segunda-feira, maio 09, 2011

O segredo do sucesso COMO ZÉ DIRCEU ROUBA O NOSSO DINHEIRO


O segredo do sucesso
HUGO MARQUES
REVISTA VEJA

Empresários afirmam que o ex-ministro José Dirceu faz tráfico de influência. E um de seus clientes, um empreiteiro que multiplicou seus ganhos no governo do PT, diz que os políticos são corruptos

Em 2005, José Dirceu foi obrigado a deixar a poderosa Casa Civil da Presidência da República, abatido pelo escândalo do mensalão. No mesmo ano, teve o mandato de deputado federal cassado no plenário da Câmara. Desde então, o petista trocou os holofotes pela atuação nos bastidores. A saber, a vida de dirigente partidário e de prócer governista por uma bem-sucedida carreira de consultor de empresas privadas. Dirceu já representou interesses milionários em países latino-americanos, nos Estados Unidos, na Europa e no Oriente Médio. Montou um portfólio invejável de clientes, do bilionário mexicano Carlos Slim, dono da Claro e da Embratel, ao controverso magnata Boris Berezovski, proibido de retornar à Rússia pela Justiça daquele país. Dirceu construiu uma carreira sem dúvida exitosa na área comercial, mas deixou margem a uma dúvida incômoda: que tipo de serviço ele realmente presta aos seus clientes? Pela primeira vez desde a saída do petista do Planalto, há evidências claras e um testemunho convincente de que as suas “consultorias” não passam de um eufemismo para acobertar a prática de tráfico de influência.

Ao lançar mão de relações construídas no governo Lula, o ex-ministro abre portas de gabinetes e mostra os caminhos mais curtos que levam aos abarrotados cofres públicos. Da empreiteira Delta, um dos gigantes do setor, surge o caso mais contundente até agora sobre

as misteriosas atividades do “consultor” Dirceu. Durante o governo do ex-presidente Lula, a Delta passou de empresa de porte médio a sexta maior empreiteira do país. É, hoje, a que mais recebe dinheiro da União. Sua ascensão vertiginosa chamou a atenção dos concorrentes. Em 2008, a Delta já ocupava a quarta colocação no ranking das maiores fornecedoras oficiais. Em 2009, houve um salto ainda mais impressionante: a empresa dobrou seu faturamento junto ao governo federal. Em 2011, apesar das expectativas de redução da atividade econômica, o faturamento da Delta deve bater os 3 bilhões de reais - empuxado por obras estaduais e do PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento. Resumindo, em apenas nove anos, a Delta multiplicou seu faturamento em exatos 1091%. O fato do presidente da empresa, Fernando Cavendish, para aproveitar as boas oportunidades explica uma parte do sucesso. A outra pode ser creditada às suas boas amizades e ao, digamos, talento em contratar a pessoa certa na hora certa.

Em 2009, o ano em que a Delta deu seu grande salto, a empresa passou a contar com os serviços da JD Assessoria e Consultoria, a firma do ex-ministro José Dirceu. Foi um contrato feito à sorrelfa, por meio de outra empresa da Delta, a Sigma Engenharia. Oficialmente, a JD recebeu 20000 reais mensais para “ampliar a participação da Delta no Mercosul”. Seus negócios, porém, prosperaram mesmo foi no Brasil. E José Dirceu está na raiz desse crescimento exponencial. Em 2009, a Delta amealhou 733 milhões de reais em contratos com o governo, o dobro de 2008. A empresa ampliou sua atuação nos ministérios da Defesa, Saúde e Transportes. Também passou a integrar o restrito grupo de prestadoras de serviços à Petrobras. E está encarregada da reforma do Estádio do Maracanã, para a Copa de 2014. Obras bilionárias. Ao mesmo tempo, no Tribunal de Contas da União, a Delta é citada em mais de 150 investigações por envolvimento em diversos tipos de irregularidade. Como ela conseguiu se transformar nesse portento? Graças ao trabalho do “consultor” José Dirceu. Quem garante? O próprio dono da Sigma, a empresa que contratou o ex-ministro: “O trabalho dele (José Dirceu) era fazer tráfico de influência. Aproximar o Fernando Cavendish de pessoas influentes no governo para fazer negócios”, diz o engenheiro Romênio Marcelino Machado (veja a entrevista na pág. 69).

A Delta comprou a Sigma Engenharia em 2008, num processo que se tornou motivo de litígio. Valeu-se dela, suspeita-se, somente para fazer transferências bancárias à JD Assessoria e, assim, tentar lançar um véu sobre seu espetacular desempenho na obtenção de contratos governamentais. Segundo a assessoria da Delta, o contrato com o ex-ministro foi negociado diretamente pela Sigma. Ao assumir o comando da empresa, Fernando Cavendish teria apenas dado prosseguimento ao acordo. Depois, ao perceber que José Dirceu não entregara o que fora prometido, “a ampliação dos negócios no Mercosul” -, ele decidiu rescindir o contrato. Nada disso, contudo, é verdade, de acordo com os donos originais da Sigma. “Nós nunca vimos o Zé Dirceu. Só ficamos sabendo que estávamos fazendo pagamentos a ele quando nos apresentaram as notas fiscais”, diz José Augusto Quintella Freire, um dos proprietários da empresa. Quintella também afirma que a história do Mercosul é balela: “O trabalho de Dirceu permitiu à Delta entrar no mercado de óleo e gás”. Procurado, Dirceu disse que não fala sobre seus negócios. A Petrobras também não quis comentar o caso.

Com a crescente participação do estado na economia, os empresários buscam ligações especiais com o mundo oficial, para compelir com vantagem nas licitações e obter parcerias com o governo. Como o estado brasileiro é um dos mais onipresentes no universo da produção, com uma fatia de 40% do produto interno bruto, cria-se um campo ainda mais fértil para aproveitadores.

É nesse cenário que figuras com o perfil de José Dirceu ganham maior relevância: “Pessoas que saem do governo e montam consultorias existem em qualquer país do mundo. Agora, quando há uma situação em que a burocracia estatal é grande, complexa e tudo é regulado e difícil, aí não tem jeito. Inevitavelmente, criam-se dificuldades para vender facilidades”, diz Sérgio Lazzarini, economista e autor de Capitalismo de Laços, um livro essencial para entender essa via de mão dupla e os intermediários entre os cofres públicos e as empresas.

A compra da Sigma pela Delta, como foi dito, é motivo de uma intensa disputa judicial. Graças a essa contenda é que veio à tona a confirmação de que o consultor José Dirceu age como um intermediário de oportunidades dentro do governo. Ela mostra também o perfil de cliente que busca esse tipo de serviço. Em reunião com os sócios, no fim de 2009, quando discutia exatamente as razões do litígio, o empresário Fernando Cavendish revelou o que pensa da política e dos políticos brasileiros de maneira geral: “Se eu botar 30 milhões de reais na mão de políticos, sou convidado para coisas para ‘c...’. Pode ter certeza disso!”. E disse mais. Com alguns milhões, seria possível até comprar um senador para conseguir um bom contrato com o governo: “Estou sendo muito sincero com vocês: 6 milhões aqui, eu ia ser convidado (para fazer obras). Senador fulano de tal, se (me) convidar, eu boto o dinheiro na sua mão!”. Subornar pessoas com poder de decisão no governo é crime de corrupção ativa. Todo mundo sabe que isso ocorre a toda hora. Mas ouvir a confirmação da boca de um grande empresário do país, mesmo se for só bravata, é assustador. 

Romênio Marcelino Machado
“É tráfico de influência”

Os engenheiros José Augusto Quintella Freire e Romênio Marcelino Machado eram donos da Sigma Engenharia, empresa adquirida pela Delta Construções, em 2008. Durante o processo de fusão, no entanto, os sócios se desentenderam e o negócio encontra-se até hoje em litígio judicial. Foi nesse período que o empresário Fernando Cavendish contratou os serviços da JD Assessoria e Consultoria, do ex-ministro José Dirceu. E é do centro dessa disputa que surge a revelação sobre as verdadeiras atividades do ex-ministro.

Que tipo de consultoria o ex-ministro José Dirceu realizou para o grupo Delta?

Romênio – Trafico de influência. Com certeza, é tráfico de influência. O trabalho era aproximar o Fernando Cavendish de pessoas influentes do governo do PT. Isso, é óbvio, com o objetivo de viabilizar a realização de negócios entre a empresa e o governo federal.

