sábado, maio 07, 2011

FERNANDA TORRES - Bondinho

Bondinho
FERNANDA TORRES
REVISTA VEJA - RIO

Fui passear no Pão de Açúcar com meu filho pequeno. Lá, assistimos a um pôr do sol de abril em um daqueles dias límpidos de outono. O rosa alaranjado do fim da tarde iluminado pelas luzes da cidade e pelos raios de uma tempestade para os lados da Barra da Tijuca formava a visão majestosa. Depois de uma semana em Curicica, enfrentando noturnas chuvosas na cidade cenográfica do Projac, a tarde valeu como uma visita ao Olimpo. Na descida, lembrei-me de uma história curiosa que me aconteceu por ali uns anos atrás.
Eu era mãe recente, gravava Os Normais toda semana e não gostava de ficar longe da cria. Acho que por essa razão desenvolvi um medo chato de avião, helicóptero e qualquer outra geringonça que me deixasse distante do chão. O programa de Serginho Groisman na TV Globo completava bodas e ele preparou um show comemorativo no Morro da Urca, com a presença de diversos artistas. Aceitei o convite para participar da noite com prazer.
No dia da festa, caiu uma chuva bíblica no Rio de Janeiro. Vendaval, aguaceiro e ruas alagadas. Eu passei o tempo todo rezando por uma estiagem noturna, mas Deus não ouviu as preces. Embarquei tensa no bondinho já pensando na volta. O vento molhado castigava a pele no desembarque.
As gravações atrasaram muito por causa do cataclismo atmosférico, e aquilo que deveria ser uma brincadeira divertida se transformou numa longa e preocupante espera. Tomada por um mau humor persistente, amarrei uma tromba impossível de desatar. Queria ir embora, quase em pânico com a possibilidade de o bondinho parar comigo dentro ou de as chuvas me obrigarem a dormir acampada, longe do rebento, com metade da MPB.
Umas três horas depois, quando finalmente fui chamada para entrar em cena, a culpa por ter fechado o tempo se abateu sobre mim. Para reverter a má impressão, pulei na ribalta esbanjando simpatia. Simpatia até demais. Serginho me chamou na hora em que o grupo O Rappa se preparava para tocar a sua versão de Vapor Barato, música de Wally Salomão e Jards Macalé que eu havia entoado em Terra Estrangeira, filme de Walter Salles. Topei de imediato a sugestão de acompanhar os músicos e soltei a voz sem nem me preocupar em ouvir o tom. Saí me esgoelando, eu para um lado e O Rappa para o outro. Desastre desastroso. Falcão me olhou pasmo, mas eu não me intimidei nos trinados. Terminado o refrão, ajoelhei-me aos pés do Serginho, fiz o tipo animado com Ivete Sangalo, mandei beijos efusivos para Nando Reis, entrei no famigerado bondinho e fui dormir exausta, sem me dar conta do papelão.
No dia seguinte ao que o programa foi ao ar, minha produtora, Carmen Mello, foi tomar café na piscina do hotel em que estava hospedada e ouviu o comentário de uma mulher para outra: “Você viu aquela Fernanda Torres ontem no Sérgio Groisman totalmente alucinada? A maluca deve ter tomado todas, porque nunca vi alguém tão descompensado”. Passei anos tentando me explicar com o Sérgio e com quem porventura estivesse com a TV ligada naquela noite fatídica. E aproveito esse espaço para, mais uma vez, dizer que eu estava sóbria, sofrendo apenas de uma baita culpa por um revertério de humor.
O fato serviu para me lembrar de que a pior saída para o azedume interior é soltar os cachorros em cima de quem estiver em volta. Invariavelmente, a bicharada irascível se volta contra nós mesmos.
Aproveite os dias firmes e deslumbrantes de maio para visitar o Cristo e o Pão de Açúcar. É cura certa para qualquer descontrole passional.

IVAN ÂNGELO - Viagem no tempo


Viagem no tempo
IVAN ANGELO
REVISTA VEJA - SP



Falávamos sobre viagens e seus modernos confortos quando alguém se lembrou do tempo em que os viajantes levavam toalha e sabonete na mala. Não faz tanto tempo assim. Uma sobrinha, há poucos anos, chegou a minha casa com toalha de banho e caixinha de sabonete na mala. “Coisa da minha mãe”, explicou constrangida, sinal de que a mãe dela, que tem menos de 60 anos, levava toalha e sabonete quando viajava. Hotéis e hospedarias eram precários, tirando os melhores das capitais; e, ao pousar na casa de alguém, evitava-se “dar trabalho”.

Certas frases jogam a gente no tempo, escadaria abaixo. No trambolhão nos lembramos de coisas que já eram. Muitas não mudam porque atingiram a perfeição da simplicidade, como o prato, a mesa, a cachaça, a camiseta. Outras, tão indispensáveis num momento, descartáveis em outro.

Lembram-se do quebra-vento nos carros? Coisa anterior à difusão do ar-condicionado, pouco antes de o presidente Collor dizer que os automóveis brasileiros eram umas carroças. O quebra-vento era um vidro giratório colocado à frente das janelas dianteiras; quebrava o vento que entrava quando os vidros das portas estavam abaixados, ou permitia que o ar entrasse quando a janela estivesse fechada. Girando-o todo, direcionava-se o vento para dentro, a fim de refrescar a pessoa acalorada. Até há pouco tempo, no Nordeste, carro sem quebra-vento encalhava.

Carros não tinham luz piscante para o motorista indicar que ia entrar à esquerda ou à direita, nem luz de freio. Todos os sinais eram feitos pelo motorista com o braço esquerdo para fora do carro. Sinal de parar: mão espalmada para trás, baixa; sinal para entrar à esquerda: braço reto estendido; entrar à direita, braço alto dobrado para a direita. Quase não havia sinais luminosos de trânsito, o guarda apitava em códigos obrigatoriamente conhecidos.

Não faz muito tempo, as folhas dos livros em brochura vinham “fechadas”, não eram aparadas, prontas para folhear, como hoje. O leitor tinha de abrir as páginas quatro a quatro e depois duas a duas com uma faca ou com um “abridor de livros”. Sim, havia abridores de livros no comércio. E lia-se!

Ah, meninos, as fotos que se tiravam não se viam no mesmo instante, como agora. Só dias mais tarde, após reveladas e copiadas em laboratório. Depois veio a grande novidade das cópias em 24 horas, em duas horas, em uma hora e na hora. A fotografia popularizou-se. Com as câmeras nos telefones celulares, os fotógrafos amadores tornaram-se bilhões.

Seringas de injeção, antes das descartáveis, eram de vidro, tinha-se de fervê-las para esterilizar. Vinham em um estojo de metal, cuja tampa se usava para encher de álcool; sobre ela se acomodava uma armação de metal que também vinha no estojo e servia como trempe de um minifogareiro. Enchia-se o estojo de água, colocava-se dentro a seringa junto com o êmbolo e as agulhas, botava-se fogo no álcool, fervia-se por uns três minutos e pronto. Calculadora? Era a tabuada, que os estudantes sabiam de cor, e baseados nela faziam contas complicadíssimas das quatro operações, na ponta do lápis. Nos escritórios, e só lá, havia as famosas máquinas de calcular manuais Facit, que tinham um teclado de algarismos e uma manivela que os craques do cálculo viravam para a rente e para trás, produzindo exatidões mostradas em um pequeno visor. Não demorou e vieram as elétricas, as eletrônicas digitais...

