sexta-feira, fevereiro 18, 2011

EDITORIAL - FOLHA DE SÃO PAULO

Exagero antitabagista
EDITORIAL
FOLHA DE SÃO PAULO - 18/02/11

É pelo impulso de imitação, pelo desejo de serem aceitos no seu grupo ou talvez de aparentarem mais idade que muitos adolescentes adquirem o hábito de fumar.
Algumas iniciativas de combate ao tabagismo padecem de espírito semelhante.
Nos Estados Unidos, cresce a tendência de proibir o fumo em ruas, parques e em outras áreas livres. Em Nova York, dentro de pouco tempo os infratores serão multados em U$ 50. A ideia não tarda a ser reproduzida por aqui.
Projeto apresentado na Assembleia Legislativa, de autoria do deputado Vinicius Camarinha (PSB), pretende inibir o tabagismo nas praças e em outras áreas ao ar livre no Estado de São Paulo.
A adaptação do sistema nova-iorquino ao contexto local traz alguns problemas de técnica legislativa. A lei paulista prevê multas apenas para os estabelecimentos onde for tolerado o tabagismo. No caso de um parque, entretanto, quem seria multado? O fumante, como ocorre nos EUA, ou o poder público, que zela pelo lugar?
O projeto é nebuloso quanto a isso. Tampouco parecem claras as vantagens da nova regra para a saúde pública. O chamado "fumante passivo" teria de ser, sem trocadilho, passivo ao extremo se, num lugar desimpedido, não quiser deslocar-se para longe das fontes emissoras de fumaça.
A lógica imitativa é um subcapítulo de outro processo, o da radicalização. É como se, uma vez comprovado o acerto de uma ideia inicial (a proibição do fumo em locais fechados), fosse automaticamente um progresso intensificá-la ao máximo.
O empenho das boas intenções conduz, numa espécie de trajetória linear e infinita, a um clima persecutório e puritano; na defesa do que se considera o bem de todos, esconde-se -como em tantas outras situações- o puro impulso repressor e totalitário.
Lênin, num de seus panfletos, atacou alguns adversários pelo excesso de esquerdismo, "a doença infantil do comunismo", segundo o líder russo. O combate ao fumo também tem, nos atos de exagero e de emulação acrítica a sua doença infantil -ou, se quisermos, adolescente.

ROBERTO MUYLAERT

Questão de bom senso
ROBERTO MUYLAERT
Folha de S. Paulo - 18/02/2011

A despedida de Lula foi na hora certa, quando aprovação quase unânime fez com que perdesse o bom senso, uma qualidade fundamental

A propaganda é mesmo a alma do negócio. Sem perceber, o Brasil ficou viciado em ouvir Lula a explorar, pela TV, a série "nunca antes neste país", que acabou se tornando refrão. De repente, parece que estamos em processo de desintoxicação do ex-presidente, não porque ele fosse tóxico, mas porque suas ubiquidade e loquacidade obrigavam os telejornais a fartas coberturas diárias de som e imagem.
É ponto pacífico que Lula deu condições para boa parte da classe mais pobre dos brasileiros sair da miséria. Por outro lado, sua despedida foi na hora certa, quando uma aprovação quase unânime fez com que perdesse uma qualidade fundamental para quem exerce o poder: bom senso.
Surge então a presidente Dilma, eleita a partir da avalanche de prestígio transferida por seu mentor, embora estreando nas urnas. A boa notícia é que, logo de saída, mostra bom senso: começa a trabalhar todo dia, cumpre horários, como quem ganha um novo emprego e precisa justificar o salário.
Uma de suas últimas decisões foi a de avisar aos auxiliares diretos que talvez seja melhor eles ficarem em Brasília nos finais de semana, já que podem ser chamados a qualquer momento: trabalho em tempo integral. Não mais aviões da FAB à disposição das autoridades para retornar ao lar nas sextas-feiras.
De um jeito ou de outro, ela anda tentando resolver, sem muita onda, o problema da herança deixada pelo presidente anterior, como ameaças à liberdade de expressão, deficit fiscal, inflação assanhada, real sobrevalorizado, inchaço da máquina pública, gastos públicos crescentes, falta de conscientização e de preparo de quem trabalha no governo.
Seria uma boa ideia enviar para as repartições públicas, junto com a foto da presidente, um dístico-lembrete, assim: "a missão do funcionário público é a de servir ao público". Alguns deles talvez nunca tenham sido informados disso.
Por último, valeu a sua percepção de que a compra dos caças da FAB do chamado projeto FX-2 precisava mesmo ser reavaliada.
Ela poderia ter levado, no embalo, o mico de US$ 10 bilhões em Rafales, sendo que, desde o ano 2000, os franceses não conseguem vender um caça desses para ninguém, a não ser compulsoriamente, para a sua própria Força Aérea.
Como ela anda preocupada com a vigilância das nossas fronteiras, o reequipamento poderia começar por embarcações rápidas e baratas para navegar no litoral e nos nossos rios, mais um reforço nos aviões de reconhecimento e nos Super-Tucanos, fabricados aqui mesmo.
A questão dos caças avançados, nada difícil de decidir, ficou entre o modelo americano F-18 E/F, o mais testado em combate, pela postura bélica permanente dos irmãos do Norte, e o Gripen NG, da Suécia, aquele que nos daria maior independência tecnológica, por ser um avião ainda em projeto, embora já existam 230 aeronaves de outros modelos desse mesmo avião voando em cinco forças aéreas.
O Brasil pode compartilhar esse projeto com os suecos, a ponto de se tornar, no futuro, exportador desses caças, cujo custo de operação é dividido por dois, pelo fato de ser monomotor, dotado de uma turbina de grande confiabilidade.
Ainda no quesito bom senso, falta Dilma perceber que não está com nada aquela coisa jeca de uma presidente da República ficar dando beijinho de duas bochechas em todo mundo, no Brasil e no exterior.
Além de pouco salubre, esse hábito faz perder tempo, algo que ela tem sabido utilizar com critério, até agora, com horário para começo e fim das reuniões palacianas.

ROBERTO MUYLAERT, jornalista, é editor, escritor e presidente da Aner(Associação Nacional dos Editores de Revistas). Foi presidente da TV Cultura de São Paulo (1986 a 1995) e ministro-chefe da Secretaria da Comunicação Social (1995, governo Fernando Henrique Cardoso).