E os resultados foram satisfatórios?

Romênio - Hoje, praticamente todo o faturamento do grupo Delta se concentra em obras e serviços prestados ao governo.

A contratação de José Dirceu foi justificada internamente de que maneira?

Romênio - A contratação foi feita por debaixo do pano, através da nossa empresa, sem o nosso conhecimento. Um dia apareceram notas fiscais de prestação de serviços da JD Consultoria. Como na ocasião não sabia do que se tratava, eu me recusei a autorizar o pagamento, o que acabou sendo feita por ordem do Cavendish.

O que aconteceu depois da contratação da empresa de consultoria do ex-ministro?

Quintella - A Delta começou a receber convites de estatais para realizar obras sem ter a capacidade técnica para isso. A Petrobras é um exemplo. No Rio de Janeiro, a Delta integra um consórcio que está construindo o complexo petroquímico de Itaboraí, uma obra gigantesca. A empresa não tem histórico na área de óleo e gás, o que é uma exigência. Ainda assim, conseguiu integrar o consórcio. Como? Influência política.

A Delta, por ser uma das maiores empreiteiras do país, precisa usar esse tipo de expediente?

Romênio - Usa. E usa em tudo. O caso da reforma do Maracanã é outro exemplo. A Delta está no consórcio que venceu a licitação por 705 milhões. A obra mal começou e já teve o preço elevado para mais de 1 bilhão de reais. Isso é uma vergonha. O TCU questionou a lisura do processo de licitação. E quem veio a público fazer a defesa da obra? O governador Sérgio Cabral. O Cavendish é amigo intimo do Sérgio Cabral. A promiscuidade é total.

Por que vocês se desentenderam?

Quintella - O Cavendish comprou nossa empresa e não pagou. Queria usar a reputação da Sigma para se habilitar a disputar licitações em estatais, como a Petrobras, o que é legítimo. Depois, ele mudou de ideia e decidiu não pagar o valor combinado. Essa mudança de comportamento se deu no momento em que ele passou a trabalhar com a consultoria do ex-ministro. Pode ser pura coincidência, mas não acredito. Ele disse abertamente para nós - e temos como provar - que não iria nos pagar porque era mais fácil e barato botar dinheiro na mão de políticos. Disse que com 6 milhões comprava até senador. Ele compra todo mundo.

LYA LUFT - Deixem em paz a nossa língua


Deixem em paz a nossa língua
LYA LUFT
Revista Veja 

Nasci com essa paixão, esse encantamento pelas palavras. Quando pequena, repetia para mim mesma as que achava mais bonitas: pareciam caramelos na minha boca. Colecionava mentalmente as mais doces, como translúcido, magnólia, borbulha, libélula, e não sei quais outras. Lembro que por um tempo detestei meu nome curtinho e sem graça: pedia a minha mãe que o trocasse por algo belo como Gardênia, Magnólia, Virgínia. Açucena me fascinou quando o li no meu livro de texto no 1º ano da escola, e quis me chamar assim. Mas eu queria muitas coisas impossíveis. Como lia muito (minha cama era embutida em prateleiras onde, em horas de insônia, bastava estender a mão e ter a companhia de um livro), a linguagem cedo fez parte da minha vida como as ficções. Eu lia o que me caía nas mãos, desde gibis até complicados volumes que eu não entendia mas pegava na biblioteca de meu pai, e lia achando impressionante ou bonito, misterioso ou triste.

Comecei a trabalhar com a nossa língua bastante cedo, traduzindo obras literárias do inglês e do alemão. Mais ou menos nessa época, início dos 20 anos, passei a escrever crônica de jornal, e poemas avulsos, que aos poucos foram sendo publicados em livros, até finalmente iniciar uma carreira de ficcionista já beirando os 40 anos. Antes disso fiz mestrado em linguística, e fui professora dessa matéria em uma faculdade particular durante dez anos. Não escrevo isso para dar meu currículo, mas para dizer que não desconheço o assunto: ler e escrever são para mim tão naturais quanto respirar, e conheço alguma teoria. Nosso idioma, o português do Brasil, me é íntimo, querido, respeitado, amado - e está em mim como a própria alma. Aliás, a psique se reconhece, se analisa e se expressa através das palavras.

De vez em quando, inventa-se alguma reforma para essa sutil, forte e independente engrenagem. Passei por várias nesses muitos anos, as ortográficas em geral pífias, algumas muito malfeitas. Porém a gente se adapta, até por razões de ofício. Mas, por favor, não tentem defender nosso português de estrangeirismos: a língua não precisa ser defendida. Ela é soberana. Ela é flexível. Ela é viva. Nenhum gramático ou legislador, brilhante ou tacanho, poderá botar essa dama em camisa de força, nem a conter num regime policialesco. Ela continuará sua trajetória, talvez sacudindo a cabeça diante das nossas desajeitadas tentativas de controlá-la. Como dirá qualquer bom professor de português, ou qualquer linguista dedicado, estudioso, uma parcela imensa dos termos que hoje usamos, que por muito usados pela classe culta foram dicionarizados - o dicionário sempre corre atrás da realidade -, começou como estrangeirismo. Não preciso citar, mas cito, garagem do francês, futebol do inglês, coquetel da mesma forma. A língua incorpora esses termos se são úteis, e os adapta ao seu sistema. Botou o “m” final em miragem, por exemplo, porque no nosso sistema as palavras não terminam em “age”.

Muitos termos não podem ser traduzidos: quem diz isso é esta velha tradutora que dedicou a isso milhares de horas de sua vida. E não é possível formar frases decentes, fluidas, claras, expressivas como devem ser as frases, se a cada “estrangeirismo” tivermos de fazer um rodeio, uma explicação da palavra intraduzível. Isso, além do mais, nos colocaria na rabeira do mundo civilizado e globalizado, onde palavras - como objetos de bom uso - circulam de um lado para outro, pousam aqui ou ali, adaptam-se, ou simplesmente passam. Quando não passam, é porque são necessárias, e acabam colocadas entre aspas ou em itálico. Línguas altamente civilizadas usam “estrangeirismos” livremente, sem culpa nem preconceito, como fator de expressividade. Isso nem as humilhou, nem as perverteu: ficaram enriquecidas. Nós é que precisamos lutar contra uma onda terceiro-mundista, uma postura de inferioridade que nos faz gastar energias que poderiam ser aplicadas em algo urgente como um orçamento vinte vezes maior para a educação do nosso povo.

PAULO RABELLO DE CASTRO - A arma errada para lutar com o dragão


A arma errada para lutar com o dragão
PAULO RABELLO DE CASTRO
Revista Época 

A presidente Dilma tem afirmado que não negociará com a inflação. Como credo econômico e ladainha política, não seria de esperar outra coisa. O resto do governo se alinha atrás de Dilma. O dragão da inflação bate a nossa porta. É a pior ameaça a um país em plena retomada de sua economia, após duas décadas e meia de desolação financeira. Se o governo promete dar duro na inflação, por outro lado sabemos que lidará com bombas de efeito retardado nos próximos meses.

A indexação dos salários, em 2012, é uma arma apontada contra a estabilidade. Afinal, a inflação já saiu do controle imediato. O sinal disso foi dado pelo próprio Banco Central, ao ditar que os juros continuarão subindo. Mas o remédio do juro alto virou parte do problema, pois o principal endividado é o próprio governo, que paga mais encargos financeiros ao tentar frear o consumo privado.

Tem outro remédio? Tem. É a sempre adiada arrumação da casa, do lado fiscal, se for adotada uma atitude mais inteligente em relação à arrecadação de impostos e ao gasto público. Não se diga que nisso Dilma não mexeu. Ela encontrou um cofre arrombado, com restos a pagar multibilionários, e pisou no freio com uma forte reprogramação orçamentária. Os números preliminares da execução de março mostram um sucesso parcial no controle da despesa. Mas, enquanto Dilma espreme os gastos em saúde e educação, vê sua conta de juros explodir para R$ 230 bilhões neste ano. É como enxugar gelo. O nível de juro requerido para conter o consumidor seria muito superior ao que dita o bom-senso. Precisaríamos de uma taxa básica de 14% ou 15%, algo politicamente fora de questão. Abaixo desse patamar, o juro pouco contribuirá ao resfriamento espontâneo do consumo, embora infle a despesa financeira do governo. A solução passa, portanto, longe da política de juros altos.

