sexta-feira, dezembro 30, 2011

O espanto na política e na economia - LUIZ GUILHERME PIVA

FOLHA DE SP - 30/12/11

Desde FHC, a permanência de políticas econômicas e a continuidade de alianças têm sido a norma; Lula seguiu tal caminho, que Dilma mantém


Quando começaram a cair ministros, muitos analistas predisseram que uma crise abalaria o governo Dilma. Uma parte começou a temer que a saída de Antonio Palocci da Casa Civil desse espaço a aumento de gastos. Outra acrescentou que a desconsideração com partidos aliados, sobretudo o PMDB, trincaria o apoio do Executivo no Legislativo, comprometendo a estabilidade.

Depois, quando o Banco Central iniciou a redução da Selic, surgiram analistas que denunciavam a "irresponsabilidade", causada pelos "interesses populistas" do governo. Vislumbraram inflação e desorganização da economia, além de fim da credibilidade do Banco Central.

Pois bem. Já caíram sete ministros. O Banco Central voltou a reduzir a taxa de juros e indica que seguirá reduzindo-a. E não ocorreu o que os analistas acima temiam ou previam. Por que se errou tanto?

Há algumas possibilidades de respostas. Uma delas é que de fato houve erro - sincero e isento. Não mais do que isso. Outra, que houve uma dose de torcida. Não menos do que isso. Ainda outra, que o apego a modelos econômicos e políticos às vezes atrapalha.

Mas há mais uma hipótese. Predomina no instrumental de muitos analistas o quadro econômico e político que o Brasil viveu de 1984 a 1994 (com extensões parciais até hoje). Não é de se estranhar. Antes disso, por quase uma geração, a ditadura era o cenário, e nele a análise econômica e política era assunto de iniciados que desvendavam códigos secretos. Não havia como analisar a superfície.

Quando veio a "vida política normal", por uma série de circunstâncias, as crises se encavalaram. O cotidiano ficou turbulento. E o (re)advento da análise política e econômica foi, justificadamente, marcado pelo espanto.

No campo econômico, o sobressalto dos pacotes, as fugas de capital, as crises cambiais, a hiperinflação, a recessão e as oscilações de ativos - "disparando" ou "despencando" nas manchetes.

No campo político, a fragilidade das bases governistas: nos governos Sarney e Collor, a instabilidade era a norma. Mudanças de lado, formação e desmanche de partidos e alianças e primado dos grandes escândalos. Ocorre que, também por várias circunstâncias, muita coisa mudou até hoje, embora aparentando mais perenidade que ruptura.

Desde o governo FHC, a permanência de políticas econômicas (com variações, e sem falar de mérito) e a continuidade de alianças políticas têm sido a norma. O governo Lula avançou nesses caminhos, que Dilma mantém.

Porém, muitos analistas ainda estão vendo, a todo momento, tudo disparar, despencar, esgarçar, balançar e cair. A ponto de ver a normalidade das alianças e a definição de diretrizes econômicas de maior alcance como excrescências em relação aos esperados eventos fantásticos de cada dia.

Não garanto que não acertem em algum momento, mais adiante. Mas acho que o espanto não está na ordem do dia.

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