VINICIUS TORRES FREIRE

 Anos de mediocridade dourada?
VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SÃO PAULO - 18/02/11

É quase impossível achar quem preveja dificuldades graves para a economia do Brasil na década por vir


APESAR DOS AMARGOS embates entre governo e economistas, a única oposição realmente existente, é difícil encontrar quem preveja dificuldades graves para a economia brasileira na década por vir.
Um outro partido mais queixoso, o dos empresários industriais que se dizem prejudicados pelo câmbio e pela concorrência asiática desleal, parece ao menos em público menos magoado e ruidoso do que foi, por exemplo, em 2006, quando o câmbio também era desfavorável, mas a economia crescia menos.
Até os tradicionais lamentos sobre a taxa de juros baixaram de tom. Parece que as empresas faturam ou recebem subsídios públicos bastantes para acalmar os ânimos.
Não há sinal visível de inquietação social. As centrais sindicais fizeram os ruídos esperados sobre o salário mínimo, mas não foram além disso. O menor desemprego em talvez três décadas parece anestesiar o protesto trabalhista. Os suspeitos de sempre, os "movimentos sociais radicais", parecem afogados pela onda de benefícios sociais, empregos e salários maiores.
Já faz muito desconectados da sociedade, os partidos não sentem nenhuma "pressão das bases" que pudesse motivá-los a arrumar encrencas maiores com o governo. Desnorteados pelo sucesso do petismo e do Estado de Bem-Estar Tropical, os partidos de oposição se desmancham ou hibernam na sua mediocridade político-intelectual.
As equipes de pesquisa econômica dos maiores bancos, Itaú e Bradesco, preveem anos tranquilos para a economia mesmo no horizonte de uma década, apesar de uma ou outra queixa restante a respeito da mediocridade da gestão econômica. Os do Itaú chegam a prever crescimento de 4,5% até 2020.
Para um país que, no quarto de século anterior a Lula 2, crescia em torno de 2,5%, parece um progresso. Taxas de juros e de investimento, tamanho da dívida, carga de impostos não chegarão a níveis de mundo civilizado mesmo em 2020, a educação melhorará apenas devagar, a produtividade vai bem, mas declinará por falta de reformas. Mas nada disso ameaçaria os anos de mediocridade dourada por vir.
O barquinho brasileiro flutuará na alta constante da maré do preço das commodities e nos dinheiros do pré-sal, que ajudarão a financiar as nossas contas externas e, assim, atrairão o investidor estrangeiro.
A criação de um "mercado interno de massas", eterna pregação da esquerda e eterno motivo de piada da direita, reforçariam o interesse do investidor estrangeiro. Deficit externos elevados ajudarão a completar a nossa poupança insuficiente, mas não precisaríamos temer o risco de crises de financiamento externo, inédito na história do país.
Esse cenário favorável sustentará o real forte, o que, ao lado dos aumentos de custos de uma inflação ainda alta e da pressão comercial asiática, destruirá parte da indústria -mas parte dela será vitaminada ou salva pelo BNDES.
Mas haverá investimento na cadeia industrial do pré-sal, naquela agregada à produção de alimentos e biocombustíveis; a construção civil florescerá com as obras de infraestrutura de transportes e energia, pré-sal, Copa e Olimpíada.
Sabe-se lá qual será nosso futuro. Mas esse parece ser o consenso dos contentes, quase todo mundo, nesse início do segundo reinado petista.

BARBARA GANCIA

Berlusconismo em comum
BARBARA GANCIA
FOLHA DE SÃO PAULO - 18/02/11

Ao duvidar da capacidade da Justiça italiana, Silvio Berlusconi age como o Brasil no caso Cesare Battisti


SEMPRE TIVE a impressão de que alguém deve ter ouvido errado e que, na verdade, general De Gaulle se referia à Itália, e não ao Brasil, quando veio com aquela história, se é que veio mesmo, de não sermos um país sério.
A Itália é um caos. Seus trens correm sempre com atraso. Qualquer papel oficial precisa de um selo estúpido que custa dinheiro e só é encontrado em pequenos comércios familiares que estão sempre de portas fechadas.
Um estranho ranço barroco-venezuelano ronda a TV estatal que nos faz ter a impressão de que o concurso de Miss Universo está eternamente prestes a entrar no ar.
Os homens na rua têm o péssimo hábito de beliscar bumbum e há ainda o inconveniente de que todo o mundo fala muito e grita muito no seu ouvido, coisa que esta tapuia com sangue 100% Made in Italy correndo nas veias, torcedora do Santos e da Juve em partes idênticas, considera intolerável, senão absolutamente repugnante, e não consegue entender como alguém ousa imitá-la tão rudemente sem nem ao menos se oferecer para pagar royalties.
Mas, a despeito de todas as coisas sobre a Itália que me irritam profundamente -e que geralmente me fisgam pela orelha logo na saída do aeroporto de Malpensa ou Fiumicino-, é bom tratarmos de usar este espaço aqui hoje, como fez o escritor e filósofo Umberto Eco em Milão há poucos dias, para defender a honra da Itália.
Atente, tapuia sem qualquer intimidade com a cultura de Dante, Petrarca, D'Annunzio, Raffaello, Bernini, Verdi, Pucci, Fiorucci e Ferragamo, para o que disse Eco em seu pronunciamento público: "Pode parecer, mas a Itália não é um país de proxenetas, nem todos os italianos, se tivessem muito dinheiro, fariam o mesmo que Berlusconi".
É bom esclarecer logo essa confusão: a época das orgias de Tibério, Calígula e companhia vai distante. A satiríase de Silvio Berlusconi, sua sexualidade mórbida, seu priapismo mental devem ser encarados com piedade -até mesmo entre fãs desse tipo de riscado, não é verdade, Bill Clinton? Antonio Palocci?
E o país também não se presta à embromação por parte de pseudo-mártires da liberdade que atiram em inocentes pelas costas.
Vamos deixar claro que não há uma Itália cindida, que coloca uma maioria de fascistas libertinos ao lado de Berlusconi e, contrapondo-se a eles, uma minoria idealista que defende Cesare Battisti.
A bem da verdade, a Itália nunca votou em peso em Berlusconi. O sistema eleitoral italiano é tão intricado (de que nacionalidade é mesmo esse sistema?) que garantiu a ele a presidência do Conselho (cargo ocupado pelo premiê) com, no máximo, algo em torno de 30% dos votos. E, hoje em dia, diante da promiscuidade entre público, púbico e privado, queria ver, desses 30%, o que lhe sobrou de apoio real.
Umberto Eco percebeu uma sutileza notável: o governo brasileiro e Berlusconi têm mais em comum do que ambos imaginam.
Analise: quando nega a extradição a Cesare Battisti, o Brasil não está questionando a capacidade da Justiça italiana, que condenou o terrorista em todas as instâncias? Isso não é o mesmo que dizer que a Itália cometeu um erro e que, no fim das contas, a justiça estará melhor servida se o criminoso ficar aqui?
Pois então. Ao duvidar da capacidade do Estado italiano, o Brasil faz o mesmo movimento que Berlusconi, agora que ele também deu para questionar a isenção de quem o está chamando para depor.

