da economia, que são cobiçados como financiadores preferenciais de projetos eleitorais. Como Palocci, Pimentel se vê agora às voltas com uma grave suspeita de tráfico de influência – e de ter enriquecido com essa atividade.

Na semana passada, em conversa com a presidente, o ministro tentou marcar diferenças com Palocci. Disse, por exemplo, que embolsou recursos muito mais modestos do que o colega petista. Assinados quando ele não tinha cargo público, os contratos garantiram o pagamento de despesas pessoais, e não seu enriquecimento. Pimentel também fez questão de divulgar, ao contrário do ex-chefe da Casa Civil, sua lista de clientes. Citou só três contratantes: a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), a construtora Convap e a QA Consulting, todas sediadas em Belo Horizonte, capital que foi comandada pelo ministro até 2008. O maior contrato assinado pela consultoria de Pimentel foi com a Fiemg. Previa a ajuda dele para traçar planos de investimento nas áreas de fogos de artifício e têxteis e em propostas de desoneração tributária. Pimentel não apresentou um único parecer ou estudo que comprovasse a realização de tais tarefas. Nem apresentará. Robson Andrade, ex-presidente da Fiemg e atual presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), diz que Pimentel deu palestras e conversou com técnicos da federação. Por esses dedinhos de prosa, embolsou 1 milhão de reais. O problema ético que se coloca é real e, dependendo da caixa de ressonância, pode custar ao ministro seu cargo.

Só um governo com poder limitado pode ser decente - PAULO GUEDES

REVISTA ÉPOCA




Não é tarefa simples a construção de uma grande sociedade aberta. Mas é inegável que somos hoje um grande canteiro de obras. Prosseguem as quedas de ministros envolvidos em denúncias de corrupção. A opinião pública apoia a presidente Dilma Rousseff em sua intolerância com as práticas políticas degeneradas expostas pela mídia.

Os anjos caídos sempre se escudam em ameaças à governabilidade. Seus ressentimentos podem se traduzir numa eventual retirada de apoio parlamentar e negociações mais duras à frente para a aprovação de projetos importantes. Mas, se o governo não quer ser pautado pelo noticiário e precisa de sustentação no Congresso, tem também o bom-senso de deixar claro que não aprova as manobras lamacentas de nossas criaturas do pântano.

O brasileiro não é geneticamente corrupto nem a democracia dos governos representativos está condenada à corrupção. O problema brasileiro é uma transição incompleta para as instituições de uma sociedade aberta. A esquizofrenia financeira e a estagnação econômica nos tempos da hiperinflação, bem como a corrupção política ainda hoje, são sintomas de desacertos na rota de fuga do Antigo Regime.

A concentração de poder corrompe. Só um governo com poderes limitados pode ser decente. O que se vê não é uma conspiração da mídia. É a construção de uma sociedade aberta sendo registrada pela mídia. É claro que, nesse processo, há um aperfeiçoamento. Tínhamos antes os escândalos "temáticos": o impeachment de um presidente, os Anões do Orçamento, o mensalão, os Sanguessugas, a Operação Navalha e outras mais.

Como a exposição temática dos atos de corrupção teve poucos efeitos práticos, entramos em nova fase, a da "guilhotina midiática", que pega um pescoço de cada vez. Pode-se dizer da classe política brasileira o que registra a historiadora Barbara Tuchman em seu clássico A marcha da insensatez (1984), a propósito dos papas renascentistas: "Eles se recusaram a mudar, mantendo com estúpida teimosia o sistema corrupto existente. Não podiam mudar porque eram parte, cresceram e dependiam da corrupção. A ambição, o abuso de poder e a certeza da impunidade dirigiam seu comportamento".

O brasileiro não tem um DNA de corrupto. Nosso problema
é uma transição ainda incompleta


Para a historiadora, um importante critério para que uma prática política seja considerada erro histórico, atuando contrariamente aos interesses da população, é que essa mesma prática equivocada seja implementada por vários grupos, durante longo tempo, não apenas por um indivíduo em curto período. Ora, a social-democracia brasileira, dos grandes partidos de "esquerda" – PMDB, PSDB e PT –, reveza-se no poder há sete mandatos presidenciais, com uma breve interrupção do presidente que sofreu impeachment... por corrupção?

Existe uma linha lógica que costura os fatos nos últimos 40 anos de nossa história. Os militares no Antigo Regime e a social-democracia hegemônica desde a redemocratização empurraram os gastos públicos de menos de 20% para quase 40% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Infelizmente, a hipótese de corrupção sistêmica tem aqui suas raízes profundas, penetrando muito além da superfície política. Envergonhou os militares, devastou a "direita fisiológica" e desmoralizou sucessivamente os partidos de esquerda, lançando-se do subsolo econômico por uma deformação fundamental do Estado brasileiro.

Um segundo critério para detecção dos grandes erros históricos é uma percepção contemporânea do equívoco, e não apenas em retrospectiva. Ora, temos todos – desde a fase dos escândalos "temáticos" à atual "guilhotina midiática" – a inequívoca percepção contemporânea de que houve uma degeneração das práticas políticas. E sabemos também que, sem uma reforma política, permaneceremos com o mesmo sistema disfuncional que tem empobrecido o desempenho do regime democrático.

Mas, se a reforma política não pode nascer em ninhos social-democratas, se eles não têm competência para fabricar uma maneira decente de fazer política e se o vazio de sua agenda reduz a vida pública a uma sinuosa batalha por recursos, como escapar a essa armadilha de baixo desempenho? É necessária uma alternativa liberal democrata – que, lamentavelmente, não vislumbramos ainda.

ENTREVISTA - ROSALBA CIARLINI



REVISTA ISTO É - DINHEIRO
"PODEMOS GERAR UMA ITAIPU DE VENTO"
Desde que assumiu, no início do ano, a governadora Rosalba Ciarlini, do DEM, já recebeu a promessa de investimentos de empresas dos mais variados setores: de cerâmico e mineração à construção civil. 
Por Denize BACOCCINA

Famoso pelas dunas e lagoas nos arredores de Natal, o Rio Grande do Norte deve continuar atraindo milhões de turistas, mas não quer depender só dessa receita. Desde que assumiu, no início do ano, a governadora Rosalba Ciarlini, do DEM, já recebeu a promessa de investimentos de empresas dos mais variados setores: de cerâmico e mineração à construção civil, aproveitando as riquezas do solo potiguar, pródigo em matérias-primas, como petróleo e ouro. Até 2014, os investimentos podem chegar a R$ 35 bilhões, incluindo os recursos para o estádio Arena das Dunas, que receberá os jogos da Copa, e o novo terminal de São Gonçalo do Amarante – a primeira concessão privada para desatar o nó dos aeroportos no País. A energia eólica é outra forte aposta. “Podemos gerar uma Itaipu de vento”, diz Rosalba, nascida em Mossoró, no noroeste do Estado, onde foi prefeita três vezes. Neta do italiano Pietro Ciarlini, um dos precursores do  futebol no Rio Grande do Norte, Rosalba é médica pediatra e mãe de quatro filhos.