Além disso, um aumento no juro cria efeitos nocivos colaterais sobre o já estrambótico custo de produção doméstico. Joga a indústria nacional da terceira para a quarta divisão no campeonato da competitividade mundial. Os empresários industriais não sairão do atoleiro. Precisariam, neste momento, de uma corajosa e eficaz simplificação fiscal sobre toda a estrutura produtiva do país. O governo até estuda isso com carinho, mas com uma enervante falta de pressa.
Desta vez, a solução passa longe dos juros altos.
Precisamos de disciplina fiscal e poupança interna

O outro defeito de combater a inflação com juro alto é a incompatibilidade com nosso regime cambial, definido como flexível, portanto respondendo aos estímulos naturais do mercado. Ora, a principal força de mercado é a diferença entre juro interno e juro externo, uma enorme bomba de sucção de divisas, que provoca uma entrada monumental de capital, pelo estímulo indevido de um juro elevado demais aqui dentro, ante o juro baixo lá fora. Esse perigoso ingrediente da atual conjuntura de bonança da economia brasileira pode se converter, a qualquer momento, se mudar o clima externo, numa nova bomba-relógio inflacionária, que explodirá se o gigantesco fluxo de entrada de dólares, hoje sócio da estabilidade de preços, quiser retornar à pátria dos aplicadores, passando por uma porta cambial estreita.

O recado da economia brasileira para a nova presidente é simples: em matéria de combate à inflação, não dá para repetir o caminho do governo Lula. O estoque de milagres pelos altos preços das matérias-primas acabou, deixando para a equipe atual apenas o rescaldo daquela imensa sorte histórica. O rumo das expectativas sobre a inflação dependerá da coragem de mudar o atual modelo de expansão do consumo baseado no crédito e no déficit público. Como líder, Dilma deve começar a falar de capitalização da economia brasileira no longo prazo, o que exige muito mais poupança pública (o oposto do déficit atual) e mais poupança privada (previdência complementar e mais investimento de lucros empresariais).

O dragão, como em qualquer lenda, nos traz um enigma e um desafio. A espada dos juros é arma equivocada na luta contra esse monstro.

FERNANDO ABRUCIO - Decifrando a classe média, a queridinha dos partidos



Decifrando a classe média, a queridinha dos partidos
FERNANDO ABRUCIO
Revista Época 

A classe média virou a queridinha dos partidos, principalmente do PSDB e do PT. Parece que a conquista desse grupo passou a ser tratada como a garantia de vitória eleitoral. O raciocínio tem dois problemas. Primeiro, pela simplificação: muitos parecem ignorar que há várias “classes médias”, com variações regionais, de vinculação profissional, organização sociopolítica e valores socioculturais. Segundo: mais importante que atingir certo grupo é saber o que gera voto e, sobretudo, solidez política de longo prazo.

Em sociedades de trajetória complexa, como a brasileira, a classe média tende a ser muito heterogênea. A diferença não está só na renda – a divisão daqueles que estariam no estrato C ou B. Contam também o tempo de escolaridade, as variações regionais, o fato de ser profissional do setor público ou do privado, estar vinculado e atuar constantemente em organizações sociais, como sindicatos, ONGs e igrejas, e, como tem sido destacado, ser tradicionalmente de classe média ou ser um emergente.

Por essa linha de raciocínio, o argumento segundo o qual a classe média tradicional está com o PSDB não é totalmente verdadeiro. Membros da classe média que trabalham no setor público – principalmente nos níveis federal e estadual – tendem a ficar mais à esquerda dos tucanos. Igualmente importante é a questão regional. Parece evidente que a classe média do Sul do país não se comporta como a do Nordeste, onde a maioria votou em Lula e em Dilma nas últimas disputas. Da mesma maneira, não vale dizer, simplesmente, que os pobres já são propriedade do PT. Embora, nas últimas eleições, o petismo tenha conquistado setores desorganizados e com menor renda, as periferias urbanas de São Paulo, por exemplo, votaram mais em Kassab (2008) e em Alckmin (2010). Vale lembrar ainda que os 44 milhões de votos obtidos por Serra também contêm pobres.

O que está mais em jogo é a chamada classe C. É claro que a disputa por ela é importante, dado seu crescimento recente. Uma parte dessa batalha será feita no terreno dos valores. Porém, é preciso supor que a classe C realmente seja homogênea na sua visão de mundo. E tomar cuidado para que o discurso para esse grupo não bata de frente com os valores de outros estratos relevantes, como a classe média tradicional do setor público ou parcelas mais pobres da sociedade.
Muitos parecem ignorar que há várias “classes médias”, com variações regionais, de valores e vínculo profissional

Para sair da armadilha, o melhor caminho é pensar nos elementos que conquistam os eleitores. Há três instrumentos mais efetivos: a construção de boas bases políticas locais e regionais, a organização dos setores sociais ou a conquista dos organizados e, por fim, o perfil e o resultado das políticas públicas. É por essa trilha que o PSDB e o PT devem discutir a ampliação de seu apoio político, inclusive entre a classe média emergente.

No caso das bases locais e regionais, os partidos que conseguirem ter melhores estratégias, com conquistas de governos subnacionais e montagem de alianças com outras legendas, terão mais chances de ter bons resultados em 2014. As vitórias de Lula em 2006 e de Dilma em 2010 dependeram muito dessa variável. E a oposição perdeu terreno nesse campo, embora tenha conquistado governadorias estratégicas.

Também é fundamental organizar a sociedade, incluindo aí os batalhadores e emergentes da classe C, e conquistar os já organizados. A grande vantagem do PT é que ele tem apoio sólido em grupos com amplo poder derivado de sua organização. Desse modo, mesmo que o petismo perca as próximas eleições presidenciais, poderá fazer oposição com mais ímpeto e menos insegurança que o PSDB atual, para o qual falta uma base social mais articulada.

A forma mais certeira de atingir os grupos sociais é por meio das políticas públicas. Primeiro, definindo claramente o público-alvo, como no Bolsa Família e no ProUni. Segundo, alcançando bons resultados. O PT tem o governo federal e alguns Estados para atuar nesse campo. O PSDB tem governos estaduais importantíssimos. A principal chave para se chegar à classe média emergente está nessas máquinas.

DENIS LERRER ROSENFIELD - Democracia e pesquisas de opinião


Democracia e pesquisas de opinião
DENIS LERRER ROSENFIELD
O Estado de S.Paulo - 09/05/11

O jogo político em sociedades democráticas passa pela formação da opinião pública. Ideias, concepções e valores fazem parte do contexto de lutas públicas, partidárias ou não, em que diferentes propostas se confrontam. Começam, dessa maneira, a se formar determinados apoios majoritários ou mesmo consensuais a certas ideias, que passam, então, a ser consideradas "normais" - precisamente por serem tidas por mais usuais, como se sua frequência fosse indicativa de sua "normalidade".

Eis por que surgem distintas maneiras de legitimar decisões, recorrendo aos mais diferentes instrumentos, tendo como objetivo ganhar a adesão dos cidadãos. Decisões que não passem por esse "ritual" correm o risco de ser ineficazes. Pesquisas de opinião, dos mais distintos tipos, cumprem, também, essa função.

Observe-se que muitas notícias e manchetes de jornais e revistas estampam que teria havido uma mudança de comportamento dos brasileiros em relação a determinados hábitos, sem que sejam expostas as condições mínimas a partir das quais tais pesquisas foram realizadas. Qual foi a margem de erro dessas pesquisas? Qual o rigor de sua amostragem ou do uso de sistemas de cotas, como gênero e região do País, e modo de entrevistas? Surge, simplesmente, a notícia como se ela retratasse a realidade, sem que indagações ou precauções mínimas sejam tomadas.

Há pouco tempo, o Ministério da Saúde divulgou uma pesquisa com 55 mil pessoas, feita por telefone, sobre os hábitos de brasileiros referentes a fumo, bebidas alcoólicas e obesidade. Imediatamente foram divulgados os resultados, a partir de certas correlações com pesquisas anteriores que indicariam aumento ou queda de certos comportamentos. A margem era tão estreita entre uma e outra que nem se poderia falar de uma mudança de hábito. Qual a sua credibilidade?

Algumas perguntas deveriam impor-se. Qual era a margem de erro dessas pesquisas? Qual a confiabilidade de uma pesquisa desse tipo, na medida em que não há uma listagem pública de telefones celulares no País? Quem não tem telefone fixo não poderia, por princípio, ser entrevistado? Não convém esquecer que o número de celulares no País ultrapassa atualmente o de convencionais.