RUY CASTRO

 Histórias mal contadas
RUY CASTRO
FOLHA DE SÃO PAULO - 18/02/11

RIO DE JANEIRO - Longa vida a Ronaldo, mas, do ponto de vista do biógrafo, só será possível escrever um livro independente -"não-autorizado", como se diz- a seu respeito quando ele não tiver condições de atrapalhar a investigação. Esse é o problema de qualquer biografado vivo: não ser confiável. Mesmo que prometa "abrir tudo", ele constrangerá as fontes com o peso de sua presença e induzirá a que soneguem informações ou nem recebam o escritor.
Dito isto, não há biógrafo que não lamba os beiços ou esfregue as mãos diante dos desafios de se escrever uma biografia de Ronaldo. Sua brilhante trajetória como jogador de futebol e sua incrível série de contusões e recuperações já garantiriam uma narrativa emocionante sob o aspecto humano -a origem na pobreza, a luta na grande área, a dor, o estoicismo, a vitória e a fartura de dinheiro, sexo e festa, tudo em níveis que o torcedor comum nem pode conceber.
Mas este é só o esmalte, a superfície. O irresistível numa biografia de Ronaldo seria jogar luz nas zonas de sombra -aquelas que, tanto quanto os gols, as conquistas e os contratos, compuseram a sua personalidade. E elas não são poucas. Começaria pela convulsão a poucas horas da final da Copa de 1998 e, apesar disso, sua presença em campo contra a França- o quê, como e por quê aquilo aconteceu.
Seguiria com a história de seu casamento com a modelo e atriz Daniela Ciccarelli, em 2005, e a separação três meses depois; o constrangedor episódio com os travestis num motel da Barra, no Rio, em 2008; o namoro platônico com o Flamengo e seu inesperado casamento com o Corinthians, naquele mesmo ano; e, finalmente, a queda em desgraça, a aposentadoria e a mal contada alegação de hipotireoidismo para aplacar a ira dos corintianos contra ele.
Como eu disse, longa vida a Ronaldo. Mas que vida a ser contada!

LUIZ GARCIA

Alguns policiais
LUIZ GARCIA
O GLOBO - 18/02/11

Numa piada antiga, levemente retocada, Deus conta ao arcanjo Gabriel seus planos para a Terra (na época, ainda em fase de anteprojeto). Resumindo, ele enumera as aflições com que grande parte do planeta teria de conviver: nevascas, terremotos, vulcões, desertos áridos etc. E Gabriel palpita: "Mestre, nada de ruim para o Brasil? Isso é justo?" Ao que respondeu o Criador: "Calma, rapaz. Espera só para ver a polícia que vou botar lá."

Como em quase toda anedota, a graça exige uma generalização injusta. Por acaso e circunstância, no momento ela não parece tão injusta como deveria ser, pelo menos no caso do Rio. Num intervalo de poucos anos, repete-se aqui a revelação de que, alguns policiais importantes (qualquer generalização seria injusta) estariam há algum tempo de mãos dadas com bandidos - e sob investigação da Polícia Federal.

Poucos anos atrás, ao longo da administração conjugal Garotinho/Rosinha, a Polícia Civil esteve entregue ao delegado Álvaro Lins, que só deixou o cargo para se eleger deputado estadual. Perdeu o mandato quando investigações da Polícia Federal levaram à sua condenação por um leque de crimes: corrupção, lavagem de dinheiro, extorsão, contrabando. A pena é de 28 anos de prisão. Como tem à sua disposição o vasto leque de recursos que o sistema penal brasileiro põe ao alcance de quem roubou o suficiente para pagar a bons advogados, começará a cumprir a pena sabe-se lá quando.

Esse precedente deveria ter efeito didático. Digamos que teve, ensinando a muitos policiais pelo menos os riscos - se não o dever - de se portarem como bandidos. Mas a lição, pelo visto, não chegou ao delegado Allan Turnowski, que foi apanhado (melhor dizendo, grampeado) avisando a um subordinado que a Polícia Federal estava investigando os policiais do Rio, acusados, entre outras coisas, de envolvimento com milícias que exploram favelas. Além disso, que já é bastante grave, Turnowski é acusado - apenas acusado - de receber suborno de contrabandistas e da máfia dos caça-níqueis.

É evidente que o estado tem bons policiais de sobra. Qualquer generalização, a partir do aparente mau exemplo de Turnowski, seria cruel injustiça. Por outro lado, é meio difícil entender que ele tenha saído sob elogios do secretário de Segurança, José Beltrame, e do governador Sérgio Cabral, o qual, por lamentável acaso, não estava no Rio quando a crise pegou fogo.

JOSÉ SIMÃO

Datena! Me Tira Daqui! 
 JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 18/02/11

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
E mais um predestinado. Profissional de comunicação e negociação com base na neurolinguística: Diego BERRO! Pra se comunicar na base do berro!
E choveu tanto em São Paulo que nos semáforos não tinha mais malabarista, tinha aqualouco. Aqualouco de Farol! E a tendência do verão é o comandante Hamilton, do Datena! O comandante Hamilton devia ser entregador de pizza. "Comandante Hamilton, estamos ilhados, meio marguerita e meio calabresa com borda de catupiry!" Rarará!
E toda vez que vejo o céu negro de nuvens eu grito: "Hoje vai rolar um Datena!". Rarará! E quando chove em São Paulo a gente fica HUMILHADO! Úmido e ilhado. Umilhado!
E a última, ops, a penúltima do Sarney. Influenciado pelo Ronaldo, Sarney confessa: "Tenho uma doença chamada HIPERNEPOTISMO!". Então ninguém pode falar mal. É como o Ronaldo! Agora fazer piada de gordo com o Ronaldo é "bullying"! Há um mês, pichavam nos muros: Ronaldo Gordo. Agora é "bullying". E dizer que o Sarney nomeia a parentada é "bullying".
E o salafrário mínimo? Entrou em depressão. Quatro coisas que dá pra fazer com o salário mínimo: 1) Investir em gado: comprar meio bife; 2) Mudar de carro: trocar o Fusca velho por um mais velho ainda; 3) Cortar o cabelo na rodoviária e comprar um picolé da Yopa; 4) Ou então comprar tudo em camisinha. E vamos vivendo de amor. Rarará!
E um amigo meu se salvou da enxurrada porque, na hora da enchente, estava transando com uma boneca inflável! Rarará!
E os blocos do Carnaval 2011? Virilha de Minhoca e Bate pra Mim que Eu Tô Cansado. Esse é pra Quarta-Feira de Cinzas. Rarará!
E direto de Campinas: Tomá na Banda. Com o refrão "Tira Tira Tiririca, Pior que Tá Não Fica". E sabe quanto o Tiririca ganha por mês? Vimti e ceis miu e poucus mangus! Rarará! E o Tiririca que votou errado na votação do salário mínimo? Já imaginou se o voto dele fosse decisivo? Rarará! Hilário, viu!
E agora: O Brasileiro é Cordial! "Se eu descobrir que alguém daqui fica batendo papo na internet e se exibindo na webcam na hora do almoço, vou pegar esse tagarela virtual vou engessar as mãos e os braços com durepóxi. Conto com todos. Assinado: Gervásio". Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

MERVAL PEREIRA

PMDB dá seu recado 
MERVAL PEREIRA

O Globo - 18/02/2011

A votação do salário mínimo na Câmara acabou sendo melhor do que o próprio governo poderia esperar. A adesão integral do PMDB, com 100% de votos a favor do governo, é fato inédito, uma demonstração de lealdade e de controle da base partidária pela direção do partido.