Máquinas de escrever ainda se veem em delegacias e cartórios do interior. Num hospital da Zona Leste, um amigo me chamou: “Quer ver um flashback?”. E me levou a uma recepcionista de um dos consultórios, que datilografava impávida os dados dos clientes. Nas redações de jornais e revistas, com suas dezenas de máquinas de escrever batucando ao mesmo tempo, o encerramento de uma edição era uma zoeira. O alívio veio com o silêncio dos computadores.

Cartão amarelo, cartão vermelho? No futebol do tempo do beque e do centeralfe, cartão era o dedo do juiz, primeiro apontando o nariz do abusado, depois apontando o olho da rua. Os cartões derrotaram o dedo em riste porque são mais civilizados, impessoais e fáceis de entender em qualquer língua. Você pensa que eram coisas da juventude do seu avô, ou do seu bisavô, mas não, são do tempo do seu pai. Um tempo em que as crianças tinham bons modos, obedeciam até a olhares, não abriam a geladeira dos outros, contentavam-se em ganhar apenas três presentes por ano, nas ocasiões propícias, e eram felizes.

O ritmo está cada vez mais rápido.

CRISTIANE SEGATTO - O bom e o mau caráter


O bom e o mau caráter
CRISTIANE SEGATTO

REVISTA ÉPOCA

Seis dicas para identificar o tipo de pessoa que ronda você


  Reprodução
CRISTIANE SEGATTO 
Repórter especial, faz parte da equipe de ÉPOCA desde o lançamento da revista, em 1998. Escreve sobre medicina há 15 anos e ganhou mais de 10 prêmios nacionais de jornalismo. Para falar com ela, o e-mail de contato écristianes@edglobo.com.br
Uma das fraquezas mais detestáveis do ser humano é a incapacidade de reconhecer os próprios erros. Nunca entendi por que é tão difícil dizer: "errei, fui mal, me desculpe, vou tentar fazer melhor da próxima vez". Para mim, isso é o básico do básico. É o requisito mínimo necessário para manter a boa convivência entre pessoas respeitáveis. 

Por muito tempo achei que as pessoas incapazes de fazer isso fossem minoria. Acreditava que esse comportamento fosse fruto de algum desvio de caráter bizarro e relativamente incomum. Estava enganada. Começo a achar que saber pedir desculpas virou raridade. 

Quem não reconhece os próprios erros quase sempre usa de outro expediente horroroso: tenta lançar a culpa sobre outras pessoas. Aposto, querido leitor, que você consegue reconhecer muita gente que faz isso no seu trabalho. Ou na família. Ou até mesmo no círculo de amigos mais próximos. 

Para essa gente, o erro é sempre dos outros. Quando o outro acerta foi por "sorte". Nunca por mérito, trabalho duro, dedicação. Pessoas assim tumultuam as relações profissionais, familiares e de amizade. Poderia ser diferente? 

Gosto de acreditar que todo mundo merece um voto de confiança. É reconfortante pensar que para melhorar basta estar vivo. O problema é que muitos desses traços de personalidade são relativamente imutáveis. Costumam acompanhar a pessoa por toda a existência. O cidadão pode até aprimorar seu jeito de ser diante das pedradas que a vida lhe der, mas a essência não muda. É aquilo e pronto. 

Seria muito útil se pudessemos identificar pessoas assim antes que elas causassem estragos. Existe um check-list capaz de identificar o bom e o mau caráter? Existe uma receita capaz de nos orientar (ainda que minimamente) quando contratamos alguém, somos apresentados a novos colegas ou escolhemos um parceiro? 

A edição de junho da revista Psychology Today traz uma reportagem que propõe seis pistas para identificar as características principais da personalidade. Ao observá-las, dizem os psicólogos, seria possível prever que tipo de pessoa o sujeito que está na sua frente vai se revelar. 

"Desenvolvimento não é um mistério", diz a psicóloga Susan Engel, do William College à revista Psychology Today. "É como uma bola de cristal. Você só precisa saber como olhá-la". É preciso encontrar (ou criar) situações que têm grande chance de tornar explícitas os traços que pretendemos observar. Seis características fundamentais: 
INTELIGÊNCIA

É a habilidade e a velocidade de processar informação. A inteligência permite (embora não haja garantia de que isso ocorra sempre) uma maior compreensão da vida, das experiências e de outras pessoas. Tem a ver com a habilidade de lidar com a complexidade. 

DICA: Preste atenção à forma como a pessoa pensa. Observe como ela desenvolve um argumento ou como avalia prós e contras. Observe com que rapidez ela absorve informação nova e como entende e lida com situações complexas. Sua habilidade de gerar múltiplas soluções para um problema é um ótimo sinal. 
MOTIVAÇÃO


Permite que a pessoa atinja qualquer objetivo desejado, mas ela só existe se houver persistência e paixão. Se a pessoa for muito persistente e apaixonada pelo que faz muito provavelmente ela tem um otimismo acima da média. Mais um bom sinal. 

DICA: Observe como a pessoa fala sobre os problemas da vida. O que ela diz quando encontra um obstáculo? É um jeito de descobrir se ela acredita na importância do esforço. Se a pessoa reage com raiva e culpa a falta de sorte quando as coisas dão errado, abra o olho. 
SATISFAÇÃO
 

Muitos psicólogos e filósofos acreditam que a felicidade vem da capacidade de ter um senso de propósito e se sentir útil. Explorar as crenças da pessoa sobre a felicidade ajuda a revelar qual é a chance que ela tem de atingi-la. Se a pessoa relaciona a felicidade apenas ao consumo de bens materiais está fadada ao desapontamento. 

DICA: Qual é a capacidade da pessoa de encontrar satisfação? Ela é realista a respeito de suas fraquezas pessoais? Ela age de acordo com suas crenças e valores mesmo em situações em que corre o risco de ser criticada? A tendência de atribuir ao destino tudo o que dá errado distorce a realidade e instala a penúria. Vai sobrar para quem estiver por perto... 
SOCIABILIDADE 

Pode ser entendida como a capacidade de criar reciprocidade. Crianças e adultos buscam nos outros a bondade, a amabilidade e a certeza de que o outro estará disponível para ajudá-lo quando necessário.Ter pelo menos um bom amigo nos ajuda a enfrentar as agruras da vida. Nem toda pessoa tem o mesmo grau de sociabilidade. Algumas ficam muito confortáveis passando tempo sozinhas e frequentemente preferem estar assim. Não há nenhum mal nisso. Uma medida da personalidade é quanta solidão ela deseja. Igualmente importante é observar se ela pode criar vida social no momento em que deseja. 

DICA: Observe a natureza das amizades de uma pessoa. As amizades são genuínas ou baseadas em interesses? São marcadas pela dominância e pela submissão? Talvez o sinal mais forte de problemas seja a existência de rompimentos. Uma sequência de ex-amizades é sinal de rigidez. Significa que a pessoa é incapaz de tolerar conflitos ou lidar com complexidades. 
INTIMIDADE
 

A intimidade é uma importante fonte de equilíbrio, a forma mais profunda de conforto. Os psicólogos concordam: a primeira relação é a base de todas as outras. A natureza do vínculo emocional na família estabelece não somente a habilidade de adquirir um senso de conexão, mas o grau de segurança nas relações posteriores. 

DICA: Observe a capacidade de alguém de ser tornar íntimo e você saberá se ela consegue confiar em outra pessoa e revelar sua vulnerabilidade. A capacidade de ouvir - às vezes a mais essencial necessidade numa relação íntima, principalmente nos momenos difíceis - é uma qualidade crucial e fácil de perceber. 
BONDADE
 

A bondade e a maldade vêm de algum lugar. As pessoas seguem modelos que estão ao redor. Alguns aspectos da moralidade são gerados dentro da pessoa e outros fora. A empatia aparece cedo na vida e persiste. Um sinal de moralidade é a boa vontade quando alguém precisa de ajuda. 