DINHEIRO – O Rio Grande do Norte está atraindo muitos investimentos em diversos setores. Qual é a expectativa para o médio prazo? ROSALBA CIARLINI  – Até 2014, devemos receber cerca de R$ 35 bilhões. Em energia eólica, já temos assegurados R$ 10 bilhões, sem contar o leilão do dia 15 de dezembro. Para a Copa, temos quase R$ 2 bilhões, entre o estádio de Natal e as obras de mobilidade. Temos a Petrobras, que vai investir de R$ 2 bilhões a R$ 3 bilhões anuais, por quatro anos. Estamos trabalhando também para atrair novas indústrias. O porto de Natal está sendo ampliado para atrair novos empreendimentos. Temos, ainda, mineração. Já temos duas jazidas de ferro em exploração, uma delas com potencial de 30 anos. Temos ouro, com uma possibilidade grande de extração na região central do Estado. É um investimento de R$ 2,5 bilhões, com produção estimada entre três e cinco toneladas por ano, o equivalente a quase 10% da produção brasileira. Temos também fábrica de cimento, de cal para siderurgia, porque temos também um calcário limpo e bem raso, de fácil extração. O Estado possui, ainda, a maior salina do Brasil, em cidades como Macau, Areia Branca e Mossoró. Cerca de 95% do sal brasileiro é produzido e refinado no Rio Grande do Norte, e agora começamos a agregar valor ao produto, produzindo sal gourmet, como o flor de sal, exportando até para a França.
 
 
DINHEIRO – Há um exemplo bem-sucedido no Nordeste de polo de desenvolvimento, que é o complexo de Suape, em Pernambuco. Ele serviu de modelo para a sra.? 
ROSALBA – É o nosso objetivo. Para dar  uma ideia, neste ano já conseguimos trazer 15 indústrias para o nosso Estado. De vários setores: cal, siderurgia, mineração. Uma dessas empresas é a Susa, de capitais indianos e brasileiros, que vai exportar minério de ferro. Já temos um polo cerâmico e queremos ampliar as exportações. Temos também granito e mármore. Estamos atrás de indústrias que façam a lapidação dessas pedras para exportação e não como acontece atualmente. Ho­­je as rochas são exportadas e voltam como granito italiano.
 
 
DINHEIRO – O que provocou esse boom de investimentos? 
ROSALBA – Se nós quisermos crescer socialmente, temos que crescer economicamente. Estamos dando os incentivos necessários para trocar imposto por emprego. O Rio Grande do Norte é um Estado pequeno, mas tem a renda mais bem distribuída do Nordeste,  e um dos melhores IDH. Já tínhamos a fruticultura irrigada, mas agora estamos trabalhando com outros polos. A barragem de Santa Cruz, em Apodi, perto da  fronteira com o Ceará, já existe há muito tempo, mas os perímetros irrigados nunca foram feitos. Agora estamos fazendo. É um projeto do governo federal, mas estamos lá cobrando, para que seja realizado o mais rápido possível.
 
 
DINHEIRO – Esses projetos já estão gerando empregos? 
ROSALBA – Estão gerando empregos na implantação. Por exemplo, a construção do parque eólico de Guamaré, no norte do Estado. Todos os equipamentos chegam pelo porto e são montados com mão de obra local. As cidades onde os parques serão montados passam a ter uma receita extra de  Imposto Sobre Serviços (ISS). Nós temos hoje potencial para gerar uma Itaipu de vento, ou seja, 14 mil megawatts. Cerca de 30% desse total já está leiloado. Esse potencial considera somente o que já está medido, e ainda temos outras áreas em medição. Metade da capacidade eólica do País está no Rio Grande do Norte. Empresas como a CPFL Renováveis e a Vale vão investir em energia eólica aqui.
 
 
DINHEIRO – A sra. não teme que esses investimentos produtivos afetem o turismo, que sempre foi a principal fonte de recursos do Estado? 
ROSALBA – Não, muito pelo contrário. Isso tudo vai fortalecer o turismo. Vamos ter agora um aeroporto com tudo o que tem de melhor no mundo.
 
 
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Obras do terminal de São Gonçalo do Amarante
 
 
DINHEIRO – Mas e outros investimentos, como mineração, petróleo e usinas eólicas, que muita gente acha que enfeia a paisagem da praia?
ROSALBA – Não, nós temos ventos tanto no litoral quanto no interior. Para evitar problemas, temos o Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Idema), para acompanhar os projetos e garantir que eles vão preservar nossa mata, o meio ambiente. O turismo é a indústria que mais gera empregos no nosso Estado. Só a cidade de Natal tem 36 mil leitos de hotel. 
 
 
DINHEIRO – Como estão as obras do aeroporto de São Gonçalo? 
ROSALBA – A pista já está pronta, já foi inaugurada, no dia 28 de novembro, pela presidenta Dilma Rousseff. Agora, houve a concessão para a construção dos terminais, pátios e de toda estrutura ao redor, que ficará pronta no fim de 2013. Os acessos são de responsabilidade do governo. É um processo que começou há uns dez anos, e agora finalmente está tendo continuidade. É a melhor pista do Brasil, onde poderá descer todo tipo de aeronave, inclusive o A380, que é o maior avião de passageiros do mundo (de dois andares). Hoje temos voos charter da Europa e da Argentina e o voo regular da TAP para Lisboa. Vai ser um aeroporto importante, especialmente de carga, porque estamos numa localização estratégica. Estamos a três horas e meia da África, a seis horas da Europa e a oito horas da América do Norte. 
 
 
DINHEIRO – Ou seja, o aeroporto  será um vetor de desenvolvimento. 
ROSALBA – Com certeza. A carga virá para Natal e de lá será distribuída para o Brasil todo. O porto de Natal fica a 25 quilômetros. O aeroporto também fica próximo a três rodovias federais. Estamos pensando numa ferrovia interligando o porto e o aeroporto.
 
 
DINHEIRO – O Rio Grande do Norte é o terceiro maior produtor de petróleo do Brasil, com extração de 62 mil barris por dia. Quais são os investimentos previstos nessa área? 
ROSALBA – Somos o primeiro produtor em terra e o terceiro maior do Brasil, mas muito abaixo de Rio de Janeiro e Espírito Santo. Há possibilidade também de que a Petrobras venha a perfurar em águas mais profundas aqui no Estado. Ainda não sabemos, mas quem sabe não temos um pré-sal?
 