O vice-presidente Michel Temer reuniu os 77 deputados federais da bancada no dia anterior e conseguiu tirar um compromisso de votação que se materializou.

Esse também foi um aviso do PMDB, de que, da mesma maneira que ele tem uma bancada que vota unida em favor de determinado assunto de interesse do governo que integra, essa unidade pode se voltar contra o governo caso os interesses do partido não sejam atendidos, como não estão sendo até agora. Além desse comprometimento peemedebista, outro fato que deve ter surpreendido agradavelmente o governo foi que apenas 15 deputados da base aliada votaram contra o mínimo de R$ 545, com o detalhe de que nove desses votos vieram do PDT, uma dissidência irrisória numa base que pode variar de 380 a 400 deputados.

Alguns deputados que votaram contra a proposta do governo na base aliada têm atuação individualista, pois não necessitam nem do partido nem do governo para se eleger, como é o caso de Paulo Maluf, do PP de São Paulo, que tem lá seu eleitorado cativo. Assim também o novato Tiririca, do PR, que votou pelo mínimo de R$ 600 defendido pelo PSDB. A primeira reação do deputado foi dizer que votara com o governo, mas, quando a lista oficial da votação saiu, ele assumiu que votara a favor da maior proposta, alegando que estava ali “por causa do povo”.

É, aliás, um voto muito lógico esse do Tiririca, que não tem nenhum compromisso nem com o governo nem com o partido que lhe cedeu a legenda apenas para conseguir eleger mais dois ou três deputados na esteira de sua votação excepcional, que não teve nenhuma ajuda oficial e se elegeu por razões insondáveis do eleitorado, votos de protesto ou de deboche, mas decisões individuais que geraram um deputado desligado de qualquer movimento político.

No final das contas o governo superou seu primeiro teste importante na Câmara com folga, mas vitória tão fácil não deve iludir os governistas. Nos próximos quatro anos a dificuldade de unir a base aliada aumentará à medida que as demandas não forem atendidas ou que os ventos da popularidade não forem favoráveis.

Já a oposição também não ficou mal, embora desorganizada ainda, com os dois maiores partidos — PSDB e DEM — com problemas internos seriíssimos e disputas de poder que, no caso do DEM, podem literalmente levar à extinção do partido, como, aliás, desejou em voz bastante alta, de cima de um palanque, o ex-presidente Lula durante a recente campanha presidencial.

Até se acertarem para partir para uma política mais organizada, vai demorar um pouco, mas saíramse bem diante do eleitorado, o PSDB defendendo coerentemente o salário mínimo de R$ 600 apresentado como programa de governo de seu candidato derrotado à Presidência da República José Serra; e o DEM apoiando, com a Força Sindical, o mínimo de R$ 560. Não tinham outro papel a desempenhar numa disputa previamente ganha pelo governo. Aliás, o presidente da Força, o deputado federal Paulo Pereira da Silva, foi quem levou seu partido a um racha maior e era o mais exaltado na defesa de um salário maior que o anunciado pelo governo. Chegou a dizer que para vencer o governo o jeito seria o povo ficar “18 dias acampado na praça”, numa referência ao movimento de protesto do Egito que acabou derrubando o ditador Hosni Mubarak.

Mas, como o pessoal não está com essa disposição toda, conformou-se Paulinho, a derrota seria inevitável, como foi. A truculência de suas palavras e atitudes não seria a mesma, certamente, se Lula ainda estivesse no governo, mas de qualquer maneira posicionou- se como uma oposição tão aguerrida quanto foi a do PT fora do governo.

Com o agravante de que Paulinho é deputado da base partidária governista, e a Força Sindical foi uma das centrais beneficiadas por decisões do governo anterior, com o reconhecimento formal e muita distribuição de verbas. Assim como o PDT sofrerá represálias do governo, perdendo cargos que almejava — o candidato derrotado ao governo do Paraná e ex-senador Osmar Dias preparava- se para assumir a direção de Itaipu —, também a Força Sindical deverá permanecer numa lista negra do Palácio do Planalto até que mostre a sua real face nas comemorações do dia 1o- de Maio.

Até lá, é previsível que haverá tempo para acordos com o governo em torno de outros temas trabalhistas que interessem à central sindical de Paulinho, sendo pouco provável que aceite voltar à oposição fazendo aliança com o PSDB ou com o DEM.

A oposição, por sinal, tinha um ponto forte para apoiar sua reivindicação de um salário mínimo maior. O problema é quando um partido de oposição apoia um aumento maior do salário mínimo com o governo empenhado em fazer o controle da inflação e retomar o equilíbrio fiscal. Há uma aparente incoerência nessa atitude.

Quando o PT era oposição, o partido cansou de defender aumentos maiores do salário mínimo mesmo com o governo dando um aumento real.

Desta vez, o governo está tendo que conter os gastos por decisões erradas que tomou nos dois últimos anos da gestão anterior, com objetivos eleitoreiros.

Quando um governo está em situação fiscal ruim, como este está, por culpa de atitudes irresponsáveis anteriores, a oposição tem então condições morais de dizer que o corte de gastos não pode recair sobre o trabalhador, mas sim nos setores do governo que foram inchados politicamente.

Deveria, no entanto, ter incluído na discussão a reforma da Previdência.

ANCELMO GÓIS

Roda da fortuna
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 18/02/11

Lula tá que tá. Recusou estes dias, por causa do cachê de US$ 100 mil, um convite para fazer uma palestra numa empresa. Só vai por US$ 200 mil. 

Outra... 

De Lula, numa roda de amigos, explicando por que a ideia de criar um instituto com seu nome, à semelhança do que fez FH, ainda não lhe apetece: — Este tipo de instituto costuma viver às moscas. 

Lei do silêncio
Hoje, quatro casas noturnas barulhentas da Lapa devem ser fechadas na Operação Psiu, da subprefeitura do Centro. 

Acervo de Brizola 
A família de Leonel Brizola (1922-2004) deu O.K. para que seus bens culturais, guardados num depósito em Benfica, no Rio, sejam transferidos para a Fundação Darcy Ribeiro, em Santa Teresa, também na cidade. 

