quinta-feira, janeiro 27, 2011

JANIO DE FREITAS

 Promissor e bonito
JANIO DE FREITAS 
FOLHA DE SÃO PAULO - 27/01/11

Levantes autênticos sabem o que querem; difícil é saberem que passos dar rumo ao que queiram


É SEMPRE BELA a implosão do povo que se levanta por iniciativa e coragem próprias, sem mais aguardar por partidos ou movimentos entregues a disputas inférteis, e põe ditadores em fuga e ditaduras no chão.
Essa beleza rara, vinda de profundezas tão luminosas quanto obscuras, é que uma coletividade capta em outra, inflama-se também, e estende a implosão autêntica com a sua própria. Como prenúncios dos finais que, se não vêm logo, ficam anunciados para o futuro certo do despotismo.
É o que acontece na pequena Tunísia, há tanto tempo silenciada por violência e falcatrua política. É o que colhe na pequena Tunísia o Egito eterno, há tanto tempo silenciado por violência e falcatrua política. E todo o mundo árabe das ditaduras se assusta, enfim. Mas não só ele.
Também os desenvolvidos ocidentais, amantes da democracia e patronos das ditaduras árabes, caem na perplexidade e na insegurança. Aí está outra forma de beleza, no poder aturdido.
Os levantes autênticos sabem o que querem, no primeiro impulso. Difícil é saberem que passos seguintes dar rumo ao que queiram. Se vitoriosos ou se vencidos nesta primeira hora, do mesmo modo é impreciso o amanhã da Tunísia e do Egito, e de seus possíveis seguidores. Mas o mundo das ditaduras árabes não é mais o mesmo. E isso é bonito e é promissor.

AGUACEIROS
O ministro Nelson Jobim não é boa fonte. Já informou sobre gravadores comprados por seu Ministério da Defesa para a Abin que não foram comprados, e portanto não gravaram ninguém no Supremo Tribunal Federal; divulgou numerosas providências, depois do desastre da TAM em Congonhas, que jamais apareceram; deu seguidas datas para a compra dos caças, em dezembro sua intermediação habitual divulgou até o dia em que Lula iria "bater o martelo" e "comemorar com Sarkozy" a compra dos caças franceses -e nada.
Ainda assim, fique registrado que Nelson Jobim informa estar apenas adiada, para alguma altura deste ano, a decisão sobre os aviões, sem reabertura alguma da confrontação de candidatos. E, portanto, sem retorno do caça russo Sukhoi à disputa.
Ficam, porém, duas dúvidas. Se a concorrência, propriamente, já está fechada, por que o senador John McCain, depois de conversar com a presidente Rousseff, disse nos Estados Unidos que a Boeing vai apresentar nova proposta do seu F-18E?
E, mais interessante, é a razão do adiamento exposta por Nelson Jobim: "Agora não é o momento. Estamos numa situação, digamos, de emergência, de chuvas, desastres aqui e acolá". Como e por que as chuvas impediriam a escolha de um ou outro avião a ser comprado, nem quem está habituado com as chuvas internas na cabeça de Jobim descobrirá jamais.

ESCOLHAS
A propósito dos médicos de pessoas importantes, que de repente se tornaram notícia por terem a clientela que têm, talvez valha lembrar que não são os médicos que escolhem os seus clientes.

CLÁUDIO GONÇALVES COUTO

Nem tão iguais assim
Cláudio Gonçalves Couto
VALOR ECONÔMICO - 27/01/11

Tarso Genro é um político de esquerda, ou ao menos supõe ser. Sendo de esquerda, seria de se esperar dele a defesa da igualdade entre os homens - afinal, se há algo que distingue a esquerda da direita, é a defesa da igualdade, mesmo que em sacrifício de outros objetivos, como já nos ensinou Norberto Bobbio, dentre outros. Todavia, não foi isto o que se viu no discurso do novo governador gaúcho por ocasião do debate acerca das aposentadorias especiais para ex-governadores de Estado (objeto, inclusive, de um editorial do Valor nesta semana). No dia 21 de janeiro último, o governador do Rio Grande do Sul defendeu que ex-chefes de governo estadual fazem jus a um "estatuto de classe média". A pergunta que se poderia seguir é: por que ex-governadores, em especial, fazem jus a tal condição, mas outras pessoas não?

A explicação dada por Tarso Genro a isto é que os governadores
amparados por tais aposentadorias não precisariam viver de favor, após deixar a função. A nova pergunta que se poderia fazer é: que problema há em ex-governadores viverem de favor?
Não é possível responder a esta segunda pergunta com base no critério humanitário, pois aí retornaríamos ao primeiro questionamento - se ex-governadores fazem jus a um estatuto de classe média para viverem dignamente, todos os demais cidadãos também o fazem. Daí, ou se estende o benefício a todos, ou - caso isto não seja possível - não se concede o mesmo a ninguém, por uma questão de equidade. A não ser que se acredite que ex-governadores são pessoas que merecem um tratamento privilegiado em relação aos demais cidadãos, uma distinção decorrente de seu status pessoal diferenciado em relação à malta composta por todos nós outros.
Ora, mas se Tarso Genro pensa deste modo, reconhecendo que alguns não são tão iguais assim, será ele realmente de esquerda? Ou, se preferirmos não colocar as coisas nestes termos ideológicos que, para alguns, já foram superados: será ele ao menos republicano? Afinal, neste início de mandato o novo chefe do Executivo gaúcho propôs aos demais Poderes um "pacto republicano" para resolver problemas do Estado, sendo que a ideia de república e o discurso baseado no republicanismo costumam povoar suas falas. Mas como defender a "res publica" ao advogar que os dinheiros comuns sirvam para assegurar ganhos privilegiados de alguns?