DICA: Observe se a pessoa consegue controlar suas próprias emoções (especialmente as negativas, como raiva e ansiedade) sem negá-las. Se ela fizer isso, provavelmente será capaz de tolerar os tombos dos outros e ajudá-los. 

A reportagem é interessante, mas a vida real é bem mais complexa. Relacionamentos não são guiados por receitas de bolo. Pessoas não podem ser enquadradas em perfis estáticos, embora listas como essa sirvam de guia sobre características importantes a observar. Por conta própria, incluiria outra: o senso de justiça. Se a pessoa se esforça para ser justa, há grande chance de não ser mau caráter. 

E você? Já teve que lidar com um mau caráter que cruzou o seu caminho? Como se saiu? Usa alguma tática para identificar os bons e os maus colegas? Conte pra gente. Queremos ouvir a sua história. 

RUTH DE AQUINO - O mito e o troféu


O mito e o troféu

RUTH DE AQUINO

REVISTA ÉPOCA

Época
RUTH DE AQUINO é colunista de ÉPOCA
raquino@edglobo.com.br
Osama está morto. Viva Obama! O acerto de contas foi americano. O mundo se sentiu vingado num primeiro momento. Todos lembramos o que fazíamos quando, há quase dez anos, um atentado bárbaro matou cerca de 3 mil inocentes nas Torres Gêmeas. Não choramos agora pelo terrorista. Mas o que aconteceu na semana passada não enobrece a democracia. A balbúrdia de contradições oficiais reforça o mito Osama e adia seu sepultamento no inconsciente coletivo.
“Acho ótimo matá-lo. Quer prender para interrogar o quê? E os 3 mil que ele mandou morrer?”, disse nosso poeta Ferreira Gullar. Essa foi a reação normal. Não só dos ocidentais. Muçulmanos, entrevistados no mundo inteiro, se disseram aliviados com o “desaparecimento” de Osama bin Laden. Por um motivo simples: o terror e o fanatismo distorcem o islã. Osama era o símbolo-mor de uma face cruel e minoritária do islamismo, que prega o sacrifício de civis inocentes e o suicídio de jovens mártires como tática de poder na guerra santa. Carismático, filho de burgueses, Osama incomodava por comandar a Al-Qaeda nas sombras.
Barack Obama era candidato quando prometeu encontrar, prender ou matar o inimigo que humilhava seu país. Cumpriu a promessa. Sua popularidade deu um salto. Ele deixou de ser considerado um líder tíbio, relutante. O povo americano é nacionalista, protecionista e imperialista. Gosta de demonstrações de força, idolatra a bandeira. Pode ser uma generalização – mas ela define a média da população nativa e dos imigrantes naturalizados. Obama foi eleito por uma maré de decepção econômica. Conquistou jovens e velhos, idealistas e desiludidos, de ideologias diversas. Seu ótimo slogan “Yes, we can” era vago o bastante para ser completado da maneira mais conveniente a cada um. Sim, nós podemos tudo?
Podemos entrar em outro país para capturar um terrorista sem autorização local? Talvez sim, em raras exceções. Violar essa regra do Direito Internacional parece mais aceitável do que abrigar um homicida do porte de Osama bin Laden. Sua fortaleza murada ficava em Abbottabad, uma cidade de classe média habitada por famílias de militares, a apenas 56 quilômetros da capital paquistanesa. Se um país – no caso o Paquistão – posa de aliado, mas é suspeito de proteger um terrorista que prega assassinatos em massa, seria crime ou cautela não alertar o governo de Islamabad?
Osama está morto. Viva Obama! Mas o que aconteceu não enobrece a democraciaOsama está morto.
Podemos torturar presos para chegar ao terrorista? Podemos executar o terrorista, mesmo que ele não ameace com uma arma? Podemos jogar o corpo ao mar sem sepultá-lo? Moralmente, não. Podemos censurar a divulgação da foto do morto? Eticamente, não. Podemos confundir a opinião pública com uma mentira diferente a cada dia? Claro que não. Podemos fingir que o mundo estará mais seguro e melhor a partir de agora? Ninguém acredita nisso. Podemos dizer que “a justiça foi feita”? Sim, mas com desvios. As imagens de Osama morto são de interesse público. A censura provoca mais danos que benefícios. E a comunicação do Pentágono precisa ser disciplinada – porque nem eles mesmos se entendem sobre o que realmente aconteceu.
Entende-se a preocupação dos Estados Unidos em não acirrar a ira de fanáticos ao exibir Osama morto. Não se entende por que os exímios atiradores da tropa secreta da Marinha, conhecida como Seal Team 6, precisaram desfigurar seu rosto a curta distância – ele poderia continuar um cadáver apresentável, não? Entende-se que tenham preferido matá-lo a prendê-lo para evitar que, detrás das grades, continuasse a exercer uma liderança maligna. Entende-se que era melhor matar sem plateia do que transformar em espetáculo a execução pública de um Osama condenado à morte pela Justiça. Entende-se que era melhor não criar, com seu túmulo, um local de culto, peregrinação e manifestações de ódio aos dois lados.
“Osama não é um troféu. Não queremos transformá-lo num mito”, afirmou Obama, ao justificar a morte sem corpo. Osama bin Laden é um mito e um troféu, não importa o que se diga agora. E seu desaparecimento no mar, sem fotos, cercado de sigilo e contradições, só reforça a dupla aura que Obama deseja evitar.

MIGUEL REALE JÚNIOR - Recomeçar a pensar



Recomeçar a pensar
MIGUEL REALE JÚNIOR
O Estado de S.Paulo - 07/05/11

Em artigo intitulado O papel da oposição, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso faz algo fora de moda na política brasileira: reflete. Essa reflexão abrangente, com diversas vertentes, penso poder dividir em três aspectos: fragilidade da oposição, seja na defesa de suas realizações, seja no ataque ao PT relativamente a fatos graves característicos do reinado de Lula desde 2003; estratégias a serem seguidas; e pontos a constituírem compromissos básicos da oposição.

Quanto à fragilidade na defesa de suas realizações, lembra-se a tibieza em explicar o processo de privatização, alcunhado pelo PT, para fins eleitorais, como "privataria" e maliciosamente difundido como venda irrisória das riquezas nacionais. Em campanhas presidenciais o PSDB limitou-se a negar que iria privatizar o Banco do Brasil ou a Caixa Econômica, como se ao vestir a camisa do BB se espantasse o receio de um mal, em vez de mostrar o bem que se fizera na privatização da Vale do Rio Doce ou da Embraer. Assim, essas duas estatais, afundadas na mão do Estado em déficits imensos, jamais poderiam assumir o papel de relevo que ora têm no cenário econômico mundial se não fosse a imensa inversão de capital privado e o espírito empreendedor que a gestão empresarial imprimiu.

O mesmo se diga do Proer, apodado de protecionismo aos bancos, quando, na verdade, estabeleceu um regime de austeridade com a imposição de responsabilidade solidária dos controladores de instituições financeiras, criando efetivo controle por via do qual o Banco Central poderia agir preventivamente com eficiência para proteger os depositantes, preservar o sistema e a economia. O pequeno comprometimento de nossas instituições financeiras na crise de fins de 2008 mostra a importância do Proer, que foi debilmente defendido pela oposição.