Notícias, no entanto, foram apresentadas como se esses comportamentos, já tidos valorativamente como nocivos, devessem ser ainda mais controlados. Era evidente o propósito de que tais "pesquisas" servissem de antessala para novas medidas restritivas. Para que elas possam ser tomadas, porém, torna-se necessária uma preparação preliminar, que seria preenchida precisamente pela pesquisa de opinião. O objetivo reside no convencimento, e não numa radiografia fiel da realidade. O mais surpreendente ainda é que outras pesquisas não sejam feitas justamente para contestar ou ao menos equilibrar, do ponto de vista da formação pública, tal tipo de expediente.

Outro caso bastante em voga, e que se acentuará nos próximos meses, é o da campanha do desarmamento. As pesquisas aqui em pauta têm igualmente um forte componente retórico, feito para o convencimento dos cidadãos. Depois do referendo que terminou com a acachapante vitória do não, em inequívoca decisão favorável à liberdade de escolha, toda a política governamental consistiu em desconsiderar o resultado da vontade do povo. O povo, em eleições livres, decidiu pela liberdade de escolha. O que fez o governo? Decidiu estabelecer tal número de restrições à compra de armas que acabou por inviabilizá-la. Se tal tivesse sido o resultado da consulta, nada haveria a objetar. Como não o foi, a pergunta concerne ao próprio respeito a procedimentos democráticos.

Com o intuito de dar legitimidade a esse desrespeito a uma decisão democrática, o subterfúgio usado consistiu em produzir supostos estudos que estabelecem correlações estatísticas tendo como pressuposto que o "povo decidiu mal". A pesquisa visaria, então, a corrigir tal "anomalia". Assim, estudos são produzidos dizendo que a violência diminuiu graças ao desarmamento da população civil. Ora, correlações estatísticas podem ser feitas entre os mais distintos fatores, não indicando necessariamente uma relação causal. Por exemplo, a violência pode ter diminuído por outras causas, como maior eficiência da polícia, decisões judiciais, maior apreensão de armas de bandidos, políticas sociais para populações de baixa renda, unidades pacificadores em morros e favelas, e assim por diante. Privilegiar o desarmamento de pessoas de bem carece de qualquer base científica. No entanto, é essa aparência que procura ser "vendida" à sociedade, em nome de uma suposta "cientificidade" do estudo ou de uma pesquisa.

Outro caso que já povoa as páginas de jornais é o de pesquisas de opinião eleitoral relativas à apreciação dos graus de satisfação com os atuais governadores e prefeitos, além de outras ainda que já procuram medir o potencial dos candidatos às eleições municipais do próximo ano.

A margem estimada de erro de pesquisas de opinião se faz segundo o universo dos entrevistados. Assim, se uma pesquisa de opinião pública for feita com mil entrevistas, sua margem de erro é de 3 pontos porcentuais para mais ou para menos (total de 6 pontos). Se for com 600 entrevistas, a margem de erro sobe para 4 pontos para mais ou para menos (total de 8 pontos). Neste último caso, se se analisar apenas o comportamento das mulheres, metade aproximada da amostra por gênero, o problema se agrava. A margem de erro sobe, então, para 6 pontos para cima ou para baixo (total de 12 pontos).

Eis por que se deve ter o maior cuidado na leitura de certas notícias, pois pode acontecer que seu objetivo seja meramente retórico, o convencimento do outro, e não um retrato, embora momentâneo, da realidade. Contudo esse é, do ponto de vista público, o processo mesmo de formação da opinião pública.

A. P. QUARTIM DE MORAES - As duas faces do lulopetismo


As duas faces do lulopetismo
A. P. QUARTIM DE MORAES
O Estado de S.Paulo - 09/05/11

Num mesmo dia, 4 de maio último, os principais jornais brasileiros estamparam duas notícias distintas, aparentemente sem nenhuma relação uma com a outra, que revelam claramente o que significaram para o Brasil os oito anos de lulopetismo. A primeira: a pobreza no País caiu 50,64% entre dezembro de 2002 e dezembro de 2010, período dos dois mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva. A segunda: os quatro filhos e três netos de Lula recusavam-se até então a devolver os passaportes diplomáticos que lhes foram concedidos irregularmente nos últimos dias do governo do chefe do clã, levando o Ministério Público Federal a cogitar de recorrer à Justiça para corrigir a anomalia.

Quem se sentir chocado com a colocação dessas duas notícias num mesmo nível de importância para efeito de avaliação do governo Lula deve atentar para o seguinte: o sentido de justiça que impele os bons governantes a lutar pela diminuição das desigualdades é inspirado pelos mesmos valores humanos universais que estabelecem que não pode haver justiça enquanto houver regalias e privilégios aos quais, por definição, só poucos podem ter a oportunidade de acesso. Por mais bem-sucedido que tenha sido no combate à pobreza - e em grande medida realmente o foi -, Lula deixou a obra pela metade ao não ter tido capacidade, ou preparo, para entender que ele próprio é e continuará sendo beneficiário dos mesmos direitos e submisso aos mesmos deveres, nem mais nem menos, do mais humilde dos cidadãos que seu trabalho como presidente resgatou da pobreza. É a igualdade perante a lei, fundamento da organização de qualquer sociedade minimamente civilizada.

Mas não é apenas a atitude antiética de agir como se fosse "mais igual" do que o cidadão comum que compromete o desempenho de Lula como chefe de governo e o coloca muito distante da condição de estadista. Muito piores, do ponto de vista do bem comum, são as consequências da generalização desse comportamento, por contaminação, pelos quadros da administração estatal, estimulados, pelo exemplo que vem de cima, a cultivar privilégios e regalias. Se o chefe pode, por que não eu? É assim que os desmandos e a corrupção prosperam, na razão inversa em que, inevitavelmente, decai a eficiência da máquina governamental.

Lula e o PT sabem perfeitamente disso, pois durante mais de 20 anos combateram ferozmente os privilégios das "elites", acusaram todos os governos, mesmo depois da redemocratização do País em 1985, de se colocarem a serviço de interesses de potências ou do capital internacional e das castas e dos estamentos sociais que o dominavam, em prejuízo da grande maioria da população. Pois bastou chegar lá para o lulopetismo pôr em prática tudo o que sempre combateu. Desde aliar-se às mais retrógradas oligarquias regionais e envolver-se - segundo denúncia da Procuradoria-Geral da República ao Supremo Tribunal Federal - em esquemas de compra de votos de deputados federais em troca de apoio político até promover um aparelhamento do Estado como nunca antes visto neste país e emascular completamente as grandes organizações sindicais, com a criação de um neopeleguismo alimentado a fundos de pensão.

É claro que esse novo tipo de apropriação privada do poder público teve reflexos negativos, que, com toda a certeza, prejudicaram o desempenho do próprio governo Lula. Não estivessem os coronéis que dominam o Congresso Nacional, os partidos que manipulam a máquina do Estado e os neopelegos deslumbrados com seu novo status social - não estivessem todos tão completamente envolvidos na defesa de seus próprios interesses, como a ampliação de suas regalias e de seus privilégios -, certamente os dois mandatos de Lula teriam um saldo de realizações concretas muito mais amplo a apresentar.

Não é à toa que os mais expressivos resultados desses oito anos se concentram nos programas que representam bandeiras históricas e prioritárias do PT - e, não por acaso, se traduzem em votos -, como a incorporação ao mercado de consumo de milhões de brasileiros antes marginalizados. Contudo metas com menores visibilidade e implicação eleitoral imediata, como todas aquelas que dizem respeito à infraestrutura indispensável ao desenvolvimento - estradas, aeroportos, saneamento básico, geração de energia, etc. -, sem falar no descontrole fiscal decorrente da gastança de recursos públicos, o que hoje começa a ameaçar o controle da inflação, quase todas essas ações, cujo implemento depende não apenas de investimentos adequados, mas também de gestão eficiente, ficaram a dever no governo Lula e hoje constituem uma verdadeira herança maldita para Dilma Rousseff.

Assim, a arrogância da família Lula da Silva na recusa a devolver os passaportes diplomáticos que obteve, indevidamente, ao apagar das luzes do "seu" governo não é um fato isolado e "da maior irrelevância", como já declarou um dos mais notórios aduladores do chefe, Marco Aurélio Garcia. Trata-se de mais um triste exemplo da falta de compostura ética e moral que caracterizou e prejudicou oito anos de lulopetismo no comando da República.

