sexta-feira, maio 13, 2011

Livro adotado pelo MEC defende falar errado


Livro adotado pelo MEC defende falar errado
VEJA ONLINE
Brasília - "Nós pega o peixe" ou "os menino pega o peixe". Para os autores do livro de língua portuguesa Por uma vida melhor, da coleção Viver, aprender, adotado pelo Ministério da Educação (MEC), o uso da língua popular - ainda que com seus erros gramaticais - é válido. A obra também lembra que, caso deixem a norma culta, os alunos podem sofrer "preconceito linguístico".

Diz um trecho do livro, publicado pela editora Global: "Você pode estar se perguntando: `Mas eu posso falar os livro?. Claro que pode. Mas fique atento porque, dependendo da situação, você corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico. Muita gente diz o que se deve e o que não se deve falar e escrever, tomando as regras estabelecidas para a norma culta como padrão de correção de todas as formas linguísticas".

O livro foi distribuído pelo Programa Nacional do Livro Didático para a Educação de Jovens e Adultos a 484.195 alunos de 4.236 escolas, informou o MEC. Em nota enviada pelo ministério, a autora Heloisa Ramos diz que "o importante é chamar a atenção para o fato de que a ideia de correto e incorreto no uso da língua deve ser substituída pela ideia de uso da língua adequado e inadequado, dependendo da situação comunicativa".

"Como se aprende isso? Observando, analisando, refletindo e praticando a língua em diferentes situações de comunicação", segue a nota. Heloisa afirma que o livro tem como fundamento os "documentos do MEC para o ensino fundamental regular e EJA (Educação de Jovens e Adultos)" e leva em consideração as matrizes que estruturam o Exame Nacional de Certificação de Jovens e Adultos. (Encceja). A editora Global disse à reportagem, por meio da assessoria de imprensa, que é responsável pela comercialização e produção do livro, e não pelo conteúdo.

ANNA RAMALHO - Certo ou errado?


Certo ou errado?
ANNA RAMALHO

JORNAL DO BRASIL - 13/05/11

O Novo Acordo Ortográfico, em vigor há um ano e meio, é inconstitucional. A afirmação é do presidente do Movimento Acordar Melhor, professor Ernani Pimentel, que aponta violação do artigo 2° do próprio Acordo. Nele, foi determinado o uso do Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa, mas este sequer foi criado. 

Contra ou a favor?
Pimentel, que encabeça um abaixo-assinado, enviou carta ao Congresso Nacional, pedindo que o assunto seja ressuscitado para que se possa promover nova discussão sobre a reforma ortográfica da língua portuguesa. O professor já conta com o apoio de senadores, juristas, jornalistas, professores, entidades de classe, e até do Jô Soares. 

Lucro certo

Diversas empresas que operam no Rio optam por registrar seus carros em outros estados – como Minas e Paraná – onde o IPVA sai pela metade do preço. O caso mais recente é da Light. A empresa de energia, com atuação apenas no Rio, registrou seus 400 veículos leves em Belo Horizonte. Supondo-se economia por carro de R$ 500, só aí haverá lucro anual de R$ 200 mil.

Melhor seria


Recentemente, o governo do Rio fez cerco a carros de outros estados, com ameaça até de prender os donos, quando todos sabem que o certo seria reduzir-se o IPVA fluminense ao nível dos estados que cobram menos.

Banho proibido

A piscina do Edifício Rosa dos Mares, no Condomínio Parque das Rosas, na Barra da Tijuca, foi interditada por tempo indeterminado pela Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil. Apesar do cloro, foi encontrado um foco de larvas do mosquito da dengue.

Ah, bom!


Nessa infame questão dos carros para Suas Excelências, os vereadores, o bestialógico não para de crescer. Um dos edis, em plenário, disse que era bom receber o carro, sim, mas exigiu rigor na fiscalização, porque o Jetta era “para trabalhar, não para ir a motel”.

Aliás...


Por que não? Poderiam, por exemplo, fiscalizar para levantar a arrecadação do ISS. Ou o que pudesse ser levantado lá, né, não?

Não é bem assim


A propósito da nota que demos aqui ontem, Em queda livre, amigo da coluna, dono de posto de gasolina, revela que apenas a cidade do Rio de Janeiro adaptava 12 mil carros mês para gás veicular.

Pró memória

Quando Dona Dilma era ministra de Minas e Energia, deu uma declaração dizendo que quem tinha carro a gás ia ficar sem o combustível, pois a prioridade era o gás para a indústria. Todo mundo esqueceu isso, inclusive o José Serra, que não tocou no assunto durante a campanha eleitoral.

Resultado


O mercado de gás veicular ficou na mão. Caiu dos 12 mil para mil e poucos.

Agora, diante da alta dos preços da gasolina e do álcool, a demanda voltou a subir. A média mensal de carros fazendo a conversão já chega a 6 mil.

Mais CPI


O PSOL pediu anteontem a abertura de uma CPI no Senado para investigar a arrecadação de recursos do Ecad. Ui, essa promete sururu!

Executivos zen

A atriz Clarisse Niskier usou sua experiência teatral para contar a executivos, durante o Congresso Estadual de Recursos Humanos, como é possível usar a transgressão para o desenvolvimento das empresas. Ela foi convidada pelo presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-RJ), Fábio Ribeiro, que na foto, em agradecimento, beija sua mão.

LUIZ GARCIA - Novos caminhos


Novos caminhos
LUIZ GARCIA
O GLOBO - 13/05/11

A decisão foi praticamente unânime: um ministro não votou por impedimento técnico. Pouco importa. A vontade da maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal é a vontade da casa. E o impacto da quase unanimidade certamente é percebido e reconhecido pela sociedade toda.