Sampa é um perigo

Um executivo carioca do setor financeiro foi assaltado à mão armada, terça, por volta de 16h, a bordo de um táxi, acredite, em plena Av. Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo. Logo adiante, o taxista parou para chamar a polícia e, enquanto ligava, meu Deus, no banco de trás, o empresário, era... assaltado de novo por outro bandido!. Deve ser terrível... você sabe.

Sapucaí
Ariadne, a transexual do “BBB”, vai sair de destaque principal do carro 7 da Vila Isabel. Representará uma mina de ouro. Ui!

Xica da Silva

“Xica da Silva”, o filme de Cacá Diegues sobre a sensual ex-escrava que, em 1750, em Diamantina, MG, causou rebuliço na corte,
está totalmente restaurado. O longa, de 1976, fez parte do Programa de Restauro da Cinemateca Brasileira, do MinC.

Corredor da Justiça

Veja como muita gente ocupa a Justiça, já tão entupida, por causa de questões menores. A juíza Andréa Pachá, de Petrópolis, RJ, condenou a pagar R$ 600, referente a custas, os autores de uma ação em que um pai e uma mãe, separados, discordavam da melhor escola para matricular o filho.

Segue...

Na sentença, a magistrada passa um sabão nos pais: “O único motivo que trouxe as partes ao Judiciário foi a incapacidade de comunicação entre ambos.” 

E ainda...

Outro trecho: “Nem todo conflito pode ser apreciado pelo Estado. (...) Vinho tinto ou branco, café ou chá, Flamengo ou Fluminense...
são alternativas com as quais nos deparamos de forma permanente (...). Não pode o Judiciário substituir os pais na definição de um ou outro colégio.” Eu apoio.

Igreja condenada
O Outeiro da Glória, no Rio, terá de indenizar uma noiva por ter desmarcado seu casamento a menos de dois meses de sua realização, sob a alegação de que estava em obras. Danielle Marie Villela Eiras Uhebe, a noiva, vai receber R$ 15.353. A decisão é da 11a- Câmara Cível do TJ-RJ.

Kelman continua

Antônio Anastasia e Aécio Neves, o atual e o ex-governador de Minas, almoçam hoje no Rio com a diretoria da Light, controlada pela estatal mineira Cemig. O mandato de Jerson Kelman no comando da Light, que vence em 60 dias, deve ser renovado. 

Cebola gigante

O Outback do Shopping Rio Plaza, em Botafogo, no Rio, foi o de maior movimento de toda rede no mundo em 2010. Bateu o Outback de Las Vegas, que funciona 24h.

Grande Rio reage

A Grande Rio vai promover uma feijoada no Hotel Intercontinental, em São Conrado, dia 27, com camiseta-ingresso a R$ 200, para tentar salvar o carnaval da escola, arrasado no incêndio na Cidade do Samba. 

Os Oliveiras
Um observador atento da área de segurança notou: Álvaro Lins, chefe de polícia do Rio que caiu num escândalo de corrupção, tinha como auxiliares diretos os “inhos” — Helinho, Fabinho, Jorginho e Marinho. Já Allan Turnowski, o chefe removido agora, tinha na
equipe os Oliveiras — Rodrigo Oliveira, Carlos Antônio Oliveira e Ronaldo... Oliveira.

ZONA FRANCA

● Helio Borba festeja o 1o- ano do restaurante Dom Helio, no Recreio, e a abertura de sua filial, Rancho Dom Helio, em Barra de Guaratiba.
● Duo Itiberê e Mariana Zwarg fazem show com Carol Panesi e Kiko Horta na Maracatu Brasil, hoje, 19h. Grátis.
● Mariozinho Lago lança CD com três sambas seus para o Simpatia, hoje, na festa do bloco, no Parada da Lapa.
● A marchinha da Antarctica contra mijões no carnaval é de Rafael Arraes.
● Laura Machado e Alexandre Kalache falaram de envelhecimento na Comissão de Desenvolvimento Social da ONU, em Nova York.
● Hoje, no Sesc Rio Noites Cariocas, o show é do Roupa Nova. Amanhã, de Beth Carvalho.
● Bebossa canta hoje e amanhã no Centro Referência da Música Carioca.

NELSON MOTTA



O Bolívar de Garanhuns 
NELSON MOTTA
O ESTADO DE SÃO PAULO - 18/02/11




Enquanto desencarna da presidência, Lula vai ser recebido em Caracas, Havana e Manágua como um Bolívar de Garanhuns. Os compañeros vão vestir a guayabera de gala e ouvir seus sábios conselhos econômicos - para que façam os cortes orçamentários que Dilma está fazendo - e políticos - para que deem uma afrouxada para não serem mubarakados.

Sei lá, o homem é imprevisível, pode até dar umas lições de democracia aos hermanos bolivarianos. Ele ama dar lições, é como uma missão, uma compulsão irresistível para alguém que tudo sabe e tão generosamente ensina.

Será que ele vai ensinar a Hugo Chávez como lidar com a mídia ? Ou vai só dizer que a Venezuela tem democracia até demais e invejá-lo ? Do jeito que o coronel vai ladeira abaixo, talvez o melhor conselho seja trocar de babalaô. E pedir a Sarney que indique um bom.

Que espetáculo vai ser esse papo entre Lula e Fidel, o mundo merece conhecê-lo na integra, ou ao menos ler os melhores momentos nas "Reflexiones" do Comandante. Os eternos ressentidos com Lula, que não aceitam um nordestino, pobre e operário na Presidência, torcem para que Fidel o homenageie com um discurso de três horas sobre as conquistas da Revolução. O último.

E Raúl, coitado, talvez tenha que ouvir de Lula lições de tolerância, apesar de, apertado pela pressão internacional, ter libertado os presos políticos que Lula ignorou e depois igualou a criminosos comuns.

Quem sabe Lula pode ensinar alguma coisa ao velho molestador Daniel Ortega sobre relações públicas, construção de imagem e propaganda governamental ? Ou indicar o Franklin Martins como consultor ?

Além de falar mal dos Estados Unidos e de dizer que o Brasil está melhor do que eles, Lula pode ensinar aos compañeros a base da nossa estabilidade e prosperidade: a manutenção da política econômica "daquela pessoa".

Com o PIB em queda, inflação em alta e popularidade em baixa, os compañeros estão precisando muito dos conselhos de Lula. Mas ele também precisa dos ensinamentos deles para ajudá-lo a desconstruir o mensalão como uma conspiração da mídia golpista. Nisso eles tem o maior know-how do continente.

ILIMAR FRANCO

Concurso de beleza 
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 18/02/11

Os líderes do governo, Cândido Vaccarezza (PTSP), e do PT, Paulo Teixeira (SP), reclamaram do líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDBRR), em reunião com o ministro Antonio Palocci. Temem que Jucá, na votação do salário mínimo, a exemplo do que fez nas MPs da Bolsa Atleta e do Refis, faça concessões, aceitando um mínimo maior, ficando com a Câmara a tarefa ingrata de restabelecer o valor de R$ 545 para que a presidente Dilma Rousseff não tenha que vetar. 