Aposentadoria privilegiada revela nossa desigualdade
Uma segunda justificativa, baseada na ideia de que os ex-mandatários não podem viver de favor ao deixar o cargo, seria o risco que tal condição ofereceria para a própria coisa pública. Ora, mas se estamos falando de pessoas que deixaram seus cargos e, portanto, não têm mais poder político e administrativo para causar danos aos interesses coletivos, novamente a defesa das aposentadorias (e as pensões, para os dependentes) torna-se pouco plausível.
Invoquei aqui o exemplo de Tarso Genro porque foi ele quem mais se aventurou a encontrar uma justificativa publicamente defensável para este privilégio. Ressalve-se, em seu favor, que não apenas "deu a cara a bater", mas também ponderou a necessidade de mudar a legislação para tornar menos inadequada tal sinecura. Todavia, mesmo com ajustes, continuaríamos a ter uma prebenda, inaceitável numa república de iguais. Outros, como seu conterrâneo Pedro Simon (sempre bradando na tribuna do senado contra os ataques à coisa pública), ou o ex-governador do Paraná, Álvaro Dias (ácido crítico das imoralidades do governo de seus adversários), sequer tinham argumentos ou fizeram propostas de mudança. Um justificou o pedido da aposentadoria com base nas dificuldades financeiras que vem enfrentando (cidadãos comuns recorrem aos bancos, ou à família), e o outro alegou que desejava fazer caridade (com dinheiro público, bem entendido).
Seria fácil compreender este imbróglio, fosse o mero oportunismo legislativo a causa da aprovação de normas jurídicas que engendram privilégios deste gênero. Há, contudo, algo mais profundo - e pior - que torna possível a existência tão difundida dessas leis (Estados de norte a sul do país as contemplam) e de manifestações públicas de autoridades que procuram justificá-las. É a mesma causa que explica a emissão de passaportes diplomáticos para "pessoas muito importantes" (VIPs), sem que o interesse público possa - de fato - requerê-los. Isto decorre do entendimento difundido em nossa sociedade - e, sobretudo, na classe política - de que os cidadãos não são todos iguais. Acredita-se que alguns merecem tratamento privilegiado em decorrência do cargo que ocupam ou ocuparam (não apenas as aposentadorias, mas também o foro judicial privilegiado), da escolaridade que detêm (a antiga prerrogativa de prisão diferenciada para os detentores de diploma de curso superior), ou de sua ascendência familiar (vejam-se os casos da filha de Hercílio Luz, que ainda recebe uma pensão, ou das tetranetas de Tiradentes, que também desejam pleiteá-la).
Situações como esta fariam sentido se ainda vivêssemos numa sociedade estamental, em que uma nobreza fosse percebida pelas normas sociais vigentes como distinguida e merecedora de tais privilégios. De fato, convivemos com diversas sobrevivências de tal ordem nobiliárquica, ainda que seja difícil defendê-las publicamente sem acrobacias argumentativas como as invocadas por Tarso Genro e tantos outros. Ironicamente, a principal instituição a se insurgir jurídica e politicamente contra essa situação é a Ordem dos Advogados do Brasil, ela mesma uma vezeira defensora de privilégios corporativos para seus membros - ao feitio das corporações de ofício medievais. Isto mostra claramente que o problema da desigualdade no Brasil não diz respeito apenas à iníqua distribuição de renda, mas a diferenças de status social que afetam, inclusive, a apropriação da riqueza em nosso país. É uma desigualdade que está em descompasso com o avanço já bastante considerável das condições de competição política de nossa democracia, enquanto nos países democráticos mais avançados foi por aí que tudo começou.

Cláudio Gonçalves Couto é cientista político, professor da FGV-SP.

VINICIUS TORRES FREIRE

Mudanças climáticas na política
VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SÃO PAULO - 27/01/11

Crises no DEM e no PSDB e adesões ao governismo são sinais de mudanças mais profunda na política do país


A POSSÍVEL debandada do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e seu grupo para o PMDB e, talvez assim, para a coalizão governista pode vir a ser apenas uma nota de pé de página da história partidária, um acontecimento isolado, mais um movimento passageiro das placas gelatinosas da política brasileira.
Pode ser também a evidência anedótica do desconcerto das forças políticas que não têm participado das vitórias do petismo, forças que por falta de nome melhor a gente vez e outra chama de oposição. Mas pode bem ser um dos vários desdobramentos da reorganização ideológica e partidária posta em marcha nos anos do governo Lula.
Kassab era uma extravagância pefelista, do DEM, plantada exoticamente em São Paulo pelas conveniências de José Serra, do PSDB. O DEM subsiste quase apenas como resquício acidental, marginal e periférico de uma forma de fazer política falecida nos anos 1990, uma sobrevivência do atraso autoritário, de caciques, familismos localizados e heranças de coronéis da ditadura.
No que tinha de mais vivo, o PFL-DEM era agenciador de interessados em se agregar ao poder, mas sem bastante poder para vencer eleições nacionais. Nesse "nicho de mercado", perdeu o lugar para o PMDB, partido que no fim das contas foi capaz de agregar as novas elites regionais do atraso, justamente aqueles grupos que sucederam as oligarquias mais velhas, ligadas à Arena, ao PDS, ao PFL e ao DEM.
Além do caso Kassab, outra evidência anedótica da crise da "oposição" é o fato de políticos como Gabriel Chalita (PSB) terem adotado dupla cidadania -Chalita tem alguma voz no governo de Geraldo Alckmin (PSDB) e é aliado de Dilma Rousseff. De resto, as lideranças restantes do PSDB comem-se vivas.
Talvez os conchavos, acertos menores e as estratégias de sobrevivência de grupos políticos reflitam uma mudança climática importante e mais duradoura. As mudanças ocorridas no governo Lula, devidas ou não à gestão petista, redundaram em mais do que a mera desmoralização do governo tucano, de FHC. O relativo sucesso econômico e os desastres da ideologia mercadista (devidos à crise de 2007-09) abafaram os reclamos de "reformas" (liberais) até entre as elites interessadas em defendê-las ainda ontem.
A resistência do país à crise, a discreta melhoria social e a manutenção de um nível razoável de estabilidade econômica ajudaram, por outro lado, a reforçar um caminho adotado faz mais de 20 anos no Brasil (na Carta de 1988), de desenvolvimento de um Estado de Bem Estar Social "tropical". Não se trata aqui de discutir a qualidade desse modelo, mas os acontecimentos recentes deram ainda mais sustentação à ideia de um Estado grande e provedor de serviços sociais de caráter universal. Ainda mais importantes, os "sucessos" desse modelo social e suas vitórias políticas deixaram pouco espaço para a oposição reconquistar bases sociais e eleitorais.
Essa mudança climática sociopolítica modificou os nichos ecológicos em que viviam grupos políticos e partidos. Temos visto migrações que parecem movimentos isolados, circunstanciais, de quem pretende melhorar suas chances de sobrevivência. Mas pode bem ser que estejamos assistindo a um processo de extinções em massa e de surgimento de novas espécies políticas.

ELIANE CANTANHÊDE

No início, tudo são flores
Eliane Cantanhêde
FOLHA DE SÃO PAULO - 27/01/11

O discurso do Estado da União feito por Barack Obama deixou o Planalto e o Itamaraty felizes da vida, por alguns motivos.

O primeiro deles é que não é usual o presidente da potência anunciar uma viagem a outro país no seu principal discurso do ano, feito na abertura do Parlamento e voltado para o público interno.

Ao dizer ali que vem em março ao Brasil (num giro que inclui Chile e El Salvador), Obama sinalizou aos congressistas e à opinião pública que o Brasil está no foco. Surpreendeu o próprio governo brasileiro.

Obama também reiterou a prioridade por temas que interessam diretamente ao Brasil, como energia limpa, inovação tecnológica, educação, pacificação interna e boa vontade externa.