Tem essa relevância a votação do STF na semana passada, reconhecendo que as uniões entre pessoas do mesmo sexo são iguais em tudo às relações estáveis heterossexuais: as normas do Código Civil devem ser as mesmas em todos os casos. Valem para declarações conjuntas de renda, pensões, heranças, partilhas de bens, etc. e etc. É preciso apenas a prova de "uma convivência pública, contínua e duradoura" — ou seja, o mesmo que se exige de casais heteros.

Com toda a importância histórica da decisão, na verdade, o tribunal apenas mostrou o caminho. Falta agora que todo o Congresso aprove lei regulamentando os direitos associados às relações tecnicamente chamadas de "homoafetivas".

A propósito, uma boa ideia seria tirar de circulação esse palavrão polissilábico. Afinal, se estamos acabando com a discriminação, todos os casais, independentemente dos sexos, têm direitos iguais a buscar a felicidade em relações simplesmente afetivas — e esse adjetivo merece ter abrangência universal.

A decisão do STF é definitiva — mas não representa o fim do caminho. Existe no Congresso uma quantidade de projetos regulamentando aspectos das relações homoafetivas (uma forma delicada de fugir do ainda preconceituoso adjetivo "homossexual"). Como é o caso da regulamentação de adoção de crianças por casais homossexuais.

É certo que os ministros do Supremo não enfrentam eleições para lá permanecerem — o que explica em boa parte a timidez do Congresso em enfrentar o assunto. Explica, mas não justifica. Anos atrás, o mesmo problema existia em relação ao divórcio, e ficou provado que o eleitorado era bem menos conservador do que imaginavam senadores e deputados.

E vale a pena não esquecer que senadores e deputados agem e reagem movidos tanto por seus princípios e ideias pessoais como pelo que imaginam que sejam as ideias e princípios de seus eleitores. Não é uma atitude tão cínica como pode parecer: afinal, eles não devem nem podem ignorar que são representantes da sociedade.

Essa condição certamente não os impede de abrir caminhos que tornem essa sociedade mais justa, mais generosa, mais fraterna.

HÉLIO SCHWARTSMAN - Entre quatro paredes


Entre quatro paredes
HÉLIO SCHWARTSMAN
FOLHA DE SÃO PAULO 

Desenvolvo hoje um textículo que escrevi para a versão impressa da Folha do último domingo sobre a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) de estender a casais homossexuais os direitos e obrigações previstos na figura jurídica da união estável. Comecemos pelo mérito da coisa.

O que dois ou mais adultos fazem consensualmente entre quatro paredes em matéria de sexo é assunto que diz respeito apenas a eles. Desde que em comum acordo e sem envolver menores, não há nada de intrinsecamente errado com homossexualismo, masoquismo, sadismo, fetichismo, coprofilia, zoofilia (se o animal em questão não se opuser) e nem mesmo com a vida monástica. Se há um comportamento reprovável do ponto de vista da boa convivência social, ele está não no homossexualismo ou no que a psiquiatria chama de parafilias, mas no desejo incontido de controlar a sexualidade alheia.

E, se é justo que casais heterossexuais possam herdar os bens um do outro, estabelecer vínculos previdenciários e adotar crianças, entre outros benefícios, não há nenhuma razão para deixar de estender esses mesmos direitos a pares do mesmo sexo. Um cidadão é um cidadão independentemente de seus hábitos copulativos.

A turma mais conservadora, que acusa o Supremo de ter usurpado as funções do Legislativo, parece ignorar que a analogia é uma fonte perfeitamente legítima de interpretação jurídica. Ela tem origens no direito romano: "Ubi eadem ratio, ibi idem jus", isto é, onde houver o mesmo fundamento, haverá o mesmo direito. Ainda que a letra da lei diga que a família é constituída pela união de homem com mulher, a Carta consagra o princípio de que todos os cidadãos são iguais diante da lei, o que já basta para ampliar o escopo da definição.

Vou um pouco mais longe e afirmo que existem determinados assuntos com os quais o Poder Legislativo, no qual grupos organizados como igrejas, sindicatos e certas categorias profissionais acabam adquirindo um peso específico maior do que aquele que de fato têm na sociedade, não lida bem. Questões morais são um bom exemplo. Dado que poucos legisladores estão dispostos a ser identificados como o parlamentar que foi contra "a palavra de Deus" ou que rifou "as conquistas dos trabalhadores", esses temas são raramente abordados. Também fico um pouco relutante em entregar a 11 pessoas não eleitas tarefas que em tese caberiam a 594 indivíduos munidos de mandato popular, mas, diante da inércia congressual, é preferível que esses 11 atuem a blindar a legislação contra avanços sociais e a ampliação de direitos. A ideia geral é que esses dois Poderes, mais o Executivo, se equilibrem em um sistema de freios e contrapesos e produzam resultantes viáveis. Está longe de ser uma solução perfeita, mas ela vem funcionando mais bem do que mal em países democráticos há uns 200 anos.

Voltando ao nosso caso, é pouco provável que a decisão do STF ponha fim às guerras culturais em torno da questão. O motivo é simples: o julgamento teve como objeto apenas as uniões civis, deixando de fora o casamento propriamente dito. Ou seja, passado um primeiro momento em que homossexuais celebrarão os direitos recém-reconhecidos e em que os conservadores lamentarão os tempos e os costumes, a contenda voltará. E a briga é boa porque ambos os lados se julgam cobertos de razão.