Se Lula não conseguiu, ou não soube, ou não quis transmitir certos valores éticos a seus descendentes, não é de admirar que não se tenha preocupado em fazê-lo em relação a seu partido e, principalmente, à enorme massa de seus eleitores. O que importa é ser "pragmático", levar vantagem. Daí a leniência com que ele próprio sempre passou a mão na cabeça dos seus "aloprados", com que o PT absolve um corrupto confesso como Delúbio Soares, com que todos juntos proclamam descaradamente que o mensalão nunca existiu.

Claro, é uma invenção das "elites". Nas quais, hoje, Lula e o PT, e suas duas faces, estão confortavelmente instalados. Ou não?

CARLOS ALBERTO SARDENBERG - Mais inflação, menos crescimento


Mais inflação, menos crescimento
CARLOS ALBERTO SARDENBERG
O Estado de S. Paulo - 09/05/2011

"Eu não vou permitir que a inflação volte no Brasil. Não permitirei que a inflação, sob qualquer circunstância, volte. Também não acredito nas regras que falam (em março) que o Brasil não crescerá este ano. Tenho certeza de que o Brasil vai crescer entre 4,5% e 5% este ano."

Assim a presidente Dilma Rousseff definiu seus objetivos econômicos em entrevista à jornalista Claudia Safatle, ainda em março. A presidente também garantia: "E também não acho que a inflação no Brasil seja de demanda".

Juntando isso com as manifestações de membros da equipe econômica, o novo governo passava o seguinte recado: certo, vamos ter de novo inflação acima da meta - em torno dos 5% -, mas menor do que a do ano passado. E, sobretudo, não vamos derrubar o crescimento econômico nem cortar investimentos importantes.

Na sexta-feira passada saiu o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de abril, que jogou a inflação acumulada nos últimos 12 meses para 6,51%, no limite do teto de tolerância.

Qual o cenário hoje?

O governo não confessa oficialmente, mas já se sabe que vai lutar para que a inflação chegue ao final do ano abaixo dos 6,5%. Algo como 6,45% já será considerado uma vitória.

E o crescimento econômico? Se der 4%, será sensacional. Mas o governo espera mesmo que não seja inferior a 3,5%.

Resumo da ópera: o governo topava um pouco mais de inflação para garantir um pouco mais de crescimento.

Está colhendo mais inflação e menos crescimento - como diziam os assim chamados "ortodoxos" tão criticados pela presidente Dilma e por alguns de seus ministros.

Em tempo: deem uma olhada nos documentos do Banco Central. Procurem por "inflação de demanda". Vão encontrar.

Governança. A Vale anunciou um baita lucro no primeiro trimestre deste ano. Verdade que os preços do minério de ferro estiveram no pico em janeiro e fevereiro. Mas é verdade, também, que a Vale é uma companhia bem administrada, capaz de aproveitar as oportunidades do mercado.

Entretanto, suas ações em bolsa se têm valorizado menos do que as das concorrentes multinacionais. A causa? Governança. Ou seja, séria desconfiança em relação aos futuros resultados da empresa, dada a ostensiva interferência do governo Dilma no comando da companhia.

Demitiram os frentistas... Antes da operação que apanhou Osama bin Laden, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, estava com a popularidade em baixa. Uma das causas era o preço da gasolina, que passava dos US$ 4 o galão, algo em torno de R$ 2 o litro. Mais barato do que no Brasil ou na Europa, por exemplo, porém mais alto do que as médias históricas norte-americanas.

Gasolina nos Estados Unidos paga pouco imposto, o preço é livre e responde direta e imediatamente às flutuações do mercado mundial.

Se o galão passar dos US$ 5 e ficar nisso - diziam então os analistas -, a reeleição de Obama estará seriamente comprometida. E, se chegar a US$ 6, completavam, estará perdida.

Gasolina é um preço político em qualquer país. Mas sempre pareceu que, nos Estados Unidos, o impacto eleitoral é muito maior.

Qual seria a causa disso? Uma explicação óbvia: os americanos adoram automóvel e usam mais o carro particular do que, por exemplo, os europeus - estes mais propensos ao transporte público.

Mas há uma outra explicação, comportamental. O problema é que nos Estados Unidos não há mais frentistas nos postos de gasolina.

Isso mesmo. Em nome da eficiência e da redução de custos, a profissão do frentista foi sendo eliminada. Como ocorreu no caso dos bancos - você mesmo faz os depósitos e pagamentos no seu computador -, o serviço de encher o tanque foi transferido para o consumidor.

O motorista para o carro ao lado da bomba, desce, passa seu cartão de crédito, o que destrava a mangueira, e faz a operação. Em certos postos, o motorista precisa entrar no escritório do posto e passar o cartão de crédito lá dentro. Depois volta e opera a bomba.

Em qualquer caso, eis a diferença: o consumidor fica ali, vendo a maquininha rodar o preço. Ele quer colocar dez galões (quase 38 litros) e é obrigado a ver o mostrador registrar: US$ 1, US$ 5, US$ 10... US$ 40 e tantos.

Diferentemente, por exemplo, do motorista brasileiro, que encosta o carro no posto, pede 30 paus da comum e fica ali, ouvindo música ou checando e-mails.

Pode ser? Pode. Estudos mostraram que o consumidor americano fica nervoso diante do avanço dos números na bomba. E se deprime em seguida.

A morte de Osama bin Laden dominou os noticiários e jogou para cima a popularidade do presidente Obama. Mas os americanos não esqueceram o dia a dia.

Vi na revista eletrônica Slate uma charge significativa. O carro está parado ao lado da bomba, na qual se lê o preço, US$ 4,31 o galão. O motorista comenta com o carona, que agita uma bandeira americana pela janela: "Não vamos mais à manifestação pela morte de Bin Laden, não temos grana para a gasolina".

Para sorte de Barack Obama, os preços do petróleo estão em queda, depois de semanas de alta. Mas esse mercado continua muito instável, na política e na economia.

ROBERTO ZENTGRAF - Que encontro!


Que encontro!
ROBERTO ZENTGRAF
O Globo - 09/05/2011

Recente pesquisa feita pelo Instituto Ipsos a pedido da Fecomércio-RJ revelou que muitas famílias que conseguem chegar ao fim do mês com alguma sobra no orçamento optam por gastar a sobra ao invés de poupá-la. E o motivo não parece ser a falta de dinheiro, pois, no primeiro trimestre de 2011, um terço dos entrevistados terminou o mês com dinheiro sobrando, fatia maior do que a observada no mesmo período do ano passado, apesar de ter caído o percentual dos poupadores. Posto de outra forma: consumo de mais, poupança de menos!

Atento a isso, o próprio presidente do Banco Central veio a público se pronunciar, incentivando o brasileiro a aproveitar a recente alta dos juros para guardar um pouco mais. Estou com ele, e vou mesmo além: a exemplo do que ocorre em outras economias mundo afora, o saudável hábito de poupar já deveria estar consolidado aqui entre nós. A velha desculpa de que a inflação comerá todo o ganho não mais funciona, pois, como bem salientam as manchetes, ainda somos o país campeão dos juros altos.

E você, meu querido leitor, joga em qual time: o dos gastadores ou o dos poupadores? Considerando que torço pelo segundo, no artigo de hoje trarei uns incentivos a mais para você passar para o lado de cá, ou daqui nunca sair! A palavra chave é paciência, conforme você perceberá na simulação seguinte onde três amigas resolvem guardar R$100 mensais cada, aplicando-os a uma taxa de rentabilidade de 0,4% ao mês.

1. Lúcia manteve-se em sua meta durante dez anos (120 meses) quando então, ao ver R$15.424 acumulados, contou-me: "Puxa, após esse tempo todo, do total que possuo, 22% foi o dinheiro trabalhando para mim (R$3.424 de juros), enquanto que os 78% restantes (R$12 mil) vieram do meu sacrifício... Desisto, vou me divertir no shopping mais próximo".

2. Recentemente estive com Ana, que após 20 anos fiel ao seu propósito, estava toda feliz por ter adquirido um carro zerinho. Contou-me que optou pelo consumo, pois, tendo acumulado R$40.328, dos quais R$24 mil (ou 59,5%) vieram do seu esforço, achou que era o momento de aproveitar: "Fui eu quem mais contribuiu para esse bolo, nada mais justo do que usufruir, não é mesmo?"

