terça-feira, setembro 27, 2011

ANCELMO GOIS - Alto nível


Alto nível 
ANCELMO GOIS
O GLOBO - 27/09/11

No meio da frustração da Fifa com o projeto da Lei Geral da Copa, começou a ser articulado ontem um encontro entre Dilma Rousseff e Joseph Blatter, presidente da entidade, para aparar as arestas.

De volta às aulas

A UNB pode ter mais um aluno famoso. É que o senador Marcelo Crivella tenta uma vaga no mestrado em Ciência Política.

Ontem, fez prova de inglês.

Deus castiga

Frei Cláudio, pároco da Igreja do Carmo, em Belo Horizonte, não passou pelo teste do bafômetro semana passada numa blitz da Lei Seca. O padre alegou que havia bebido vinho na hora da comunhão.

Terminou sendo liberado, mas só depois de prometer aos fiscais rezar três ave-marias.

Marketing da bola

Júlio Mariz está deixando o comando da Traffic, a gigante do marketing esportivo.

Gois no Rock in Rio I

O acadêmico Arnaldo Niskier considerou prova de mau-gosto e desrespeito o vocalista inglês Lemmy Kilmister, do Motörhead, "ter usado esta cruz de guerra nazista (no pescoço do artista) no Rock in Rio".

A cruz é de 1813, bem anterior ao nazismo. Mas foi usada no III Reich.

Paris é uma festa

Lula está desde domingo hospedado no Lutetia Paris, na capital francesa.

Aliás, o número de hóspedes brasileiros no hotel, cuja diária vai até 3.500 euros (quase R$9 mil), aumentou 40% de 2009 para 2010.


AS OBRAS do Maracanã receberam a visita do maior artilheiro da história do famoso estádio. Zico, que balançou 333 vezes as redes do lendário templo do futebol, bateu bola com operários (veja na foto, a embaixadinha de cabeça) e viu que as fundações das arquibancadas, que vão deixar o público mais perto do gramado, começaram a ser feitas pela Secretaria estadual de Obras. Também já foi dada a partida na concretagem dos degraus, que estão sendo feitos e estocados no próprio estádio. Até dezembro, a nova arquibancada começa a ganhar forma, novo passo na reconstrução do querido Maraca, que rejuvenescerá para consagrar os artilheiros do futuro 


Yankee go home

Parece esquisito. E é.

A Petrobras não vai participar da Offshore Technology Conference, maior evento do setor petrolífero do mundo, que será realizada (pela primeira fora dos EUA) de 4 a 6 de outubro agora, no Rio.

OTC X IBP...

A versão na Rádio Pré-Sal é que a estatal tomou a atitude em apoio ao tradicional Instituto Brasileiro de Petróleo, que ficou de fora do projeto americano.

A OTC viria disputar o mercado desse tipo de evento com o próprio IBP, que a cada dois anos faz a Rio Oil & Gas.

Questão política...

O que se diz é que o próprio governo americano tentou, sem sucesso, ajudar a OTC a ser mais bem recebida no Brasil.

ZONA FRANCA

O jornalista João Máximo recebeu ontem a Medalha Pedro Ernesto do vereador Eliomar Coelho.

Dia 29, na ABL, será lançada a coleção "História do Brasil Nação: 1808-2010", com mesa-redonda.

Alberto Bardawil e Cecília Queiroz produzem o 5º BRAFFTV.

Hoje, na Travessa (Leblon), será lan-çado "A urgência do presente, biografia da crise ambiental", de Israel Klabin.

Hoje, na ESG, tem debate sobre a liberação das drogas.

Volney Pitombo fala no Congresso Americano de Cirurgia Plástica.

A soprano Anne Meyer se apresenta hoje na UFRJ.

A NEP vendeu todas as unidades do Supreme Campos.

Os 15 anos do maior sistema de crédito cooperativista do Brasil foram festejados, no Pense SICOOB.

Cico Caseira dá aula de teatro gratuita para terceira idade no Espaço Move.

N. S. Anunciação

O governo do Rio lança quinta agora os dois primeiros volumes do Inventário da Arte Sacra Fluminense, feito pelo Inepac.

A pesquisa resgatou, entre outras joias, esta pintura de Nossa Senhora da Anunciação (foto), que está na Capela de Nossa Senhora de Saúde, em Maricá.

Drive-thru de Deus

Semana passada, vários templos da Universal - entre eles o da Barra - estenderam faixas oferecendo "Orações drive-thru". Aliás, drive-thru é o... você sabe.

Alô, Eduardo Paes!

Lotes em área de Mata Atlântica estão à venda no Morro do Pendura Saia, em Paquetá. Cada terreno custa R$5 mil.

"É invasão", denuncia José Luis Alqueres, do Movimento Paquetá Sustentável.

Quem sai aos seus...

Pedro Verissimo, o cantor que é filho do mestre Luis Fernando, faz amanhã, na Casa da Gávea, show de músicas inéditas.

Gois no Rock... II

Um motorista de uma van, que tentou furar o bloqueio da prefeitura, neste fim de semana, na boca da Cidade do Rock, apelou:

- Não é lotada, não. Aqui só tem parente.

- Então, me diga o nome daquele ali - pediu um fiscal.

O do volante pensou e disse:

- Sabe, moço, é que é tudo parente de longe...

Ah bom!

No mais

A presença de Neymar & Cia provoca uma comoção em Belém (veja na foto). A seleção brasileira, a exemplo da Arena no passado e do lulismo no presente, parece fazer mais sucesso nos rincões distantes. Com todo o respeito.

PAUL KRUGMAN - A viagem mortal do euro


A viagem mortal do euro
PAUL KRUGMAN 
O GLOBO - 27/09/11

A situação europeia é assustadora. Com países que respondem por um terço da economia da zona do euro sob ataque especulativo, a existência da moeda única está sob ameaça - o colapso do euro seria terrível para o mundo.

Os políticos europeus continuam na mesma. Provavelmente conseguirão ampliar o crédito dos países em apuros, o que poderá ou não impedir o desastre. Mas não parecem dispostos a reconhecer algo crucial - sem políticas fiscais e monetárias expansionistas nas principais economias da Europa, as tentativas de solução vão falhar.

A introdução do euro, em 1999, levou a uma forte expansão nos empréstimos às economias periféricas da Europa, porque os investidores acreditavam (erradamente) que a moeda comum tornaria a dívida grega ou espanhola tão segura quanto a alemã. Contrariamente ao que se ouve com frequência, esse dinheiro não financiou majoritariamente gastanças governamentais. Espanha e Irlanda tinham superávits fiscais às vésperas da crise e baixo endividamento. O influxo de recursos foi usado em gastos privados, especialmente no mercado imobiliário.

Mas, quando o crédito abruptamente secou, o resultado foi crise econômica e fiscal. Recessões selvagens reduziram a receita tributária, levando a déficits orçamentários; enquanto isso, o custo do salvamento dos bancos levou a um súbito aumento da dívida pública. Um dos resultados foi o colapso da confiança dos investidores nos títulos das nações periféricas.

E agora? A resposta da Europa foi exigir forte austeridade fiscal, especialmente drásticos cortes nos gastos públicos, dos países endividados, enquanto providenciava créditos tapa-buracos até que a confiança dos investidores privados voltasse. Pode funcionar?

Não para a Grécia, que realmente entrou na gastança fiscal durante os anos de bonança e deve mais do que pode pagar. Provavelmente não para Irlanda e Portugal, que por diferentes razões também têm pesados débitos. Mas, graças a um ambiente externo favorável - especificamente, a forte economia europeia como um todo, com moderada inflação -, a Espanha, que mesmo hoje tem relativamente baixo endividamento, e a Itália, que tem alto endividamento, mas déficits surpreendentemente baixos, poderiam sair do buraco.

Infelizmente, os políticos europeus parecem determinados a negar aos devedores o ambiente de que precisam.

Pense comigo: a demanda privada nos países devedores despencou com o fim do crédito fácil. Enquanto isso, os gastos do setor público estão sendo também drasticamente reduzidos pelos programas de austeridade. Então, de onde supostamente virão os empregos? A resposta deve estar nas exportações, principalmente para outros países europeus.

Mas as exportações não podem disparar se os países credores também estiverem adotando políticas de austeridade, muito provavelmente empurrando a Europa de volta à recessão.

Também as nações devedores precisam cortar preços e custos relativamente às nações credoras, como a Alemanha, o que não seria difícil demais se a Alemanha tivesse inflação de 3% ou 4%, permitindo aos devedores ganhar mercado simplesmente por terem inflação zero ou abaixo daquele número. Mas o Banco Central Europeu tem um viés deflacionário - ele cometeu um erro terrível ao subir as taxas de juro em 2008, quando a crise financeira estava ganhando força, e mostrou não ter aprendido nada ao repetir o erro este ano.

Como resultado, o mercado agora espera inflação muito baixa na Alemanha - ao redor de 1% nos próximos cinco anos -, o que implicará deflação significativa nas nações devedoras. Isto aumentará seus tombos e tornará mais pesada a carga de suas dívidas, tornando provável que falhem todos os esforços para resgatá-los.

E não vejo sinal algum de que as elites europeias estejam prontas para repensar seu dogma de política monetária apertada e austeridade.

Parte do problema pode ser que essas elites políticas têm um problema de memória histórica seletiva. Elas adoram falar sobre a hiperinflação alemã do início de 1920 - algo que nada tem a ver com nossa atual situação. Todavia, elas quase nunca falam sobre um exemplo muito mais relevante: as políticas de Heinrich Brüning, chanceler da Alemanha de 1930 a 1932, cuja insistência em equilibrar déficits e preservar o padrão ouro tornou a Grande Depressão ainda pior na Alemanha que no resto da Europa - preparando o terreno para você sabe o quê.

Não prevejo nada de tão ruim acontecer na Europa do século XXI. Mas há um enorme fosso entre o que o euro precisa para sobreviver e o que os líderes europeus estão dispostos a fazer, ou mesmo falar em fazer. Diante disto, é difícil achar razões para otimismo.