Negar o casamento "de papel passado" aos homossexuais equivale a declará-los cidadãos de segunda classe. É fácil visualizar o grau de indignação que isso pode causar imaginando um casal inter-racial que procure um cartório para "contrair matrimônio" (adoro essa expressão!) e ouça do oficial: --Vocês podem estabelecer uma união estável, com declaração registrada, que lhes dá os mesmos direitos e deveres do casamento, mas não vou casá-los. Bem, não seria difícil encontrar um advogado disposto a processar esse oficial pelo inafiançável crime de racismo. Troque agora o "inter-racial" por "homossexual" e o "oficial" por "Estado" e temos uma ideia de como gays e lésbicas devem se sentir.

Quanto aos conservadores, não costumo comungar de suas dores. Se acham que a sexualidade alheia ameaça a família, pior para eles e suas famílias. Idealizações não gozam de proteção legal. Mas creio que eles têm um ponto quando se queixam de propostas legislativas capitaneadas pelo movimento gay --o PLC 122/2006 e o PL 6418/2005-- que, dependendo da interpretação, proibiriam padres e pastores de dizer que o homossexualismo é um pecado, por exemplo. Não me entendam mal. Sou um ateu convicto que não acredita em pecado e acha que o mundo atual viveria melhor se não houvesse religiões, mas sou também um democrata. Não creio que possamos ou devamos patrulhar pensamentos e declarações, por mais absurdas que sejam.

Não vejo como se possa proibir uma igreja homofóbica de ensinar seus seguidores, como vem fazendo às vezes há milênios, que tal prática é condenável. O que um sacerdote conta a seus fiéis entre as quatro paredes do templo é assunto que diz respeito exclusivamente a eles. (Reconheceram o argumento? É difícil defendê-lo para a troca de fluidos corporais e recusá-lo para a troca de ideias!).

Vou até um pouco mais longe e sustento que igrejas têm todo direito de não aceitar membros gays. Um templo não é, afinal, um órgão oficial ou um permissionário de serviços públicos, os quais precisam sujeitar-se a regras de universalidade. Não está feliz com sua igreja, procure outra ou, no limite, funde a sua própria. Eu já o fiz e posso assegurar que, pelo menos em termos fiscais, vale a pena.

Evidentemente, ninguém vai resolver o problema das visões de mundo conflitantes. Ele é tão disseminado que talvez nem seja um problema, sendo mais bem descrito como a ordem natural das coisas. Ainda assim, existem medidas relativamente simples que têm o potencial de reduzir a área de atrito entre liberais e conservadores, contribuindo para uma sociedade mais tolerante e pacífica.

No rastro de Richard Thaler e Cass Sunstein, autores de "Nudge - O Empurrão para a Escolha Certa", proponho que o Estado caia fora do ramo de casamentos e passe a reconhecer apenas uniões estáveis. Pode parecer uma revolução, mas, na verdade, muda muito pouca coisa na esfera prática. É que as uniões já dão conta de todas as questões que importam para a vida civil, como sucessões, guarda de filhos e direito a pensão no caso de divórcio. Nenhum documento ou repartição oficial falaria mais em casamento, que ficaria inteiramente a cargo de igrejas ou qualquer outra associação civil que queira explorar o negócio. O bonito dessa história é que todos estariam livres para celebrá-lo de da forma que quiserem. Os católicos, por exemplo, poderiam continuar a oferecê-lo só a pares heterossexuais e em caráter indissolúvel, enquanto a ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) poderia criar as regras e rituais que desejasse.

O segredo da coisa --e a origem da confusão-- é que o casamento hoje reúne duas funções totalmente distintas: uma contratual, com consequências jurídicas, e outra de reconhecimento social, com implicações para o status das pessoas. Do ponto de vista do Estado, apenas a primeira é relevante, mas é a segunda que responde pela maior parte das desavenças. Essa dupla função até tem razões históricas. Antigamente, o casamento funcionava como uma espécie de licença para fazer sexo e ter filhos, da mesma forma que hoje contamos com carteiras de habilitação para dirigir veículos. Só que, com a ampliação dos direitos individuais, que teve início em fins do século 18, essa função social se tornou anacrônica. Hoje, pelo menos no Ocidente, o sexo consensual entre adultos é um direito inquestionável que independe de licença prévia. Eliminar a ambiguidade, fazendo com que o poder público se atenha aos aspectos jurídicos das uniões e deixando o "casamento" para instituições de direito privado, é uma maneira inteligente de desembolar o meio de campo.

Não chega a ser uma garantia de que todos viverão felizes para sempre, mas é um meio de evitar que nos embrenhemos em disputas estéreis totalmente evitáveis. Pelo menos do ponto de vista do Estado, o casamento é, como se dizia nos anos 60, uma instituição falida.