 
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Parque eólico do Mangue Seco, em Guamaré, no norte do Estado
 
 
DINHEIRO – Mesmo com esses investimentos, o perfil econômico do Estado não mudou. A renda per capita ainda é um terço da de São Paulo. 
ROSALBA – É, porque ainda estamos estruturando. O resultado vai vir no decorrer de todo o processo. Agora é importante que se consolide toda essa infraestrutura. Vamos também ter uma Zona de Processamento de Exportação (ZPE), a quatro quilômetros do aeroporto, no município de Macaíba. Vamos ter tudo integrado. Já estamos fazendo um plano diretor para organizar todo o desenvolvimento do Estado, numa perspectiva de 20 a 30 anos. A ideia é que quem vier  depois de mim já saiba o que pode e o que não pode fazer, pensando no melhor para o nosso Estado.
 
 
DINHEIRO – Os investimentos são todos privados? 
ROSALBA – Sim. O investimento público é a infraestrutura para a Copa e as obras do PAC. O estádio Arena das Dunas é uma parceria público-privada. O acesso ao aeroporto é investimento do governo do Estado. Estamos fazendo também obras de mobilidade. Outro grande investimento é em saneamento básico. Temos uma meta de, nos próximos três anos, aumentar a cobertura de saneamento básico de 19% para 80%.
 
 
DINHEIRO – A sra. é a única governadora do DEM. Teve alguma dificuldade no relacionamento com o governo federal? 
ROSALBA – Não, até agora não senti nenhuma dificuldade. O tratamento tem sido normal. Não me sinto de forma alguma discriminada. Quando  assumi,  fui conversar com a presidenta Dilma e disse: “Presidenta, o povo quis assim, agora temos que dar as mãos e trabalhar.” Ela me perguntou o que mais me preocupava e eu disse que era a conclusão do aeroporto. Esse aeroporto é a âncora que vai estimular todas as outras atividades no Estado: o turismo, a ZPE. O aeroporto escancara as nossas portas para o mundo.
 
 
DINHEIRO – O Estado tem mão de obra qualificada para aproveitar as oportunidades? 
ROSALBA – Estamos criando cursos e mudando o ensino médio para transformar em cursos técnicos, seguindo a vocação de cada região. Em São Gonçalo vamos ter ensino técnico voltado a atividades aeroportuárias. Em Macaíba, como imaginamos que a ZPE vai ser muito forte em  tecnologia e farmacêutica, temos de preparar os jovens para essas áreas. Não é só o governo. Estamos fazendo parcerias com universidades, com institutos técnicos federais e com o Sebrae. 
 
 
DINHEIRO – E a salvação são os investimentos? 
ROSALBA – Estamos trabalhando para garantir os investimentos, porque aí teremos novos empreendimentos, o comércio cresce, o turismo se consolida e passa a ter uma base de arrecadação maior, mais emprego. Garantimos mais recursos para honrar os  compromissos e investir mais em educação, saúde e segurança. Se a gente quer combater a miséria é preciso ter emprego e pessoas qualificadas para conseguir o emprego.

Emenda 29 - AÉCIO NEVES

FOLHA DE SP - 12/12/11

Aproxima-se o final do primeiro ano da atual legislatura e, infelizmente, o saldo é negativo. Sabe-se que o primeiro ano de uma administração é aquele em que o governante reúne as melhores condições para iniciar as reformas pactuadas nas urnas com a população, sobretudo aquelas mais difíceis, que contrariam interesses localizados, mas são necessárias ao país. 
Costuma ser um bom período para os governos: a popularidade confirmada pelas eleições está mantida, a distância de novos pleitos facilita a manutenção de uma base legislativa heterodoxa, alimentada pela principal matéria prima de todo arranjo político: espaços de poder. Quanto mais o tempo avança, mais essas condições se relativizam. 
Infelizmente, o que vimos em 2011 foram inúmeras agendas frustradas. 
A regulamentação da Emenda 29 poderia ter sido uma boa exceção entre elas. Depois de protelar durante anos a sua votação, o governo federal mobilizou a sua base para votar contra a essência da proposta que o seu próprio partido havia apresentado e que defendia um piso sobre a receita de 10% para a União, 12% para os Estados e 15% para municípios, como investimentos obrigatórios em saúde. 
Na votação, o governo atuou no sentido de manter o percentual dos Estados e municípios, impedindo, no entanto, que fosse fixado também para a União o mesmo compromisso. Estados e municípios, muitos deles enfrentando sérias dificuldades financeiras, vão precisar se adaptar às exigências da lei. Paradoxalmente, o governo federal, que vem batendo recordes de arrecadação, não fará a sua parte. 
A votação estabeleceu uma injusta dicotomia entre Estados e municípios, de um lado, comprometidos com responsabilidades crescentes, e, de outro, a União, agora descompromissada do percentual de investimentos de 10%.
Essa posição agride todos os brasileiros que aguardam atendimento nos postos de saúde e nas filas dos hospitais. É indefensável. A regulamentação da Emenda 29 é uma importante conquista da sociedade, mas aconteceu sem o desfecho esperado. Com sua aprovação, nos termos em que se deu, a saúde ficou sem os recursos necessários para a principal agenda da população, já que o patamar atual de investimentos federais é muito inferior ao piso proposto. 
Vale a pena conhecer alguns números. Em 2000 a administração federal respondia por 60% dos gastos públicos em saúde, os Estados por 18% e os municípios por 22%. Em 2008, apesar da crescente concentração de receitas na União, o governo federal respondia por 43%, os Estados por 27% e os municípios por 30%. Essa tendência agride o princípio da Federação, que prevê, antes de tudo, solidariedade e responsabilidades partilhadas. 

O que restará de Kassab? - VINICIUS MOTA

FOLHA DE SP - 12/12/12

SÃO PAULO - O partido criado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, surgiu como uma espécie de beijo da morte nas oposições. Disposto a acoplar-se aos ocupantes do poder nos Estados e no âmbito federal, o PSD disseminou o slogan subliminar de que não existe vida fora do governo. 
Um dos pressupostos do programa "de facto" do PSD é o de que o ciclo político no Brasil, após o advento da reeleição, aumentou para oito anos. É perda de tempo e de cacife político, calculam seus dirigentes, confrontar-se com as forças governistas por um período tão longo. 
Melhor é compor e aproveitar eventuais brechas no processo sucessório. Eis o raciocínio tático que, num ambiente de restrições judiciais à troca de partidos, culminou no sucesso, em termos de adesão, do PSD. 
Mas o que será do mentor do projeto? Kassab quer ser candidato ao governo paulista. Seu peessedismo, porém, recomenda não confrontar-se com Geraldo Alckmin, primeiro (e único) na fila da candidatura de 2014 pela situação. 
O Senado poderia ser uma alternativa, mas só haverá uma vaga em disputa, e o desafio será desbancar o petista Eduardo Suplicy. 
Tudo somado, talvez reste a Kassab negociar uma vice-candidatura na chapa de Alckmin em 2014. Aí a coisa fecha: uma brecha poderá abrir-se no final de um hipotético -e provável- segundo mandato do tucano, em 2018. Kassab é novo, pode esperar etc. e tal. 
Será que o prefeito paulistano chega lá? O Datafolha publicado ontem diz pouco sobre o prognóstico da eleição municipal de outubro do ano que vem. Mostra, contudo, uma claríssima deterioração da capacidade do atual prefeito de interferir na sua própria sucessão. 
Se o legado político e administrativo de Kassab na capital for esterilizado no pleito de 2012, ele poderá acabar engolido pela mesma esperteza tática que animou a criação do PSD. 