Ele fez um esforço evidente para reenergizar a sociedade americana e recuperar o orgulho estremecido, mas mostrando que o mundo não é mais o mesmo. Os EUA têm de competir, mas também de ouvir e prestigiar os emergentes.

A expectativa é que tudo isso paute a agenda de Obama no Brasil, com um item substancioso a mais. Depois de defender a Índia como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU durante uma visita àquele país, a diplomacia espera que ele diga o mesmo sobre o Brasil quando pisar aqui.

Depois, Dilma Rousseff pretende ir a Nova York em setembro, justamente para a abertura da Assembleia Geral da ONU. Não se trata de uma visita bilateral, mas abre a possibilidade de outro bate-papo com Obama, num momento em que Washington e Brasília trocam sinais de paz e amor.

A dúvida é como os dois vão se virar com o tema emergente no cenário de 2011: a revolta popular que começou na Tunísia, chegou ao Egito e está com pinta de se alastrar pelo mundo árabe, ou pela parte dele aliada ao Ocidente -leia-se: aos EUA.

Nesses casos, pesa mais o valor democracia ou o pragmatismo e o apoio dos ditadores?

ILIMAR FRANCO

Rumo ao acordo?
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 27/01/11

 As centrais sindicais já estão admitindo, reservadamente, uma proposta intermediária para chegar a um acordo com o governo Dilma no salário mínimo. Em vez do reajuste para R$ 580 do mínimo, falam em R$ 560. Quanto ao reajuste para aposentados e pensionistas que ganham acima do mínimo, aceitam que seja de 8%, e não de 10%. A correção da tabela do Imposto de Renda proposta por elas é de 6,46%. A bola está com o governo.

O dia D do DEM

 A escolha do líder do DEM, marcada para segunda-feira, vai definir qual grupo terá o comando do partido na Câmara. A ala liderada por Jorge Bornhausen vai tentar a sorte apostando em Eduardo Sciara (PR). A ala que tem o deputado Rodrigo Maia à frente vai à luta com ACM Neto (BA). A balança pesava ontem a favor do baiano. Se essa tendência se confirmar, o senador Marco Maciel (PE) pode desistir de disputar a presidência do partido, abrindo caminho para a eleição do senador José Agripino (RN). Uma vitória de ACM Neto pode até antecipar a data da transferência do prefeito Gilberto Kassab para o PMDB.

SEGURANÇA DA COPA. Em reunião com o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça), na noite de anteontem, o ministro Orlando Silva (Esporte) defendeu o nome do ex-diretor-geral da Polícia Federal Luiz Fernando Corrêa para a coordenação de segurança da Copa do Mundo. Esse é um dos cargos mais cobiçados na estrutura de 2014. O governo ainda vai avaliar a indicação. Corrêa também é cogitado para a Autoridade Olímpica.

Furnas

 O ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento) tenta emplacar o ex-presidente da Usiminas Marco Antônio Castello Branco na
presidência de Furnas. O PMDB, que comanda a estatal, está furioso com a manobra petista.

Consagrado
 Pelo quinto ano seguido, o líder do PMDB, Henrique Alves (RN), está sendo reconduzido para o cargo, sem disputa, e por unanimidade. Ele sai fortalecido e vai usar esse aval para brigar pelos cargos do partido no governo federal.

Curto-circuito no PV 
 Candidato a líder do PV na Câmara com o apoio de Marina Silva, o deputado eleito Alfredo Sirkis (RJ) foi surpreendido ontem com a eleição de Sarney Filho (MA) para o posto. Sirkis não compareceu à reunião em Brasília. “Se ele não está aqui, é porque não quer”, disse o presidente do partido, José Luiz Penna. Sirkis alega que a escolha do novo líder não estava na pauta da reunião, e sim a formação de bloco parlamentar.

O PSDB dá adeus ao serrismo
 O presidenciável José Serra estava telefonando para os deputados tucanos em busca de apoio para ser presidente do PSDB, mas o sentimento na bancada é que a “súbita simpatia é tardia”. Eles se ressentem de terem sido alijados da condução da campanha presidencial. Ontem, o novo líder na Câmara, Duarte Nogueira, ligado ao governador Geraldo Alckmin (SP), anunciou o apoio da bancada à recondução do senador Sérgio Guerra (PE) à presidência do partido.

 STF. Ainda não há decisão sobre quem será indicado para a vaga deEros Grau. Os ministros José Eduardo Cardozo (Justiça) e Antonio Palocci (Casa Civil) estão fazendo uma listinha para submeter à presidente Dilma Rousseff.

 A CONVERSA. A presidente Dilma Rousseff informou ao advogado-geral da União, Luiz Adams, na quartafeira (19), que ele não será mais indicado para o STF. 

 ECUMÊNICO. O ministro Alexandre Padilha (Saúde) reúne hoje representantes das igrejas católicas, evangélicas e espíritas, além de seguidores de cultos afros, para envolvê-los no combate à dengue.

JOSÉ SIMÃO

Ueba! É o "Insensato Chifrudão"! 
José Simão
FOLHA DE SÃO PAULO - 27/01/11

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
E mais uma pra minha série "Os Predestinados": é que no Rio, mais precisamente no Méier, tem uma urologista chamada Eneida PINTO CAVALHEIRO. Sensacional!
E a manchete do "Sensacionalista": "Depois de enquadrar os ministros, Dilma é convidada para treinar o Bope". Socuerro! Vai todo mundo pedir pra sair. Rarará!
E a mais perfeita definição do Berlusconi: um Paulo Maluf pornô! Um evangélico me disse que o Berlusconi tá possuído pelo Demônio da Prostituição! Rarará!
E a novela "Insensaco Coração"? E a barriga do Fagundes? Acho que ele comeu a Mulher Melancia, e nem foi no bom sentido. Foi no sentido errado: engoliu a Mulher Melancia!
E adoro o trajeto profissional do Fagundes: foi "Dono do Mundo" e quebrou, foi "Rei do Gado" e faliu, foi caminhoneiro e rodou, virou chefe de favela e agora levou um chifre. Do tamanho da torre Eiffel!
"Insensato Chifrudão"! Não existe mais novela sem chifre! O chifre é próprio da novela, o boi usa de intrometido. E como diz o outro: "O problema não é o chifre, é aguentar os comentários!". Rarará!
Eu acho que o povo do Projac só anda de teto solar. Novela das seis: chifre. Novela das sete: chifre. Novela das nove: chifre. A Globo é chifruda. Rarará!
E o Bial, hein? Pega o termômetro! Tira a temperatura dele. Surtou de vez! A penúltima pérola: "Transar com mil mulheres é mais fácil do que ganhar o "BBB'". O Bial tá PRECISANDO transar com mil mulheres. Ao mesmo tempo. Pra relaxar!
Ganhar o "BBB" é fácil, difícil é achar uma mulher que queira transar com o Bial. Rarará! E outra: "O Diogo tem a autoconfiança de quem inventou o pinto". Só se for um pinto gago e que dança axé! Rarará!
E a notícia: "Duas tetranetas de Tiradentes também vão pedir pensão ao governo". Eu também. Eu sou heptatritetrabisneto de Adão! Um brasileiro ilustre! Qualquer R$ 25 mil tá bom!
O Brasileiro é Cordial! Mais uma do Gervásio. Cartaz na empresa em São Bernardo: "Esse carro é de uso exclusivo pra trabalhar, se eu pegar algum cabelo de sirigaita aqui, vou fazer o don juan lavar uma calcinha geriátrica com a boca até ficar com uma língua de cobra. Conto com todos. Assinado: Gervásio". Rarará!
A situação tá ficando psicodélica. Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