CLÁUDIO HUMBERTO

“Vai quebrar a cara quem tentar desestabilizar a ministra”
SEC. GERAL DA PRESIDÊNCIA, GILBERTO CARVALHO, SOBRE A MINISTRA ANA DE HOLLANDA (CULTURA)
SENADO: POR VAGA, PMDB COMPRA BRIGA COM PT 
O PMDB ameaça abrir nova guerra com o PT em razão da manobra do partido para que o ex-deputado Paulo Rocha (PT-PA) seja diplomado no Senado antes de Jader Barbalho (PMDB-PA). A suspeita é de que o PT tenta acelerar o processo de Rocha na Justiça e atrasar o de Jader. Ambos foram barrados pela Ficha Limpa, mas ganharam uma segunda chance após o Supremo Tribunal Federal validar a lei apenas para 2012.
BARRADO 
O ex-deputado Jader Barbalho, que chegou a ser preso e algemado por suposta corrupção, não teve seus votos contados nas eleições de 2010.
VANTAGEM ÚNICA 
Paulo Rocha, acusado de ser um dos principais líderes do mensalão, conseguiu que a Justiça Eleitoral do Pará contasse seus votos.
ATÉ TU? 
Na avaliação do PMDB, o PT tenta influenciar até o ministro Antonio Dias Toffoli, do STF, que já foi advogado do Partido dos Trabalhadores.
REINO ENCANTADO 
A realeza substitui o “rei” Lula: depois do príncipe Albert II, de Mônaco, a rainha Sílvia, da Suécia, filha de brasileira, tira uma folga no Brasil.
DF: TJ BARRA INSTALAÇÃO ILEGAL DE HOME CENTER 
O Tribunal de Justiça do DF manteve liminar que cassou o alvará de construção em Brasília de loja de 22 mil metros quadrados do “home center” C&C (Casa & Construção), de São Paulo, com inauguração prevista para o fim do mês. Sem esse alvará, a loja não pode receber habite-se nem alvará de funcionamento. O problema é que no local, por lei, só pode funcionar um “shopping rural”. O TJ e o Ministério Público do DF reconheceram várias outras ilegalidades apontadas nos autos.
UM ANO PARA ACABAR 
O arrendatário, ex-deputado Vigberto Tartuce (“Vigão”), vendeu a área à C&C, mas seu contrato com a Ceasa se encerrará em maio de 2012.
ILEGAL DESDE O INÍCIO 
“Vigão” obteve a área sob o compromisso de implantar shopping rural, mas a sublocou em inúmeros boxes à revelia da Ceasa, a concedente.
DÍVIDA EM ABERTO 
O ex-deputado não pagou desde 2003 taxas de ocupação da área no SIA, local valorizado de Brasília, e a dívida hoje soma R$ 4,2 milhões.
CHOQUE DA GESTORA 
Sempre que recebe interlocutores de Brasília, a presidenta Dilma Rousseff faz uma pergunta de uma nota só, carregada de perplexidade: “por que o governo Agnelo Queiroz não está funcionando?”
MUY AMIGO 
O sociólogo esquerdopata Emir Sader deveria se candidatar a presidente do Paraguai: opinou no Twitter que “mesmo pagando três vezes mais por Itaipu, ainda assim pagamos metade do preço de mercado internacional”.
MEU CANTINHO 
Personagem do escândalo da quebra de sigilo fiscal de Verônica, filha do então candidato tucano à presidência, José Serra, o ex-secretário da Receita, Otacílio Cartaxo, já é oficialmente o presidente do conselho administrativo de recursos fiscais do ministério da Fazenda.
FILME VELHO 
Ti-ti-ti no Peru após as pedradas e ovos contra a candidata presidencial Keiko Fujimori, à frente do rival esquerdista Ollanta Humala, auxiliado na campanha por petistas. Ele nega o ataque. Seria “armação” de Keiko.
NO PAPEL 
A senadora Marta Suplicy (PT-SP) chamou de “histórica” a votação no Supremo legalizando as relações homoafetivas. Não precisará mais perguntar a futuros rivais solteirões se é “casado, tem filhos?”.
PRIORIDADES 
O chanceler da Grã-Bretanha, William Hague, anunciou ao Congresso inglês que as prioridades diplomáticas do país mudaram. Segundo ele, Brasil, Turquia e Indonésia serão os novos grandes parceiros ingleses.
SEM SENSO 
O deputado João Magalhães (PMDB-MG) tentou emplacar o irmão como diretor do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). Não conseguiu. A reação a ele partiu do PT, mas encontrou eco no PMDB, PSDB e PSB. Ele e a esposa são acusados de corrupção.
SONO DOS JUSTOS 
Dorme há três anos no Supremo o processo da empresa Usimar, denunciado em 2004 pelo Ministério Público Federal. Além da governadora Roseana Sarney (PMDB-MA) e marido, envolve também Fábio Vaz de Lima, casado com a senadora Marina Silva (PV-AC).
PERGUNTA NO BOTECO 
Será em dinheiro ou mercadoria o pagamento da palestra de Lula ontem na AmBev?
PODER SEM PUDOR 
INSTRUMENTO PROIBIDO 
Certa vez, na presidência da sessão da Câmara dos Deputados, Inocêncio Oliveira, então no PMDB-PE, se irritou quando o deputado João Fontes (PDT-SE), ex-rebelde petista, mostrou uma ratoeira para pegar os “300 picaretas”.
– Temos que manter a ética! Retire esse instrumento da tribuna!
E cortou o som do microfone de Fontes.

MÔNICA BERGAMO - CALENDÁRIO ESCOLAR


CALENDÁRIO ESCOLAR
MÔNICA BERGAMO 
FOLHA DE SÃO PAULO - 13/05/11

O Ministério da Educação deve anunciar nos próximos dias as datas das provas do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Serão duas avaliações. Uma delas deve ser realizada nos dias 22 e 23 de outubro. A outra será marcada para 5 e 6 de maio de 2012, terminando assim com a especulação de que só um teste seria feito no período de um ano.

NA CAIXA
O edital do Enem deve trazer novas medidas para garantir a segurança do exame. Uma delas proíbe que o aluno leve o seu telefone celular para dentro da sala da prova. Ele terá que ser entregue na entrada para os fiscais. Se o estudante for pego com o aparelho, sua avaliação será cancelada.