Petistas querem enquadrar o Senado

No encontro com Palocci, na quarta-feira, Vaccarezza e Teixeira lembraram que, na MP que cria a Bolsa Atleta, o relator, senador Álvaro Dias (PSDB-PR), incluiu emenda para que clubes sociais formadores de atletas olímpicos recebam recursos oriundos das loterias, via CEF. Essa proposta fora rejeitada na Câmara, a pedido do governo. Em outra MP, na qual Jucá era o relator, foram retirados do texto artigos que permitiam às empresas que aderiram ao chamado “Refis da Crise” o uso de precatórios federais para abater parte de juros e multas cobrados sobre o total nenegociado. Com isso, o texto voltou para a Câmara.

NUNCA ANTES NA HISTÓRIA DESTE PAÍS. A bancada do PMDB

na Câmara votou em peso no mínimo da presidente Dilma Rousseff. Isso não aconteceu nos governos FH e Lula, que o partido também apoiava. O líder do PMDB, Henrique Alves (RN), foi o vitorioso da noite. No PT, nove deputados faltaram com o governo. No Salão Verde: PMDB 1 x 0 PT. Os petistas têm a chance de empatar no Senado. A bola está no Salão Azul.

Ausentes de luxo
Faltaram à emblemática votação do mínimo um ministro do governo Lula, Edson Santos (PT-RJ), um vice- líder do governo, Gilmar
Machado (PT-MG), um ex-líder do PT, Fernando Ferro (PE), e o presidente do PT mineiro, Reginaldo Lopes.

Incentivo

Todos os ministros entraram em campo na votação do mínimo. Foram estimulados. O Planalto mandou a todos o seguinte recado: se fosse aprovado um mínimo superior a R$ 545, todas as pastas passariam por novos cortes no Orçamento.

Gilberto Carvalho está marcando Paim
O governo escalou o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, para conversar com o senador Paulo Paim (PT-RS) sobre as votações de interesse do governo. Eles já tiveram um encontro. Nele, Carvalho lembrou a Paim que, a despeito de suas posições simpáticas à opinião pública, para ele sair do sufoco nas últimas eleições para o Senado, foi preciso que o ex-presidente
Lula e a presidente Dilma entrassem em campo. 

Porta arrombada
As senadoras protestaram. Nenhuma delas participava da Comissão da Reforma Política. O presidente José Sarney (PMDB-AP)
agiu rápido e criou duas novas vagas para as senadoras Ana Amélia (PP-RS) e Ana Rita (PT-ES). 

Repartindo o bolo
Durante a votação do salário mínimo, anteontem, o senador Eduardo Braga (PMDB-AM) e o ex-deputado Paulo Rocha (PT-PA) discutiam no plenário da Câmara a divisão de cargos no Banco da Amazônia, na Eletronorte, na Sudam e na Suframa.

 FIDELIDADE. Ao contrário da Câmara, o líder do PDT no Senado, Acir Gurcacz (RO), garante que os quatro senadores trabalhistas votarão com o governo no salário mínimo.
 REFORMA POLÍTICA. O PT não gosta da proposta do “distritão” defendida pelo vice Michel Temer. Os petistas avaliam que ela não permite a adoção do financiamento público das campanhas.
 A PRESIDENTE Dilma Rousseff está programando uma agenda com reuniões sistemáticas destinadas a dialogar com intelectuais sobre os dramas do país.

ROGÉRIO L. FURQUIM WERNECK

Ligação clandestina
ROGÉRIO L. FURQUIM WERNECK
O ESTADO DE SÃO PAULO - 18/02/12
O anúncio de corte de gastos feito na semana passada não teve a repercussão que o governo esperava. Por duas razões básicas: o corte parece menor do que o necessário e, ao mesmo tempo, maior do que o ajuste que o governo, de fato, se mostra disposto a fazer. Mas há uma terceira razão para duvidar desse compromisso com a mudança da política fiscal: boa parte da expansão fiscal dos últimos anos tem-se dado por fora do orçamento, com base num artifício contábil que tem permitido ao Tesouro transferir centenas de bilhões de reais ao BNDES, sem o devido registro nas contas de resultado primário e dívida líquida do governo. E, agora, em meio à discussão sobre um suposto corte de gastos de R$ 50 bilhões, noticia-se que o governo já contempla novo aporte do Tesouro ao BNDES, de R$ 55 bilhões. Já é tempo de tratar essa questão com a seriedade que merece.

A história é bem conhecida. Em 2008, preocupado com os efeitos da crise mundial sobre a economia brasileira, o governo decidiu capitalizar o BNDES para expandir seus empréstimos a empresas estatais e privadas. Mas uma capitalização nos moldes tradicionais, que aumentasse o capital próprio do banco, reduziria o resultado primário e aumentaria a dívida líquida do governo. Para dissimular o impacto sobre as contas públicas, o governo decidiu partir para o subterfúgio da capitalização velada. O BNDES foi agraciado pelo Tesouro com empréstimos de 30 anos e juros pesadamente subsidiados. Para bancar tais empréstimos, o Tesouro teve de emitir dívida. E isso inflou a dívida bruta, mas não a líquida, porque, ao calculá-la, o Tesouro se permitiu abater da dívida bruta, como ativos, os créditos de 30 anos que havia constituído com o BNDES.

O governo vem recorrendo a esse subterfúgio, ano após ano, desde 2008. As estatísticas de dívida bruta do governo federal, em dezembro de 2010, mostram que os créditos do Tesouro no BNDES já ultrapassam R$ 230 bilhões. Pode-se verificar que R$ 28,8 bilhões foram acumulados ao longo de 2008, R$ 93,8 bilhões, em 2009, e R$ 107,5 bilhões, em 2010. Em porcentagem do PIB, tais valores correspondem a 0,9%, 2,9% e, novamente, 2,9%.

O governo tem ressaltado a importância fundamental que tiveram os empréstimos do Tesouro ao BNDES na contenção da crise, em 2008 e 2009, por terem propiciado a injeção de forte estímulo à demanda agregada. E, de fato, um impulso fiscal de 0,9% do PIB, em 2008, seguido de novo impulso de nada menos que 2,9% do PIB, em 2009, configura um estímulo extraordinário. O problema é que, apesar de todos os sinais de vigorosa recuperação em 2010, o governo entendeu que deveria continuar a estimular a economia com novas transferências do Tesouro ao BNDES da ordem de 2,9% do PIB no ano passado.