ANCELMO GÓIS

Crime e castigo
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 27/01/11

A professora de matemática Cristiane Barreiras, 33 anos, que manteve um relacionamento amoroso com uma aluna de 13 anos da Escola Rondon, em Realengo, no Rio, foi condenada ontem a 12 anos de prisão pelo crime de “estupro de vulnerável”. A sentença é do juiz da 2ª Vara Criminal de Bangu, Alberto Salomão Júnior.

Segue...

Quando o escândalo veio a público, em outubro, Cristiane disse que havia contado sobre seu relacionamento com a menor a seu marido e à própria mãe da aluna.

Controle eletrônico
O ex-banqueiro Salvatore Cacciola, caso consiga a progressão da pena, pode ser o primeiro detento do Rio a usar tornozeleiras daquelas que existem nos EUA e permitem a monitoração eletrônica à distância de condenados. As primeiras serão entregues hoje à Justiça, fruto de convênio do TJ com a Secretaria de Administração Penitenciária.

Foi às compras
A João Fortes fechou ontem a compra da incorporadora Pinheiro Pereira, em Niterói. Coisa de uns R$20 milhões.

Falta de costume
O ministro Luiz Sérgio ainda chama Dilma de... ministra.

A fila anda
Ontem, no jantar, em São Paulo, para Eduardo Paes, um casal chamava a atenção. O ex-ministro Paulo Renato e a ex-jogadora de basquete Hortência.

A volta de Luma

A musa do camarote da Brahma na Sapucaí este ano será Luma de Oliveira. É a volta da eterna deusa do carnaval carioca.
Fora da Sapucaí em 2010, Luma havia desfilado pela última vez como rainha de bateria na Portela, em 2009. 

Retrato do velho
Seguranças que cuidam da velha sede da Manchete, no Rio, juram que o edifício, na Glória, é... mal-assombrado. Um deles conta que, outro dia, depois de chutar portas e móveis para desafiar barulhos estranhos que ouvia numa ronda pelos 11 andares, encontrou em frente à sua mesa, no térreo, um... retrato de Adolpho Bloch. 

Segue...
Sem saber como o grande quadro com o rosto do fundador do grupo Manchete, falecido em 1995, tinha ido parar ali, o segurança começou a se incomodar com o olhar de Bloch no retrato e o transferiu para um canto. É. Pode ser.

Antifurto

As mantas que a Gol oferece a seus passageiros dos voos do Rio para a Colômbia têm aquele alarme de metal antifurto. Será que apitam na saída do avião?

A SBMRJ inicia dia 12 de março o curso Introdução ao Islam e à Língua Árabe, aos sábados, das 15h às 18h, na Mesquita da Luz, na Tijuca. Como introdução, haverá um ciclo de palestras sobre a vida do profeta Muhammad (SAWS) nos quatro sábados de fevereiro, às 18h.

Importadoras de vinho promovem hoje, às 19h, na sede do Botafogo, de-gustação solidária em prol das vítimas da Serra. O ingresso custa R$100.

Cleodon Coelho lança hoje “Lilian Lemmertz — Sem rede de prote-ção”, às 19h, na Saraiva do Leblon. 

Stuzzi Bar abre na Dias Ferreira.

A Hackamore liquida coleção feminina no Shopping da Gávea.

Bianca Da Hora assina a reforma do Hotel Granada, no Centro.

Noite do Animal

Edmundo, o Animal, vai virar empresário da noite.

Abrirá uma megacasa de shows na Barra, no Rio, com mais de oito mil lugares.

Traje de verão
A Eletrobrás decidiu flexibilizar o uso de paletó e gravata até o dia 14 de março.

Menino do Rio
O gaúcho Mano Menezes e a família se mudam para o Rio na próxima semana.

CabralCop

No máximo em dez dias, a polícia do Rio receberá um novo helicóptero blindado dos EUA.

A maior diversão
A rede UCI fechou contrato com a canadense Imax para transformar sua sala 4 do New York City Center, na Barra, na primeira do Rio neste formato. O sistema Imax projeta imagens em tamanho natural.

Melhor assim

O Consulado dos EUA no Rio diz que a doação de US$50 mil para a Região Serrana é só a primeira, de apoio emergencial. A ideia é continuar prestando ajuda Afirma que o valor certamente aumentará de “maneira substancial”

Tamanho não é...
Acredite. A boate 2A2, em Copacabana, está convocando mulheres para uma festa em que homem não vai poder entrar, dia 2. A principal atração será o strip-tease de um... anão! O miúdo quer provar que tamanho não é documento.

ALBERTO TAMER

E que venham os dólares
ALBERTO TAMER
O ESTADO DE SÃO PAULO - 27/01/11


Os números do BC sobre investimentos diretos e as contas externas em 2010 revelam que o Brasil continua superando todas as expectativas na atração de dólares. Há déficits que estão sendo cobertos pelos investimentos em produção - US$ 48,4 bilhões no ano passado. Isso representa 4,3% dos investimentos mundiais.

Há também as reservas de US$ 288 bilhões. O déficit preocupa e o governo está atento. Os dados do BC dizem que não há um risco iminente. O problema é administrar a enxurrada de dólares. Quase US$ 10 bilhões nas primeiras três semanas do ano.

Ao avaliar esses resultados, os economistas não têm dado muita atenção para dois fatos importantes. Primeiro é que, na fase de implantação em que as fábricas estão sendo construídas, esses investimentos não geram receita, mas consumo de insumos, emprego e renda. Isso sustenta o crescimento, mas pressiona a inflação.

O segundo é que na primeira fase de obras, na qual só há gastos e não receitas, esses investimentos exigem financiamentos internos ou externos. Isso leva o governo a rever regras para o fortalecimento do mercado de capitais.

Dessa forma, os investimentos diretos em fábricas, minas, usinas, ou infraestrutura, podem ser considerados como incentivadores do mercado financeiro (empréstimos) e de consumo (criação de empregos). São fatores decisivos para o crescimento econômico estimado em 4,5%.