ENTRE PINCÉIS

A Fundação Nemirovsky, detentora de um dos mais importantes acervos modernistas do país, fechou acordo com o Ministério Público para a indicação de novos conselheiros. Devem tomar posse nos próximos dias o advogado Arnoldo Wald, Celita Procópio de Carvalho, da Faap, Dráusio Barreto e os empresários João Carlos Camargo, Paolo Kauffmann e Toninho Abdalla.
PRESENÇA
O governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) deve ir à final de Santos e Corinthians no domingo, pelo Campeonato Paulista, na Vila Belmiro. Ele é santista.
QUEM TEM MEDO DO LOBÃO?
Lobão lançou no Teatro Bradesco a turnê “Elétrico 2011″, anteontem; o roqueiro Roger Moreira, vocalista da banda Ultraje a Rigor, passou para ouvir o som do show, que tem canções inéditas.
SP É UMA ARTE
A festa de inauguração da SP Arte, anteontem, levou ao Pavilhão da Bienal o artista Guto Lacaz, o empresário Roberto Baumgart, o estilista Alexandre Herchcovitch e Fernanda Feitosa, diretora da feira, que vai até domingo.

EU QUERO 1

Supreso com a decisão do governo de SP de cancelar a construção de uma estação de metrô na avenida Angélica, em Higienópolis, o escritor Fernando Morais protesta: “Adoraria ter metrô perto de casa. Essa medida tem que ser revista imediatamente”. Morador do bairro há 37 anos, ele diz que nunca ouviu falar na Associação Defenda Higienópolis, que pressionou o governo para mudar a estação de lugar para que o local não vire um “camelódromo”. “Quem fala em meu nome? Não me sinto defendido de jeito nenhum.”
EU QUERO 2
A atriz Irene Ravache, que mora em Higienópolis há 19 anos, diz que seria “muito bom” ter uma estação na avenida Angélica. “Paris, NY e Barcelona são cortadas por metrô, inclusive em bairros chiques”, diz. “O entorno não é a coisa mais bonita do mundo, mas ela é necessária para melhorar a cidade.”
EU QUERO 3
E o ex-governador paulista Alberto Goldman (PSDB-SP) diz que a reação contra o metrô na avenida Angélica é típica da população mais rica de São Paulo, muito apegada ao carro. “Corresponde a uma visão muito do passado. A lógica seria que desejassem ter inclusive mais estações perto de casa”, afirma.
OUTRA HISTÓRIA
O secretário Jurandir Fernandes, dos Transportes Metropolitanos, nega que o governo tenha mudado a estação por causa da pressão dos moradores da região.

ROCK DOCE

O duo inglês de punk rock Blood Red Shoes, que se apresenta no parque da Independência no dia 29, exigiu raspadinhas de vários sabores no seu camarim. E cartões-postais do Brasil.

COXIA

O diretor Esmir Filho, do curta “Tapa na Pantera” e do longa “Os Famosos e os Duendes da Morte”, vai captar R$ 1,2 milhão para a montagem de sua primeira peça, “Kollwitzstrasse 52″.
QUADRA
O Instituto Lance Livre, da ex-jogadora de basquete Marta, captou R$ 577 mil pela Lei de Incentivo ao Esporte. Levará ao interior de SP quadras de esportes como handebol, vôlei, basquete e futebol no sabão. A estrutura itinerante do projeto, chamado Conexão Esporte, fica por um fim de semana em cada cidade. A ação dura dois meses e prevê atender a 100 mil pessoas em Jundiaí, Campinas, Santos, entre outras. Estreia no dia 21 em Ribeirão Preto.
CURTO-CIRCUITO
A peça “Toc Toc” faz sessão especial de aniversário hoje, a partir das 23h59, no Teatro Gazeta, com ingressos por R$ 20. 14 anos.
O Comboio Yalodê de Cultura Africana estreia hoje espetáculo no Centro Cultural Vladimir Herzog às 19h.
Marlin Kohlrausch, presidente da Calçados Bibi, e Ellen Bonangelo inauguram amanhã a primeira loja paulista, no shopping Center Norte.
Beto Cocenza, da Boomspdesign, inaugura hoje a mostra “Black River Fever”, em Nova York.
com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA, THAIS BILENKY e CHICO FELITTI