PAUL KRUGMAN é colunista do "New York Times"

CLÓVIS ROSSI - Dilma na Europa. Antes que acabe


Dilma na Europa. Antes que acabe
CLÓVIS ROSSI 
FOLHA DE SP - 27/09/11

Presidente viaja a Bruxelas no momento em que o outro lado é que sente o 'complexo de vira-lata'



SINAL DOS tempos: na segunda-feira, quando a presidente Dilma Rousseff sentar-se para jantar com a cúpula europeia, em Bruxelas, o complexo de vira-lata, que era uma característica do brasileiro, segundo o teatrólogo Nelson Rodrigues, estará do lado europeu da mesa, tantas são as críticas e exortações ao velho continente para que ponha sob controle sua crise.
Um negociador brasileiro de larga experiência relembra, a respeito, que, em muitos momentos anteriores, os brasileiros tinham muita dificuldade em expor seus pontos de vista, porque eram sempre cobrados para pôr a casa em ordem.
Agora, em recente reunião de um dos mais de 20 diálogos setoriais que mantêm Brasil e União Europeia, foram os brasileiros que sugeriram aos europeus mecanismos de estímulo ao crescimento, visto que a obsessão com os ajustes fiscais está minando as economias de quase toda a Europa.
Pelo que disse na ONU, é razoável supor que a presidente Dilma Rousseff insistirá nesse ponto durante o jantar de segunda-feira, que abre ritualmente o encontro de cúpula entre os dois "parceiros estratégicos", rótulo que se está usando com muita prodigalidade na diplomacia global, mas que, no caso, corresponde, sim, aos fatos.
Na terça, dá-se o encontro propriamente dito, após o que a presidente inaugura o Europália, festival anualmente promovido pela Bélgica que, neste ano, homenageia o Brasil. Trata-se de ampla coleção de eventos culturais, a se desenvolver de outubro a março de 2012.
A visita a Bruxelas, capital informal da Europa, não deixa de ser simbólica a respeito das prioridades da diplomacia brasileira no atual governo: Dilma recebeu o presidente dos Estados Unidos, visitou a China e agora vai à União Europeia. Não por acaso, as três grandes potências globais.
É verdade que, antes de tudo, viajou a Buenos Aires, mas dá a sensação de que foi mais o que os argentinos chamam de "saludo a la bandera". Ou seja, a atenção formal ao vizinho, mas com a certeza de que o Brasil hoje joga em outra divisão. A viagem a Bruxelas quase pode ser enquadrada na categoria "visite a Europa antes que acabe".
É sintomático do mal-estar europeu o título de capa do suplemento econômico do "Monde" ontem: "Schuman, desperte, eles ficaram loucos", apelo desesperado a Robert Schuman, considerado um dos pais da unificação europeia. Continua o título: "A explosão da zona euro não é mais um tabu".
Reforça Andreu Misseu, correspondente de "El País" em Bruxelas: "A falta de solidariedade está apagando a ideia de Europa". Nesse cenário, até um suposto plano grandioso de resgate, anunciado ontem pela BBC, acaba embaçado. A emissora britânica informou que a Europa pretende quadruplicar os recursos para seu fundo de resgate, levando-os a impressionantes € 2 trilhões (um Brasil inteiro), além de permitir que a Grécia dê um calote em metade de sua dívida.
Se esse plano existe de fato e se sobreviver até o início da próxima semana, certamente terá o apoio de Dilma, que não esconde que sua grande preocupação do momento é com a crise cujo epicentro está na Europa, sua próxima escala global.

BENJAMIN STEINBRUCH - Força, Steve


 Força, Steve
BENJAMIN STEINBRUCH 
FOLHA DE SP - 27/09/11

Se não tivesse feito o curso de caligrafia, Jobs talvez nunca tivesse criado um computador como o Mac


A mãe dele era uma jovem solteira. Quando engravidou, em 1954, decidiu imediatamente que entregaria o filho para adoção. Menino ou menina, seu desejo era o de que o bebê fosse adotado por pais com formação superior, para que tivesse no futuro a oportunidade também de cursar uma universidade.
Os pais que estavam em primeiro lugar na fila para adoção esperavam por uma menina. Mas, no dia do parto, receberam um telefonema de madrugada: "É um menino? Vocês o querem?". "Claro", respondeu rapidamente a mãe adotiva, que lhe deu o nome de Steve.
Até então, a mãe biológica imaginava que os pais escolhidos fossem advogados. Mas, logo depois, descobriu que nenhum dos dois tinha formação universitária e recusou-se a assinar os papéis definitivos da adoção. Só acabou cedendo porque o casal assumiu o compromisso de colocar o filho na universidade no futuro.
Ao completar 17 anos, Steve realmente foi para uma universidade, cumprindo-se, portanto, a promessa dos pais. Entrou no Reed College, em Portland, no Oregon (EUA).
Cerca de seis meses depois do início das aulas, o jovem se deu conta de que o compromisso era muito penoso para os pais adotivos, que eram operários. Se ele continuasse naquela universidade, bastante cara, em pouco tempo consumiria a poupança que o casal havia guardado durante toda a vida. Além disso, o curso que fazia não lhe interessava muito.
Decidiu seguir o que mandava seu coração, saiu da faculdade, mas ficou pelas imediações por mais 18 meses. Nesse período, passou a assistir aulas que pareciam muito mais interessantes, de caligrafia, fora da grade curricular.
Trabalhou como catador de garrafas de Coca-Cola, que vendia a US$ 0,05 cada uma, e dormiu durante algum tempo no chão, em quartos de amigos. Nas noites de domingo, costumava andar 11 km para ganhar uma boa refeição semanal no templo de Hare Krishna.
O jovem Steve não sabia disso, mas fazer aquele curso de caligrafia seria uma das melhores decisões de sua vida. Naquela época, não tinha a menor ideia sobre qual aplicação teria aquilo para ele. Mas, dez anos depois, quando projetou o primeiro computador Macintosh, na garagem da casa dos pais, essa formação foi muito útil. O Mac foi o primeiro computador com design e tipologia bonitos e modernos. Sem o conhecimento que adquiriu naquele curso simples, na periferia da universidade, talvez nunca tivesse sido criado um computador como o Mac.
Para quem ainda não sabe, essa é a história da vida de Steve Jobs, o magnata americano que foi um dos fundadores da Apple, em 1974. Dez anos depois, essa empresa americana já faturava US$ 2 bilhões e empregava 4.000 pessoas. Em 2011, tornou-se a maior empresa do mundo em valor de mercado.
A história de Jobs foi contada por ele próprio em depoimento emocionante para formandos da Universidade de Stanford, na Califórnia, em 2005. Circula na internet há anos um vídeo com essa conferência, que recomendo. É emocionante, uma verdadeira lição de vida.
O próprio Jobs fala dessa lição. Diz que as pessoas precisam ter a coragem de seguir seu coração e sua intuição, mesmo quando o caminho de suas vidas é diferente do previsto. É preciso ter confiança de que os pontos, de alguma maneira, vão se conectar no futuro. A conexão entre o curso de caligrafia e o Macintosh, por exemplo, foi direta, mas só ocorreu dez anos depois.
Ou seja, é preciso ter determinação e persistência para realizar os próprios sonhos e satisfazer suas curiosidades. Muitas vezes, somos tentados a desistir deles, influenciados demais por opiniões alheias. Se realizasse o sonho da mãe biológica, Jobs seria uma pessoa preparada e culta, com formação universitária, mas certamente não seguiria o caminho que o levou a criar uma das mais importantes companhias da área de tecnologia do século 21.
Em agosto, Jobs pediu demissão da presidência da Apple para tratamento de saúde. Aos 56 anos, está enfrentando uma nova batalha pessoal, contra um câncer no pâncreas. Que vença mais essa. Como ele mesmo disse, "às vezes, a vida bate com um tijolo na sua cabeça", mas nunca se deve perder a fé.

RENATA LO PRETE - 'Mãe' da Copa

'Mãe' da Copa
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SP - 27/09/11

Preocupado com o ritmo das obras de infraestrutura associadas à Copa-2014 e sob constante pressão da Fifa, o Planalto cogita designar uma espécie de gerente-geral dos projetos de legado da competição, nos moldes do que Lula fizera quando escolheu Dilma Rousseff para administrar a execução do PAC.
Para driblar eventual mal-estar político, o governo evita caracterizar a medida como "intervenção", mas a presidente deixa claro que quer alguém com os cronogramas em mãos e disponibilidade para cobrar prazos com rigor. Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Miriam Belchior (Planejamento) são as cotadas para a tarefa.

Comitiva Dilma determinou ontem que os ministros das pastas envolvidas na Copa visitem o quanto antes as obras dos estádios e monitorem os prazos. Orlando Silva (Esporte), Gastão Vieira (Turismo) e Jorge Hage (CGU) foram escalados para a nova inspeção nos canteiros.

Ralho 1 A presidente não gostou nada das declarações de Marcelo Guaranys, diretor-presidente da Anac, que classificou como "razoável" a ideia de Congonhas operar 24 horas. O governo não quer nem ouvir falar nisso. E considera que a solução para o tráfego aéreo durante o Mundial de 2014 não pode vir de medidas paliativas.

Ralho 2 Também não agradou a defesa pública da ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) de um novo imposto para financiar a saúde. Embora o Planalto se interesse pela ideia, o desabafo foi considerado inoportuno no entorno de Dilma.

Homeopatia Em privado, Gleisi Hoffmann pondera, sobre o mesmo tema: "Os senadores não concordarem com a criação de novo imposto é até compreensível. Mas aumentar as despesas sem fonte de receita é, no mínimo, irresponsabilidade".

Avulso O comportamento de Lindberg Farias (PT-RJ) depois de deflagrada a guerra em torno dos royalties do petróleo intriga o Planalto. A reclamação é a de que o senador petista, pré-candidato ao Palácio das Laranjeiras, está mais duro com o governo do que Sérgio Cabral (PMDB). E que seu comportamento "independente demais" começa a invadir outras searas, como o Código Florestal.

Veteranos Apontado como nome da "renovação" à prefeitura paulistana, o tucano Bruno Covas atraiu ontem dez ex-secretários de seu avô, Mario Covas, ao evento em que anunciou a transferência de domicílio eleitoral para São Paulo. Também foi saudado na festa Goro Hama, ex-dirigente da CDHU, condenado por improbidade.

Pacificador Ignorando a pregação por prévias, o deputado Orlando Morando (PSDB) pediu que Geraldo Alckmin interceda pela união tucana, evitando disputa interna: "O governador vai acabar agindo como juiz de paz."

Quatro mãos FHC e Lula farão prefácios para o livro que narra os 20 anos de trajetória da Força Sindical, a ser lançado em outubro.