O saldo final do processo é positivo, apesar das pressões inflacionárias, pois beneficiará a indústria brasileira.

Não há, portanto, razão para se assustar com o déficit externo que cresceu muito - R$ 47,5 bilhões, não mais, porém, que 1,28% do PIB. Mas esse afluxo generoso não pode parar. Os Estados Unidos já se comprometeram com juros negativos por muito tempo. E a liquidez e lucros baixos empurram os dólares para o Brasil.

Nos últimos oito anos, as reservas aumentaram mais de 300%. Vão superar os US$ 300 bilhões este ano. O fluxo de investimento externo acentua mais a valorização do real, que, para ser contida, está levando o BC a continuar comprando dólares, alimentando as reservas. Seja isso para formar a retaguarda de defesa ou segurar o real. Ou ambos.

Nem tudo é rosa. Há problemas, mas compensados pelos benefícios que essa política oferece. O aumento dos juros para conter a inflação atrairá mais investimentos financeiros que, por sua vez, valorizam o real.

Os investimentos continuarão afluindo para o Brasil. O BC deverá continuar comprando até mais que os dólares excedentes para administrar a valorização do real e das reservas.

É esse o cenário no qual o vilão da história é a inflação e não o desequilíbrio das contas externas, um risco para o qual é preciso estar atento, sim - e o governo está. Os dólares continuarão vindo, mas Alexandre Tombini tem armas para conter a alta da inflação. O aumento das importações poderá ser compensado pela elevação prevista dos preços das commodities, pelo crescimento do mercado, e pela recuperação das vendas externas, com novas medidas anunciadas de desonerações pelo governo.

Ou seja, quanto mais investimentos diretos e financeiros, maior será o valor reserva e segurança de um país. Além disso, pode-se contar com o aumento das exportações de commodities cujos preços devem permanecer em alta neste ano de retomada da economia mundial.

MÍRIAM LEITÃO

Ênfases e silêncios

MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 27/01/11


O presidente Barack Obama falou da China como competidora na produção de energia limpa. Lembrou da Coreia do Sul como campeã em percentual de universitários. Citou China e Índia pelo esforço de educar as crianças mais cedo e por mais tempo. Falou dos acordos comerciais com vários países. Sobre o Brasil, fez apenas referência à visita que ele fará em março. Os silêncios são eloquentes.

O Brasil sempre soube que não é exemplo em educação. Mas deveria ver com susto o fato de a Índia ser apresentada como exemplo de esforço educacional. Aqui, muitos ainda acham que o Brasil é exemplo em energia limpa pelo etanol e hidrelétricas, mas o país não fez até agora o esforço que poderia fazer em outras fontes de energia, como a solar - cuja maior indústria hoje fica na China, como disse Obama - nem em eólica ou qualquer outra verdadeiramente renovável. O Brasil prefere apostar no lucro que virá do petróleo do pré-sal e em grandes barragens, que vão usar um bem cada vez mais escasso e incerto, a água, no meio da floresta e longe dos centros de consumo. Também não fizemos um grande acordo comercial com os Estados Unidos. Ainda está em tempo de entender que isso não conflita com o esforço das negociações multilaterais.

O índice Dow Jones superou ontem, pela primeira vez em 31 meses, a marca dos 12 mil pontos. A explicação para a alta foi a boa reação ao discurso do presidente Obama. Ele falou em corte de gastos e em retomada do crescimento. A indústria de energia ficou dividida, porque a direção que ele apontou é para longe do combustível fóssil. "Em 2035, 80% da energia americana serão de fontes limpas", disse Obama. Na sua lista de alternativas, ele incluiu "carvão limpo". A tecnologia conhecida pela sigla CCS - captura e estocagem do carbono do carvão - não está dominada, por isso a ideia de que exista um "carvão limpo" é em si muito controversa. Como tem sido defendida pelos republicanos e pelo seu estado, o Illinois, Obama o incluiu no discurso, mas deu ênfase às energias do sol e do vento, como sendo as do futuro, nas quais se deve investir, em vez de dar subsídio para as do passado, como o petróleo. Ontem, restou à indústria fóssil ameaçar. Seus porta-vozes disseram que o corte dos subsídios ao petróleo produzirá desemprego. Obama preferiu fazer ironia, dizendo que as empresas petrolíferas estão indo muito bem, e insistiu para que os parlamentares derrubem os subsídios ao setor.

As ênfases foram eloquentes. Obama falou insistentemente em educação. Apresentou os números que envergonham o país: um em cada quatro americanos não termina o ensino médio; o país está em nono lugar em percentual de estudantes que concluem o ensino superior. Apresentou metas: chegar ao fim da década sendo o primeiro do mundo em percentual de estudantes com curso superior completo, preparar 100 mil novos professores nos campos da ciência e tecnologia, engenharia e matemática. De novo, mostrou um exemplo externo: na Coreia do Sul, os professores são chamados de construtores da nação.

Obama misturou tudo: a educação é o fundamento da economia e do emprego, até porque em 10 anos metade dos novos empregos vão exigir pelo menos o ensino médio. A energia limpa é parte da inovação e da geração futura de empregos. A internet de alta velocidade, que de novo a Coreia do Sul - sempre ela - é exemplo por prover acesso a 95% dos cidadãos, é ferramenta indispensável para um bom ambiente de negócios. Não foram apresentados como compartimentos estanques, mas como parte do projeto.

Admitiu que o governo gasta demais, pediu uma reforma tributária que corte impostos de forma linear para as empresas americanas, em vez do sistema atual, que dá benefícios a setores que têm lobby mais poderoso. Defendeu a redução da regulação e da burocracia criadas pelo Estado e que atrapalham as empresas. Contou que a última grande reforma do governo ocorreu quando a TV ainda era em preto e branco. Lembrou que existem 12 agências governamentais tomando decisões sobre exportação. Brincou com seu exemplo favorito: o salmão de água doce é assunto do Departamento do Interior, o de água salgada é do Departamento do Comércio, e o defumado é um pouco mais complicado. Ou seja, desburocratizar, diminuir o tamanho do Estado, lutar contra privilégios tributários são desafios americanos também. A diferença é que aqui, quem fala isso são as empresas; lá, é o próprio presidente que reconhece o problema.

Tudo é mais fácil falar do que fazer, tanto que ontem as análises nos jornais do mundo todo apontavam contradições entre intenções e gestos. E mais: lembraram que está na hora de Obama parar de prometer e fazer.

Obama assumiu o país na pior crise econômica desde a grande recessão, têm governado com uma taxa de desemprego em torno de 10%, tem um gigante déficit público para resolver que não será digerido apenas com o congelamento dos gastos por cinco anos, como propôs.