Mas à fragilidade da defesa correspondeu igual fraqueza no ataque. O "mensalão" não foi atacado com firmeza pela oposição, apesar dos resultados da CPI que redundou na denúncia do Ministério Público. Fui um dos coordenadores do movimento de mobilização da sociedade civil denominado "Da Indignação à Ação", que reuniu representantes de entidades como OAB, OAB-SP, ABI, PNBE, Fiesp, Instituto Ethos, Força Sindical, Transparência Brasil, Associação dos Advogados, Instituto dos Advogados de São Paulo, a rede Conectas de Direitos Humanos, o Movimento Democrático do Ministério Público e a Associação do Ministério Público de São Paulo.

Em manifesto, o movimento expressava que as instituições políticas do País estavam duramente atingidas, sendo imprescindível, além de investigação séria, com punições firmes e proporcionais às faltas praticadas, mudanças profundas no sistema político, pois nunca aparecera tão claramente a necessidade de uma reconstrução republicana. O movimento arregimentou líderes das entidades, mas a população estava, como diz Fernando Henrique no seu artigo, anestesiada e os partidos de oposição, salvo alguns poucos parlamentares, não se mobilizaram para envolver os brasileiros contra a maior artimanha de corrupção engendrada em detrimento do sistema democrático: a compra de mais de centena de deputados às vésperas de votações importantes com dinheiro saído do Banco do Brasil, aí, sim, privatizado. A oposição temeu enfrentar diretamente o núcleo do poder e nem sequer propôs mudanças moralizadoras, intimidada, talvez, por erros graves, mesmo que menores, em seus quadros.

A denúncia da apropriação do Estado também foi tímida. Não se acusou com vigor, ao longo do tempo, o crescimento vertiginoso dos cargos em comissão no governo Lula, mais de 17%, mas com um gravame importante: aumentaram em 50% os cargos DAS 5 e em 30% os DAS 6, os mais bem remunerados, com grande elevação do gasto público, que ora dificulta o combate à inflação.

Quanto à estratégia, Fernando Henrique mostra que o discurso deve voltar-se para a nova classe média, fruto do dinamismo econômico do mundo e daqui, para atingir novos protagonistas do cenário social, a serem sensibilizados na medida em que se saiba entender seus anseios no cotidiano, a serem debatidos principalmente nas redes sociais, como Facebook, YouTube, Twitter, etc.

Além desse novo foco e do novo meio de ação, é necessário ampliar, diz Fernando Henrique, as discussões junto às "inúmeras organizações de bairros, a um sem-número de grupos musicais e culturais nas periferias das grandes cidades, às organizações voluntárias de solidariedade e de protesto, a defensores do meio ambiente", que revelam espírito público, mas se afastam da política, vista como jogo sujo de interesseiros. Só assim se encontram forças ativas, mas discretas, da sociedade, que para a salvação das instituições precisam participar diretamente do processo político.

A estratégia proposta de se voltar para novos focos está correta, sem que a luta contra a miséria deixe de ser um objetivo básico. Tanto é que se sugere ter por fim último da democracia o comprometimento com os valores insertos na defesa dos direitos humanos, na proteção e promoção do meio ambiente e no combate à miséria, em luta a ser empreendida com a participação ativa de toda a sociedade.

No campo da ação governamental, defende-se que cumpre à oposição lutar em prol da formação de quadros e da construção da infraestrutura, hoje bloqueada, mas a se alcançar com a colaboração do setor privado, a ser devidamente fiscalizado por agências reguladoras dotadas de independência, sem liames partidários e clientelísticos que ora existem.

Outras questões são trazidas à baila, mas esses aspectos são suficientes para provocar forte reflexão. Pontos do trabalho merecem críticas, mas é preciso antes compreendê-lo no seu conjunto. Ao suscitar o debate, o artigo vale por si, pois já é um grande bem recomeçar a pensar.

ADVOGADO, PROFESSOR TITULAR DA FACULDADE DE DIREITO DA USP, MEMBRO DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS, FOI MINISTRO DA JUSTIÇA

ANCELMO GÓIS - Duas mães


Duas mães
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 07/05/11

Um casal de lésbicas pediu à Justiça do Rio, ano passado, que as duas fossem declaradas mães de uma criança. É que uma delas doou óvulos, que foram fecundados por inseminação artificial, e a outra os recebeu e gerou o bebê. O pedido foi negado em fevereiro
agora, três meses antes da decisão do STF que reconheceu a união gay.

Mas...
O desembargador Wagner Cinelli de Paula Freitas, da 4a- Câmara Cível, que negou o pedido, foi profético em sua sentença: 
— Muitas vezes, a recusa hoje é apenas o direito do futuro. Às vezes, o futuro está mais próximo do que se poderia pensar. 

Navalha na carne 
A Oi demitiu ontem cinco diretores. A empresa diz que os cortes são parte de um “redesenho”, que também inclui promoções e contratações. 

Rombo no Clube
Na ponta do lápis, a comissão de clubes que estuda as contas do Clube dos 13 encontrou um rombo de uns R$ 60 milhões. Aliás, este foi o valor de empréstimo feito pela cúpula no fim de 2010 no Bic Banco, sem autorização dos clubes. 

Lei não pegou
Lindberg Farias, o senador que é pai de uma menina com síndrome de Down, vestiu a camisa da luta pelos portadores de deficiência (eu apoio). Foi à tribuna denunciar o descumprimento da Lei 8.213/91, que obriga empresas com mais de 100 empregados a ter de 2% a 5% de pessoas com deficiência.

No arrebol
Roberta Sá começa a trabalhar um novo CD, ainda sem nome definido. O repertório trará inéditas de Moreno Veloso e Pedro Luís, além de uma canção desconhecida de Wilson Moreira, chamada “No arrebol”.

Vinte anos de amor
O governo brasileiro deseja trazer John Kerry, presidente da Comissão de Meio Ambiente do Senado americano, para a conferência
Rio+20, ano que vem. Um dos argumentos para o convite é sentimental. Foi no Rio, em 1992, há 20 anos, que Kerry conheceu sua mulher, Maria Teresa Thierstein Simões- Ferreira Heinz Kerry. Não é fofo? 

Rival de Bush...
Aliás, o democrata Kerry foi derrotado por Bush na eleição para a Casa Branca, em 2004. 

A primeira-mãe 
Dilma vai passar o fim de semana no Palácio da Alvorada com a mãe, dona Dilma Jane Silva Rousseff, de 86 anos. O Dia das Mães da família Rousseff será caseiro e discreto, como é estilo da presidente.

A mãe Leila

Regina Diniz, médica anestesista, participa amanhã, Dia das Mães, de um ato do Cremerj em frente à maternidade que leva o nome da irmã, Leila Diniz, na Barra, no Rio. Em abril, o Cremerj achou ali mulheres acomodadas em cadeiras logo após a cesariana. 

Rio em Cannes
Steve Solot, da Rio Film Commission, parceria entre estado e prefeitura, e Adrian Wootton, da Film London, vão assinar acordo de cooperação, dia 16 agora, no Festival de Cannes. A ideia é promover intercâmbio entre produções de Londres e do Rio, e preparar a Film Commission para receber equipes de TV que virão cobrir a Copa de 14 e os Jogos de 16. 

Paul no Rio
A duas semanas dos shows de Paul McCartney, 70% da rede hoteleira estão reservados. Há hotéis com reservas para todos os quartos, diz o SindRio. 