Nada a perder Levado ao Conselho de Ética por delatar a venda de emendas, Roque Barbiere (PTB) desperta sentimento ambíguo nos colegas de Casa. Enquanto uns querem punição "exemplar", há quem tema que o petebista reafirme as acusações, nominando deputados que adotariam tal prática.

Visita à Folha Viviane Senna, presidente do Instituto Ayrton Senna, visitou ontem a Folha, onde foi recebida em almoço. Estava com David Moisés, gerente de comunicação, e Renato Miranda, assessor de imprensa.
com LETÍCIA SANDER e FABIO ZAMBELI

tiroteio

"Em tese, todo mundo é favorável à destinação de mais recursos para a saúde pública. O problema central é discutir a viabilidade. A emenda em questão é inexequível.
DO LÍDER DO GOVERNO NO SENADO, ROMERO JUCÁ (PMDB-RR), sobre o fato de 53 senadores terem se declarado a favor do projeto que vincula à saúde 10% da receita da União. O governo é contrário à proposta.

contraponto

Passaporte, por favor


Na terça-feira passada, o deputado Chico Lopes (PCdoB-CE) e Veveu Arruda, prefeito de Sobral (CE), viajavam no mesmo voo para Brasília. Com o aeroporto Juscelino Kubitschek lotado, a aeronave em que ambos estavam acabou deslocada para a área internacional do terminal, onde conseguiram desembarcar. O deputado, lembrando o o apelido da cidade cearense, chamada de "United States os Sobral", brincou:
-Agora está provado que Sobral é outro país mesmo! Passamos até pelo free-shop! Faltou a alfândega...

PAULO SANT’ANA - Autopesquisa


Autopesquisa
PAULO SANT’ANA
ZERO HORA - 27/09/11

Uma mulher foi constatada morta no hospital e foi expedido o respectivo atestado de óbito, isso em Duque de Caxias (RJ), anteontem. Dali a instantes, os familiares da defunta foram chamados ao hospital para as providências de sepultamento.

Foi quando se abraçaram ao cadáver, que incrivelmente se mexeu, a mulher estava viva e toda a confusão acabou recomposta. Sabendo disso, fui ontem pela manhã ao enterro de um amigo. Com medo de que ele estivesse sendo enterrado vivo, tive o cuidado de colocar no peito do defunto, dentro do caixão, um telefone celular com carga automática. Marca do telefone, é lógico: Vivo.

Ele foi enterrado, e duas horas depois eu telefonei para ele, que atendeu. Eu disse: “Oi”, Ele retrucou: “Claro”.

Por sinal, com referência a esse amigo que enterrei ontem, TIM, outra marca de telefone, quer dizer: Te Invejo Morto.

Encomendei uma pesquisa sobre o meu comportamento no trato com as pessoas. Houve 51% dos entrevistados que responderam que eu sou gentil no trato com os fãs. Alguns até responderam que sou “comovedoramente gentil”. Mas me impressionaram aqueles 49% dos pesquisados que disseram que sou áspero no trato com as pessoas.

Alguns até acrescentaram: “surpreendentemente áspero”. A conclusão a que cheguei é de que por vezes eu sou gentil, por vezes sou áspero. Ou seja, depende do dia ou do momento por que eu estiver passando. Se não estiver bem, torno-me áspero. Se tudo estiver dando certo comigo, sou gentil.

Eu tenho sérias restrições a esse meu comportamento mercurial, ora estou com excelente bom humor, ora dou patadas para todos os lados. Está certo que eu seja bipolar, mas não a ponto de por vezes ser áspero com as pessoas. Elas não têm culpa de eu ser muito conhecido por rádio, jornal e televisão. Toda pessoa merece de mim a máxima atenção e gentileza, não se explica que eu trate com aspereza alguns.

Tenho um filho que, quando vai ao restaurante comigo, sempre me adverte na mesa quando começo a afetar irritação com o garçom: “Pai, te acalma, se ele é garçom, é porque passou nos testes”. Mesmo que garçom seja uma profissão que é fonte frequente de irritação dos clientes, é necessário tolerância com os outros, em todas as circunstâncias.

Não sei se é transtorno meu, mas me considero uma pessoa essencialmente boa. Como é então que 49% dos pesquisados responderam que eu os trato asperamente? Vou tratar de mandar fazer outra pesquisa daqui a seis meses, procurando tratar gentilmente a todos de hoje em diante. Eu vou mudar para melhor o índice nessa próxima pesquisa, nem que seja a muque.

FABRÍCIO CARPINEJAR - Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)


Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)
FABRÍCIO CARPINEJAR
ZERO HORA - 27/09/11

Se você já foi um universitário ou tem um filho na universidade, entende o valor da temida sigla TCC.

TCC é tudo. O resto é nada. Você é nada, uma ameba, um protozoário perto de um TCC.

O Trabalho de Conclusão do Curso é a greve de existir do jovem. Faz o vestibular parecer um feriado.

O TCC é a TPM do Ensino Superior, a cadeira derretida do inferno, a desculpa para não realizar mais nada.

Não se vive com um TCC. A monografia final da graduação é a fita azul que enrola o canudo, é a provação derradeira para emoldurar o diploma, é o que separa o capelo do céu.

Na teoria, a tarefa se exibe fácil. Arrumar um tema, depois juntar material de pesquisa, atender aos conselhos de um professor orientador e, por fim, escrever 60 páginas. O fim nunca se encerra. No momento de pôr as ideias na tela, o último semestre demora mais três e o pânico devora as letras do teclado como um vírus.

O TCC é o Gulag do adolescente, o exílio solar, a solidão noturna. É o bilhete de suicídio prolongado em livro. É o mesmo que receber simultaneamente a notícia de gravidez e esterilidade.

Não se é humano com o TCC. É um crime se divertir, arejar a cabeça, brincar durante o período. A expectativa de solucionar um problema da carreira a partir de um texto acadêmico torna-se o problema. O futuro ganha o sinônimo de PRAZO ESGOTADO. A esperança tem o subtítulo ANOTAR ALGUMA COISA, QUALQUER COISA, POR FAVOR, ME AJUDA. O sujeito não tem mais passado, mas BIBLIOGRAFIA. Não existe lembrança, e sim FONTE.

Muito fácil reconhecer o graduando na rua. Andará vagaroso, vidrado nos cadarços soltos do próprio tênis, rosto maltratado, remela nos olhos, roupas sobrepostas de quem se acordou agora e pegou as primeiras peças pela frente. Demonstrará irritação e uma dificuldade de entender a lógica do idioma. É um poço de culpa, ou porque não dormiu para estudar, ou porque dormiu e não estudou.

Algumas respostas básicas de um universitário redigindo o TCC:

Você namora? – Não posso agora, estou preocupado com o TCC.

Vamos tomar um café no fim de tarde e pôr o papo em dia? – Não dá, tenho que fazer o TCC.

Que tal Green Valley no domingo? – Nem pensar, estou com o TCC parado.

Topa churrasco de noite? – Nunca, não avancei no TCC.

Um cineminha hoje, para descontrair um pouco? – Desculpa, estou atrasado para o meu TCC.

Onde você está? – Tentando achar uma posição confortável para escrever meu TCC.

Você leu a crônica de Carpinejar em Zero Hora? – Não, só leio o que interessa ao meu TCC.

LAURA MEDIOLI - Revolução platônica


Revolução platônica
LAURA MEDIOLI
O TEMPO - 27/09/11

Uma enciclopédia inteira na cabeça da garota, que, em câmara lenta, tombou em seus braços
Após uma anabolizada geral, começou a se sentir estranho, aquelas dores esquisitas, o cabelo caindo, o bíceps explodindo. O amigo já havia lhe dito que músculo à base de química não era uma boa. E ele lá, de frente ao espelho, se perguntando se realmente valia a pena.

Saradão, fazia sucesso na academia, em especial com a turbinada Marilene, seu mais constante affaire.

Preocupado com as últimas reações do corpo, principalmente com as do baixo ventre, que já não funcionava mais como antigamente, resolveu ir à biblioteca municipal ler alguma coisa a respeito. A biblioteca era uma enormidade, e ele, perdido, saiu em busca de informações.

E foi no meio de corredores e estantes altíssimas que topou com ela, uma mirradinha morena, de "oclinhos" redondos e olhar inteligente, na ponta dos pés, tentando alcançar um livro.

Atabalhoado como sempre e acostumado a movimentos bruscos, quis ajudá-la. Claro, deu no que deu. Uma enciclopédia inteira na cabeça da garota, que, em câmara lenta, tombou em seus braços bombados.

Nem sabia o que fazer; desculpar-se com uma semidesmaiada não resolveria. Pegou a menina e sentou-a na cadeira, tomou-lhe o pulso, dando-lhe tapinhas e verificando galos na cabeça. E foi assim, da forma mais inusitada possível, que o saradão se descobriu às voltas com estranhas emoções. Aquela jovem pequena e bonita despertara nele sentimentos e cuidados nunca antes vividos. Encantado, jamais imaginou que essa coisa de "primeira vista" pudesse ser possível. Envolver-se com alguém não somente na forma carnal estava em segundíssimo plano e, no entanto, de repente, lá estava ele, com o coração em descompasso e a emoção escapulindo pelos poros.

O nome dela era Raquel, doutoranda em filosofia e antropologia, tradutora oficial de grego e hebraico, aparentava em seu corpo frágil bem menos que seus 25 anos.

Na cantina da biblioteca, conversaram. Ela, de uma maneira fluida, com o charme da timidez latente e o domínio dos conhecimentos, deixou-o impressionadíssimo. Ele nem tinha o que dizer, era todo ouvidos, interessado na sua história, nas suas viagens pelo mundo, no trabalho que fazia com prazer e dedicação, nas diferentes e bizarras culturas que encontrou no planeta, nos estudos dos escritos hieróglifos nos quais se empenhava no momento. E ele sequer sabia o que era isso, pensou com seus botões. Após expor em minúcias e sem afetação suas atividades vocacionais, Raquel quis saber dele o que fazia, o que lhe dava prazer. Embora não tivesse concluído o curso de educação física, trabalhava em academias, clubes, além de alguns bicos, virando-se como podia. E o que lhe dava prazer? Claro, o esporte, a musculação, o halterofilismo, nasceu para isso, dizia inchando o peitoral de uma maneira nada discreta. Acostumado a fazer sucesso com a tal musculatura, não entendeu como a garota nem sequer moveu os cílios.