Ao iniciar seu discurso no Congresso, ele lembrou a ocupante da cadeira vazia: a deputada pelo Arizona Gabrielle Giffords. Foi aplaudido longamente por todos. Pode ser um sinal de que a polarização da sociedade americana começará a recuar depois da tragédia de Tucson. Seus últimos dois anos de mandato serão mais difíceis na política, porque na Câmara dos Deputados são 242 republicanos contra 193 democratas; no Senado, 51 democratas contra 47 republicanos. Mas há uma chance de serem mais fáceis na economia. O país saiu da recessão, empresas e até bancos voltaram a dar lucro, a bolsa recuperou-se e sua popularidade começou a subir.

DORA KRAMER

Um ''case'' na serra
Dora Kramer 
 O Estado de S.Paulo - 27/01/11

Engenheiros, geólogos, bombeiros e sobreviventes da catástrofe que atingiu a região serrana do Rio de Janeiro, ainda não conseguiram compreender o que aconteceu exatamente naquela madrugada de 11 para 12 de janeiro, cujas consequências somam mais de 800 mortos, cinco centenas de desaparecidos, prejuízos materiais ainda incalculáveis e a completa alteração geográfica de uma área que alcança sete municípios.

A explicação não cabe toda na expressão "tragédia anunciada", embora uma parte dela esteja mesmo na imprevidência do poder público, no desmatamento, na ocupação desordenada do solo e no tabu que se criou em torno dos atos de remoção de moradias, sinônimo de autoritarismo e remissão de memória ao lacerdismo.

O polêmico governador Carlos Lacerda, que há quase 50 anos tomou decisões que impediram que a hoje nobilíssima área da Lagoa Rodrigo de Freitas se transformasse em um imenso favelão. Quem não gosta do termo nem do conceito, mil perdões, mas a vida é mesmo assim.

Segundo o vice-governador Luiz Fernando Pezão, que há 15 dias se transferiu para Friburgo, a palavra "remoção" voltará a fazer parte do vocabulário oficial, até porque depois do ocorrido o Judiciário e o Ministério Público, empecilhos habituais, tendem a rever suas posições."Agora estão todos conosco", assegura ele.

Os responsáveis pelas equipes de salvamento, de reconstrução e de análise sobre o desastre admitem que não estavam preparados para enfrentar o que aconteceu. Falhou o homem? Falhou e precisa rever seus métodos de atuação, mas a natureza naquela madrugada realmente enlouqueceu.

Quem diz isso não é um místico. É o engenheiro Ícaro Moreno Júnior, presidente da Empresa de Obras Públicas (Emop): "Era impossível prever algo daquela dimensão. Foi como se a natureza decidisse despejar toda sua força de uma vez só."

Entre os dias 11 e 13 choveu 300 milímetros em Friburgo, cidade cujo centro foi arruinado. Segundo os técnicos, eles estavam preparados para enfrentar as consequências de uma chuva de até 180 milímetros que foi o índice ocorrido no município em todo o mês de janeiro de 2010.

O comandante do Corpo de Bombeiros, coronel Pedro Machado, também não nega o despreparo do poder público, principalmente no que tange a sistemas de alarmes e socorro.

Mas não acha que se possam fazer comparações com as enchentes ocorridas na Austrália, onde houve inundações, mas o número de vítimas fatais foi de algo em torno de três dezenas.

"Na Austrália ocorreu uma enchente. Aqui houve enchente, deslizamento, desabamento e inundação, tudo ao mesmo tempo. Eu só conhecia a palavra cataclismo no dicionário. Pela primeira vez vi o que significa", diz o coronel.

Ele tem uma tese baseada nos relatos de sobreviventes: "Uma tempestade de raios atingiu o alto dos morros, quebrou as pedras que, junto com a enxurrada, provocaram os deslizamentos de blocos de cinco, dez toneladas."

Sobrevoando a região dos sete municípios a imagem mais impressionante que se vê é a de uma série de montanhas como que rasgadas em sulcos abertos entre a mata fechada.

"Inexplicavelmente, algumas áreas que seriam de risco não foram atingidas e outras que teoricamente eram seguras foram devastadas", acrescenta o coronel Pedro Machado.

O gabinete de crise montado em Friburgo trabalha basicamente em duas frentes: uma comandada pelo vice-governador visa ao atendimento das vítimas e à revitalização econômica da região, com a instalação de polos de atividade como um grande hospital de referência e a ampliação do campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

A outra diz respeito aos estragos físicos. Rios, canais e córregos saíram do curso, estradas desapareceram, pontes sumiram, ruas não existem mais. Quais as exigências dessa nova geografia? Só um diagnóstico preciso, que está sendo feito agora, poderá dizer.

"Não dá ainda para saber quanto tempo levará nem quanto custará", adianta o engenheiro Ícaro Moreno.

Até o último sábado, 10 dias após a tragédia, os 130 geólogos do Brasil todo que se apresentaram como voluntários não tinham uma explicação: sabiam apenas que estavam diante de um "case" a ser minuciosamente estudado.

Porque, como se viu, o impossível acontece.

ALON FEUERWERKER

As leituras
Alon Feuerwerker
CORREIO BRAZILIENSE - 27/01/11


O PT vangloria-se de ter turbinado a classe média, mas a classe média que vem aí está mais para o conservadorismo. Daí que enquanto o PSDB se ressente da diluição do suposto viés social democrata, o PT dá um jeito de achegar-se ao eleitor centrista

Há evidências de que o PT vem fazendo mais rapidamente do que o PSDB a leitura correta das urnas. Talvez seja uma questão de força. Há no PT um polo inconteste (Dilma Rousseff, com o respaldo do antecessor), enquanto no PSDB corre solta a disputa pelo manche. Daí o PT exibir a esta altura bem mais disciplina.

Disciplinadamente, o petismo empreende talvez a etapa final da marcha rumo ao centro. Temas como a descriminalização do aborto, a revisão da Lei da Anistia e o controle social/estatal sobre a comunicação foram para o arquivo. Farão companhia à reforma agrária no mausoléu em homenagem ao ideólogo desconhecido. Nem que seja até segunda ordem.

Sem falar na brevíssima passagem do secretário antidrogas, que se animou a defender em público o afrouxamento das penas dos pequenos traficantes e acabou rapidamente na editoria de exonerações do Diário Oficial.

O PT precisou confrontar-se ano passado com uma realidade complicada. Apesar dos altíssimos índices de popularidade do governo, e da quase unanimidade em torno do presidente, a sucessão arrastou-se para o segundo turno e a vitória final, se foi por margem decente, não chegou a ser confortável.

A explicação óbvia para a assimetria está no deslocamento de gordos contingentes da classe média para uma posição antipetista. Engrossam o caldo os órfãos da ética na política, mas não só.

O PT vangloria-se de ter turbinado a classe média, a nova presidente diz querer transformar o Brasil num país de classe média, mas a classe média que vem aí está mais para o conservadorismo. Daí que enquanto o PSDB se ressente da diluição do suposto viés social democrata, o PT dá um jeito de achegar-se ao eleitor centrista. Ou direitista.