Sem atendimento
O brasileirinho Daniel Oliveira, 11 anos, baleado quinta na Maré, no Rio, ficou seis horas sem socorro no Hospital de Bonsucesso, segundo Yvonne Bezerra de Mello, do Projeto Uerê. 

Cena carioca 
Papo ontem entre dois senhorzinhos na Estação Siqueira Campos do metrô: 
— Ai, que saudade do Fernando Henrique...
— Ué, você não é petista?!
— Sou. A saudade é do exgoleiro do Fluminense, que está no Ceará. Ontem, ele fechou o gol contra Flamengo...
Faz sentido.

ARTHUR VIRGÍLIO - Querem reescrever a História



Querem reescrever a História
ARTHUR VIRGÍLIO
O Estado de S.Paulo - 07/05/11

O lulopetismo intenta "reescrever" a História recente do País. Começa com a apropriação do Plano Real, sem lhe citar o nome, e da estabilidade econômica dele advinda. Passa pela demonização das reformas estruturais do período Fernando Henrique Cardoso, mesmo sabendo que foi à custa delas e da conjuntura internacional benigna que Lula surfou nas ondas da popularidade. Desemboca na tentativa de convencer a opinião pública de que não houve mensalão nem desvio ético algum do "comissariado".

As trapaças de Erenice Guerra, braço direito de Dilma Rousseff na Casa Civil, caem no esquecimento. A atual presidente certamente sabe que, no seu gabinete anterior, foi elaborado torpe dossiê contra Ruth Cardoso, e não inexplicável "banco de dados".

Cristovam Buarque, por suposta incompetência, foi demitido por telefone da pasta da Educação. José Dirceu, acusado pelo Ministério Público de ser o chefe da "quadrilha do mensalão", jamais deixou de frequentar rodas palacianas ou de ser atendido, pelos diversos escalões da administração, em seu mister de "consultor".

Não tenho Cristovam como incompetente. Mas se o julgamento do Planalto é esse, o que dizer de Fernando Haddad, que desmoralizou o Enem? E dos executores do PAC, a começar por sua "gerente", que gastaram absurdos em propaganda de obras incompletas ou que nem saíram do papel? E do monte de ministros, cujo nome a população ignora?

Beneficiam-se da Lei de Responsabilidade Fiscal, contra a qual votaram e que questionaram no Supremo Tribunal Federal (STF). Criticavam a dívida pública interna deixada por Fernando Henrique, como se não houvesse preço a pagar pela estabilidade: resgate de esqueletos, como o BNH da ditadura; renegociação das dívidas de Estados e municípios; saneamento dos bancos estatais estaduais, que, na prática, até moeda emitiam em favor do clientelismo e da corrupção; duas capitalizações num Banco do Brasil quebrado e uma na Caixa Econômica Federal, que foi profissionalizada e despolitizada.

Hoje a dívida pública é mais que o dobro da que herdaram: R$ 1,7 trilhão, sem desencavar nenhum esqueleto. Eleitoralismo, "esquerdismo" pelego, falta de espírito público.

Mistificam, confundem, mentem. Comparam o medíocre crescimento que obtiveram nos anos da bonança internacional com os números da luta contra a inflação e do enfrentamento de uma dezena de crises externas sistêmicas que danificaram a economia brasileira, recém-saída da hiperinflação. Esquecem-se de cotejar a evolução do PIB brasileiro, entre 2003 e 2010, com a de países vizinhos nossos, com os Brics, com o mundo desenvolvido. Olvidam que o "brilhante" 2010 (crescimento de 7,5%) nasceu da artificialização do crédito, do incremento assustador dos gastos públicos, coroando a crise fiscal, que se foi tornando mais aguda a cada ano do segundo mandato de Lula. Não tomam a América do Sul e a América Latina como parâmetros, opondo a evolução de seus respectivos PIBs aos períodos 1995-2002 e 2003-2010: aí o Brasil praticamente não alterou sua participação porcentual.

Lula melou as mãos de petróleo, alardeando autossuficiência que jamais houve. Mágico de circo, "trouxe" o pré-sal para o presente, dando a impressão de que os benefícios seriam para o hoje, quando mil dúvidas, a começar pelo marco regulatório, rondam o êxito das operações.

Apropriou-se da rede de proteção social, que visava à emancipação dos beneficiários, criando o Bolsa-Família. Jamais reconheceu méritos: procurava constranger Fernando Henrique ("ex-presidente não deve falar"), ao mesmo tempo que se beneficiava de palavras e votos congressuais de Collor e Sarney.

Gramsciano que não leu Gramsci, planejou minimizar a democracia, pelo aparelhamento da máquina pública e pela desmoralização das instituições. Um parasita de cargo comissionado de cota partidária se satisfaz com seus "proventos" e fica à disposição da "chefia" para gritar palavras de ordem nas ruas do Brasil. O cérebro do lulopetismo pretende mais. Seu espelho é o que foi o PRI mexicano. Sonha com amordaçar a imprensa e reinar sem oposição.

A desenvoltura palaciana de Dirceu, a fraternidade com Delúbio e a imposição de João Paulo Cunha para presidir a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados não são obra do acaso. A ideia é apresentar fato consumado ao STF, intimidar a Corte, desmontar o processo do mensalão.

Fascistas enquistados no Ministério da Educação foram denunciados por imporem livros didáticos que criticam Fernando Henrique e endeusam Lula. Lavagem cerebral. Tentativa criminosa de "miliciar" a juventude, pondo-a a serviço de projeto de poder que jamais quis ser projeto estratégico de Nação. Fizeram isso na Argentina e deu em ópera cinematográfica; no getulismo do Estado Novo, em deposição do ditador; na Itália e na Alemanha, guerra e fim funesto para os ditadores.

Desde o início foi assim. Os discursos atrasados de Lula e do PT levaram os mercados à desconfiança em 2002 e os números da economia se deterioraram. Felizmente, souberam seguir as políticas macroeconômicas com que se depararam. Foi quando nasceu a "herança maldita", mil vezes repetida até a culpa sair dos vencedores e cair nas costas de quem deixava o poder.

Agora, às voltas com renitente inflação gerada pela farra fiscal que fez Lula popular e elegeu Dilma, vivem momento difícil e não têm bode expiatório para execrar. Tergiversam. Candidatam-se a delirante Nobel de Economia falando em conter a inflação sem reduzir o ritmo de crescimento. A que ponto não chegarão quando a dura realidade lhes bater à porta?!

Temo turbulências. Que a democracia saia vencedora de qualquer desafio que se anteponha à sua consolidação plena.

DIPLOMATA, FOI MINISTRO-CHEFE DA SECRETARIA-GERAL DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, LÍDER DO GOVERNO FERNANDO HENRIQUE CARDOSO E DO PSDB NO SENADO

ILIMAR FRANCO - Dilma pede água


Dilma pede água 
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 07/05/11

A presidente Dilma Rousseff chamou a ministra Tereza Campello (Desenvolvimento Social) e encomendou um novo programa, o “Água para Todos”. Conta um ministro que a presidente está obcecada pelo tema. Ela acredita que se o “Luz para Todos” atendeu a 13,6 milhões, há condições de a iniciativa atingir 40 milhões que não têm acesso à rede de água. O comitê social está quebrando a cabeça. Busca formas criativas de executar a tarefa, pois concluiu que é inviável levar água encanada para todos.