3. Mas legal mesmo foi ter encontrado a Luciana... Que encontro! Estava rindo à toa, pois, demonstrando uma paciência de proporções industriais, aceitou essa pequena renúncia mensal durante 30 anos. Acumulou R$80.535, dos quais menos da metade (R$36 mil ou 45% do total) vieram do seu esforço. Radiante, ainda me revelou ter planos para guardar por mais dez anos, quando então, do total acumulado (R$145.451), apenas 1/3 (R$48 mil) viriam de seu sacrifício. E, como gosta de compartilhar suas boas novidades com os amigos, ainda me deu uma dica: "Minha primeira vitória foi quando percebi que no meio do 15º ano, os juros que ganhava sobre o que tinha acumulado já eram maiores do que o que eu deixava de gastar. Foi um incentivo a continuar com o meu propósito. Hoje por exemplo, os R$80.535 já rendem R$322, mais que o triplo de minha contribuição, não é o máximo?"

Bem, e antes que você me pergunte, já aviso: 0,4% líquidos ao mês, equivalem a 5,77% ao ano antes da mordida do Leão, algo que as NTN-B garantem, além da inflação pelo IPCA, que tal?

Um grande abraço e até a próxima semana!

FRANCISCO DORNELLES - Direto e secreto



Direto e secreto
FRANCISCO DORNELLES
O Globo - 09/05/2011

Considero o sistema de eleição proporcional para deputado o grande responsável pela desorganização do sistema político do país.

O sistema proporcional leva o eleitor a votar em um candidato, vê-lo derrotado e, com o voto a ele dado, eleger outro. Permite que candidato sem voto seja eleito e que candidato com grande votação seja derrotado.

O sistema proporcional encarece enormemente a eleição, pois cada partido é obrigado a apresentar um grande número de candidatos, sendo a maioria deles sem possibilidade de sucesso, mas apenas para somar legenda. Essa situação encarece as despesas do partido com os programas de televisão, rádio, papel, gráfica e transporte, sem falar em outros custos administrativos.

Defendo a adoção do sistema majoritário para as eleições de deputados.

Tenho preferência pelo Sistema Distrital Puro. Cada estado seria dividido em distritos e cada um elegeria o seu representante. Considero, entretanto, totalmente impossível, na prática, a divisão em distritos. Os conflitos regionais tornam impossível o entendimento sobre os critérios a serem adotados para essa divisão.

Na impossibilidade da adoção do distrital puro, defendo a adoção de um sistema majoritário chamado Distritão. Cada estado seria considerado um distrito e os candidatos com maior votação seriam eleitos deputados.

No Distritão é eleito quem tem voto. Muitos dos candidatos sem voto, que hoje participam das eleições com expectativa de serem eleitos com o voto de outros, nem seriam candidatos, pois sem o voto de legenda, os partidos políticos não teriam nenhum interesse nessas candidaturas. Essa situação iria reduzir, em aproximadamente 90%, o número de candidatos a deputado, o que, como disse anteriormente, reduziria enormemente o seu custo.

Não existe, no voto majoritário chamado Distritão, a mais remota possibilidade de ser eleito o sem voto e ser derrotado o bem votado.

Nas eleições para deputados seriam eleitos, pelo voto direto e secreto, os candidatos mais votados. No Rio de Janeiro, por exemplo, seriam eleitos os 46 candidatos a deputado mais votados.

Existem contra o voto majoritário duras objeções que a meu ver não procedem.

A primeira delas é a de que no Distritão aumenta a possibilidade de eleição de candidatos com maior poder econômico.

O "endinheirado" pode ser eleito pelo sistema proporcional vigente e o voto por ele recebido pode eleger ele e outros candidatos de sua legenda. O "endinheirado" pode comprar um lugar na lista proporcional fechada conseguindo até mesmo uma boa colocação na lista. No voto majoritário, chamado Distritão, o "endinheirado" pode se eleger, mas os seus votos não elegem outros.

A outra crítica de que o voto majoritário, chamado Distritão, enfraquece o partido não prevalece também. No voto proporcional, hoje vigente no Brasil, o eleitor vota sobretudo na pessoa, sabendo que ela pertence a um partido, e que, em decorrência do princípio da fidelidade partidária, não poderá mudar sua filiação. No Distritão nada muda na relação do candidato com o partido.

Resumindo, o voto proporcional para deputado leva à eleição de candidato sem voto, à derrota do candidato com voto, permite que o voto dado a um determinado candidato eleja outro, encarece enormemente o custo da eleição. No caso do voto proporcional com lista fechada, ele retira ainda do eleitor e transfere a prioridade para eleger os deputados às cúpulas partidárias.

O voto majoritário corrige essas distorções e se baseia em princípio simples do regime democrático: é eleito quem recebe o voto direto e secreto do eleitor, ou seja, é eleito quem tem voto.

J. R. GUZZO - Mais um portento


Mais um portento
J. R. GUZZO
REVISTA VEJA


No meio de todo o ruído levantado nesses últimos tempos para saudar a subida da classe “C”, ou o aparecimento da nova “classe média”, a verdade é que pouco se ouve falar de um fenômeno ainda mais interessante - o surgimento de algo que se poderia descrever como a classe “AAA”. Ela não é mencionada na propaganda oficial; ao contrário, sua existência é um constrangimento nas áreas ligadas ao poder público. Também não tem despertado a menção dos analistas políticos, mais preocupados, ultimamente, em descobrir se os emergentes são lulistas, dilmistas ou neoconservadores. Essa nova classe, enfim, parece não ter atraído até agora o interesse dos departamentos de marketing de empresas em busca de consumidores de bolso cheio - ou, se já atraiu, ninguém está disposto a ficar falando disso. Numa pátria-mãe menos distraída do que o Brasil de hoje, porém, a classe AAA provavelmente despenaria um pouco mais de curiosidade. Ela é formada por gente que, de uma forma ou de outra, prospera recebendo dinheiro do governo, inclusive por meios lícitos - e aí estamos falando de cada vez mais gente, cada vez mais prosperidade e cada vez mais dinheiro, a ponto, talvez, de colocar este país diante de uma nova espécie de portento econômico. 

Não se trata, no caso, de qualquer dinheiro público. Nada de povão por aqui - não entram na classe AAA, por exemplo, os brasileiros que vivem do Bolsa Família e de outras obras de caridade do governo. Também estão fora funcionários públicos de posição e remuneração modestas ou que, se ocupam cargos mais altos e têm salários melhores, trabalham de verdade, como qualquer cidadão comum. A população que habita esse mundo é formada por todos os que têm a ventura, hoje em dia, de vender algo ao governo, especialmente quando vendem caro e, melhor ainda, quando conseguem vender sem entregar. A seu lado, subindo de vida dentro do mesmo pesqueiro, estão os que não vendem mas recebem - o caso clássico é o dos controladores de ONGs que, através dos seus amigos dentro do governo, e dos amigos dos amigos, recebem doações do Erário para realizar tarefas vagas, isentas de prestação de contas ou simplesmente inexistentes. Estão nessa classe emergente, também, os milhares de companheiros presenteados com cargos na máquina pública e na constelação de altos empregos que se espalha em torno dela - conselhos de empresas estatais, autarquias, diretorias de fundos de pensão, institutos disso, secretarias daquilo. Há todo um meio de campo, com fronteiras mal definidas, cada vez maior e cada vez mais caro, de intermediários entre o poder público e as empresas privadas que fazem negócios com ele. Completam o bloco, enfim, os beneficiários da corrupção pura e simples - os que sempre trabalharam no ramo e uma aguerrida turma de novos talentos. É gente que gasta depressa, consome muito e, frequentemente, paga em dinheiro vivo - da mesma forma, aliás, como recebe.

Nunca houve tanto dinheiro em circulação nesse mercado - cerca de 1 trilhão de dólares em 2011, 1 belo e redondo trilhão, levando-se em conta que o governo, o grande cliente, representa cerca de 40% do PIB nacional, que deve fechar o ano com um total aproximado de 2,5 trilhões de dólares. O cofre está aberto para os mais variados tipos de transação. Podem-se vender estádios de futebol, aeroportos e trens-bala - ou trens não-bala, que, por sua vez, tanto podem ir na direção norte-sul como na leste-oeste. Também há, nesse mar de oportunidades, a chance de negociar instalações para uma Olimpíada inteira, serviços terceirizados de mão de obra e campanhas de publicidade informando ao público que o Brasil é de todos. É possível receber dinheiro do Erário em troca de usinas hidrelétricas, organização de festas juninas e recitais de poesia. Há excelentes perspectivas, na área judicial, para arrancar indenizações do Tesouro Nacional - e por ai segue a procissão. Ela passeia pelo país inteiro, mas é Brasília, obviamente, a sua cidade predileta - nada mais natural que a renda per capita na capital esteja a caminho dos 30000 dólares anuais, cerca de três vezes a média nacional. É o progresso.