Esse impulso fiscal foi muito maior do que o advindo da deterioração da conta oficial de resultado primário em 2010 (que deixa de fora a capitalização do BNDES), mesmo quando as cifras são recalculadas sem apelo à notória alquimia contábil a que tem recorrido o governo. Não faz sentido, portanto, discutir como a política fiscal deve ser corrigida, em face do sobreaquecimento da economia, sem levar em conta os impulsos fiscais que têm sido gerados pelas gigantescas transferências do Tesouro ao BNDES. É indefensável que, a essa altura dos acontecimentos, a economia volte a ser estimulada com um impulso fiscal de mais de 1,3% do PIB, que é o que adviria de um novo aporte de R$ 55 bilhões do Tesouro ao BNDES.

Chegou a hora de fechar o orçamento fiscal paralelo que o governo tem mantido no BNDES, por meio de operações dissimuladas de capitalização da instituição pelo Tesouro. A dissimulação tem trazido descrédito às contas públicas e à política fiscal. E já não ilude ninguém. O próprio FMI tem assinalado em suas publicações que as estatísticas de resultado fiscal do Brasil omitem transferências do Tesouro ao BNDES da ordem de 3% do PIB, tanto em 2009 como em 2010. Até quando o governo vai insistir nesse papelão?

DORA KRAMER

Golpe de mão
DORA KRAMER
O ESTADO DE SÃO PAULO - 18/02/11
Entende-se que o governo queira por meio de maioria controlar o Congresso. Foge ao preceito republicano da independência entre os Poderes, mas é do jogo do poder.

O que não se pode compreender e muito menos aceitar é que isso seja feito por meio de inconstitucionalidades embutidas em um projeto de lei. Inaceitável, tampouco, é que o Congresso seja tão submisso ao Executivo que se deixe usurpar em suas prerrogativas e ainda defenda ardentemente o direito do Palácio do Planalto de fazê-lo ao arrepio da Constituição.

Aconteceu anteontem na aprovação do novo salário mínimo na Câmara: a despeito da tentativa do deputado Roberto Freire (PPS) de impedir a iniquidade, foi aprovado um dispositivo do projeto de lei que retira do Congresso a discussão do valor do mínimo até o fim do mandato de Dilma Rousseff.

O truque é o seguinte: fica estabelecido que conforme a política para o salário mínimo até 2014, os parâmetros para se chegar à proposta do governo são aqueles acertados com as centrais sindicais em 2007 - PIB dos dois anos anteriores mais a inflação do período -, sendo o valor fixado por decreto ano a ano.

Bastante simples de compreender qual a consequência, pois não? Pois suas excelências integrantes da maioria governista (e também da oposição que não ajudou Freire no embate) preferiram fazer de conta que não entenderam.

Pelos próximos três anos, se o Senado aprovar o projeto tal como está, o governo fica livre dessa discussão no Congresso. Uma graça o principal argumento do líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira: a medida elimina a "burocracia".

Eis, então, que temos o seguinte: os próprios parlamentares se consideram meros carimbadores das decisões do Planalto e veem o debate no Parlamento como um trâmite burocrático.

Por esse raciocínio, eliminar-se-iam quaisquer tramitações congressuais, deixando a decisão de legislar para o Executivo. Como ocorre nas ditaduras.

Caso o Senado aprove, Roberto Freire recorrerá ao Supremo Tribunal Federal com uma ação direta de inconstitucionalidade, baseada no dispositivo da Constituição segundo o qual o valor do salário mínimo deve ser fixado por lei. Não por decreto baseado numa lei estabelecendo os critérios para o cálculo.

Argumenta Freire: se for por decreto presidencial, só o poder público será obrigado a cumprir. A sociedade e a iniciativa privada poderão ignorar, pois seu parâmetro é a Constituição e não o Diário Oficial.

Levantou-se naquela noite de discussões e monumentais incoerências de posições passadas e presentes a seguinte questão: se o cálculo está fixado em lei e o governo tem maioria no Congresso, o debate é sempre inútil. Então, melhor que se eliminem os intermediários.

Nada mais confortável para o governo e nada mais deformado no que tange ao sistema democrático de representação. O Executivo fica desobrigado de negociar, as forças políticas representadas no Parlamento impedidas de se manifestar e o poder de um dos Poderes fica submetido a acordos feitos com as centrais sindicais.

É o império do gabinete. O que o governo disser será a lei que se substitui à Constituição, ao Parlamento e à sociedade.

O poder continua emanando do povo, mas desse jeito em seu nome não é exercido.

Dominado. A escolha de um réu (João Paulo Cunha) do processo do mensalão para presidir a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara seria uma contradição em termos, caso a mesma comissão já não tenha sido presidida pelo notório deputado Eduardo Cunha.

Caso também mensaleiros, protagonistas de escândalos e réus de outros processos não estivessem sendo abrigados pelo governo federal e protegidos pelo PT, com vistas a promover uma "absolvição de fato".

Devido lugar. Evidência na sessão da Câmara que discutia o salário mínimo: na hora do vamos ver, as celebridades não participam. Recolhem-se ao lugar de onde nunca deveriam ter saído: a galeria das nulidades na política.

MÔNICA BERGAMO

A ORIGEM
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 18/02/11

O sul-mato-grossense Ney Matogrosso descobriu recentemente que seus pais o geraram na praça da Sé, durante uma visita a SP; o cantor se apresenta de hoje a domingo no HSBC Brasil, para lançar o DVD "Beijo Bandido"

NAVALHA DA DILMA

O governo cortou na carne dos parlamentares que o apoiam: dos R$ 1,7 bilhão de emendas que vetou no Orçamento, 68% eram de deputados e senadores de sua base de apoio. Só agora, depois da votação do salário mínimo, eles começam a tomar conhecimento da navalhada. O levantamento, com base em informações disponibilizadas pelo executivo, foi feito pela assessoria técnica do PSB.

UNS E OUTROS

Todos os parlamentares são iguais -mas alguns são mais iguais. O ministro Antonio Palocci, por exemplo, apresentou R$ 13 milhões para projetos de "infraestrutura" quando era deputado. Todas as suas emendas foram preservadas. Já Luiza Erundina (PSB-SP) apresentou iguais R$ 13 milhões, para projetos de segurança alimentar e inclusão digital: R$ 4,7 milhões foram vetados.

DE FERRO

Eduardo Cunha (PMDB-RJ), aquele deputado que chegou a ameaçar o governo, também escapou da tesoura: apresentou R$ 13 milhões em emendas; sofreu corte apenas em uma, de R$ 300 mil.

SELEÇÃO NATURAL

No embalo, o governo vetou R$ 1,2 milhão de emendas da ex-senadora Marina Silva (PV-AC). Entre elas, R$ 100 mil que seriam destinados à construção do edifício-sede do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade em Brasília.