Absorveu-se tanto pela conversa dela que, mesmo não tendo compreendido a metade, passou a frequentar assiduamente a biblioteca. Sabia que ali a encontraria e, sentados à mesa da cantina, falariam sobre Platão, cabala, existencialismo, dentre outros, ou melhor, ouviria sobre Platão, cabala, existencialismo e coisas do tipo.

Desde o primeiro encontro, correu para o Aurélio. Hieróglifos era uma palavra demasiadamente complicada e nova em seu vocabulário, carecia de estudos. Aristóteles recebeu influência de Platão, até aí tudo bem, mas quem foi mesmo esse cara? O tal de Heráclito? Além de filosofar, o que mais faz um filósofo? Questionamentos como esse iam lhe martelando a cabeça. Procurou o amigo professor de história, não podia fazer feio com a garota. Além de escutar, queria participar, dar suas opiniões.

O amigo riu, disse que era loucura. E ele: Cara! Loucura é o que estou sentindo por ela. Preciso de aulas. Urgente!!!

E numa certa academia: - Hieróglifos? Acredita que ele me perguntou o que era isso? E achou um absurdo eu não saber direito quem foi Platão?

- Calma, Marilene, ele só resolveu se instruir um pouco... Saber das coisas...

- Que coisas? Desde quando se interessa por isso? Ah! Aí tem. E quer saber? Vou estudar Platão de cabo a rabo. Tá pensando o quê? Que sou uma inculta?

E do outro lado da cidade: - Amiga, ando meio enferrujada, meio caidinha... O que você acha de eu entrar pra uma ginástica, uma musculação, uma...

ILIMAR FRANCO - Quero o meu


Quero o meu
ILIMAR FRANCO 
O GLOBO - 27/09/11

O PRB está usando todo o seu poder de fogo, junto à presidente Dilma, para arrancar um cargo de primeiro escalão na reforma ministerial prevista para a virada do ano. Os dirigentes do partido, que tem apenas dez deputados na Câmara e um Senador, Marcelo Crivella (RJ), sustentam o pleito com os fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus e seu poder de fogo na área da comunicação.

A GRANDE preocupação do governo no Senado é com a votação da Emenda 29. O Planalto não aceita qualquer iniciativa que amplie os gastos com a Saúde.

Todo mundo quer correr para o abraçoEstá ocorrendo na Esplanada dos Ministérios um verdadeiro ataque especulativo sobre o Ministério do Esporte. De repente, todos querem faturar com a Copa do Mundo de 2014. E a pasta, que sempre foi considerada um prêmio de consolação, ficou grande demais para o ministro Orlando Silva e seu partido, o PCdoB. A despeito de dificuldades iniciais, a conclusão no Planalto é que não tem como sair nada errado para a Copa. Os estádios vão ser feitos e, mesmo que não sejam as ideais, as obras em aeroportos e de mobilidade urbana ficarão prontas. Por isso, sempre há no governo alguém querendo assumir alguma tarefa da Copa.

Um cargo aíO Senador Gim Argello (PTB-DF) esteve com a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais). Foi reclamar que partidos governistas menores que o PTB têm ministério e que eles, com 22 deputados e seis Senadores, não têm nenhum.

Pós-PSDCorrendo atrás do prejuízo, o presidente do DEM, Senador José Agripino (RN), foi ontem a Santa Catarina filiar 300 jovens empresários do comércio e da indústria. O governador Raimundo Colombo trocou o DEM pelo PSD.

2012Irmã do ministro Gilberto Carvalho (Secretaria Geral), a ex-ministra do Desenvolvimento Social Márcia Lopes (PT) vai disputar a prefeitura de Londrina (PR). A pasta que ela dirigiu é a responsável pelo programa Bolsa Família.

A prioridade é a ditadura militar de 1964O Senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) será o relator do projeto que cria a Comissão da Verdade na Comissão de Constituição e Justiça e no plenário do Senado. Para integrantes do governo Dilma, não importa o texto falar em investigações a partir de 1946, pois os trabalhos vão se concentrar no período após o AI-5. O ex-ministro de Direitos Humanos Nilmário Miranda defende que o prazo seja a partir de 1961.
Para atender os estados não produtores, a União está abrindo mão de 0,28% de sua arrecadação; os estados produtores, de 3,99%; e os municípios confrontantes, de 19%" - Francisco Dornelles, Senador (PP-RJ), sobre a divisão dos royalties do petróleo

EMBAIXADOR DO BRASIL. Para colocar ordem na casa, no que se refere à concessão de passaportes diplomáticos, concedidos indevidamente até para os filhos do ex-presidente Lula, o Ministério das Relações Exteriores recolheu todos esses documentos. Um dos atingidos foi o ex-presidente da Fifa João Havelange. Feita a revisão, o Itamaraty decidiu que vai expedir um novo passaporte diplomático para Havelange, um "player" do Brasil no mundo do futebol, dos esportes e das Olimpíadas.

Do meu jeitoA presidente Dilma não quer patrocinar uma nova lei que taxe as operações financeiras, a exemplo da CPMF. Mas apoiará qualquer iniciativa com esse objetivo que venha a ser defendida por personalidades e organizações sociais.

A GRANDE preocupação do governo no Senado é com a votação da Emenda 29. O Planalto não aceita qualquer iniciativa que amplie os gastos com a Saúde.

FALA O LÍDER do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR): "O projeto do (ex-Senador) Tião Viana (atual governador do Acre) é uma tese simpática, mas a realidade impede que ele seja implementado. Vai tirar dinheiro de onde para aumentar de 7% para 10% do PIB os recursos para a Saúde?".

DEPUTADOS federais do Rio participaram ontem de reunião na ANP para tratar da atualização dos royalties cobrados das empresas petroleiras.

ALON FEUERWERKER - O que falta mostrar


O que falta mostrar
ALON FEUERWERKER
CORREIO BRAZILIENSE - 27/09/11

Será que as unidades federativas privilegiadas até agora na repartição do dinheiro da extração petrolífera, no pré-sal ou nas fontes tradicionais, estão gastando bem?

O Congresso Nacional está para apreciar o veto à lei que democratiza o acesso aos royalties do petróleo do pré-sal. Nesse debate, o governo anterior avaliou mal a relação de forças e legou uma encrenca de bom tamanho.
O erro essencial do então presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, foi imaginar que um acordo dele com o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, bastaria para pôr fim à disputa entre os estados pela verba das novas províncias petrolíferas.
Ou talvez o erro maior tenha sido do próprio Cabral, por achar que, acertando os ponteiros com Lula, liquidaria o assunto.
O modelo para aquela negociação reproduziu uma falha mais estrutural: considerar que o tema é monopólio dos assim chamados estados produtores. Ou extratores, numa definição mais precisa. Pois o homem não produz petróleo. Extrai.
O pré-sal é do Brasil, e o Brasil tem 26 estados e um Distrito Federal. Como ficou demonstrado nas votações no Congresso. Cada pedacinho do Brasil deseja, com legitimidade, participar do progresso trazido pela nova riqueza.
Não basta Cabral repetir à exaustão que o formato por ele defendido reproduz os termos do acordo costurado com Lula. O que o governador ainda não mostrou é que a proposta original do Executivo é melhor para o Brasil.
E dificilmente conseguirá mostrar, como provam as dificuldades no Legislativo. Sobrou tempo aos defensores do texto original para vender o peixe, mas não está fácil.
A Câmara representa o povo e o Senado representa a Federação. Ou, pelo menos, deveriam representar. Nem sempre conseguem, mas, quando a oportunidade se coloca, os políticos costumam farejá-la com antecedência.
Não há como o político chegar no seu estado ou município e dizer que, simplesmente, abriu mão dos recursos. Essa lógica vale para todos os políticos. Dos estados hoje com a parte do leão e dos demais. E estes são em bem mais número.
Mas ainda falta aprofundar outro ângulo da polêmica.
Um problema bem discutido na batalha dos royalties do pré-sal é quanto deveria caber a cada um.
Mas há outro ponto, talvez até mais importante. Será que as unidades federativas privilegiadas até agora na repartição do dinheiro da extração petrolífera, no pré-sal ou nas fontes tradicionais, estão gastando bem?
A educação e a saúde melhoraram nesses estados? Há algum projeto social revolucionário financiado com os recursos? Das mistificações sabemos, mas, e no essencial? Como tem sido, por exemplo, a evolução do desempenho no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) dos estudantes das regiões produtoras?
É o que falta aos estados produtores mostrar. Como não o fizeram, pelo menos até agora, abrem ainda mais caminho à aspiração legítima dos demais.
A favor dos produtores/extratores, pode-se argumentar sobre a necessidade de mais investimentos públicos em regiões expostas ao crescimento econômico proporcionado pelo petróleo.
Ao que é possível também contra-argumentar: a elevação de receitas gerada pelo aquecimento da economia deveria dar conta desse recado. Impostos existem para isso mesmo.
Se o petróleo é um recurso estratégico, talvez fosse mais adequado concentrar o manejo das receitas nas mãos da União. Mas a tendência no Congresso vai no sentido oposto. Usar o pedaço que cabe à União para acomodar politicamente as disputas entre estados.
Será uma pena se a solução para o impasse caminhar por aí. Os federalistas que me perdoem, mas neste caso talvez seja mesmo melhor deixar o grosso do dinheiro na esfera federal e vincular a destinação. Para a saúde, a educação e o desenvolvimento científico-tecnológico.
Melhor que o quadro atual, de pulverização e desperdício.
Estou errado? Tragam os números que comprovem o erro.

ARNALDO JABOR - A nova galeria de chatos


A nova galeria de chatos
ARNALDO JABOR
O ESTADÃO - 27/09/11

Estou num elevador vazio, indo para o 20º andar. Entra um cara e me olha. Eu, precavido, já estou de cabeça baixa. Fico tenso de dúvida: "Ele ousará falar?" - eu penso. "Falo com ele?" - ele pensa. Passam uns andares. "Ele não vai aguentar" - eu penso.

Não dá outra: "Você não é aquele cara da TV?".


"Sou... há, há" - sorrio, pálido, fingindo-me deliciado.


"Só que eu esqueci teu nome... Como é teu nome mesmo?".


Penso em enforcá-lo na gravata de bolinhas, mas respondo: "Arnaldo...".


"Não; é outro nome. Qual é mesmo?". Desesperado, murmuro: "Jabor"... "É isso, porra! Claro... E é você mesmo que escreve aquelas coisas...?". Penso, sorrindo: "Não... é tua mãe que me manda lá da zona...".