CELSO MING – Montanha-russa


Montanha-russa
CELSO MING – Montanha-russa
O ESTADO DE SÃO PAULO - 13/05/11

Tão cedo os preços das commodities não saltarão da montanha-russa em que embarcaram.
Nos primeiros quatro meses do ano, o índice CRB, que mede o comportamento dessas cotações, saltou 11,3%. E apenas nos nove primeiros dias úteis de maio até esta quinta-feira , mergulhou 8,6% (veja o gráfico).
Commodities são matérias-primas negociadas diariamente nas bolsas internacionais de mercadorias. Petróleo, prata, cobre, milho, soja e café são commodities. Minério de ferro, enxofre, feijão e mandioca, embora sejam matéria-prima e alimentos, não são – porque não são negociados em bolsa.
Há duas explicações para a disparada de preços das commodities desde julho de 2010. A primeira dá força à especulação financeira: há dinheiro sobrando no mundo à procura de aplicação e um pedaço dessa enorme liquidez desembocou no mercado futuro de commodities. Vista dessa forma, essa alta é consequência das enormes emissões de moeda dos grandes bancos centrais.
A segunda explicação é a de que a escalada dos preços tem mais a ver com os fundamentos econômicos. É consequência da maior demanda por matérias-primas e alimentos que, por sua vez, provém da inclusão de crescentes camadas da população e do aumento de renda nos países emergentes, especialmente China, Índia e Coreia do Sul.
Esses dois fatores se compõem. Porque preveem, por exemplo, o aumento da procura por parte dos asiáticos, os especuladores despejam mais recursos na compra de contratos futuros de algumas commodities. E, por preverem altas alavancadas por especuladores, os compradores dos emergentes fazem estoques e tentam antecipar suas compras e, nessas condições, contribuem para a disparada dos preços. Mas há razões para acreditar em que o fator determinante seja mesmo o aumento do consumo dos asiáticos. Prova disso é que os preços de certas matérias-primas que não têm características de commodities também estão subindo – caso do minério de ferro e das terras raras.
Essa divergência de diagnóstico está longe de ser apenas teórica; produz consequências práticas. Bastaria restringir os negócios nos mercados futuros de commodities para derrubar os preços, se essa fosse a causa principal. As maiores exigências de margens nos negócios com commodities para entrega futura, como já aconteceu com a prata e com o petróleo, contribuem para baixar em alguma coisa os preços. E quando os grandes bancos centrais começarem a enxugar o mercado de dinheiro, podem cair ainda mais.
Mas, se o fator principal é a maior demanda asiática, o que pode derrubar os preços seria a perspectiva de menor crescimento econômico chinês. Nesta quinta-feira, por exemplo, os preços das commodities caíram porque a China aumentou a retenção compulsória dos bancos, o que favorece a contenção da demanda.
Como não parecem próximas nem a operação de saída estratégica dos bancos centrais nem a redução da demanda de matérias-primas, as atuais quedas de preços não devem ser interpretadas como uma reversão definitiva das atuais tendências. Com solavancos ou sem solavancos, parece prevalecer ainda a tendência de alta dos preços das commodities.
CONFIRA
Aí está a trajetória das cotações de sete commodities apenas em maio.
“Assimetria”. Os argentinos não conseguem defender de maneira consistente essa permanente disposição de travar a entrada de produtos brasileiros. Está em vigor um tratado de livre comércio (Mercosul), que eles nunca cumprem. o argumento é o de sempre: as condições entre os dois países são assimétricas. Eles têm à disposição todo o mercado brasileiro, mas não conseguem competir aqui, apesar do custo Brasil e do câmbio adverso para o produtor brasileiro.

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA



Cabo de guerra
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO - 13/05/11
Abortada a votação do Código Florestal, o Planalto agora aposta na pressa dos ruralistas -em 11 de junho termina a moratória para os produtores que cometeram crimes ambientais- como forma de reduzir as exigências do setor. O governo desdenha da ameaça de paralisação da Câmara. Alega que medidas sob risco de caducar, como as novas regras de licitação para a Copa e a Olimpíada, podem ser inseridas em outras MPs, com mais prazo de vigência. Já os ruralistas acham que o Planalto blefa. E se fiam no discurso do líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), segundo quem o partido “não vota mais nada nesta Casa enquanto não se votar o Código Florestal, o dia que for”.
Sei não… 
Comentário de um deputado aliado com muitos mandatos no currículo, diante da encrenca de anteontem: “Obstrução é instrumento clássico da oposição. Governo precisar apelar a isso, em início de mandato, não soa nada bem”.
Marcação 
Marco Maia (PT-RS), que durante a campanha pela presidência da Câmara assumiu compromissos com a bancada ruralista, recebeu ligação de Dilma pouco antes da “não-votação”. Era um pedido para que ele ajudasse o governo.

Vale tudo 

O Planalto chegou a recorrer ao senador Aécio Neves (PSDB-MG) na tentativa de fazer ACM Neto (DEM-BA) desistir da emenda que retiraria do governo o poder de decidir por decreto, caso a caso, a questão do cultivo em parte das APPs (áreas de proteção permanente). O deputado não recuou.
Quer saber? 
Na saída do plenário, José Mentor (PT-SP) brincou com o colega Sérgio Guerra, presidente dos tucanos: “Isso aqui está pior do que o PSDB”.
Memória 
Comentário de um veterano: no governo FHC, a discussão sobre o código foi enterrada quando surgiu emenda semelhante à protocolada anteontem pelo DEM, ampliando a autonomia dos Estados para legislar sobre questões ambientais.
Silêncio 
Marina Silva, que ficou calada no plenário quando o relator Aldo Rebelo (PC do B-SP) acusou o marido da ex-senadora de ter “fraudado contrabando de madeira”, pediu depois ao PV uma nota de desagravo. Até a noite de ontem, o partido não havia se manifestado.
No comando 
Bebeto Haddad, recém-escolhido secretário paulistano de Esportes, deixará a direção municipal do PMDB. O comando da sigla na capital será entregue oficialmente a Gabriel Chalita, pré-candidato a prefeito, no ato de sua filiação, agendado para 4 de junho.

Raízes 

Inspirado na Virada Paulista, maratona de 24 horas de atividades culturais, Netinho de Paula (PC do B-SP), outro postulante à prefeitura, quer instituir a “Quebrada Paulista”, voltada para a periferia da capital.
Quem diria 
Um observador anotou anteontem a coincidência: no mesmo dia em que o tucano Geraldo Alckmin iniciou, pela educação, a revisão dos programas de gratificação por resultado no governo paulista, a petista Dilma Rousseff fez entusiasmado discurso em favor da meritocracia no lançamento da Câmara de Gestão.