LAÇO FIRME

Michel Temer (PMDB-SP) começou a construir uma ponte para, quem sabe, no futuro, levar o deputado Gabriel Chalita (PSB-SP) para o PMDB. Os dois tiveram longa conversa anteontem em Brasília. A amizade é antiga. Luciana Temer, filha do vice-presidente, foi orientanda e secretária-adjunta de Chalita quando ele era secretário da Juventude em SP.

DIRETO PARA...
O vendedor Sérgio Almeida, o "Salsichão", condenado por estupro e hoje foragido, escreveu um habeas corpus que chegou ao STF (Supremo Tribunal Federal). Nele, pede que os ministros diminuam sua pena por atentado violento ao pudor -ele obrigou a vítima a fazer sexo oral. E diz, em seu argumento: "O sexo oral funcionou como munição para que o paciente pudesse disparar o gatilho de sua pistola. (...) Com Vossas Excelências não funciona assim?"

...O ARQUIVO

Relatora do caso, a ministra Cármem Lúcia escreveu em seu despacho que a peça era "confusa e ininteligível", com "dizeres desconexos e censuráveis" e que deveria ser arquivada.

UM MAIS UM
Um dos fatores que pesam a favor da volta de Kaká ao Brasil até 2012 -ele já foi sondado pelo Corinthians -é a possibilidade de negócios que serão feitos em torno da Copa de 2014 no Brasil. Jogando por aqui, o craque poderia se beneficiar diretamente dos milhões de patrocínios e incentivos que estarão rolando em campo.

MAS...
Não está sendo tão fácil quanto o Flamengo imaginava conseguir um patrocínio master para a camisa do clube depois da contratação de Ronaldinho Gaúcho. O valor sonhado é de R$ 25 milhões.


"Que empresa tem esse dinheiro sobrando em fevereiro?", diz um interlocutor que acompanha de perto a saga rubro-negra.

GALÁXIA DA POESIA
O ator Odilon Wagner e a artista plástica Raquel Kogan foram, anteontem, à abertura da exposição sobre o poeta Haroldo de Campos, "Ocupação - H Láxia", com instalação de Livio Tragtenberg. Também esteve lá Milú Villela, presidente do Itaú Cultural, que sedia a mostra.

CURTO-CIRCUITO

Dinah Perry estreia hoje, às 21h30, o musical "Divas", no teatro Augusta. 14 anos.

A Associação Novolhar promove a partir de hoje expedição de artistas, intelectuais e moradores no Bexiga, que deve virar exposição de fotos e documentário em DVD.

O designer brasileiro Geová Rodrigues abre hoje exposição de acessórios no salão Maria Bonita, em Nova York.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

A conta-gotas
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO - 18/02/11

Embora até quarta-feira Dilma Rousseff deva pagar as primeiras faturas do apoio ao mínimo de R$ 545 na Câmara, com indicações do PMDB para a Caixa Econômica Federal e do PSB para a Companhia Hidrelétrica do São Francisco, entre outras, a presidente pretende ir devagar com o restante do segundo escalão.
O Planalto quer que estas primeiras nomeações tenham caráter pedagógico e premiem a fidelidade dos dois partidos, que deram 100% de seus votos à proposta do governo. Mas sabe que enfrentará no curto prazo as votações das MPs da Autoridade Pública Olímpica e da Secretaria de Aviação. Por isso, pleitos de aliados como o PC do B, por exemplo, tendem a permanecer mais tempo na gaveta.
Veja só Orgulhosos de sua demonstração de unidade, os peemedebistas lembram que, dos 77 deputados do partido que votaram pelos R$ 545, 25 não fizeram campanha para Dilma e sim para adversários da petista.

Prioridades 
A votação do mínimo se prolongou por mais de 12 horas. A aprovação do aumento salarial de 61,8% para os congressistas, em dezembro passado, deu-se em cinco minutos.

Desculpa aí 
Um dia depois de ter endossado o mínimo de R$ 560 defendido pela oposição, Paulo Maluf (PP-SP) enviou carta à liderança do governo dizendo que pretendia votar com Dilma, mas na hora se enganou.

Perdido
Já Reginaldo Lopes (PT-MG) votou contra o mínimo de R$ 600, mas, quando chegou a vez de rejeitar o de R$ 560, sumiu do plenário, reaparecendo pouco depois. Disse que tinha encontro marcado com representantes de cooperativas. Já passava das 23h.

Só pra ele 
O despacho de José Sarney com Dilma anteontem deu o que falar no PMDB do Senado. Avisado de que o presidente da Casa fora tratar de uma indicação pessoal para a Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários), um integrante de peso da bancada comentou: "É... mais um voo solo".

Share 
Na negociação para obter o passe de Gilberto Kassab (DEM), o presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, ofereceu ao prefeito controle total do diretório paulistano e 50% do estadual. A outra metade permaneceria com Márcio França, secretário de Turismo de Geraldo Alckmin (PSDB).

Os pássaros 
O grupo de Michel Temer avança nas tratativas para promover a primeira baixa de peso no PSDB paulista. Em rota de colisão com tucanos de Sorocaba, o ex-deputado federal Renato Amary planeja migrar para o PMDB na tentativa de voltar à prefeitura do terceiro colégio eleitoral do interior.

Imersão 
Egresso do meio acadêmico e incumbido por Geraldo Alckmin de melhorar o diálogo com a rede de ensino, o secretário Herman Voorwald (Educação) iniciou ontem maratona de reuniões com supervisores, diretores, professores e funcionários de escolas em 15 polos regionais de SP.

Nome aos bois 
Alckmin baixou decreto que torna obrigatória a publicação, no "Diário Oficial", das nomeações de servidores comissionados em fundações e autarquias. A providência se estende aos representantes do governo em conselhos de administração de empresas nas quais o Estado possui participação acionária.

Visita à Folha 
Alexandre Schneider, secretário paulistano da Educação, visitou ontem a Folha, onde foi recebido em almoço. Estava com Andréa Portella, assessora de imprensa.

Folha, 90 

jornal completa amanhã 90 anos.

com LETÍCIA SANDER e FABIO ZAMBELI

Tiroteio

"Ao negar um mínimo mais justo e dar R$ 10 bi a um banco quebrado, o PT mostra que escolheu seus amigos e já pode até mudar de nome: Partido do Capital Financeiro."
DO SENADOR ALOYSIO NUNES (PSDB-SP), relacionando a aprovação dos R$ 545 na Câmara e o anúncio da injeção de recursos da Caixa no PanAmericano.

Contraponto


Na berlinda

Na votação do mínimo, um deputado conversava com uma colega, quando outro brincou:
-Cuidado: sua mulher está assistindo à sessão!
-É, nós estamos no "BBB"- concordou o primeiro.
Vaiado pelos sindicalistas presentes, Vicentinho, relator do salário de R$ 545, completou:
-E eu estou no paredão...
Alguém cuidou de consolar o petista:
-Não se preocupe, Vicentinho! O povo vai te absolver, e você vai continuar na casa!