Como eu apareço peruando na TV, dá nisso. O sujeito pensa que é íntimo, pois, quando ele transa com a mulher de noite, estou olhando da tela.


Esse é um pequeno exemplo, pois a galeria de chatos está em permanente renovação. Eu já escrevi aqui sobre isso, mas tenho de repetir porque eles evoluem e agora se expandem pelas redes sociais. São os novos chatos digitais que abundam (sic) nos twitters e facebooks. Podemos chamá-los de "e-chatos": me atormentam com e-mails loucos ou produzem textos ridículos com meu nome.


Todo dia surge uma nova besteira, com dezenas de e-mails me elogiando pelo que eu "não" fiz. Três senhoras me abordam: "Teu artigo na internet é genial! Principalmente quando você escreve: ‘As mulheres são tão cheirosinhas; elas fazem biquinho e deitam no teu ombro...’".


"Não fui eu...", respondo. Elas não ouvem: "Modéstia sua! Finalmente, alguém diz a verdade sobre as mulheres! Você também escreveu que ‘bunda dura’ não é importante. Fiquei felicíssima, porque tenho bunda mole!". (Juro que é verdade).


Há um outro texto rolando (e elogiado) em que louvo a estupidez humana, chamado "Seja idiota!"... É um sucesso entre imbecis...


Mas, além dos "e-chatos", não podemos nos esquecer dos chatos ao vivo, que também mudam e se reinventam.


Claro que gosto de conversar com eventuais leitores ou ouvintes. Não sou tão chato assim. Muitos são ótimos e gentis. Mas, tem cada um...


O fundador da estirpe dos chatos é o célebre "chato de galochas", cujo nome provém do sujeito que calçava as galochas e saía de casa com chuva torrencial para chatear alguém em domicílio. Seria o chato "on delivery".


Agora, surgiu um tipo perigoso: o "chato autocrítico". Ele chega com um sorriso constrangido e confessa logo de saída: "Eu sei que sou chato... ah... ah..., mas, desculpe eu perguntar: ‘na sua opinião, o Lula vai voltar?’".


Além do autocrítico, há o chato crítico, ou o "chato do mas". Ele te agarra na rua e começa com elogios rasgados: "Você é o máximo; aquele teu artigo foi legal, mas... (trata-se do "chato do mas") você disse uma besteira horrível outro dia - o PIB da China não é aquele que você falou... Tá por fora! Tem de ler mais economia, hein?".


Há também os "chatos de esquerda" e os "chatos de direita". Ambos me empurram contra uma parede e me doutrinam sobre o Brasil. Acham que sabem tudo. E vejo que os dois chatos ideológicos se encontram no infinito, pois a essência da chatice é a certeza...


Outro tipo terrível é o que te elogia pelos piores motivos: "O que mais gosto em você é o desprezo que você tem por esse povo ignorante e vagabundo. Brasileiro não presta...". Pode?


Outro dia, sofri um assédio inédito: os "chatos em dupla". Eu estava no aeroporto, às oito da manhã, quando eles vieram. Veio um e começou a me inquirir gravemente sobre o Oriente Médio. Suando frio, comecei a resmungar com a boca pastosa, quando surgiu um outro, desconhecido do primeiro. Eis que o novo chato interrompeu o titular da posição com perguntas ansiosas, "se eu achava que a Dilma estava indo bem" etc... Aí, deu-se o conflito: os dois passaram a se degladiar na minha frente pelo direito "hierárquico" de me encher o saco. "Eu cheguei primeiro, tenho prioridade, depois você fala! Sim, não!".


Parei de sofrer e fiquei maravilhado com a rica "biodiversidade" da espécie. Nesse instante, surge outro chato, o famoso "altissonante", que me agarra e berra: "Cara, eu te adoro! Sou teu fã!", e me bate violentamente nas costas, num elogio com laivos de insulto e vingança. É assim...


Nessa nova galeria, há veteranos, como o "chato da ponte aérea"... Ele fica à espreita na sala de embarque; quando você entra, ele já te viu de longe... Você pensa: "Será que ele me viu?". Você finca os olhos no jornal, com temor e esperança. Dali a pouco, passos a teu lado, uma maleta pousa no chão e ele gruda: "Posso lhe dizer uma coisa?... Acho que você devia falar menos de política e ver o lado humano do cidadão comum... Veja eu, por exemplo; sofri muito quando minha mulher me largou, mas posso lhe aconselhar que o amor, meu caro...". Trata-se do "chato conselheiro", que, em geral, te deixa um cartão de visitas: "Se precisar, liga".


Também me lembro sempre do "chato-corno". Eu tomando um cafezinho no aeroporto, oito da manhã, indo para Porto Velho. Vem o cara no celular, falando alto: "Ihh... meu amor, sabe quem está aqui ao meu lado?... o Jabor... Quer ver?". Vira-se para mim e diz: "Fala aqui com minha namorada; o nome dela é Eliette".


Um dia, houve a apoteose do "chato do autógrafo". Fazia eu um modesto xixi num banheiro de cinema, quando o cara chegou: "Me dá um autógrafo?". Fiquei uma arara: "Estou fazendo xixi... porra... tu quer o quê?". E ele: "Qual é a tua? Tá pensando que eu sou viado? Enfia esse autógrafo...".


Em geral, o chato é carente, com uma ponta de sadismo. Ele gosta de ver teu sofrimento; por isso, não adiantam respostas malcriadas, resmungos frios. Ele gruda mais. Uma técnica que funciona é chatear o chato. Seja o "chato do chato". Ele pergunta: "Você vai fazer outro filme, já que esse não deu grana?". Aí, você retruca: "O que você está achando do PMDB?".


O Tom Jobim, uma das maiores autoridades em chatos de todos os tempos, me ensinou um truque infalível: "Use óculos escuros. O chato fica desorientado, pois ele adora ver o próprio rosto refletido em teus olhos desesperados".

DORA KRAMER - Intenção e gesto


Intenção e gesto
DORA KRAMER
O ESTADÃO - 27/09/11

Quando governos falam em "novas fontes de recursos" referem-se ao bolso do contribuinte. Quanto a isso, a ministra das Relações Institucionais não fez restar dúvida na entrevista publicada ontem no Estado .

"É um novo imposto", disse Ideli Salvatti, deixando patente a ideia do Planalto de ressuscitar a CPMF com nova roupagem para, em tese, financiar o sistema público de saúde.

"Em tese" porque por nove anos vigorou o imposto do cheque criado com o mesmo objetivo no governo Fernando Henrique Cardoso sem que houvesse o cumprimento do compromisso original.

Do destino dos recursos da CPMF ninguém sabe ao certo, embora se saiba que certamente não serviram para fazer alguma diferença entre o atendimento oferecido antes e depois da criação do imposto teoricamente específico.

A assertividade da ministra Salvatti hoje contrasta com a afirmativa do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, em fevereiro último, sobre o mesmo assunto.

"Todo mundo sabe e concorda que a saúde precisa de mais dinheiro, mas se o governo não fizer a sua parte, se não fizermos o máximo com o que temos, é absolutamente impossível pensar em exigir o que quer que seja a mais da população", dizia ele, defendendo que o governo primeiro mostrasse serviço e depois pensasse em falar na cobrança de um novo imposto.

Padilha foi claríssimo: "Não vamos conseguir mais recursos para a saúde se não mostrarmos antes para a sociedade para onde vai o dinheiro e se está sendo bem empregado".

Tinha até um plano: que o governo federal passasse a exigir dos Estados e municípios, para onde vão 90% dos recursos do orçamento do Ministério da Saúde, o cumprimento de metas de desempenho, com cobrança de resultados e avaliação do grau de satisfação do usuário.

Numa primeira etapa, com duração de um ano a partir de abril último, seriam firmados "contratos de ação pública" com cada uma das 500 "regionais sanitárias" em que seria dividido o País e aquelas que se saíssem melhor teriam prioridade para receber verbas e equipamentos.

Segundo o ministro, a execução dessa fase só dependeria da capacidade de organização e fiscalização do Poder Executivo. Depois disso, aí sim o governo precisaria trabalhar pela aprovação no Congresso de uma lei de responsabilidade sanitária, nos moldes da Lei de Responsabilidade Fiscal, a fim de estabelecer punições para as regionais que não atendessem às exigências de desempenho.

A proposta, de acordo com Alexandre Padilha, já estava desde então (em fevereiro) tramitando no Congresso.

Pois bem. Tomando por base o mês de abril, daquele ano pretendido pelo ministro da Saúde em que o governo se poria a teste mostrando à população capacidade de "fazer o máximo com o que temos", transcorreram cinco meses.

E o que se ouve sobre o assunto são as palavras da ministra Salvatti preconizando justamente o contrário do que ele havia dito.

Nada foi dito sobre resultados a serem apresentados como preliminar à cobrança de novo imposto. Nunca mais se ouviu falar sobre o andamento daquele plano de gestão empresarial do sistema, que pode até estar em execução, mas não faz parte da argumentação apresentada pela ministra das Relações Institucionais para justificar a criação de um novo imposto.

A respeito disso, ela só discorre sobre o "venha a nós". Ao reino de quem depende do sistema público de saúde, nada.

Só o que a ministra sabe é que será mesmo inevitável criar um novo imposto, coisa que com o apoio dos governadores ela não acredita que será difícil. Mesmo no ano eleitoral de 2012, que é quando ela acredita que a discussão será posta no Congresso.

E por que, segundo ela, não haverá maiores dificuldades? "Porque os governadores acham e nós concordamos, que o principal tema da eleição de 2012 será a saúde." Pode até ser. Principalmente se o governo estiver apostando na eficácia do discurso de o Congresso não poder se recusar a aprovar a criação de "novas fontes" de recursos para financiar o bem-estar comum para não parecer irresponsável diante da população.

Nesse caso, precisará apostar também num surto de amnésia geral.

MIRIAM LEITÃO - Pouco e tarde


Pouco e tarde
MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 27/09/11

A Europa tem agido pouco e tarde para enfrentar sua crise e as janelas de oportunidade vão se fechando. Os governos, inclusive o brasileiro, se preparam para enfrentar a crise da maneira como ela apareceu da última vez, e esta pode ser diferente. Os mercados oscilam entre esperanças vãs e períodos de medo. Os ativos sobem e descem sem que haja explicação plausível.