Afinal, esta eleição já foi. E outras eleições vêm aí. E o que importa é manter o poder.

O movimento para o PT é fácil de fazer, pois a legenda consolidou para ela a imagem de amiga dos pobres. A guinada ao centro poderá ser feita sem maior prejuízo político, pois faltam - até o momento - alternativas viáveis à esquerda. Estão todas a bordo.

A curiosidade é saber com que estratégia o novo governo petista vai administrar, na comunicação, maldades como o reajuste esquálido do salário mínimo e heresias como o repasse camarada dos aeroportos aos capitalistas privados.

Já o PSDB anda ameaçado de enveredar por um caminho perigoso. Todas as pesquisas mostram que o eleitor médio é conservador nos costumes e quer estado protetor na economia e nas questões sociais. Mas alguns tucanos ensaiam ficar na contramão em ambos os vetores. Liberais na economia e vanguardistas na esfera comportamental. Tipo defender a legalização do aborto e das drogas e combater o aumento do salário mínimo.

Mas o jogo não está jogado. Parece haver alguma disposição no PSDB da Câmara dos Deputados para criar problemas reais à base do governo na votação do mínimo. Ainda que haja dois vetores contraditórios agindo.

Um pretende credenciar-se por ter encontrado a solução intermediária que garantiria ao mínimo mais do que deseja o governo, mas sem subi-lo muito.

O outro acredita que o partido ganha mais se aparecer aos olhos do público defendendo os R$ 600 que o candidato tucano disse no ano passado que daria se fosse eleito.

De baixo, de cima
As grandes transformações políticas exigem disposição de confronto dos de baixo, mas também precisam de divisões sérias entre os de cima.

Porque a ausência do segundo quesito costuma resultar no sacrifício de quem, em baixo, decide colocar a cabeça de fora.

As revoluções obedecem a etapas bem definidas. Até um certo ponto há o crescimento da desordem. Operada a passagem do bastão, as energias concentram-se na reabilitação da ordem.

É o que passa na Tunísia. Já no Egito, será preciso verificar a existência ou não de clivagens importantes na cúpula. Se é mais Tunísia ou mais Irã. Ou Síria.

Vai bem
A boa surpresa desta largada de governo é a ministra dos Direitos Humanos. Maria do Rosário vem provando que o realismo na política não é obrigatoriamente sinônimo de capitulação. E apareceu com, até agora, a melhor ideia vinda do extenso primeiro escalão: uma força-tarefa com autonomia e autoridade para agir contra a tortura nas prisões. Fazer mais, e arrumando menos confusão inútil. Eis um caminho.

MÔNICA BERGAMO

BORDADEIRA
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 27/01/11

Camila Sarpi trabalhava com moda quando fez um curso de design de joias e, desde 2006, abraçou a ourivesaria como profissão; os brincos bordados com linha de algodão, uma de suas criações, foram vendidos na loja do MoMA, em NY; ela planeja lançar uma linha masculina

TICO-TICO NO FUBÁ
Os herdeiros de Carmen Miranda que têm os direitos sobre a obra dela -a irmã Cecilia e três sobrinhos- não perdoam nenhuma iniciativa que considerem exploração comercial indevida do nome da artista. Estão processando a Rosa Chá porque, segundo os advogados da grife, biquínis da marca foram usados em um ensaio em que a atriz Camila Pitanga encarnava a Pequena Notável, em 2009. A defesa da família diz que não comenta a ação.

TICO-TICO NO FUBÁ 2

Os familiares de Carmen acabam de perder, em primeira instância, uma ação contra o bar São Cristóvão, da Vila Madalena (SP). Eles processaram o estabelecimento por ter feito, também em 2009 (centenário da cantora), um festival com pratos citados em músicas dela. Pediam indenização, mas a Justiça acatou os argumentos do advogado Pedro Soutello Escobar de Andrade de que não houve uso indevido do nome da artista. Neste caso, Arnaldo Gonçalves Dias, que defende a família de Carmen Miranda, diz que vai recorrer.

FUMAÇA PRETA

O líder do PT na Câmara paulistana, vereador José Américo, deve entrar hoje na Justiça contra o prefeito Gilberto Kassab (DEM), por causa do reajuste do preço da inspeção veicular. Questiona o fato de ele ter autorizado o aumento uma semana depois de o secretário do Verde, Eduardo Jorge (PV), ter suspendido a correção do valor até que se fizesse um estudo do contrato da prefeitura com a Controlar, que presta o serviço. Depois do aval de Kassab, a inspeção passou de R$ 56,44 para R$ 61,98.

TABU NA TRIBUNA
Marta Suplicy (PT-SP) diz que abordará "os temas que foram polêmicos na campanha [presidencial]", em seu discurso de posse no Senado, em 1º de fevereiro. Entre os assuntos espinhosos estão a legalização do aborto e a união civil de homossexuais, bandeiras de Marta.

À FRANCESA
Julia Roitfeld, filha de Carine Roitfeld, ex-editora da "Vogue" francesa, desembarca em SP no dia 31. Ela será fotografada para a campanha da coleção que a estilista Cris Barros desenhou para a Riachuelo, com lançamento em abril. Durante sua passagem pela cidade, a modelo ganhará um jantar em sua homenagem na casa do empresário Flavio Rocha.

SÓ NO SAPATINHO

Da primeira fila do auditório Instituto Moreira Salles, no Rio, Ronaldinho Gaúcho beijou a mão de Monarco, 77, compositor e cantor portelense que comemorava 35 anos do primeiro disco. "Os jornais se espantaram de o Ronaldinho ter ido ao Candongueiro [casa de samba de Niterói]. Que é que tem demais? Deixa o garoto se divertir em paz", disse o cantor.

RONALDINHO CARIOCA
Recém-contratado pelo Flamengo, o jogador foi batizado de Ronaldinho Carioca pelo historiador Sergio Cabral, pai do governador. O gaúcho está diversificando o tradicional circuito dos boleiros: boates na Barra da Tijuca e bailes funks em favelas.

PROGRESSÃO
O cineasta Fábio Barreto, em coma desde o final de 2009 após um acidente de carro, fará uma ressonância magnética em equipamento doado por Eike Batista à Santa Casa do Rio. O exame vai mostrar se houve progresso. "Ele ouve e entende, mas ainda não se comunica", diz seu pai, Luiz Carlos Barreto.

NÃO VI, NÃO GOSTEI
O padre Marcelo Rossi não assistiu a "Aparecida - O Milagre", que estreou em dezembro e conta a história da padroeira do Brasil. "Ainda não vi, mas gente da minha família viu e não gostou."