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Acabamos de ficar sabendo, com base no último censo do IBGE, que há exatamente 16267197 miseráveis no Brasil de hoje; são os cidadãos com renda mensal de até 70 reais. É uma boa notícia e, ao mesmo tempo, um mistério. A boa notícia é que eles são apenas 8,5% da população total. O mistério é saber como alguém consegue ganhar 71 reais por mês, por exemplo, e não viver na miséria.

LUIZ FELIPE PONDÉ - Fetiche intelectual


Fetiche intelectual
LUIZ FELIPE PONDÉ
 Folha de Sao Paulo - 09/05/11

Há duas semanas (A burca), eu disse que era a favor da lei francesa contra a burca (que muita gente confunde com o véu, que não é proibido na França). Aliás, com aquele véu, a mulher muçulmana parece uma Afrodite em versão corânica. Uma deusa de sensualidade. Andam pelas ruas juntas, como um vento que varre nossos olhos com seus olhos.

São a prova viva de que a invisibilidade da forma do corpo (ou a visibilidade apenas pressentida) é muito mais sensual do que a obscena explicitação da forma.

Um mar de e-mails e protestos contra a minha "intolerância com o outro". Obrigado.

Mas adianto: de todos os argumentos dos tranquilos defensores do "direito à burca" (acho a expressão engraçada por si só), um me parece o mais absurdo. Já vou dizer qual é.

Digo àqueles que discursam a favor da burca desde seus apartamentos com TV a cabo, de seus cursos de história da arte, de seus direitos de ir e vir e praticar sexo sadomasô, se assim o quiser, enfim, da condição de adorar Elvis, ETs, o nada, a mãe-natureza (pra mim está mais pra madrasta) ou seu próprio e pequeno "eu", que não acredito que nenhuma mulher use uma burca porque "quer".

O argumento mais absurdo é "as mulheres usam a burca porque querem". Não acredito nesse papinho multiculturalista.

O argumento "fulana nasceu na cultura X, a cultura X implica Y, logo fulana quer Y" é um sofisma barato. Quer ver?

Acho que um desses assinantes de TV a cabo, defensores do "direito à burca" provavelmente defenderia hoje o direito a "ser escravo" na medida em que "alguém foi acostumado pela cultura a isso". Será?

Que tal a "lapidação" (corte ritual do clitóris) que alguns praticam por aí? Também algo que devemos "achar objeto do direito da cultura". Azar de quem nasceu num lugar desses?

O debate contemporâneo é como uma guerra de trincheiras. Ninguém consegue ver muito longe, não existe mais nenhuma teoria grandiosa e definitiva, mas nem por isso é menos sangrento e sério. De minha parte, não tenho dúvida de qual lado da trincheira estou: daquele contra o fundamentalismo religioso seja qual ele for.

E fundamentalismo não é a mesma coisa que terrorismo islâmico (que alguns dizem que está acabando...). Muitas vezes o fundamentalismo é silencioso e invisível em seus modos de tortura. Fundamentalismo religioso é uma forma de reação aos "costumes modernos".

Nos dias seguintes a esse meu texto sobre a burca, uma mulher me abordou contando o seguinte. Em férias num país de maioria muçulmana, ela vira lado a lado uma alemã de férias com um shortinho desses de parar o trânsito e uma mulher com uma dessas burcas de mau gosto (o "de mau gosto" é por minha conta, ou melhor, minha culpa, minha máxima culpa).

Isso seria índice de como as "culturas" são diferentes. Uso as aspas aqui para a palavra "culturas" porque "cultura" virou um segundo grande fetiche da burguesia (o primeiro, segundo Theodor Adorno, seria a ciência). A inteligência burguesa blasé gosta de citar a "cultura" como prova de sua "generosa aceitação do outro" e de ausência de preconceitos. Quem diz que não tem preconceito é mentiroso.

A questão, caros defensores do "direito à burca", é que, no mundo do fundamentalismo religioso (e tem gente que acha que não existe fundamentalismo religioso...), a menina alemã não teria o direito de usar seu shortinho que para o transito. Ela também teria que usar a burca (claro, mas ela aceitaria porque afinal, a "cultura" a faria aceitar, ou a sua filha, no futuro).

A burca é o fundamentalismo religioso. Só cego não vê isso. Os talibãs (essa gente democrática, doce e respeitadora do "outro") adoravam as burcas e, de certa forma, a "inventaram".

Mas esses relativistas assinantes de TV a cabo, na realidade, são como gente de 18 anos que diz para o professor "cada um é cada um" a fim de que ele pare de encher o saco com perguntas difíceis.

No fundo, o segredo de dizer "é a cultura dela", ou "cada um tem um ponto de vista", é soar chique. É posar de estar em dia com o "respeito ao outro". Puro fetiche.

MÔNICA BERGAMO - PARADA OBRIGATÓRIA


PARADA OBRIGATÓRIA
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 09/05/11

A Câmara dos Deputados pode votar até o fim do mês um projeto que proíbe a cobrança de estacionamento em shoppings, hipermercados e aeroportos, entre outros estabelecimentos de prestação de serviços.

NA GAVETA
O projeto, apresentado pelo deputado João Paulo Cunha (PT-SP) há 14 anos, rodou por várias comissões no Legislativo, recebeu dezenas de apensos e chegou a entrar na pauta da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), presidida por Cunha, na semana passada, mas não foi apreciado por falta de quorum. Os setores atingidos, em especial os shoppings, fazem forte pressão para que ele seja rejeitado.

PONTO MÁXIMO
A proposta prevê que os clientes estacionem por até quatro horas de graça -desde que façam compras ou utilizem os serviços oferecidos.

MAIS TARDE

E o presidente da Infraero, Gustavo Valle, decidiu adiar a licitação de R$ 250 milhões para a construção de um novo estacionamento no aeroporto de Guarulhos. A ideia é detalhar mais o processo. O novo estacionamento deve ter cerca de 7.000 vagas -atualmente, o terminal tem cerca de 3.000.

TERCEIRA DIMENSÃO
A presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula viram juntos há alguns dias, em Brasília, um filme sobre os bastidores da posse dela realizado em 3D. Com 23 minutos, o curta é dirigido por Ricardo Stuckert, fotógrafo oficial do governo Lula, em parceria com a Casablanca. A ideia é lançá-lo em julho.

NO PEITO
Numa das cenas, Lula visita José Alencar no hospital em SP depois da posse. O ex-presidente fez de tudo para ele ir à cerimônia. Mariza, mulher do vice, diz que não deixou. Chegou a dizer ao marido que se separaria, depois de 53 anos, se ele teimasse em sair do hospital.

DEBATE

E a jornalista Olga Curado, que treinou Dilma para os debates em 2010, está em Portugal. Ela foi contratada por Pedro Passos Coelho, que disputa as eleições com o ex-primeiro-ministro José Sócrates.

CONSUMO EXTERNO
A obra de Candido Portinari em mais de 30 países deixará de ser cuidada exclusivamente por João Candido Portinari, filho do artista. A Associação Brasileira dos Direitos de Autores Visuais (Autvis) representará o artista no exterior.

POP TV
A exposição "Warhol TV", com os principais trabalhos do artista americano para a televisão, desembarca em SP em julho, no Sesc Pinheiros. A mostra, que ficou em cartaz no Oi Futuro, no Rio, recebeu 26.769 visitantes.

ADIÓS, FLUFFY
A apresentadora Didi Wagner desistiu de trazer de volta dos EUA o hamster Fluffy, de sua filha Laura. Em fevereiro, o roedor foi proibido de entrar no Brasil junto com a família dela por falta de documentos. "Tentamos desvendar todas as requisições do Ministério da Agricultura, mas virou uma solução tão complexa que optamos por doar o hamster para uma amiguinha da Laura de Nova York e compramos um novo aqui no Brasil", conta.