O ouro, por exemplo, mudou de rumo e começou a cair de repente. Desde 2009 estava numa trajetória de alta que fez o preço da onça saltar de US$ 820, em janeiro daquele ano, para US$ 1.920 no início deste mês. Depois, começou a cair e ontem fechou em US$ 1.602. Não adianta perguntar aos economistas o que houve. Eles dizem que não sabem. A alta e queda dos ativos de Bolsa, commodities, títulos de países, moedas, nem sempre fazem sentido. A crise de 2008 foi de liquidez, detonada por um evento que gerou pânico. Os governos injetaram trilhões de dólares para manter o mercado financeiro funcionando.

Ninguém esperava que o Lehman Brothers quebrasse porque havia um acordo não escrito de que as maiores economias não deixariam que os bancos quebrassem. Desta vez, há liquidez abundante no mercado e o evento é mais do que esperado.

"A crise de 2008, com a quebra do Lehman Brothers, teve um componente muito forte do inesperado. Ninguém contava que aquele banco pudesse quebrar. No caso da Grécia, todo mundo está acompanhando o que está acontecendo e o mais importante não é 'se' mas 'quando' ela vai quebrar. Outra diferença é que a quebra do Lehman provocou um colapso do crédito porque não se sabia quais seriam os bancos que absorveriam o prejuízo. Agora já se sabe, em caso de reestruturação da dívida grega, quais bancos estão expostos", diz Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central.

O mês de setembro foi todo de espera de um evento salvador. A solução viria na reunião do Fed, ou no encontro do G-20, ou na reunião anual do FMI-Banco Mundial. Nada resolveu. O Fed decidiu pela operação de compra de títulos de curto prazo e venda de longo prazo - a operação twist - para manter as taxas de juros baixas por mais tempo. A reunião do G-20 disse que os países trabalhariam de forma coordenada. O FMI divulgou um comunicado em que garante que os países concordaram "em agir decisivamente para enfrentar os perigos que ameaçam a economia mundial."

De concreto mesmo, tudo o que a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, disse é que o acordo feito em julho pela Zona do Euro será implementado. Esse acordo estabeleceu a ampliação do Fundo de Estabilização e o socorro à Grécia. Mas tudo na Europa é bem devagarzinho. São 17 países e todas as decisões têm que ser aprovadas pelos parlamentos. Até agora, seis países aprovaram, e esta semana ele será votado na Slovênia, hoje, na Finlândia, amanhã, e na Alemanha, quinta-feira. Mas o que interessa é a Alemanha. Todos estão de olho. Até meados de outubro todos os países têm de ter aprovado.

Mas aí será uma grande conquista? Não. Estão todos falando que agora é preciso ampliar ainda mais o Fundo de Estabilização de 400 bilhões de euros. E no fim de semana circularam informações de que os governos negociam a formação de um "escudo" de 2 trilhões de euros. Há um mês, se eles tivessem elevado de 400 bilhões de euros para 1 trilhão de euros seria uma demonstração suficiente. É assim, sempre atrasada, que a Europa tem caminhado.

Agora o mercado sonha que uma solução "definitiva" virá quando de novo se reunir, no meio de novembro, o G-20. Por enquanto os ativos sobem e descem de forma aleatória. Antes o ouro subia para se proteger contra a crise do euro e a queda do dólar; agora cai o ouro e sobe o dólar. A moeda americana subiu 7,5% contra o euro em 30 dias. A explicação para a alta do ouro era que o mercado procurava um refúgio, agora é que a alta do dólar é "fuga para a qualidade". Quando será o calote grego? Uma situação terminal em economia pode se arrastar por anos ou se precipitar. A crise de 2008 foi precipitada pela quebra do Lehman Brothers. Mas a Argentina adiou por dois anos e meio sua moratória.

" A Europa vai adiando o desfecho da Grécia enquanto pode, para tentar proteger os bancos e para que a Grécia consiga ajustar um pouco suas contas públicas ", diz Schwartsman.

Só que quanto mais a solução inevitável é adiada mais cara ela fica.

JOSÉ SIMÃO - Rihanna vai pro "Zorra Total"!


Rihanna vai pro "Zorra Total"!
 JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 27/09/11

E o Congresso quer criar uma coisa chamada "Comissão da Verdade"! COM QUEM? Rarará!


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
E adorei a manchete do Sensacionalista: "Saci nasce com duas pernas e sofre bullying na escola".
E adorei esse supermercado que estava com o estoque de sabonete íntimo Dermafeme encalhado. Aí botaram a placa embaixo: "Oferta! Sabão para xoxota ou periquita, R$ 9,90". Mais direto impossível.
E o Congresso quer criar uma coisa chamada "Comissão da Verdade"! COM QUEM? Rarará! Só se for: Comissão DE Verdade! Começão de Verdade!
E a Rihanna e a Katy Perry? Se elas continuarem no Brasil vão acabar trabalhando no "Zorra Total". Com a traveca do trem! Rarará!
E esta manchete do Piauí Herald: "Banco Central regulará entrada de artistas internacionais". Só permitirão a entrada de novos artistas internacionais se levarem o Restart e o Luan Santana para uma turnê no Iêmen! Aliás, podia mandar a Ideli Salvatti pro Iêmen!
Olha esta: "Ideli Salvatti quer nova taxa para a saúde". Precisa ter muita saúde pra olhar pra ela.
Nããão! De novo aquele encosto do CPMF!? Daqui a pouco essa CPMF vai comemorar bodas de diamante! CPMF quer dizer Contribuição Para se Manter na Fila!
Um menino entrou na fila do SUS pra operar a fimose e demorou tanto que acabou operando a próstata. Rarará!
Diz que é pra botar a saúde nos trilhos. Aí vem um trem e passa por cima! Rarará! Ministério da Saúde adverte: Ideli Salvatti provoca cobreiro, nó nas tripas, zovido estorado, grastite e inflamação na prósta!
Precisa ter a saúde em dobro pra pagar taxa de saúde! E a taxa do colesterol, essa ninguém abole! Como disse um amigo meu: "De tanto pagar tributo, já estou ficando triputo. Triputo da vida!".
E eu que dormi de domingo pra segunda com a TV ligada. E acordei às 3h40 com a trilha sonora da Guerra do Iraque: os metaleiros do Rock in Rio. Parecia som do Bope. BOPE IN RIO!
E um amigo foi pra Feira do Carro e viu a placa: "Vende-se Voyage. Falar com Santana". Rarará!
E mais dois predestinados: em Santos tem um dono de granja chamado Lauremar Pavão da Penna! E o presidente do sindicato dos vigilantes: Edivan GUARITA! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

MÔNICA BERGAMO - PEDRA NO CAMINHO


PEDRA NO CAMINHO
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 27/09/11

A indústria do cimento deve rever nesta semana as projeções de crescimento do setor. Em 2010, ele chegou a 15,6%. Neste ano, será de 7%. Para 2012, a nova previsão é de que desacelere ainda mais. Chegará a no máximo 5%, de acordo com os novos estudos.

FREIO
O boom no consumo do cimento nos últimos anos se sustentou basicamente na construção habitacional. E chegou a 50% nos últimos cinco anos. Segundo os técnicos, ele agora reage automaticamente às novas variáveis econômicas: inflação em alta, expectativa de renda menor, emprego e crédito menos exuberantes.

RUÍDO Não convidem para a mesma mesa os ministros Marco Aurélio Mello e Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal). Os dois tiveram uma discussão ácida há alguns dias depois que Mello pediu vista do processo em que um advogado do Espírito Santo defendia o impeachment de Mendes. Mello depois votou com os colegas e o caso foi arquivado por unanimidade. Mas Mendes acha que o colega o submeteu a um desgaste desnecessário.

CANETA QUEBRADA
A pressão da família de Neymar sobre o presidente do Santos, Luis Alvaro Ribeiro, para que ele enfim assine o contrato que autoriza a transferência do craque para o Real Madrid é "quase irresistível", nas palavras de um interlocutor do cartola. Mas ele já afirmou que trabalha com o cronograma "do Santos", e não dos outros interessados na transação.

CANETA QUEBRADA 2
Nesta semana, Luis Alvaro pretende procurar publicitários que o ajudem a encontrar patrocinadores para bancar a permanência de Neymar no Santos depois de 2012. O contrato do craque com o Banco do Brasil, que deve ser assinado em breve, não é suficiente para se contrapor às propostas do Real.

CANETA QUEBRADA 3
O cartola conversou também com interlocutores de Lula e de Dilma Rousseff.

RISADA
Reynaldo Gianecchini, que passa por um tratamento contra um câncer, assistiu ao espetáculo "Eu Era Tudo pra Ela...E Ela Me Deixou", com Marcelo Médici e Ricardo Rathsam, no sábado, no Teatro Faap.
De boné, Gianecchini ficou sentado na fileira G. No final, Médici dedicou a apresentação ao ator. "Ele apareceu de surpresa e quase nos mata de emoção. Ele está ótimo, alto-astral", diz Médici.

CINCO ESTRELAS
Cosette Alves reunirá poucos amigos para um jantar em torno do chanceler Antonio Patriota.
O encontro será no dia 29, em São Paulo.

GUGU DADÁ
O Instituto Alana está questionando a abordagem que o MaxiMídia, evento do setor de marketing e comunicação, está fazendo de um seminário em que anunciantes discutirão "como dialogar com as crianças sem ultrapassar barreiras", em outubro. A divulgação do debate usa o slogan "aprenda a falar com quem mal aprendeu a falar".

FAÇA O QUE EU DIGO
O Alana diz que a frase passa a ideia de que o evento falará sobre como cooptar crianças em uma fase vulnerável. Maria Laura Nicotero, diretora do MaxiMídia, diz que o slogan é uma "chamada publicitária" e que o seminário focará as "boas práticas" e o "trabalho responsável" nos anúncios voltados para o público infantil.

CURTO-CIRCUITO

A cantora Waleska comemora 50 anos de carreira com show na sexta, às 21h30, no Café Paon. Classificação: 18 anos.

Colin Pritchard fará degustação de uísque no Pobre Juan do shopping Iguatemi Alphaville.

Reny Golcman participa da exposição "Joalheria Brasileira", na embaixada brasileira em Berlim, até 20 de outubro.

O escritório Murta e Goyanes Advogados promove palestras sobre direito do entretenimento, no dia 12 de outubro, durante o Festival do Rio.

