sexta-feira, dezembro 23, 2011

Triste coleguismo - LUIZ GARCIA


O GLOBO - 23/12/11


O eficiente e patriota legislador a gente conhece pela disposição para qualquer sacrifício no patriótico exercício do seu mandato. Portanto, cidadãos eleitores, façam o favor de registrar o gesto da Mesa Diretora do Senado na última terça-feira.

O Congresso está em recesso. É o período oferecido aos seus integrantes para que descansem da faina parlamentar para entrar em contato com seus eleitores e conhecer seus desejos e necessidades - e assim melhor representá-los.

Pois fique a nação ciente de que a Mesa Diretora do Senado descobriu tarefa mais importante e meritória para estes dias pré-natalinos. Sob o comando do infatigável presidente José Sarney, ela decidiu abandonar o recesso no próximo dia 28 e voar para Brasília, onde dará posse ao senador Jader Barbalho. É o tipo de sacrifício que nada tem de patriótico - muito menos de eficiente no que se refere ao prestígio da imagem do Legislativo no eleitorado.

Pelo visto, o presidente do Senado, José Sarney, e seus companheiros da Mesa têm confiança absoluta na desatenção e na memória curta dos eleitores de seus estados. Se algum leitor justifica essa confiança, vale a pena lembrar-lhe que Barbalho foi, merecidamente, a vítima mais notória da Lei da Ficha Limpa.

Sua ficha ficou suja devido a acusações de fraudes em três órgãos públicos: Sudam, Banpará e Ministério da Agricultura. Ou seja: por onde andou, sujou. Não se pode negar que, sozinho, ele justifica a existência de uma lei contra fichas-pretas.

E isso torna triste, tanto quanto difícil de entender, a devoção com que a Mesa do Senado protege a carreira política de Barbalho. É o companheirismo na sua versão mais lamentável. E que cria perigo assustador: o de que a Lei da Ficha Limpa - praticamente imposta à classe política por um movimento popular inédito e altamente expressivo - acabe entrando no histórico rol das leis que não pegaram.

Há tempo e oportunidade para que isso não aconteça. Mas será preciso que o Congresso coloque em recesso permanente o triste coleguismo que a Mesa do Senado acaba de demonstrar.

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