O nó do governo no Código Florestal
Os líderes dos maiores partidos governistas foram chamados para uma reunião, segunda- feira, com o ministro Antonio Palocci (Casa Civil) sobre o Código Florestal. O governo está inseguro na votação. O temor é que os ruralistas, que apoiam o relatório de Aldo Rebelo (PCdoB-SP), usem sua força para ampliar concessões. O Planalto também não quer que fique com a presidente Dilma Rousseff o ônus de vetar parte do texto. Na bancada do PT há desconforto com o líder Paulo Teixeira (SP), que radicalizou próambientalistas. Grande parte
dos petistas prefere o relatório de Rebelo, mas não quer se opor ao governo.

"Não tem jeito não. Vamos votar o Código Florestal na semana que vem” — Henrique Eduardo Alves, líder do PMDB na Câmara (RN)

GATO DE HOTEL. 
Petistas do Nordeste estão chamando o governador Jaques Wagner (BA), na foto, de “gato de hotel”, por causa da disputa pelos cargos de segundo escalão. “Ele chora de barriga cheia”, reclama um senador. Isso porque Wagner emplacou os ministros Mário Negromonte (Cidades), Afonso Florence (Desenvolvimento Agrário) e Luiza Bairros (Igualdade Racial), embora tenha ficado contrariado com a nomeação de Geddel Vieira Lima para uma vice-presidência da CEF.

Na ponta do lápis

● O prefeito Gilberto Kassab e a senadora Kátia Abreu (TO) fizeram um balanço ontem. O PSD já tem 40 deputados e conquistou seu terceiro senador, Jayme Campos (MT). Há conversas ainda com mais dez deputados e um senador.

Sucessão

● Na cúpula do PMDB já começaram as conversas sobre o novo presidente do partido. O senador Valdir Raupp (RO) fica até o ano que vem. Depois, o poder volta para o grupo da Câmara. O vice da CEF, Geddel Vieira Lima, é nome forte.

Debutante
● O novo presidente do PT, Rui Falcão, será recebido na semana que vem pelo ministro Antonio Palocci (Casa Civil). A expectativa
é que ele apresente uma lista com 104 nomes para ocupar cargos federais. O Planalto está tremendo.

Timing
● O senador Aécio Neves (PSDB-MG) apresentou, às vésperas da Marcha dos Prefeitos, que será semana que vem em Brasília, proposta de compensação financeira a estados e municípios por incentivos fiscais dados pela União.
 OS CORTES no Orçamento da União devem adiar a implementação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) trimestral, prevista para este ano. Hoje ela é anual.
 PARLASUL. Deputados e senadores são contra antecipar para 2012 as eleições diretas para o Parlamento do Mercosul, porque querem disputar uma vaga em 2014. Só poderá tomar posse quem não tiver mandato em seu país de origem.
● NA ATIVA. Afastado da política, o ex-ministro Ciro Gomes (PSB-CE) está dando consultorias e fazendo palestras. Ele tem seminários agendados até outubro.

CELSO MING - Meta estourada



Meta estourada
CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 07/05/11

Embora tenha vindo algo mais suave do que esperavam os mais pessimistas, já em abril a inflação medida em 12 meses pelo IPCA estourou a meta expandida (4,5% de meta central mais os 2 pontos porcentuais de tolerância).

É a principal consequência, a um só tempo, da disparada das despesas públicas e da criação artificial de renda no último ano da era Lula; e da enorme tolerância à alta de preços manifestada neste início de governo Dilma e pela atual administração do Banco Central.

As consequências estão aí: aumento das incertezas em relação ao comportamento futuro da economia; elevação de custos que se segue ao desarranjo dos preços re3lativos; perda de patrimônio e de renda pela classe média e pelas classes mais baixas; e forte movimento de reindexação da economia.

Mas as principais consequências serão políticas. As perdas de poder aquisitivo começarão a ser percebidas pela população. A oposição, que permanecia atarantada e sem discurso, agora, graças à falta de pulso do governo em relação à inflação, começa a ser ouvida e volta a ter condições de reorganizar seu jogo.

O governo dá mostras de vacilação. O discurso oficial se resumia a dar "toda prioridade ao contra-ataque à inflação, mas sem matar a galinha dos ovos de ouro". Ou seja, até agora o governo fingia que pretendia enfrentar a alta de preços, mas, na prática, queria mesmo manter o crescimento econômico, mesmo numa situação de forte escassez de mão de obra.

As últimas manifestações das autoridades da área econômica mostraram paralisia e apelos voluntaristas, típicos dos velhos tempos. O ministro Guido Mantega, durante reunião do Grupo de Avanço da Competitividade na quarta-feira, pediu para que os empresários evitassem repassar a alta dos custos para os preços. Só faltou acrescentar: "Não remarquem os preços pelo amor de Deus". No dia seguinte, perante a Comissão Mista do Orçamento, no Congresso, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, fez um apelo de conteúdo equivalente: "Se [O BRASILEIRO][O BRASILEIRO][O BRASILEIRO](o brasileiro) quiser adiar o consumo presente para consumir mais à frente, este é o momento de fazê-lo".

Mês passado, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, reclamava, em tom de denúncia, que o Banco Central estava abandonando seu empenho a reverter a valorização do real para adotar uma espécie de âncora cambial, que aceita a derrubada da cotação do dólar para conter a inflação.

São manifestações que refletem insegurança em relação à estratégia adotada. A proposta de abandonar o combate à inflação no curto prazo e concentrar os esforços para que a convergência ao centro da meta só aconteça ao final de 2012 baseia-se em pressupostos de alto risco: (1) o de que a alta das commodities se reverterá espontaneamente e, também espontaneamente, controlará a inflação; (2) que o enfoque gradualista é mais eficiente para estancar a disparada dos preços do que ações cirúrgicas, feitas de uma vez; e (3) que a enorme batalha sindical que se concentra agora no período de inflação mais alta não exercerá nenhum impacto relevante na inflação ao longo dos próximos meses. (Este será o tema da Coluna de amanhã.)

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO - A inflação pode se agravar nos próximos meses



A inflação pode se agravar nos próximos meses
EDITORIAL - O ESTADÃO

 O Estado de S.Paulo - 07/05/11

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado em 12 meses, até abril, ficou em 6,51%, ultrapassando o limite superior da meta de inflação, de 6,5%. O ministro da Fazenda, no seu costumeiro otimismo, comentou: "Já poderemos respirar em maio". É uma visão arriscada, que os fatos podem desmentir.

O aumento de 0,77% do IPCA em abril - o mais alto registrado no mês desde 2005 - apresenta algumas melhoras: o IPCA-EX, que exclui do cálculo os preços de alimentos com comportamentos mais voláteis e combustíveis, ficou em 0,52%, ante 0,70% no mês anterior; o índice de difusão, que representa o porcentual de preços em alta, caiu para 59,38%, ante 62,23% no mês anterior; e os preços dos serviços, depois de uma alta de 0,85% em março, fecharam abril com elevação de 0,58%. Apenas os preços administrados - de responsabilidade do governo - acusam aumento de 1,29%, ante 1,05% em março. Não podemos esquecer que são gastos que pesam no bolso da população.

O recuo dos preços de alimentos e bebidas teve um efeito importante na redução, e mais ainda as despesas de educação, que têm um caráter sazonal. Não podemos desprezar os efeitos da queda do dólar, que ajudou na desaceleração do IPCA.

A análise dos dados de abril não aponta, necessariamente, para um futuro melhor. Em primeiro lugar, os resultados do passado não vão ajudar na evolução dos preços em 12 meses, pois a taxa do IPCA nos últimos 12 meses ficou quase negativa durante três meses em 2010 e, portanto, sofrerá uma elevação nos próximos 12 meses, como adverte o IBGE, que o ministro da Fazenda se esqueceu de consultar.