A IGREJA NOSSA - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 12/12/11

Senhora da Penna, uma das mais antigas do Rio, construída em 8 de setembro de 1661 em Jacarepaguá, vai ganhar um reforço que facilitará a vida de seus fiéis. A RioUrbe abriu licitação para a construção do Plano Inclinado da Pena, no bairro, que ligará a Rua Nossa Senhora da Pena à igreja, que fica a cerca de 170 metros de altura. A obra, estimada em R$ 6,9 milhões, contará ainda com urbanização que inclui paisagismo, colocação de muretas e estacionamento. O projeto também prevê um elevador para pessoas com necessidades especiais entre a estação superior e a igreja. Vamos torcer, vamos cobrar

Moda é facebook
Em um ano, o facebook de Luciano Huck alcançou cerca de 4.326.000 pessoas, ultrapassando o twitter do apresentador que, em dois anos e meio, é seguido por 4.325.000.
Na soma dos dois são 8,6 milhões de pessoas.

Estreia do Fenômeno
Ronaldo e Ricardo Teixeira visitarão juntos as 12 cidades da Copa de 14, a partir de janeiro.
Vão começar por Manaus.

Marquise do Maraca
O MP federal tem convocado os conselheiros do Patrimônio Histórico Nacional do Iphan.
Quer saber por que os conselheiros não foram ouvidos na decisão que autorizou a derrubada da marquise do Maracanã.

Projeto verão
Rodrigo Maia, deputado do DEM, perdeu 16 quilos em dois meses com dieta normal.

Varig, Varig, Varig
Hoje, um grupo de senhor-zinhos vai fazer uma manifestação na Cinelândia, às 15h.
É o pessoal da antiga Varig tentando receber do Aerus, o fundo de pensão da finada.

Saudades
Por falar em Varig, nesta época natalina, em vida, ela exibia um jingle, de Caetano Zama, que emocionava. Dizia assim:
“Estrela brasileira/No céu azul/Iluminando de norte a sul/Mensagem de Amor e Paz/Nasceu Jesus, chegou o Natal/Papai Noel voando a jato pelo céu/Trazendo um Natal de felicidade/E um Ano Novo cheio de prosperidade/Varig, Varig, Varig!”

Chica da Silva
Geraldo Carneiro assina o roteiro da refilmagem do clássico “Chica da Silva”, imortalizado por Zezé Motta na década de 70.
Com produção de Daniel Filho, o longa começa a ser rodado no início de 2012.

Treinador de ator
Casado com Paula Barreto, da família mais cinematográfica do Brasil, o ex-jogador Cláudio Adão está treinando Cauã Reymond e Murilo Benício.
O primeiro será um jogador de futebol na próxima novela das 21 h da TV Globo. O segundo, um atleta aposentado e pai adotivo de Cauã.

Segue...
Cláudio Adão também já deu aulas de bola para Rodrigo Santoro, que interpreta Heleno de Freitas no filme de José Henrique Fonseca.

Aliás...
Vem aí uma nova edição pela Zahar do livro “Nunca houve um homem como Heleno”, de Marcos Eduardo Neves, sobre o atormentado craque do Botafogo.
A obra trará fotos de Heleno, um tanto chocantes, no final da vida internado num manicômio de Barbacena, em Minas Gerais.
Na Sapucaí
Boni, o gênio da TV, deve ser enredo da Grande Rio no carnaval de 2013.

Versão infantil
Sérgio Cabral, pai, e Rosa Maria Araújo estão escrevendo uma nova versão do sucesso “Sassaricando”.
Desta vez, o musical será voltado para as crianças.

UPP de Minc
Carlos Minc, secretário de Ambiente de Cabral, bateu o martelo com o xerife José Beltrame: os parques estaduais ganharão uma espécie de UPP verde.
Vai se chamar Upam, Unidade de Policiamento Ambiental, cuja missão será combater crimes contra a natureza nos parques e entornos.

Hello, Dolly
Ano que vem, Marília Pêra e Miguel Falabella encenarão juntos “Hello, Dolly”, musical da década de 60 e um dos maiores sucessos da carreira de Bibi Ferreira.

A peruca da avó
No camelódromo da Uruguaiana, no Rio, só toca um novo hit.
Diz assim: “Minha avó tá maluca, minha avó tá maluca. Tanta coisa pra comprar e ela comprou uma peruca.”

O empata...
O carioca que curte um nheco-nheco no motel no réveillon deve pensar duas vezes.
Pesquisa do SindRio mostra que 90% dos quartos de motéis do Rio estarão ocupados na noite da virada do ano por... turistas.

QUEM DEFINIU melhor foi o padre Jorjão, responsável pela cerimônia religiosa das bodas de prata do casamento de Mônica e Zeca Pagodinho: “Zeca é uma celebridade que não perdeu a simplicidade.” A festa, sábado, na Barra, reuniu aquilo que “politólogos” chamavam nos anos 80 de “arco da sociedade”. De gente simples do subúrbio à turma que frequenta a calçada da fama. Nas fotos, padre Jorjão entre Mônica e Zeca; Gil e Flora (acima); e a atriz Juliana Diniz (ao lado)
COM ANA CLÁUDIA GUIMARÃES, MARCEU VIEIRA E DANIEL BRUNET

Novos tempos - DENISE ROTHENBURG



Correio Braziliense - 12/12/11


Com o debate eleitoral cada vez mais engessado, talvez sejam os plebiscitos, como o do Pará, a forma mais prática de discutir variados temas em profundidade.

Nem só denúncias, quedas de ministros e vitórias consecutivas do governo no Congresso marcam este mês de adeus a 2011. O plebiscito sobre a fragmentação do Pará em três estados – Pará, Carajás e Tapajós – está no topo dessa lista. E o principal motivo para isso é o exercício de o cidadão decidir diretamente sobre aquilo que o afeta.

