quinta-feira, dezembro 15, 2011

Jader na área - DENISE ROTHENBURG


Correio Braziliense - 15/12/11

O PMDB terá em campo mais um jogador acostumado a lidar com a gangorra da política. E é isso que o PT considera perigoso

O retorno de Jader Barbalho ao Senado depois de 11 anos na planície só vem reforçar o que já dissemos aqui recentemente — a aplicação da Lei da Ficha Limpa no Brasil será mesmo um processo lento. Como um peão num tabuleiro de jogo infantil, dependendo da casa em que a legislação cair, ela será obrigada a regressar alguns passos.

O único político da galeria dos mais emblemáticos que continuava "pendurado" na lei era ele, senador eleito pelo Pará com 1 milhão e 800 mil votos. Os demais senadores famosos, Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) e João Capiberibe (PSB-AP), já haviam regressado ao Senado.

O peemedebista estava fora do Senado porque renunciou ao mandato em 2001, escapando assim de um processo de cassação. Ora, se a lei não valeu para as eleições de 2010, como é que Jader, eleito no ano passado, poderia estar impedido de tomar posse por conta de um dispositivo que ainda não estava em vigor? Essa era a pergunta que os advogados dele queriam que o Supremo Tribunal Federal (STF) respondesse. E Cezar Peluso ontem respondeu.

Muitos podem não gostar de Jader Barbalho, considerá-lo o pior do que existe na política nacional. Mas, ainda assim, nos bastidores, ministros do Supremo e de representantes de todos os partidos políticos sabiam que, mais dia menos dia, Jader assumiria o mandato para o qual foi eleito porque a lei não pode valer para apenas para punir uma pessoa. E sob esse ponto de vista, estão certos. Portanto, quanto à validade do Ficha Limpa, o que importa agora é salvar o futuro e fazer com que os processos judiciais caminhem mais rápido para que, quem tem culpa no cartório se torne um ficha suja de vez e não ficar nesse jogo de recorre dali, escapa de cá.

Por falar em não gostar...
Nos bastidores, quem está mais inconformado e de orelha em pé com o retorno de Jader Barbalho ao Senado é o PT. A presença de Jader representa uma maioria mais consistente ao grupo do qual fazem parte os presidentes da Casa, José Sarney (AP), e o do PMDB, Valdir Raupp (RO), além dos líderes do partido, Renan Calheiros (AL), e do governo, Romero Jucá (RR). Agora, eles terão força para indicar o sucessor de Sarney na Presidência da Casa, tirando o poder de equilíbrio do G-8, o grupo de senadores mais independentes dentro do PMDB. Além dos aspectos numéricos, há a capacidade política de Jader, o único até hoje que enfrentou o falecido senador Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA), ao ponto de nocautear o político baiano no episódio do painel eletrônico do Senado.

Esse raciocínio chegou inclusive a São Bernardo (SP). Lá, o ex-presidente Lula tem comentado com alguns petistas a respeito dos riscos do retorno de Jader ao Congresso e a importância do senador paraense para o jogo do PMDB. Lula considera que o PMDB não pode ficar com presidência das duas Casas no biênio 2013-2014, sob pena de, com a maioria e o controle da pauta de votações de deputados e senadores, os peemedebistas terem força para tentar emparedar a presidente Dilma Rousseff num momento em que o cenário econômico internacional requer cautela.

Afinal, todos sabem que o PMDB joga desde o início do ano para ter mais voz no governo e mais destaque no governo. Volta e meia, seus caciques protagonizam uma manobra aqui, outra ali, no sentido de buscar esse espaço. Dilma, do alto de sua popularidade, tem se saído bem no jogo de cintura para evitar a entrega de setores estratégicos ao partido. Tirou um grupo de Furnas, da Funasa, do Ministério das Comunicações, da Saúde, da Integração Nacional. Enfim, usou o bambolê, presente do líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves, para manter os peemedebistas fiéis sem que o partido mandasse em metade da Esplanada.

Por falar em bambolê...
A sorte de Dilma é que Jader se apresentará como "gato escaldado". A amigos tem dito que tem plena consciência do processo que o derrubou do pedestal na virada do século. Por isso, será muito mais sereno do que há 11 anos, quando ruiu abraçado ao adversário Antonio Carlos Magalhães. ACM logo voltou e se reelegeu senador. Jader amargou o limbo. Mesmo eleito e reeleito deputado federal, manteve-se discreto. Evitou os holofotes e permaneceu nos bastidores, observando pacientemente os movimentos de todos os atores da política. Por isso, não raro, o então presidente Lula o chamava para conversar e trocar ideias sobre o cenário da política. Virou uma espécie de conselheiro informal em assuntos políticos. Por isso, Lula sabe o que fala quando se refere à importância de Jader para o PMDB.

Por essas e outras, a volta de Jader vai muito além da sensação do "Ih, a lei da Ficha Limpa ruiu". Na verdade, essa legislação estava adiada para o futuro há tempos. Embora ele se considere mais sereno, o PMDB terá em campo alguém acostumado a lidar com a gangorra da política. E é isso que o PT considera perigoso. Se um Renan incomoda muita gente, dizem os petistas, um Renan e um Jader incomodam muito mais.

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