Por outro lado, as tarifas de energia elétrica e o transporte deverão pressionar os índices de preços de maio. A queda dos preços das commodities que se verifica atualmente só se poderá refletir no índice geral no mês seguinte.

O risco que se apresenta é que, sem uma atuação corajosa do governo, o resultado dos 12 meses estimule um próximo reajuste altista de preços e salários. O ministro da Fazenda anunciou que vai utilizar a taxa cambial para conter os preços e que poderá ampliar as restrições à entrada de capitais estrangeiros, que aumentam o poder aquisitivo da população. Trata-se de um reconhecimento do fracasso das tentativas do governo de contar a valorização do real. Mas, antes de tudo, é uma intenção que não leva em conta os interesses de nossa indústria, nem tampouco o déficit das transações correntes do balanço de pagamentos.

JORGE BASTOS MORENO - NHENHENHÉM - A tosse


A tosse
JORGE BASTOS MORENO - NHENHENHÉM
O GLOBO - 07/05/11

 A “gripe chinesa”, que derrubou, já como pneumonia, a presidente Dilma, fez mais estragos no governo do que a volta do Delúbio ao PT. Vários funcionários da Presidência que acompanharam Dilma na viagem estão no estaleiro, alguns com quadros preocupantes.

Vírus do mal

 E só pode ter sido por solidariedade o estado gripal de Michel Temer, com febre alta e muita tosse. Até porque o vice não esteve na China, mas na Itália, para a festa de beatificação do Papa. Em Roma, Michel ficou o tempo todo escoltado pela dupla Moreira-Chalita. Tanta maldade junta tira a imunidade de qualquer um. E o sono do prefeito Gilberto Kassab. 

Veto
 Sorte de Kassab é que Lula não gosta da opção Chalita.

Pindamonhangaba
 O ex-presidente acha que Chalita prefeito é o poder político total de São Paulo nas mãos de Alckmin. 

CNBB x Fiesp
 Na quarta, quando Michel, no Jaburu, apresentou suas novas aquisições, Chalita e Paulo Skaf, aos cardeais do PMDB, ficou claro que um veio para devorar o outro. 

Missão impossível
 Hugo Chávez desembarca aqui na quarta para tentar desfazer as críticas ao seu governo feitas pela sua bela opositora Maria Corina Machado. Depois de visitar Dilma, Chávez vai pedir às autoridades brasileiras que esqueçam a Maria.

Anedota búlgara
 Como o czar naturalista de Drummond, Cabral acha um escândalo Paes deixar a prefeitura e viajar para a Suíça.

E Sérgio Cabral não nasceu em Niterói

 A sorte minha é que Cabral não mora no Brasil. Do contrário, a coluna toda teria que ser sobre ele. O governador é muito travesso.
Anteontem, numa reunião com o prefeito, vereadores e deputados de Niterói, para discutir o destino do estádio estadual Caio Martins, Cabral ouvia atentamente todas as sugestões, mas não se conteve quando o vereador Waldeck Carneiro, do PT, deu sua opinião, com base em experiência vivida quando morava no exterior: 
— Governador, eu morei dois anos em Paris e acompanhei de perto a transformação de algumas praças públicas... 
— Paris? Dois anos? Que inveja, excelência! E, aí, os dois começaram a disputar quem mais conhecia as praças da cidade, até que o deputado Chico D’Ângelo, que defende a transformação do Caio Martins em centro poliesportivo, chamou-os à realidade:
— Podemos voltar a Niterói? 
E Cabral, ainda embevecido e mostrando que sua cabeça ainda estava em Paris, responde automaticamente:
— Ainda é cedo, deputado!
O destino do estádio Caio Martins ficou para outra audiência. Ninguém conseguiu mais falar a sério.

Cosme & Damião
 Na safra de novos talentos da política, um nome do Rio começa a chamar a atenção pelo poder de articulação. Pedro Paulo Teixeira, secretário da Casa Civil da prefeitura do Rio. O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, outro grande articulador — cujo talento é reconhecido até pelo megainimigo Chalita ( “Como prefeito, não sabe tapar um buraco de rua, mas sabe fazer política como ninguém”) —, foi o primeiro a apontar o dedo para Pedro Paulo: — Logo, logo, o país vai ouvir falar desse garoto.
Até o desconfiadíssimo secretário da Casa Civil de Cabral, Régis Fichtner, hoje está grudado em Pedro Paulo. Ficam aos cochichos até na academia de ginástica que passaram a frequentar juntos. Claro que a união despertou ciúmes dos chefes:
— Eduardo, você tem certeza de que esses meninos não tramam contra a gente? — é o que Cabral mais tem perguntado ao prefeito.

Batinada

 Bem feito!
Os nossos cardeais da CNBB resolveram fazer política e passaram a disputar a Arquidiocese de Brasília com o mesmo furor com que o
PMDB briga por Furnas e Funasa. E, graças a Deus, cochilaram no combate à aprovação da união entre pessoas do mesmo sexo.

Um grande ator 

 E o Ayres Britto foi manchete no mundo todo com a sua descoberta de que “o órgão sexual é um plus!”, tão bem destacada pela minha cria, a repórter Carolina Brígido. Não foi bem para tratar dessas coisas tão delicadas que preparei a Carol para o jornalismo,
mas valeu! Confesso que, no início, não entendi bem a profundidade da frase, até recorrer ao mestre Antônio Pitanga, cujo dote foi descoberto nas peladas do Politheama: 
— Será que vou morrer só com essa fama? Como ator, eu não sou plus!

MARCELO RUBENS PAIVA - A voz dos animais



A voz dos animais
MARCELO RUBENS PAIVA
O Estado de S.Paulo - 07/05/11

No documentário Where In The World Is Osama Bin Laden? (de 2008), dirigido e estrelado por Morgan Spurlock, de Super Size Me, é dito por um paquistanês, depois de perguntado por que detestava os americanos:

"Não queremos a cultura de um povo que faz filmes em que bichos e objetos falam."

Spurlock, um não repórter com carisma para trafegar pelo mundo árabe, faz do seu jeito o que a Casa Branca tentou por anos e só conseguiu no domingo passado.

Cruzou Marrocos, Jordânia, Israel, Arábia Saudita, Afeganistão, Paquistão, perguntou nas ruas ao homem comum, o chamado "civil", onde estava Bin Laden.

Mostrou um povo pobre que entendia a ironia, ria, mas não escondia a indignação pela fixação dos americanos por um vilão. Muitos apontam: não se trata de um conflito contra apenas um homem.

O filme exibe palestinos esclarecidos que afirmam que nós, do Ocidente, caímos na onda dos extremistas, que nem todos são contra Israel, e que a Causa Palestina motivou grupos mal-intencionados a se firmarem através de regimes autoritários.

O surpreendente é que ele revela, através dos olhos do cidadão comum, alguns ridículos da vida do Ocidente que tentamos exportar. Como a esponja que fala e tem mais seguidores no Twitter do que o presidente americano.

+++

Já sonhei que meu gato me mandou um e-mail listando como seria o seu ano. Enumerou fatos relevantes para me orientar a cuidar dele.

Você já viu a variedade de rações que existem no mercado? Para castrados, pelo longo, curto, diet, orgânica, menos de 1 ano, entre 1 e 7, mais de 7... É uma tensão encontrar a apropriada.

Outra noite, sonhei que ele falava comigo. Sua boca se mexia como a de um humano. Me dizia o que não gostava em mim.