Time 

Ainda se refazendo da perda de seis vereadores, o PSDB paulistano anunciará hoje quatro reforços para a corrida pela Câmara em 2012: Wiliam Woo, Ana Paula Junqueira, Wagner Salustiano e Victor Kobayashi.
Visita à Folha 
Bernardo e Miguel Gradin, sócios da Graal Participações, visitaram ontem a Folha.
com LETÍCIA SANDER e FÁBIO ZAMBELI
tiroteio
“A China vai comprar a nossa soja mesmo se plantada no meio do rio Amazonas.”
DO DEPUTADO REINHOLD STEPHANES (PMDB-PR), ministro da Agricultura no governo Lula, refutando o argumento oficial de que a aprovação do Código Florestal, nos termos atuais, poderia comprometer as exportações devido a restrições de cunho ambiental por parte dos países compradores.
contraponto
Trocando as bolas
Na convenção que elegeu Pedro Tobias presidente do PSDB paulista, o ocupante anterior do cargo, Mendes Thame, discursava sobre feitos de lideranças tucanas. Depois de citar os vivos, passou a Franco Montoro, Mario Covas e Sérgio Motta, a quem chamou de “Sérgio Guerra” -este na ativa e empenhadíssimo em obter novo mandato no comando nacional da sigla.
Lembrando que Montoro era conhecido por cometer esse tipo de lapso, o líder da bancada do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira, brincou com o colega:
-Ih, o Thame teve um ataque de “montorite”…

ROGÉRIO FURQUIM WERNECK - A arte da coisa


A arte da coisa
ROGÉRIO FURQUIM WERNECK
O Globo – 13/05/2011

“O governo terá todo empenho para debelar a inflação, contanto, sem derrubar o crescimento. Derrubar a inflação, derrubando o crescimento, qualquer um faz. Não precisa de ministro da Fazenda para isso. Essa é a arte da coisa.” Foi assim que o ministro Mantega ressaltou na semana passada, em declaração reportada pelo “Estadão”, a maestria que lhe vem sendo exigida na condução da política macroeconômica.

Há cerca de dois meses, noticiou-se que havia grande satisfação no PT com o fato de que o governo, afinal, adotara uma política macroeconômica que o partido poderia considerar sua. Uma política que já não replicava a que havia sido adotada por FHC e que, sob choro e ranger de dentes, foi mantida e aprimorada por Lula durante os três anos iniciais do seu primeiro mandato.

De fato, a política de 2011 é bem diferente da de 2003-05. O celebrado tripé macroeconômico, consolidado a partir da crise cambial de 1999, já vinha sendo reconfigurado em grande medida desde 2008. E, agora, mostra os sinais inequívocos dessa mutação. Em vez de estrito cumprimento de metas fiscais, uma política fiscal ainda expansionista, marcada pela insistência na manutenção de farto orçamento paralelo no BNDES, alimentado por transferências diretas do Tesouro, sem contabilização no resultado primário e na dívida líquida. Em lugar de câmbio flutuante, uma política disfarçada de câmbio fixo. E, em vez de política de metas para inflação nas linhas habituais, nova proposta de condução da política monetária, com uso parcimonioso da taxa de juros.

A euforia do governo com sua política macroeconômica parece ter atingido o auge no final do primeiro bimestre, quando o ministro Mantega assegurou que, com as medidas prudenciais e o aumento de compulsório, a inflação começaria a cair. Não só não caiu como acaba de romper o limite superior da meta.

O agravamento do quadro inflacionário parece ter acendido a luz vermelha no Planalto. E já há analistas sugerindo que, agora, sob o comando da própria presidente, o processo de mutação da política macroeconômica estaria sendo rapidamente revertido. Alarmado com a inflação, o governo estaria disposto a se livrar da mair parte dos adereços heterodoxos que hoje entravam o combate à inflação.

Não é surpreendente que, em meio à insaciável demanda por interpretações róseas do que vem ocorrendo com a condução da política macroeconômica, esse tipo de análise tenha encontrado boa acolhida. Mas a verdade é que não é convincente. É como se, para reverter os equívocos envolvidos no combate à inflação, bastasse dar ao ministro da Fazenda e ao presidente do BNDES um comando “DESFAZER”. E, com isso, da noite para o dia, a mesma equipe econômica passaria a se pautar por princípios de condução de política macroeconômica em que sabidamente não acredita.

Não vai ser tão fácil. Ideias equivocadas arraigadas custam a desaparecer. O mais provável é que o governo persista nos mesmos erros antes de se dispor a incorrer no desgaste de reconhecê-los. Na melhor das hipóteses, poderá tentar uma correção suave de rumo, começando pelo Banco Central, mas bem mais lenta do que o agravamento da situação parece exigir.

Seja como for, o governo já não esconde sua apreensão. Resgatando um discurso que parecia ter sido enterrado para sempre em 1994, tenta agora convencer as empresas a “evitar remarcações de preços”. Alarmado com a reindexação e a sinalização que poderá advir das grandes negociações coletivas de reajuste salarial, num quadro de inflação próxima a 7% ao ano, o governo clama pela necessidade de que tais negociações sejam pautadas pela meta de 4,5%. E promete se empenhar para desindexar a economia. O que só realça a inconsequência com que a política econômica vem sendo conduzida. Afinal, trata-se do mesmo governo que, há poucos meses, com ares de defensor da austeridade, fez o Congresso aprovar uma regra de superindexação que deverá exigir, em janeiro de 2012, um reajuste do salário mínimo de nada menos que 14%.”A arte da coisa” está cada vez mais difícil.