O Studio RJ será inaugurado hoje com festa para convidados e shows musicais no Arpoador, no Rio.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

VLADIMIR SAFATLE - Teológico-político


Teológico-político
VLADIMIR SAFATLE
FOLHA DE SP - 27/09/11

"Pense globalmente, aja localmente." Este era um dos slogans mais repetidos por qualquer manual de administração de empresas nos anos 90. O filósofo Slavoj Zizek demonstrou como a política externa dos EUA na primeira década do século 21 seguiu um imperativo inverso: "Pense localmente, aja globalmente".
De fato, boa parte das intervenções norte-americanas na política mundial parece ser orientada por problemas domésticos. Um exemplo trágico é o conflito Israel-Palestina.
Desde que assumiu o poder, Obama reiterou sua disposição em lutar por um Estado palestino. Logo nos primeiros meses de seu governo, ouvimos suas exigências claras sobre o congelamento da política de construção de assentamentos na Cisjordânia. Meses atrás, ele afirmou que a negociação sobre tal Estado deveria partir das fronteiras definidas pela ONU em 1967.
Tudo isso não passou de palavras vazias. Agora, Obama vetará pateticamente uma proposta de reconhecimento do Estado palestino que ele mesmo havia enunciado, na ONU, como objetivo a ser alcançado neste ano. O argumento é que as condições ainda não estariam dadas, já que, para Obama, um Estado não pode ser reconhecido se não for fruto de negociação com a potência que ocupa seu território.
Seguindo tal argumento inacreditável, o Kosovo nunca seria reconhecido como país. Mas os EUA foram um dos primeiros a reconhecê-lo.
O governo Netanyahu disse claramente que um Estado palestino nas fronteiras de 1967 é inaceitável. Ele não afirmou algo como: só aceitamos se houver garantias substantivas de completo desarmamento do Hamas, se pudermos operar conjuntamente a segurança de zonas sensíveis do novo Estado etc. A posição foi simplesmente: não há negociação sobre este ponto. Depois disso, há de se perguntar o que resta a negociar.
A posição dos EUA nessa questão, na contramão de praticamente todo o resto do mundo, só é explicável pelas idiossincrasias de sua política interna. Se Obama é incapaz de pressionar seu aliado a encarar o caráter insustentável da situação, isto não se deve só à influência dos grupos norte-americanos de pressão ligados à comunidade judaica.
O problema é mais espinhoso. Sua raiz deve ser procurada no terreno teológico e na aliança entre os messianismos evangélicos e judaicos. Faz parte da mentalidade evangélica hegemônica no chamado "Bible Belt" a crença em uma certa "comunidade de destino" entre os representantes do Velho e do Novo Testamento.
Algo que o Partido Republicano sabe muito bem e não tem medo de instrumentalizar. Triste é pensar que tópicos sensíveis da política internacional estejam à mercê de influências dessa natureza.

JOÃO PEREIRA COUTINHO - Os sentimentais


Os sentimentais
JOÃO PEREIRA COUTINHO
FOLHA DE SP - 27/09/11

"Grande mistério: por que motivo os livros de Theodore Dalrymple não foram ainda publicados no Brasil? Fato: Dalrymple não é leitura fácil para gostos politicamente corretos. Mas qualquer obra do dr. Dalrymple merece o tempo e o dinheiro. Dalrymple não engana.
Aliás, o seu mais recente livro é uma anatomia dos enganos. Dos sentimentais enganos que começam na esfera privada e rapidamente transbordam, como um líquido viscoso e corrosivo, para a arena pública. Título: "Spoilt Rotten: The Toxic Cult of Sentimentality" (London: Gibson Square, 260 págs.) -algo como "podre e estragado: o culto tóxico do sentimentalismo".
Nem mais. Em finais do século 18, a Europa produziu uma nova sensibilidade "romântica", tendo Rousseau como patrono e o sentimento como deus. Se os homens nascem bons, como explicar a miséria e a infelicidade da espécie?
Não, obviamente, com a natureza imperfeita dela -a velha explicação das teologias tradicionais. Se imperfeição existe, ela se deve a uma sociedade política que aprisiona o "bom selvagem" e impede a expressão pura e purificante do seu "Eu".
Hoje, o "bom selvagem" anda solto. E, com ele, um "Eu" orgulhoso da sua própria ignorância -e orgulhoso porque crente na genuinidade da sua própria genuinidade.
Eis a essência do sentimentalismo: a expressão da emoção sem a presença do julgamento. Sentir basta -porque os sentimentos nunca enganam. Ou, como diria Rousseau, podemos errar, mas, se o erro for sincero, ele não foi propriamente um erro.
Na esfera privada, essa forma de "pensamento" (que é, na verdade, o recuo do pensamento) até pode proporcionar momentos divertidos.
Dalrymple conta um: o dia em que conheceu uma estudante de "Genocide Studies" (sim, isso existe) que dissertou apaixonadamente sobre o genocídio de Ruanda porque vira o filme "Hotel Ruanda". De fato: estudar para que quando basta uma "identificação" (sentimental) com as vítimas de um cataclismo qualquer?
Quando li essa passagem, ri alto. Mas ri com nostalgia. Conheço vários desses "especialistas" que falam sobre as desgraças do mundo porque viram um filme de Hollywood sobre o assunto. ("O aquecimento global existe, juro. Você não viu o filme de Al Gore?")
O sentimentalismo substitui a razão pela emoção. E, se isso diverte na esfera privada, se torna opressivo na arena pública.
Dalrymple analisa dois casos que ilustram o perigo.
O primeiro vem de Portugal, com o desaparecimento de uma criança inglesa no Algarve. Madeleine McCann era o nome, mas a mídia internacional (e sentimental) preferiu rebatizá-la como "Maddie".
Nada sabemos de definitivo sobre o caso: como desapareceu, quem a fez desaparecer, onde estará a criança -viva ou morta.
Mas a opinião pública, confrontada com dois pais que não choravam em público, rapidamente encontrou neles os culpados. A ausência de sentimentalismo não poderia ser explicada por noções clássicas de decoro ou resiliência. A ausência de sentimentalismo era uma revelação de monstruosidade moral.
E, se assim foi em Portugal, assim foi na Inglaterra, com a morte da princesa Diana. Um momento sentimental (e irracional) que levou milhares de ingleses aos portões do Palácio de Buckingham, empunhando cartazes contra a monarquia.
"Mostrem-nos que também sentem!", lia-se num deles, resumo perfeito da demência sentimental: nós queremos que os nossos governantes partilhem as nossas emoções públicas -e em público. Uma espécie de terapia coletiva a que Tony Blair deu o seu contributo, coroando Diana Spencer com o apropriado título de "Princesa do Povo".
O problema dessa terapia é que os líderes deixam de ser líderes e passam a obedecer aos caprichos sentimentais das massas.
Para citar apenas um caso entre mil, são esses caprichos, alimentados também por cantores pop subletrados, que explicam o grande desastre da ajuda humanitária à África. Não que os africanos pobres e famintos não precisem de ajuda.
Mas essa ajuda não pode acabar nas contas bancárias dos governantes africanos que são os primeiros responsáveis pela miséria do seu povo.
O culto do sentimento, escreve Dalrymple, não destrói apenas a capacidade de pensar. Destrói a simples ideia de que é preciso pensar.
Não conheço melhor receita para a barbárie".

MERVAL PEREIRA - Reinventar a democracia


Reinventar a democracia
 MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 27/09/11

O discurso do acadêmico, educador e crítico literário Eduardo Portella, ex-ministro da Educação (que cunhou a frase "Não sou ministro, estou ministro"), na cerimônia de minha posse na Academia Brasileira de Letras, sexta-feira, foi uma importante peça de análise política sobre "os tempos nublados da derradeira modernidade", que ele prefere chamar de "baixa modernidade", que estamos vivendo.

Diante de uma plateia que reunia políticos como os senadores José Sarney (PMDB), presidente do Senado e decano da ABL, Lindbergh Farias (PT) e Agripino Maia (DEM), os deputados Alfredo Sirkis (PV) e Chico Alencar (PSOL), o ex-governador José Serra (PSDB) e os ministros do STF Cármem Lúcia e Carlos Ayres Brito, Portella analisou "ruídos e armadilhas imprevisíveis" da democracia de massas, que comparou a uma corrida de obstáculos, chamando a atenção para "a corrida frenética do "hiperpresidencialismo", do parlamentarismo desidratado e dos aparelhos ideológicos de Estado" que a imprensa independente vem conseguindo frear.

Na sua visão, a "tripartição dos poderes, que foi um dia o sonho republicano, não se encontra menos abalada". Ressaltou "passos em falso da política doméstica", lembrando que o sociólogo Francisco de Oliveira já antecipara a "irrelevância da política", que hoje ressoa como "verdade incômoda":

"Quando tudo se confunde, quando os homens e as coisas vão perdendo a singularidade, em meio ao nevoeiro que encobre a cena pública baixa moderna", é o momento em que "a moral privada, ou privatizada, parece substituir a ética pública", lamentou. Portella advertiu que, "a cada dia, somos perigosamente tolerantes com a ausência de delimitação de fronteiras entre o público e o privado". Para ele, a democracia, "mais que um conceito, é o caminho", e a brasileira "vem operando no vermelho".

Sobre a tendência ao autoritarismo, afirmou que, "quando a democracia se mostra infensa aos questionamentos, as taxas de racionalidade se reduzem substancialmente. A morte da opinião, o controle do repertório temático, camuflado ou explícito, conduzirá inevitavelmente à parada cardíaca da democracia representativa".

A própria ideia de representação vai sendo acometida pela "falência múltipla dos seus órgãos". "Apagam-se as diferenças, e promove-se a coalizão das colisões, em meio ao carnaval das impunidades. No lugar de uma sólida democracia representativa, o que se percebe é o baixíssimo nível da representatividade, a produção viciada dos diferentes poderes, apontando para a decisão dos patrocinadores, sejam eles laicos ou religiosos."

A corrupção na democracia e, o que é mais grave, a corrupção da própria democracia, advertiu, "estimulam distúrbios e transtornos de consequências imprevisíveis". Portella lembra que se impõe, "como item prioritário", evitar misturar negociação e negócio. "Porque é comum confundir-se os dois níveis. A negociação é instrumento hábil da democracia, uma via autorizada para a obtenção de consensos livres. Já o negócio tende a resvalar, com licença da palavra, em negociata."

Na sua visão crítica, a organização partidária vem sendo naturalizada, em vez de historicizada. "Vai se tornando natural o uso abusivo do aparelho administrativo público, das licitações fraudadas, do lobismo desfigurado, dos discutíveis, até hoje jamais discutidos, dízimos partidários."