MAPA
O Instituto de Medicina Social e de Criminologia de São Paulo fará, em esquema de mutirão, 2.200 testes de paternidade no interior do Estado, em junho e julho.

O exame de DNA estará disponível para quem já recebeu intimação judicial para fazê-lo e será centralizado em Ribeirão Preto e em São José do Rio Preto.

MELHORES AMIGOS
Marcos Hermes

Um dos shows da turnê que Caetano Veloso e Maria Gadú fizeram juntos se transformou no DVD "Multishow ao Vivo", que será lançado no dia 23. A dupla avisa que pretende repetir a parceria nos palcos. "Da primeira vez que a vi, ela parecia um moleque de favela "movie'; um garotinho com voz de princesa", disse Caetano à gravadora Universal.

"JÁ SOU CASADO HÁ 16 ANOS!"
O estilista Carlos Tufvesson, 38, que chefia a Coordenadoria Especial da Diversidade Sexual do Rio, falou com a coluna sobre o julgamento do STF que decidiu que casais homossexuais formam uma família com os mesmos direitos e deveres dos heterossexuais.

Folha - Como vê a decisão?
Carlos Tufvesson- É importante. Vale dizer que a decisão não equipara os gays aos heterossexuais. Mas faz valer alguns dos 112 direitos civis que nós [homossexuais] não tínhamos. Foi divino o ministro Ayres Britto dizer que heteroafetivos não serão danificados.

Você quer se casar, caso um dia seja permitido?
Sou casado há 16 anos [com o arquiteto André Piva]. Como é que eu vou dizer que o André não é meu marido? Ele é meu marido, porra! De acordo com a lei, o casamento de duas pessoas é a união delas para constituir uma família.

Há mais do que os 60 mil casais gays em união estável apontados no Censo 2010?
Quando o Censo foi na minha casa, não perguntaram se eu formava um casal. Ainda assim, achei que o número fosse ser bem menor, que levaríamos uma lavada. São 60 mil famílias à margem dos seus direitos!

"NEM OS GAYS ESPERAVAM!"
O vereador paulistano Carlos Apolinário (DEM), 59, que propôs a criação do Dia do Orgulho Hétero, comentou a decisão do STF.

Folha - Como vê a decisão?

Carlos Apolinário - Os ministros votam em dez. Com todo o respeito, deputados e senadores estão na rua, ouvem a sociedade. O Brasil não está maduro para receber essa decisão. Nem os gays esperavam isso! Se tivesse sido votado pelo Congresso, eu reconheceria.

Os casais gays não estavam privados de direitos?
Não. Agora, dão aos gays 100% dos direitos dos héteros. Uma mulher pode ter filho com um homem. Um homem com outro homem não pode ter filho. Como terão os mesmos direitos?

É o momento para a criação do Dia do Orgulho Hétero?
Uma coisa não tem a ver com a outra. O Dia do Hétero é a oportunidade de protestar contra o excesso de valorização do gay. Não precisa dizer ao gay: "Ei, camarada, que bom!".

E a violência homofóbica?
É isolado! Na [av.] Paulista aparece endemoniado querendo bater em tudo. Em gay, em nordestino...

ARTE EM JOGO
Eduardo Coimbra tem 14 obras na mostra "Arquitetura do Jogo", na galeria Nara Roesler; foram à abertura Artur Lescher e Renata Castro e Silva.

CURTO-CICUITO

A empresária Heloisa Levy faz coquetel hoje no restaurante Dui para representantes da rede de hotéis e resorts de luxo Shangri-La.

O designer de jóias Ara Vartanian apresenta a caneta Graf von Faber-Castell em jantar da marca hoje a partir das 20h no Fasano.

Paulo Skaf, da Fiesp, dará palestras a alunos da FMU amanhã às 19h30.

A Luciana Brito Galeria abre exposição de Anthony McCall hoje às 20h.

O restaurante Trindade será inaugurado hoje às 19h no Iguatemi de Alphaville.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA, THAIS BILENKY e CHICO FELITTI

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA


Tempo de tela
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO - 09/05/11

Fadado a medir forças com o PSD possivelmente em 2012 e com certeza em 2014, Geraldo Alckmin se movimenta para atrair partidos com representação modesta em São Paulo, mas tempo de TV significativo. O tucano quer explorar a principal fragilidade da nova sigla do prefeito, que, sem bancada empossada, participará do rateio de apenas um terço dos programas eleitorais -os outros dois são distribuídos conforme o número de deputados federais das legendas.
Enquanto Kassab corteja PC do B, PDT e PSB, o governador deve ceder espaço a PP, PSC e PRB, recém-vitaminados. Assim, faz frente à iminente defecção do PMDB, aliado em 2010 que agora prepara voo solo.

Malufou? 
Na tentativa de consolidar o novo arco de alianças, Alckmin estuda dar ao PP de Paulo Maluf o comando da CDHU, estatal responsável pela construção de casas populares.

Novo rolo 1 
Além do impasse na definição do futuro secretário-geral, o PSDB paulista terá de desatar outro nó até a próxima quinta-feira, quando pretende definir os cargos da Executiva estadual. Insatisfeitos com o espaço que lhes foi reservado no novo comando, membros da atual direção ameaçaram anteontem lançar uma chapa alternativa.

Novo rolo 2
Como esses descontentes detêm influência sobre os diretórios das cidades menores, muitos reformulados recentemente, o movimento preocupa o grupo de Alckmin.

Estreia 
José Serra coloca hoje no ar seu site (www.joseserra.com.br), dotado de ferramenta de interação direta e abastecido com fórum de debates sobre políticas públicas, além de artigos do ex-governador e candidato derrotado à Presidência.

Opções 
O novo número um do PT, Rui Falcão, conversou com Lula na quinta-feira passada. A pauta incluiu a sucessão de Gilberto Kassab. O ex-presidente ainda enxerga com muito carinho a ideia do "nome novo".

Em resumo 
De um integrante do primeiro escalão do governo federal, sobre o nome ideal para a eleição paulistana: "O Lula e a Dilma gostariam que Fernando Haddad fosse o candidato do PT. O Lula porque gosta dele. A Dilma porque não gosta".

Precedente 
Até o final da semana passada, o núcleo do governo tinha a esperança de que a ministra Ana de Hollanda (Cultura) vivesse processo semelhante ao do colega Orlando Silva (Esporte), que passou por período de desestabilização, com intenso "fogo amigo", e depois se consolidou no cargo.

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No Planalto, porém, há quem reconheça que faltam a Ana tanto a experiência política quanto o "drive" de Orlando. Se ela tiver de sair, o governo gostaria que fosse a pedido.

Eureka! 
A empolgação com que Aloizio Mercadante fala sobre feixe de elétrons, luz sincroton e semicondutores desde que assumiu o Ministério de Ciência e Tecnologia é tamanha que colegas e jornalistas passaram a chamá-lo de "Professor Pardal".

Litígio 1 
Às turras com o governo pelos "restos a pagar", prefeitos que baixam em Brasília amanhã para a marcha comprarão nova briga ao pressionar o Congresso a derrubar o veto de Lula sobre royalties do petróleo. Vão fazer concentração na Casa.

Litígio 2 
Em campanha para obrigar uma distribuição igual dos royalties a todas as cidades do país, os prefeitos vão criar um impostômetro às avessas, medindo quanto cada município do país deixa de ganhar.
com FABIO ZAMBELI e ANA FLOR

tiroteio
"O fortalecimento dos partidos é cláusula pétrea da reforma política. Ao colocar este caviloso artigo que permite a infidelidade, o PSD consegue quebrar esta pedra."
DO SENADOR JOSÉ AGRIPINO (DEM-RN) sobre a inclusão, no estatuto do PSD, da garantia de que a nova sigla não pedirá o mandato de quem a deixar.

contraponto

27 e contando

No dia em que a Câmara aprovou a realização de plebiscito para dividir o Pará, deputados passaram a discutir as mais diversas propostas de criação de novos Estados, como São Paulo do Leste, Triângulo e Amazonas Oriental. Ao ponderar que aquele "festival pseudofederativo" era uma irresponsabilidade, Chico Alencar (PSOL-RJ) foi repreendido por um colega:
-Você é historiador. Sabe que a pujança dos EUA está em seus 50 estados. Temos que chegar lá!
-Mas nem sempre o que é bom para os EUA é bom para o Brasil...- retrucou Alencar, rindo solto.