Nos Estados Unidos, por exemplo, em tempos de eleição, quem decide votar – lá não é obrigatório – opina sobre os mais variados temas, dependendo do estado. Em 2004, por exemplo, nas seções eleitorais da Virgínia, os eleitores decidiram ainda sobre viadutos e criação de escolas.

No Brasil, raramente somos chamados a opinar sobre nosso próprio futuro em temas específicos. Ninguém nos perguntou se queríamos a privatização dos aeroportos, se gostaríamos de aplicar nosso rico dinheirinho na construção de prédios suntuosos para a União na Praça dos Três Poderes. Em Brasília, ninguém nos consultou sobre o Setor Noroeste ou o gabarito dos prédios de Águas Claras, por exemplo.

Por falar em raridade...

A última vez em que os brasileiros foram chamados a votar num tema específico foi no referendo do desarmamento, em 2005, quando a maioria rejeitou a proibição da venda de armas. Antes disso, em 1993, foi convocado um plebiscito para saber que regime e sistema de governo queríamos – presidencialismo, parlamentarismo ou monarquia. Há um projeto para que se faça um plebiscito sobre a descriminalização do aborto, ainda sem data.

Mas pode ter certeza: depois do plebiscito do Pará, outros virão. O exercício de ontem foi emblemático, especialmente porque, no passado, a população não foi chamada a opinar sobre a divisão do Mato Grosso, com a criação de Mato Grosso do Sul, em 1977, durante a ditadura militar. Tampouco foi consultada na forma de plebiscito para opinar a respeito da criação do estado de Tocantins, em 1988. É verdade que houve uma emenda popular com 80 mil assinaturas em favor do novo estado, mas não se pode dar a ela o mesmo peso de um plebiscito.
O cidadão poder dizer se desejava dividir o Pará foi um sinal de que, aos poucos, as pessoas vão influenciando mais na vida do seu país. E, se a ideia é levar o brasileiro a pensar mais em sua nação, seu estado, sua cidade – e não apenas no próprio umbigo ou no núcleo familiar e profissional que o cerca –, funcionou.

Nunca se discutiu tanto o Pará quanto nos últimos meses de 2011. O estado sempre foi notícia nacional de forma pontual. Seja na parte positiva, por sua tradição e cultura – Círio de Nazaré, carimbó, culinária –, seja na negativa, como o massacre de Eldorado do Carajás e sucessivos escândalos na política. Por causa do plebiscito, conheceu-se mais o Pará. Se há algum arrependimento sobre o plebiscito de ontem, foi o de não ter se aprofundado mais no debate.
No Twitter ontem, a deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC) defendia que o loteamento do Pará fosse decidido por todos os brasileiros. Afinal, o Orçamento da União seria um dos suportes aos novos estados. Mas muitos hão de dizer: ora, se apenas no Pará a consulta custou R$ 13,7 milhões, seria 20 vezes mais caro perguntar sobre a divisão a todos os brasileiros. E quem disse que a democracia é barata? Certamente, sai muito mais em conta do que os milhões consumidos em obras e iniciativas que a população não aprovou diretamente. Ou alguém já se esqueceu do TRT de São Paulo, aquela obra que consumiu mais de R$ 100 milhões, investigada pela CPI do Judiciário?

Por falar em Congresso, ali, a discussão de muitos temas deixa a desejar. Invariavelmente, fala mais alto o trator governista. Nas eleições, quando a população pensa um pouquinho mais o Brasil, os debates têm sido cada vez mais engessados, os programas eleitorais, plastificados. Se continuar assim, que venham os plebiscitos e, com eles, a oportunidade de discutir os temas de forma mais profunda. O eleitor agradece.

'O empresário do passado não sobreviveria' - SONIA RACY

O ESTADÃO - 12/12/11


'O empresário do passado não sobreviveria', diz José Roberto Ermírio de Moraes
Empresário explica 95 anos de sucesso da Votorantim

O Grupo Votorantim está fazendo 95 anos. E continua sendo familiar, dos poucos que conseguiram fazer a transição de uma geração para outra incorporando instrumentos de administração moderna e eficiente. "Investimos bastante em formar talentos com a nossa cultura, com os nossos valores. A família realmente não abre mão disso, é a nossa essência", explica José Roberto Ermírio de Moraes, presidente do conselho de administração do Grupo. Low-profile, Beto, como é chamado pelos amigos, relutou em dar entrevista. Mas cedeu aos apelos da coluna, que recebeu em seu escritório da Rua Amauri, semana passada.

Acredita, como outros integrantes da família, que a empresa familiar, se conseguir resolver essas complexidades da passagem de geração para geração, adaptando o modelo conforme as necessidades, pode ser um plus, um fator de diferenciação. Existem estatísticas, feitas pelo mundo, mostrando que empresas familiares bem geridas tiveram retorno acima das empresas públicas, sem donos, nos mercados onde competem.

A seguir, os melhores momentos da conversa.

Como é tocar um grupo do tamanho da Votorantim?

O Grupo é bastante complexo. Atuamos em seis grandes áreas de negócios: cimento, metais, mineração, energia, celulose, laranja e no setor financeiro. É um portfólio atípico. Grupos do mesmo porte e com a mesma diversificação são raros. Isto aumenta muito a complexidade da gestão, devido à necessidade de entender profundamente a dinâmica de todos os negócios, tentar prever como será o futuro de cada um deles e seus fatores de sucesso, além de um esforço operacional, da mesma proporção, para operar as empresas dentro das melhores práticas mundiais. A questão de ser mais ou menos diversificado é uma reflexão bastante desafiadora. Desde que eu trabalho no Grupo, já presenciei vários modismos acadêmicos, defendendo maior ou menor diversificação. Mas posso afirmar que, nestes 95 anos de história, a diversificação tem sido boa por vários motivos. Mas, durante todo este período, estamos sempre procurando focar nos negócios que consideramos mais atraentes.

A profissionalização está funcionando?

Boa pergunta. Uma das principais atribuições da nossa geração é estar sempre questionando a governança a o modelo de gestão. Estes vêm sendo aprimorados de geração para geração. Cada geração, desde o fundador, exigiu um perfil de pessoas e uma estrutura organizacional adequados para aquele determinado momento da empresa. Por exemplo: no caso do fundador, ele era o visionário, o estrategista e o empreendedor. Fazia tudo sozinho, com uma capacidade e uma velocidade de decisão sem iguais, não precisando se preocupar em prestar muitas informações justamente por ser o único dono do negócio. À medida que a sociedade se torna mais complexa, com a vinda das gerações seguintes, temos a necessidade de compartilhar decisões, assim como uma maior transparência nas informações. A complexidade aumenta, a estrutura organizacional tem de se ajustar à nova realidade, e o perfil das pessoas exige novas habilidades - como saber conviver em um ambiente de trabalho mais compartilhado, com transparência e processos mais estruturados.