MÍRIAM LEITÃO - Tumulto na noite



Tumulto na noite
MIRIAM LEITÃO
O GLOBO – 13/05/11
Era para ser um projeto que conciliasse duas necessidades do país, virou um conflito aberto com o relator sendo aclamado por um dos lados, que é praticamente o coautor do texto. A discussão do Código Florestal é reveladora. Só na noite de quarta-feira mostrou os erros do governo, a fratura da base parlamentar e o destempero do relator, o deputado Aldo Rebelo.
O relator prefere desqualificar e ofender a argumentar e convencer. Acaba prisioneiro de suas próprias palavras. Seu ataque ao marido da ex-ministra Marina Silva é uma confissão de culpa: ou bem o deputado considerava a acusação falsa e por isso evitou o depoimento no Congresso; ou está convencido da culpa do marido de Marina e portanto obstruiu uma investigação.
O que se discute é mais profundo e decisivo. É como o Brasil pode conciliar suas duas poderosas vocações. O Brasil é um dos maiores produtores agropecuários do mundo e o país com a maior biodiversidade. Isso nos coloca na principal esquina do planeta: aumentar a produção aproveitando a oportunidade aberta pelo crescimento da demanda em países de grandes populações e rápido crescimento; e preservar o patrimônio natural do país no momento em que a biodiversidade passa a ser de fato valorizada.
Aclamado com os gritos de “Aldo, Aldo” por uma parte do Congresso; ofendido pela outra parte em troca da acusação que lançou, o deputado ficou ainda mais inadequado ao papel de conciliador de posições.
O agronegócio é espinha dorsal da economia brasileira. Imagine que ele não exportasse o que exporta. Pode até tirar da conta o que o setor fornece ao mercado interno – que é até maior – e mesmo assim se chega a números impressionantes. A balança comercial do setor fechou 2010 com um superávit de US$63 bilhões. Sem o agronegócio, o Brasil naufragaria num gigantesco déficit.
Mas há inúmeras práticas danosas que precisam ser combatidas; os ruralistas precisam se atualizar urgentemente. Há um lado moderno que pouco aparece nessas refregas públicas. Uma pena que os modernos se deixem representar por líderes com discurso tão mofado. Há outro lado totalmente lavoura arcaica. Esta semana mesmo a Justiça do Trabalho condenou o grupo J. Pessoa a uma multa de R$5 milhões pela ação proposta pelo Ministério Público do Mato Grosso do Sul, após o Ministério do Trabalho ter constatado que mais de mil trabalhadores, entre eles 800 indígenas, trabalhavam em duas das usinas do grupo em condições degradantes, em 2007. Na época, o presidente do grupo, J. Pessoa de Queiroz Bisneto, era conselheiro do Instituto Ethos e diretor de Sustentabilidade da Unica. Entre outros absurdos, os trabalhadores dormiam amontoados. Um dos alojamentos tinha 2,8 metros por 9,4 metros. Lá, dormiam 20 índios. Faltava tudo: banheiros, água limpa, higiene nos alojamentos, proteína na alimentação. A empresa já tinha sido autuada dez vezes.
Em relação à questão ambiental também o setor tem exemplos estimulantes de conciliação e avanços convivendo com as mais bizarras práticas destruidoras, como o correntão na Amazônia.
Os sinais da mudança do tempo são inegáveis. Na última década, nós não tivemos um ano sequer em que não houve um evento climático extremo de grandes proporções no mundo; no Brasil tivemos sucessão de secas e enchentes, todas bateram recordes históricos. Estudo recente do Inpe e do MetOffice, da Inglaterra, mostrou que a Amazônia está ameaçada por duas forças: só uma podemos controlar. De um lado, a mudança climática; de outro, o desmatamento. Qualquer uma dessas forças pode destruir a Amazônia. O desmatamento e as queimadas contribuem para a mudança climática, portanto, convoca o perigo que não podemos controlar.
A Agência Nacional de Águas (ANA) mostrou no seu último levantamento que as bacias brasileiras estão quase todas comprometidas por poluição e erosão, os nossos aquíferos estão ameaçados, e defendeu em nota técnica a recomposição das matas ciliares e a manutenção das Áreas de Preservação Permanente (APP) como está proposta na legislação atual. Não existe agricultura sem água. A Amazônia é fonte de chuva em todo o país. Seguir o sensato conselho da ANA deveria ser parte da estratégia da agricultura. Os produtores não deveriam se esquecer também que a segunda maior fonte de água do Brasil é o cerrado, sobre o qual avançam como se fosse uma vegetação pobre, que pudesse ser, toda ela, substituída por culturas. Já há produtores sem água por não terem protegido as fontes. Como a Embrapa já mostrou em estudos e pesquisas, é no cerrado que estão espécies que poderão dar ao Brasil a capacidade de desenvolver sementes resistentes a pouca água e muito calor no futuro que se aproxima. A Mata Atlântica não suportaria mais nenhuma ofensa. Seus pequenos e valiosos fragmentos têm que ser protegidos a qualquer custo e a meta tem que ser não apenas preservar o existente, mas aumentar a cobertura florestal.
O governo em início de mandato deveria tirar duas lições da lamentável noite de quarta-feira. Primeiro, que sua base parece muito grande, mas é heterogênea demais e vai se fragmentar a cada votação se não tiver uma boa e forte liderança. O assunto tratado no projeto de mudança do Código Florestal é estratégico, não pode ser capturado por um dos grupos em conflito. O governo tem que dizer qual é sua política. Do contrário, ficará nessa contradição de ter uma vasta maioria, e usar seu partido mais importante para obstruir a votação de um projeto relatado por um integrante de sua própria base.