Ele lembrou que em nossa pré-história colonial "houve uma aparição estranha, conhecida como os "bolseiros do Rei", que parece ressurgir". Citou a ação cultural como distribuição de brindes e a Bolsa Família sem monitoramento e avaliação como exemplos, advertindo que "não está de todo descartada a hipótese de uma sociedade saudavelmente de trabalhadores vir a ser, em grande parte, "reduzida a uma sociedade de bolsistas"", ressaltando que falava só "dos bolsistas ociosos, evidentemente".

Ao abordar o tema das ações assistencialistas, ele analisou que "a aceleração inóspita do Estado provedor traz, dentro de si, as ameaças do Estado autoritário, sem os benefícios do Estado-previdência. Enquanto isso o país se apresenta como forte candidato à medalha de ouro na olimpíada internacional da sobrecarga tributária".

Voltando ao tema da "democracia de massas", Portella lamentou que "o tão louvável sufrágio universal, marca registrada do republicanismo, tenha perdido força no expediente retórico de mercadores inescrupulosos e no vazio deixado pela insuficiência educacional".

Advertiu que se equivocam os que concluem "que a economia dispõe, em suas contas bancárias, de todas as respostas para nossos problemas sociais". Com a despolitização da esfera pública e o depauperamento do espaço cultural, destacou que "crescem o vazio e a indiferença", apontando para o que chama de "baixa modernidade". A educação sem qualidade, "no lugar de promover a inclusão social, ferida aberta, realimenta a exclusão, especialmente em tempos globalizados, quando a competitividade adquire contornos mais alarmantes. Logo, a inclusão desqualificada é sinônimo de exclusão".

Portella ligou o nível qualitativo da educação à qualidade da democracia e ao vigor da representatividade política, afirmando que, quando esse nível cai, "sobe o número de eleitores inertes, terreno propício para a prosperidade da propaganda enganosa". Na sua definição, o cidadão "é o homem que fez, acidentada e demoradamente, o trânsito da consciência solitária para a existência solidária", e ele é quem deveria ser o centro da atividade política.

"Por todos os lados, ganha corpo e alma a exigência de democratizar a democracia. A tecnoburocracia deletou o encanto do mundo e, sem matizar, propalou o fim da utopia. Preferiu desconhecer que toda construção que se quer viável necessita recorrer a doses razoáveis do impulso utópico."

Portella admitiu que "muitos consideram essa aspiração como ambição ilusória, completamente desdatada", mas defendeu a tese de que é preciso "confiar na esperança concreta e, a partir dela, e das batidas cardíacas da História, reinventar a democracia, sob o signo do risco e a inteligência serena das ameaças crescentes".

EDITORIAL O ESTADÃO - Novo bote do governo kirchner


Novo bote do governo kirchner
EDITORIAL 
O ESTADÃO - 27/09/11

Na Argentina da presidente Cristina Kirchner, a única verdade é a verdade do governo - e ai de quem ouse contrapor às fabricações do oficialismo uma visão da realidade calcada em dados objetivos, apurados com independência. Como se o país estivesse novamente sob o tacão da ditadura militar extinta há quase 30 anos, o Estado kirchnerista investe pesadamente também contra a imprensa que desmoraliza as versões da Casa Rosada, ao cumprir o dever elementar de dar voz ao outro lado.

Decerto que o terror estatal em sua forma bruta, com as prisões, torturas e "desaparecimentos", está confinado à memória dos pesadelos argentinos.

Mas, sob a capa das instituições democráticas e da defesa retórica das liberdades fundamentais, o governo não cessa de tentar estender os limites de seu controle autoritário da sociedade, subordinando até a Justiça aos seus interesses, para intimidar e amordaçar os que não se alinham com eles.

E isso, mesmo quando a experiência cotidiana da população cobre as autoridades de ridículo. Para ficar no assunto da hora, toda a Argentina sabe que o índice oficial de inflação, fornecido pelo Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec), é uma contrafação grosseira. A rigor, os consumidores não precisam que ninguém lhes diga que a alta do custo de vida, em valores anuais, é quase o triplo da taxa de 9% admitida pelo Executivo. E ainda que não soubessem, bastaria o recente acordo entre o patronato e os sindicatos de trabalhadores, que reajustou o salário mínimo em 25%, para desmascarar o número chapa-branca. O governo garante também que a trajetória da inflação é declinante. E, para prová-lo, tropeça na própria mentira, como fez o desavisado vice-ministro da Economia, Roberto Feletti. Numa entrevista, ele comparou o índice apurado em Ushuaia, na Terra do Fogo, ao de Mendoza: 31,5% no primeiro caso, 22% no outro.

Mas o comportamento do governo não é propriamente um caso de galhofa. A Casa Rosada começou a torturar os fatos em 2007, na presidência Néstor Kirchner, quando interveio no até então autônomo Indec para sonegar a verdade sobre a carestia, a fim de minimizar a correção monetária dos títulos da dívida pública. No entanto, como as empresas privadas de consultoria continuassem a apresentar números que indicavam a maquiagem das taxas oficiais, o kirchnerismo apelou para a sua especialidade - a truculência.

Em 2009, mandou abrir processo penal contra a consultoria M&S e outras, por difundir índices discrepantes de preços, sob a alegação de que essas empresas do ramo incentivavam, para fins especulativos, o aumento do custo de vida. Era de esperar que a Justiça arquivasse a ação por flagrante insubsistência, mas sendo o que se pode presumir que sejam as relações entre setores da magistratura argentina e o casal Kirchner, o juiz Alejandro Catania deu curso ao processo, aplicando multas a torto e a direito às acusadas.

Na semana passada ele partiu para cima da imprensa. Intimou seis jornais de Buenos Aires - La Nación, Clarín, Ámbito Financiero, El Cronista Comercial, BAE e Página 12 - a fornecer os "nomes, endereços, telefones e contatos dos jornalistas que tenham publicado notícias sobre índices de inflação", a contar de 2006. E aproveitou para perguntar a cada um desses periódicos se recebiam publicidade da M&S, como se isso fosse um indício de cumplicidade com o suposto delito da empresa. Tamanha foi a reação ao ato de intimidação judicial que o próprio Catania se sentiu compelido a pelo menos mostrar que recuava da arbitrariedade. Sugerindo que tinha sido mal interpretado, alegou cinicamente que não tinha pedido informações pessoais "ou de uso particular" dos jornalistas. Queria apenas saber como a Justiça poderia entrar em contato com eles, caso fossem chamados a prestar declarações, não como réus - tal seria! -, mas como testemunhas.

Em suma, o juiz quer pressioná-los a revelar os nomes de seus entrevistados nas consultorias que teriam transgredido o código penal, ao cometer, segundo o governo, "fraudes de comércio e indústria". A Constituição argentina assegura o sigilo da fonte, mas os Kirchners nunca se sentiram inibidos por garantias constitucionais.

JOSÉ PASTORE - A demografia não espera a política


A demografia não espera a política
JOSÉ PASTORE
O ESTADÃO - 27/09/11

O Brasil envelhece a passos largos. A França demorou 120 anos para duplicar a sua população. Os Estados Unidos, 70 anos. A partir de hoje, a população brasileira dobrará em apenas 20 anos. É uma velocidade espantosa.

O reflexo disso sobre o sistema previdenciário é evidente. No futuro, teremos menos jovens para sustentar mais aposentados. Essa é uma conta que não fecha na base das regras atuais. Isso vale para os dois sistemas de aposentadoria - o público e o privado.

No setor público a situação é alarmante. Os aposentados da administração federal causarão um déficit de quase R$ 60 bilhões em 2011. Isso vai aumentar muito ao longo do tempo, porque o atual 1,1 milhão de servidores na ativa serão beneficiados com aposentadoria com vencimento integral. As receitas do chamado Regime Próprio de Previdência da União são insuficientes para custear aposentadorias pelo valor integral da última remuneração.

A situação dos Estados é igualmente insustentável, com a exceção dos novos que ainda arrecadam mais do que gastam com os aposentados.

Uma das poucas reformas que o presidente Lula patrocinou foi a que mudou a regra para a aposentadoria do funcionalismo federal. Os novos funcionários só poderiam se aposentar com o último vencimento se participassem de um plano de previdência complementar. Ocorre que o projeto de lei (PL) que criava essa previdência foi bombardeado pelas centrais sindicais desde o seu nascedouro (2003), o que fez Lula recuar.

Finalmente,nodia24deagostodeste ano, a Comissão do Trabalho da Câmara dos Deputados, sob a presidência do deputado Silvio Costa, aprovou o PL n.º 1.992 por 13 votos a 7. O projeto cria a Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público (Funpresp). Com isso, os servidores que ingressarem no serviço público daqui para a frente poderão optar por uma contribuição previdenciária complementar para garantir a aposentadoria nos padrões atuais.

Os que não optarem, terão a sua aposentadoria limitada pelo teto do INSS - hoje R$3,6 mil - como ocorre com os trabalhadores do setor privado que se aposentam pelo Regime Geral de Previdência Social.

O PT e o PC do B, assim como as centrais sindicais, se posicionaram contra a aprovação do referido projeto, mas, sob a batuta da presidente Dilma, o governo federal se mostra disposto a levar avante a tramitação e a aprovação da medida. Após passar pelas comissões de Seguridade e Constituição e Justiça, o projeto deve seguir para o Senado Federal por ter caráter terminativo.

Muitos argumentam que os benefícios dessa lei serão sentidos apenas no futuro.E daí? É para isso que está sendo feita. Além de sinalizar sobre a saúde das finanças públicas no dia de amanhã, essa lei é da maior importância para a promoção de bons postos de trabalho.

Os déficits da Previdência Social (público e privado) forçam o governo a tomar recursos no mercado financeiro, pressionando os juros para cima e os investimentos para baixo - o que compromete a geração de empregos de boa qualidade.

Os Estados foram convidados a aprovar os seus próprios sistemas de previdência complementar. O governador Geraldo Alckmin, de São Paulo, encaminhou à Assembleia Legislativa um projeto de lei de teor semelhante ao PL 1.992. A sua aprovação requer urgência, pois o novo regime já devia estar em vigor. A demora é devastadora para as finanças públicas e para os próprios funcionários.

Trata-se, é verdade, de uma medida de impacto lento. Mas não podemos dar uma de Groucho Marx e dizer que o futuro não interessa porque ele nada nos ajuda no presente. Temos de decidir agora o destino das novas gerações, porque a demografia não espera a lentidão da política.