Uma somatória de papéis?

Em parte sim. Tivemos a sorte de contar sempre com acionistas que contribuíram de maneira significativa nos diferentes ciclos de desenvolvimento dos negócios. Diria que é uma somatória de contribuições feitas ao longo destes anos. Na verdade, o Grupo vem investindo bastante na formação de talentos alinhados com nossa cultura e nossos valores. A família realmente não abre mão disso, é a nossa essência. As pessoas devem trabalhar aqui porque gostam e acreditam no Grupo. É uma questão de admiração e inspiração. Sem isso, nada dará certo. Manter o controle familiar é outro componente muito importante para nós, pois acreditamos que, se a empresa familiar planejar e se preparar de forma antecipada aos desafios dos processos de sucessão de gerações e procurar estar sempre se renovando e estar em negócios atraentes de forma competitiva, estudos mostram que a performance é superior ao das empresas de capital aberto sem sócio majoritário.

Uma coisa estranha: a geração de vocês está no conselho, mas sempre que os procuro, vocês estão trabalhando no escritório...

É verdade. Somos conselheiros de dedicação em tempo integral. Diferentemente dos conselhos que se reúnem a cada trimestre. Além das nossas atribuições mencionadas anteriormente (de estar constantemente aperfeiçoando o modelo de gestão), também acompanhamos as operações, apoiamos os diretores das unidades de negócio, facilitando os processos de decisão, discutimos a estratégia de longo prazo e, sem contar a dedicação permanente em formar pessoas de talento (que serão um fator importante de diferenciação), visitamos as indústrias em outros países. Em suma, isso já nos mantém bastante ocupados.

Se não fosse empresário, o que seria?

Estou com 54 anos e, neste momento da minha vida, talvez não conseguisse substituir uma atividade tão nobre quanto esta que eu, meu irmão e meus primos desempenhamos por outra que desse tanta satisfação.

Quais são as características fundamentais para ser um bom empresário?

Inicialmente é importante ter uma aspiração, um sonho. A partir daí, desenvolver um bom projeto de longo prazo. Segundo, montar uma equipe de profissionais competentes e com experiência no setor escolhido. Sendo este um aspecto muito importante, pois o empresário voluntarioso do passado, que queria fazer tudo sozinho, dificilmente conseguiria sobreviver em uma economia aberta e competitiva como a de hoje. Fatalmente, dificuldades não previstas irão surgir, no campo macroeconômico ou operacional. E com tantas variáveis a serem equacionadas para o empreendimento dar certo, com certeza a perseverança terá de ser uma virtude fundamental para o sucesso do seu projeto.

Mudando de assunto, como você vê a crise atual? Existe algum perigo de a Comunidade Europeia se desfazer?

A complexidade e a extensão da atual crise são muito grandes. Principalmente pelo desequilíbrio macroeconômico dos países desenvolvidos, que vão demorar anos para arrumar a casa. Acredito que alguns países menores da Comunidade Europeia terão de refletir se convém permanecer no bloco - já que a perda da autonomia da política monetária é, em parte, uma desvantagem.

Para quem é vantagem?

Para França e Alemanha. A criação do euro foi muito conveniente. De certa forma, crou-se um guarda-chuva que mantém suas economias competitivas em relação aos outros membros. Acredito que muitas mudanças de regras terão de ser feitas no campo fiscal e na governança. Mas principalmente na gestão de consequências para aqueles que não seguirem as regras.

Como o Grupo Votorantim está se preparando para este momento da economia mundial? É muito difícil fazer planejamento de longo prazo?

É uma situação que se assemelha a um cassino. Você tem de apostar suas fichas em um determinado cenário e torcer para que esteja certo. São decisões muito difíceis, pois a volatilidade dos mercados tem sido grande. O Grupo procura ser financeiramente conservador no seu patamar de alavancagem, apostando em setores nos quais a competitividade é mais visível e investindo constantemente nas melhorias operacionais. Procurando sempre estar em uma posição diferenciada em relação à concorrência.

Ser mais eficiente, não é?

Na verdade, ser mais competitivo é o que importa. Você pode operar um negócio de forma eficiente e não ser competitivo, por talvez não possuir condições estruturais adequadas. Veja o caso da elevada competitividade que a Vale tem com relação ao minério de ferro de Carajás.

Ser o maior é mais importante?

Nem sempre. Você pode ser líder mundial de um determinado negócio e ter resultados inferiores ao dos concorrentes. Veja o nosso exemplo no setor de cimento. Estamos atualmente na oitava posição no ranking mundial entre os principais produtores, mas conseguimos ter melhores resultados em relação a alguns de nossos maiores concorrentes.

O Brasil é a bola da vez? Você teme a concorrência?

Concorrência faz bem para todos, faz parte do jogo. Exige estar sempre se reinventando e buscando a excelência de forma contínua. Estamos preparados para a concorrência, buscamos de forma obcecada estar sempre entre os melhores. Mas, na última década, o crescimento do "custo Brasil" traz preocupação. Ou seja, o aumento da carga tributária, juros altos, real muito valorizado, infraestrutura ineficiente, serviços públicos (como educação, saúde e transporte) de baixa qualidade e muitos outros fatores que vêm onerando a competitividade local. O lado positivo é que o Brasil, neste cenário de crise mundial, tem se destacado, principalmente, pelo crescimento no mercado interno - e isso vem atraindo muitos investimentos. Serão U$ 60 bilhões de investimento estrangeiro em 2012.

Vocês têm feito investimentos externos?

Bastante, nos últimos anos, em setores como o de cimento, estando presente em toda a América Latina, América do Norte, Europa, Extremo Oriente e Ásia. No caso dos metais, estamos com operações importantes no Peru e na Colômbia.

E hobby, você tem algum?

Eu acho que o hobby é uma atividade importante, que ajuda a dar equilíbrio à pessoa. Sempre gostei muito de esporte, de leitura do mundo dos negócios e de história. Quando sobra um tempo, gosto de música - e toco bateria. Por fim, estar com a família é prazeroso, um ato que devemos sempre cultivar.

Sem tempo para chorar - RAUL VELLOSO


O Globo - 12/12/11


É chocante constatar como a posição do Brasil no ranking de problemas fiscais se inverteu dos anos 90 para cá. Antes, as dívidas dos desenvolvidos eram relativamente altas, mas os déficits eram baixos, de forma que a tendência futura da relação entre a dívida e o PIB desses países era em geral sustentável. Aqui, a dívida era até baixa, mas, diante de déficits muito elevados, temia-se que a razão dívida/PIB crescesse em espiral, e isso levasse à sua monetização, para, no final, explodir a hiperinflação.