SÃO PAULO NO PÁREO
Márcio Toledo, presidente do Jockey Club, e o diretor Mário Gimenes promoveram o Grande Prêmio 25 de Janeiro para comemorar os 457 anos de São Paulo, ao lado dos empresários Naji Nahas e Luis Gelpi, e do músico João Suplicy, entre outros convidados.

CONEXÃO BAHIA
Emanoel Araújo, diretor do Museu Afro Brasil, aproveitou o aniversário de São Paulo para abrir a exposição "A Natureza Viva de Frans Krajcberg". O artista, polonês que mora na Bahia, foi cumprimentado pelo secretário Andrea Matarazzo.

CURTO-CIRCUITO

Começa hoje e vai até segunda o 6º Encontro Internacional de Músicas e Danças do Mundo. O evento, com professores da Sérvia, da Grécia e da Itália, será na praia Busca Vida, em Lauro de Freitas (BA).

O bar Papillon de Nuit será aberto hoje, às 21h, na rua Fernando de Albuquerque.

O Club A realiza hoje, no WTC, a Wedding Party, simulação de festa de casamento com banda, bolo e docinhos. Classificação: 18 anos.

com ELIANE TRINDADE (interina), DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

ANTONIO CLÁUDIO MARIZ DE OLIVEIRA

A violência nas relações sociais
Antônio Claudio Mariz de Oliveira 
O Estado de S.Paulo 27/01/11

Uma observação inicial: não se trata da violência inerente ao crime praticado pelo assaltante, pelo estuprador, pelo autor de latrocínio ou pelo homicida contumaz. Refiro-me a uma outra violência, à violência de quem não pratica crimes, à violência de quem não é violento, mas que em certas circunstâncias assume uma agressividade injustificada.

O objeto destas linhas é a violência provocada por motivos frívolos, insignificantes, banais, que revela uma maldade e uma insensibilidade assustadoras. Trata-se da resposta destrutiva, por vezes com alvo incerto e indefinido, a qualquer frustração, por mais insignificante que seja. Uma nota baixa na escola, o término de um namoro, uma discussão no trânsito, brigas em festas ou entre torcidas, as agressões contra minorias e tantos outros aterrorizantes exemplos de uma agressividade inaudita que chega às raias da perversidade.

A violência instalada no seio da sociedade reflete o desrespeito, a banalização e a absoluta desconsideração pela vida alheia, em ocorrências com envolvimento cada vez maior de jovens. Não são raros os casos de alunos que portam armas e as usam contra colegas ou professores, de jovens que agridem outros jovens dentro das escolas, o denominado bullying, de selvageria dos trotes e tantas outras manifestações de verdadeira crueldade que trazem para as relações sociais grande insegurança no presente e péssimas perspectivas para o futuro.

A questão da violência pela violência, da violência como imediata e irracional reação a alguma contrariedade, está aumentando a olhos vistos e adquirindo um perigoso caráter exemplar e contagiante, dando às pessoas a perigosa ideia de normalidade. No entanto, as suas causas ainda são pouco claras, quer por ser um fenômeno novo, quer porque não está na pauta das preocupações da própria sociedade e das autoridades, que só atentam para a criminalidade violenta comum e para a atribuída às organizações criminosas.

Que se entenda de pronto que a discussão a respeito dessa violência verdadeiramente patológica, que se alastra como epidemia, não pode, rigorosamente não pode, ser vista, examinada e discutida com os olhos míopes da repressão, como tradicionalmente se faz com relação à criminalidade em geral.

Com efeito, tem-se encarado o crime como um fenômeno inevitável, já posto e consolidado, em face do qual se exige a prisão como única resposta adequada e possível. Quer-se punir o crime cometido, mas nada se faz para evitar o seu cometimento.

Exatamente a cultura já sedimentada da repressão, como seu exclusivo instrumento, constitui um dos fatores responsáveis pelo insucesso do combate travado contra a criminalidade. Punições mais severas, criminalização de mais condutas, aumento do contingente policial, melhor armamento, mais eficácia para o aparelho policial, aprimoramento dos setores de inteligência e adoção da pena de morte, entre outros, são os temas em torno dos quais giram todo o discurso e toda a prática da luta empreendida contra a violência e contra o delito de um modo geral.

Espelho do pensamento dominante, ou razão desse mesmo pensamento, é a mídia, que ao teatralizar o crime transformou-o de tragédia que ele é em espetáculo que satisfaz os seus anseios de faturamento e de audiência. A televisão, como o mais eficiente instrumento de aculturação existente, deveria repensar o seu papel. Aliás, bastaria cumprir a missão que lhe foi atribuída pela Constituição federal, de atender às finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas e de respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família.

Embora de difícil verificação, algumas razões desse trágico fenômeno podem ser encontrados em algumas das visíveis características da sociedade atual: a intolerância, o egoísmo, o levar vantagem, a cobiça, a busca de prestígio e de sucesso estão na pauta dos interesses pessoais, em substituição a valores outros que aplainam e suavizam a jornada de cada qual em benefício do caminhar de todos.

A solidariedade, a complacência, o respeito pelo outro, a cordialidade, a amizade humanizam o homem, dando-lhe condições de viver e conviver digna e passivamente.

Esse quadro está a exigir inicialmente a atenção dos governos e da sociedade. O despertar dessa atenção deverá ocorrer por meio de alertas e de denúncias dos que têm olhos para ver o problema e com ele se preocupam.

Quanto à imprensa, é fundamental que ela paute a questão e a coloque como tema de editoriais, reportagens, entrevistas, matérias investigativas, criando, enfim, condições para que haja plena conscientização da existência de um gravíssimo problema que, se não for rápida e eficientemente atacado, poderá continuar a se alastrar e a minar de forma irreversível as bases do convívio interpessoal, trazendo maior insegurança e desarmonia às relações sociais.

Um esforço hercúleo deve ser desenvolvido para que se consiga, ao menos parcialmente, detectar as razões do fenômeno da violência sem causa e se procurem as soluções adequadas para pôr fim ou diminuir suas consequências Não é tarefa fácil nem cômoda, mas é o único caminho a ser percorrido para que possamos fazer prevalecer uma cultura social harmoniosa e pacífica.

Parece que necessitamos de um novo pacto de sociabilidade, um verdadeiro processo civilizatório, que eduque os mais jovens e reeduque os antigos. Estamos carentes de um choque de civilização e de sociabilidade. A celebração desse pacto deverá ocorrer sobre bases já conhecidas, mas hoje paulatinamente esquecidas, para reger, como já regeram, as relações interpessoais e sociais de um modo geral. Assim, educação, cultura, ética, moral, respeito pelo próximo, altruísmo deverão voltar a constituir todo um arcabouço que dá sentido à vida, fazendo com que desejemos ao próximo o que desejamos para nós e os nossos.

ADVOGADO CRIMINAL EM SÃO PAULO