Nossa obsessão por dialogar com os animais tem uma explicação ancestral e deve estar no inconsciente coletivo ou nos genes: queremos falar a língua deles para dominá-los, evitar os leões e papar os bisões.

Mas acho que atualmente que os temos fritos, assados, industrializados, clonados, nas prateleiras de qualquer supermercado, presos em zoos ou domesticados, o sentido mudou.

Queremos ouvir como sentem aqueles que ainda vivem mais orientados por instintos do que por crenças, política, moral e tecnologia, com o poder de vida e morte sobre todas as espécies.

Acordei e identifiquei a inspiração do sonho: assisti na noite anterior a Toy Story 3, em que brinquedos falam. Estranha experiência com o que nos acostumamos, graças ao cinema americano.

No começo, gatos caçavam ratos ainda em P&B. Passaram a falar com o fim do cinema mudo. Alguns arquétipos sociais entraram na diversão: desde 1928, no mundo Disney, um rato é amigo de um pato, que é sobrinho de outro pato rico e pão-duro, que convive com um cão preguiçoso.

As relações familiares não tinham laços além de tios e sobrinhos. Disney, temendo a rigidez da censura e da moral vitoriana, não queria sexo na sua "bicholândia".

Veio a Disneylandia, uma insanidade da reprodução do mito da caverna de Platão: seres humanos vestidos de bichos que reproduzem o estilo de vida dos seres humanos.

Em São Paulo, um circo da Disney sobre o gelo os exibe dançando. São atletas e palhaços vestidos de ratos, patos e cães, que representam o dia a dia de homens e mulheres, não necessariamente atletas e palhaços.

No cinema, cavalos falam, xícaras cantam e dançam com pires e colheres, e é comum ver filmes em que carros papeiam, têm filhos e assassinam.

Se Meu Fusca Falasse era um tímido plot perto de Christine, o Carro Assassino. Porém, nada se compara à animação Carros, da Disney, cuja entrada do radiador é a boca.

Peixes, aves, elefantes, veados, leões, todos falam e vivem sob a influência dos mesmos valores familiares do Ocidente, sob as mesmas relações de trabalho, enfrentando o desconforto causado por vilões. E, pior, você acha isso tudo tão normal que, por vezes, se identifica.

Houve história de amor mais marcante que o desenho A Dama e o Vagabundo, em que dois cães protagonizam um dos beijos mais famosos do cinema?

O diálogo entre nós e seres inanimados ou animais nos é tão comum, que não sei se, de fato, já conversamos em voz alta com nossos carros e louças como se fossem nossos melhores amigos.

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Algumas coisas a Al-Qaeda ensinou. Que homens conseguem guerrear com vestidos longos. E que ainda existem mártires que se matam pelo amor de virgens.

No mais, foi-se mais um ideológico cuja patologia é mais grave do que a de outros rebeldes. Bin Laden é da quadrilha de Hitler: antissemita radical, que começou lutando contra comunistas, para se virar contra o "mundo livre", em busca da essência da sua terra natal.

Hitler era mais afetado. Gostava de saudações espalhafatosas, desfiles matematicamente organizados, grandiosidade megalomaníaca e simbologia de sentido obscuro.

Bin Laden era um terrorista hippie: movia-se entre cavernas, dormia em esteiras, teve 17 filhos, muitas mulheres, para terminar numa mansão sem telefone nem internet.

Ele nasceu dois anos antes de mim. Suas fotos na faculdade de engenharia lembram as minhas. Suas garotas não tinham véus. A "tchurma" aparece de cabelo comprido, calça boca de sino e camisa social gola larga.

Não duvido que tenha imitado John Travolta de Embalos de Sábado à Noite, ou feito o moon walk em alguma boate com luz negra e estroboscópica de Riad.

Seria um rico ocidentalizado no Oriente. Mas foi outro pretenso líder oportunista desta guerra que começou na 1.ª Cruzada, em 1096.

Já Obama, diferentemente do seu antecessor - que gastou mais de US$ 1 trilhão, envolveu o país em duas guerras, perdeu milhares de americanos e causou morte e destruição -, usou pouco mais de 90 fuzileiros bem treinados, herdando um sistema de investigação com prática de tortura e espionagem tecnológica.

E, de gozação, reproduziu o mesmo slogan dos republicanos, quando anunciaram a morte de Saddam Hussein e tentaram justificar a guerra injustificável: "O mundo está mais seguro sem Bin Laden".

Não está. Claro que não. Nem com a morte do primeiro, muito menos com a do segundo. É essa maneira rasa do Ocidente de enxergar o mundo pela bondade ou vilania pessoal que intriga o Oriente.

ANNA RAMALHO - Golpe de anistiado


Golpe de anistiado
ANNA RAMALHO

JORNAL DO BRASIL - 07/05/11

O juiz Belmiro Fontoura Ferreira Gonçalves, da 31ª Vara Cível da Capital, determinou o envio de ofício ao Ministério Público estadual e à OAB/RJ para que sejam tomadas as providências necessárias contra o anistiado político José Átila Dias dos Santos e seu advogado, José Haroldo dos Anjos, por falsa afirmação. 

Espertinhos


Eles pediram gratuidade de justiça em uma ação contra o BMG. No entanto, José Átila recebe rendimentos mensais de R$ 26 mil e, como anistiado político, vem recebendo, em parcelas, uma indenização no valor de R$ 877 mil.

Morto também
A prematura morte de Luiz Felipe Maciel, ontem, entristeceu a sociedade carioca. E revoltou quem tem boa memória: Formiga morreu sem receber a indenização de R$ 1,2 milhão que pedia ao pitboy Bruno de Sá Mayer, que o agrediu violenta e covardemente, em 1995, na porta do Hippopotamus, e que foi preso pela Interpol, em 2005, na Austrália.

Onde está


O processo que ele moveu contra Bruno encontra-se hoje no Arquivo Geral do TJ, em São Cristóvão, maço 54919, desde o dia 13 de dezembro de 2006. O réu deixou de atender às solicitações da juíza. 

Cristo 80


Já estão abertas as inscrições para o concurso que vai escolher a música tema dos 80 anos do Cristo Redentor. Os interessados devem acessar o site cristo80anos.org.br. Vale qualquer gênero musical e o vencedor será apresentado no megashow que vai celebrar o aniversário, dia 12 de outubro, na praia de Copacabana.

A passo de cágado

José Sarney (PMDB-AP) lamentou anteontem que a Comissão de Constituição e Justiça, do Senado, ainda não tenha apreciado sua proposta de Emenda Constitucional para alterar a tramitação das Medidas Provisórias. O presidente da Casa relembrou que o acordo para divisão do prazo de tramitação das MPs entre Câmara e Senado foi o primeiro passo para resolver o assunto. 

Quem diria...

Da tribuna, Sarney defendeu a liberdade de imprensa:

– A mídia foi criada para questionar os governos, foi constituída para ser o contraponto da voz do povo. Tem que ser crítica. 

É de pirar


Liège Monteiro vai ter que suar ainda mais a elegantésima camisa. A super promoter carioca, responsável por nove entre 10 listas vips, está às voltas com mais uma: para o show de Hannah Montana, o delírio absoluto da garotada, que acontece ainda este mês no HSBC Arena.

Raspadinhas


O técnico de vôlei Bernardinho participa, quarta-feira, do evento 'Palestra com o Campeão', no Instituto para o Desenvolvimento e Ação Social Koeller, em Niterói. 

Claudia Cataldi, será a mestre de cerimônia do Encontro Brasileiro do Mercado de Produtos e Semente Livres de Trangênicos, que acontece nos dias 11 e 12, em São Paulo.