Na raiz da crise fiscal europeia está o gasto excessivo e, por último, a assunção de dívidas privadas relacionadas com a crise do mercado imobiliário. Por aqui, a crise da dívida pública teve seu pico entre o fim dos anos 90 e meados da década seguinte. Fizemos um senhor ajuste, e, felizmente, não tivemos a necessidade de fazer as mesmas operações de assunção de dívidas.

No Brasil o problema fiscal se localizava tanto na União como nos estados e municípios. Aqui, são 27 unidades federativas, vários municípios gigantes e muitos outros menores, em que circula nossa moeda única, o real. Até 1998, pode-se dizer que as unidades federativas tinham o poder de fazer déficits públicos elevados no Brasil, usando principalmente os bancos estaduais para financiá-los. Posteriormente, o Banco Central cobria os buracos dos bancos locais e a União acabava assumindo os déficits criados pelos governos estaduais, que se somavam aos que ela própria gerava.

Na União Europeia, são 16 os países-membros que adotam o euro. Criaram-se a moeda única e um banco central europeu, e os estados-membros se comprometeram, pelo Tratado de Maastricht, a fazer déficits máximos de 3% do PIB, além de não deixar a razão entre a dívida pública e o PIB ultrapassar a marca de 60%. Na prática, contudo, a gastança e a assunção das dívidas imobiliárias levaram ao descumprimento dos compromissos fiscais. Mesmo os países mais bem comportados falharam aqui e ali, e não há como punir os faltosos. Hoje se fala que falta uma "união fiscal", ou um mecanismo que leve automaticamente os países-membros a atingirem as metas fiscais.

A última rodada de renegociação de dívidas de estados e municípios em 1999 demonstrou que o Brasil tem uma união fiscal de verdade. Talvez os europeus possam se espelhar na nossa experiência. As unidades assinaram contratos com a União, pelos quais abriram mão, como parte do pagamento da dívida refinanciada, de uma parcela das receitas que ela arrecada e que lhes seria automaticamente transferida.

Estabelecida a camisa de força financeira sobre os entes federativos, ficou faltando a União decidir como fazer seu próprio ajuste. Foi chocante assistir à entrevista da ministra do Trabalho da Itália na TV, chorando ao anunciar mudanças de parâmetros do regime previdenciário. Por aqui, quantas vezes fomos à TV, ao Congresso e à mídia em geral para anunciar "pacotes" fiscais dolorosos, mas sem ter tempo para chorar...

O fato é que os superávits primários (ou seja, os saldos antes de pagar juros) do setor público brasileiro passaram, em pouco tempo, de irrisórios a expressivos, e assim se mantêm desde então. Dessa forma, a dívida passou a crescer menos. E fizemos isso com a economia crescendo pouco, o que envolveu um enorme sofrimento da sociedade. Hoje, muitos reclamam da dificuldade de os países desenvolvidos ajustarem suas contas em quadros recessivos. E nós?

Infelizmente, o ajuste fiscal brasileiro tem sido feito basicamente pelo aumento da receita e pelo corte dos investimentos públicos. Ou seja, descobrimos um jeito de aumentar os superávits fiscais primários (receitas menos despesas não financeiras - inclusive investimentos), sem precisar aumentar a poupança em conta-corrente do país (receitas menos despesas correntes em geral) na mesma proporção. De outra forma, o ajuste teria de se concentrar nos gastos correntes não financeiros.

Quando a arrecadação de impostos cresce muito, ao tempo que os gastos correntes não financeiros não param de subir, a poupança pública pode até aumentar, mas isso só ocorre se a despesa de juros (gasto corrente financeiro) não subir tanto. Assim, o investimento público pode até se elevar por uns tempos, mas não consegue decolar. É o que ocorre ultimamente.

Paralelamente, como o gasto corrente não financeiro é basicamente com transferências a pessoas ou pessoal, a tendência é de se extraírem recursos de quem poupa mais e transferi-los para quem poupa menos. É por isso que, em adição, a poupança privada tende a cair. No frigir dos ovos, o investimento total e a economia não crescem como poderiam.

Em suma , aprendemos a controlar a dívida pública, e nisso temos muito o que ensinar aos europeus e americanos, mas precisamos recuperar a poupança e crescer mais. O Brasil poupa pouco e, portanto, investe pouco, especialmente no setor público. Curiosamente, o governo não facilita a vida do setor privado para que ele possa trazer mais poupança de fora e investir mais onde o setor público falha.

O nó das concessões do setor elétrico - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 12/12/11


Não são apenas os números, por si sós espantosos, que assustam no caso da indefinição sobre o destino a ser dado às concessões dos serviços de energia elétrica que vencem em 2015. O que mais incomoda os consumidores, os dirigentes das empresas concessionárias e os potenciais investidores é a dificuldade do governo em propor uma solução para um problema conhecido desde 1995 e que, se não for resolvido com presteza, poderá paralisar boa parte do sistema elétrico brasileiro. Isso pioraria as condições do fornecimento de energia. Afinal, as incertezas sobre a situação das atuais concessionárias já impediram soluções de mercado para alguns casos e vêm limitando os investimentos indispensáveis para a manutenção, melhoria e expansão dos serviços.

O problema não existiria se o governo tivesse adotado, a tempo, a solução que já está definida em lei. Aprovada há mais de 16 anos, a Lei Geral de Concessões, que regulamentou os regimes de outorga e prorrogação das concessões dos serviços do setor elétrico (produção, transmissão e distribuição), é clara. Ela dispõe que, uma vez vencida a concessão, esta será revertida ao poder concedente (no caso, a União), que deverá ressarcir as concessionárias dos valores referentes a investimento não amortizados e, em seguida, realizar nova outorga por meio de licitação.

A excessiva demora do governo em colocar em prática a solução estabelecida pela lei tornou sua adoção problemática. Vencem, em 2015, as concessões de geradoras que respondem por 20,2 mil MW (18% da oferta de energia) e 80,2 mil km de linhas de transmissão (84% do total), além de 23% da energia comercializada no País. Será necessário definir um modelo para a licitação, com regras claras sobre a qualidade e o preço dos serviços, e garantias suficientes para o investidor que se dispuser a aplicar os recursos necessários para obter a concessão. Há muito pouco tempo para isso.

Os valores impressionam. Antes de fazer nova licitação, o governo terá de ressarcir as atuais concessionárias num montante que pode chegar a R$ 47,1 bilhões, de acordo com cálculos feitos pelas próprias empresas. É possível que o total esteja superestimado, mas dá uma ideia da dimensão financeira da questão. E ainda será preciso encontrar investidores com recursos suficientes e dispostos a disputar as concessões.

