terça-feira, dezembro 20, 2011

O pedaço ruim - LUIZ GARCIA

O GLOBO - 20/12/11

A opinião pública , obviamente, repudia e pune episódios de desonestidade e safadeza em geral. E todo governo que se preza repudia e pune episódios de desonestidade e safadeza em geral. Não duvidem, existem aqueles que não se prezam, mas isso só acontece nas chamadas republiquetas, e o Brasil - que, pelo menos aos nossos olhos patrióticos, é uma republicona - vamos dizer que não está nesse caso.

Por aí pode parecer que nada teve de surpreendente na afirmação da presidente Dilma Rousseff de que em seu governo existe tolerância zero "com qualquer prática inadequada , de malfeito e de corrupção".

Governantes de nações como Noruega e Finlândia - países sem folha corrida de desonestidade governamental, possivelmente porque nas vizinhanças do Círculo Polar Ártico o frio inibe os esforços físicos indispensáveis à ladroagem - parecem imunes a escândalos nas altas esferas do poder político e administrativo. Não costumam perder tempo alegando "tolerâncias zero" a respeito. Nos trópicos, pelo visto e ouvido, é diferente: sem anúncios da tal tolerância, Dilma se considerava em risco de ter a sua administração comparada com, sei lá, para citar só um exemplo, o governo Collor.

Para quem chegou agora, o hoje respeitado senador Fernando Collor foi o primeiro e único presidente brasileiro a renunciar ao mandato para fugir a uma inevitável cassação por uma quantidade extraordinária de delitos. Hoje, finge que não tem folha corrida.

Depois de Collor, tornou-se mais evidente e importante para chefes do Governo parecerem honestos, tanto quanto serem honestos. Pode parecer redundante, mas pode-se desconfiar que não é.

Em seu último pronunciamento, Dilma afirmou que em seu governo há tolerância zero com bandidagens em geral. É boa notícia, em parte: o pedaço ruim é a necessidade de dizê-lo.

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