Por causa dessas dificuldades, passou-se a examinar a possibilidade de renovação das concessões que vencem em 2015. Também este caminho é complicado, pois exigiria mudanças na legislação, sujeitas a lentas e complexas negociações no Congresso.

Relatório encaminhado pelo Ministério de Minas e Energia (MME) à Presidência da República aponta mais pontos positivos do que negativos na prorrogação das concessões, ao contrário do que ocorreria com a convocação de uma nova licitação. A renovação evitaria o risco de perda de valor das concessionárias, eliminando o risco de comprometimento dos recursos disponíveis para a ampliação do parque gerador, e permitiria a eliminação de deficiências do modelo atual. Entre os pontos negativos estão a menor transparência na fixação do preço da energia elétrica.

Em fins de novembro, o TCU deu prazo de 60 dias para o governo definir um plano de ação para os vencimentos das concessões do setor elétrico, indicando datas, atribuições e responsáveis para definir o modelo a ser adotado, incluindo parecer jurídico quanto à constitucionalidade e à legalidade da alternativa escolhida.

Por falta de definição quanto à prorrogação das concessões, o leilão de privatização da Cesp, em 2008, não teve interessados. Com seu futuro indefinido, algumas das concessionárias frearam ou interromperam planos de investimentos, com prejuízo para os consumidores. A redução ajuda a explicar a frequência dos colapsos no sistema elétrico, não obstante as multas aplicadas pelos órgãos reguladores.

Qualquer que seja a solução que o governo adotar - e isso tem de ser feito com urgência -, ela precisa oferecer maior segurança jurídica para o bom funcionamento do setor, estabelecer regras claras e duradouras, assegurar tarifas adequadas para consumidores e investidores e conter a exigência de prestação adequada de serviços e de contínua expansão da oferta de energia.

Depois da queda - LÚCIA GUIMARÃES


O Estado de S.Paulo - 12/12/11


Acabo de levar um tombo espetacular no Parque Riverside. Caí estatelada porque não vi um pedaço de madeira sob as folhas secas espalhadas no chão de asfalto. Um homem que empurrava um carrinho de bebê correu para me socorrer e, atordoada, notei o carrinho solto escorregando na pista inclinada. Naquela fração de segundo que parece uma eternidade, gritei, ainda deitada no chão, "seu bebê!", mas a fração durou tanto que ainda fiz uma reprise mental da cena do massacre em Odessa de O Encouraçado Potemkin, o filme clássico de Sergei Eisenstein, em que a mãe, assassinada pelas tropas tsaristas, solta o carrinho do bebê escadaria abaixo.

Meu tombo teve consequências bem menos dramáticas. Cá estou com o tornozelo enrolado numa atadura, uma bolsa de gelo no joelho, reconstruindo a cena. No momento da queda, eu andava, ouvia uma entrevista com fones de ouvido e conferia os emails no celular. Não havia um neurônio desocupado para enviar um comando rápido ao meu tornozelo e evitar a torção e a queda.

Se você lê esta coluna em repouso, e não está secando o cabelo ou falando ao telefone simultaneamente, pode ser parte de grupo demográfico em extinção.

O hábito de desempenhar múltiplas tarefas e se encharcar de informação já foi levantado aqui mas, ao cair no parque, me dei conta de que não precisamos ficar prostrados.

Veja o exemplo de Hasan Elahi, um americano nascido em Bangladesh. Ele é um artista interdisciplinar e professor da Universidade de Maryland. Em 2002, quando desembarcava no aeroporto de Detroit, em pleno clima de paranoia pós-11 de Setembro, o nome do professor fez disparar um alarme nos computadores do Serviço de Imigração. Ele passou seis meses sendo convocado para interrogatórios, mas nunca foi alvo de uma acusação formal. Apesar de ser um obsessivo anotador de detalhes cotidianos, não conseguia convencer o FBI de que havia divulgado todos os seus passos e não estava escondendo alguma simpatia terrorista.

A experiência mudou a vida de Hasan Elahi. Ele decidiu dar o troco na mesma moeda. Começou a documentar cada momento de seu dia num website, inundando os serviços de inteligência com a invasão de sua própria privacidade. Ele criou um software que instalou no seu iPhone para transmitir imagens e a sua localização pelo GPS. Qualquer investigador do FBI na capital americana pode, se quiser, saber quando o professor Elahi foi ao banheiro em Maryland. Ou o que ele comeu no jantar, até ver a foto dos restos no prato. Não estou aqui para questionar os motivos de um agente federal e voyeur mas, de fato, não só no FBI, como também na CIA, há gente que continua acessando o site de Elahi. Ele sabe disso porque confere os Protocolos de Internet de quem vai visitá-lo e até detectou um internauta cujo endereço era o número 1.600 da Avenida Pensilvânia, antes de Barack Obama se mudar para lá.

Na semana passada, um novo escândalo sacudiu a polícia de Nova York. Um grupo de policiais trocou mensagens escatológicas e racistas sobre imigrantes caribenhos pelo Facebook. Um deles sugeriu reunir os caribenhos no dia de sua parada anual e jogar uma bomba para fazer limpeza étnica. A certa altura, havia 1.200 pessoas envolvidas no chat. De repente, a página sumiu. Mas os advogados de defesa de um homem negro acusado de porte ilegal de arma tiveram tempo de fazer uma cópia digital da conversa, recheada de despautérios proferidos online pelo policial autor do suposto flagrante com a arma. Resultado: os jurados absolveram o acusado. Mesmo com os documentos exibidos em público no julgamento, ninguém prestou atenção. O escândalo só provocou uma investigação oficial porque os advogados colocaram a cópia do chat no colo de um repórter do New York Times.

Estamos tão anestesiados pelo excesso de informação que, se um homem atravessar nu o imenso saguão da estação de trens Grand Central, na hora do rush, poderá ter seu exibicionismo frustrado pela autoabsorção eletrônica dos passageiros em trânsito.

Se o bombardeio constante de dados neutraliza e desvaloriza a informação, por que não Ocupar as mentes sobrecarregadas com uma guerrilha de informação seleta e relevante?

Alguém vai notar se a Lindsay Lohan sumir da homepage? Duvido. Não acredito que o número de acessos à página de uma fofoca sobre o Tom Cruise vai levar mais internautas a comprar o carro anunciado ao lado da foto do diminuto cientologista. Outro dia, disparei uma notícia sobre um personagem obscuro no planeta da Lindsay Lohan, mas um gigante no planeta de quem aprecia o melhor do jazz americano. Nunca registrei tantos acessos de página e tenho forte suspeita de que a maioria era formada por internautas emagrecidos com a dieta de Lindsey Lohan. Teriam ficado curiosos com o destaque dado ao não famoso, mas consequente?

Não sei se foi o tombo no parque, mas ando otimista com a possibilidade de Ocupar a Wall Street da desinformação.