quarta-feira, dezembro 28, 2011

Fracasso retumbante - ROSÂNGELA BITTAR


Valor Econômico - 28/12/11


Os próprios políticos de oposição demonstram profundo desgosto com a avaliação mas rendem-se à realidade: os partidos a que são filiados não só deixaram de evoluir politicamente neste ano como levaram a oposição, institucionalmente, ao retrocesso político. A derrota eleitoral em 2010 imobilizou-os, não conseguiram sair do lugar o ano inteiro de 2011.

A oposição penou não apenas por seu número reduzido, fato limitador basicamente da ação no Congresso. Mas por soberba e incompetência dos seus comandantes para atuar com grandeza no cenário político e exercer a liderança de um novo projeto.

Apenas um único fato a favoreceu, a queda de seis ministros de Estado por suspeita de corrupção e desvios éticos. Os desmandos, contudo, foram identificados e denunciados pela imprensa, não pela oposição. O que não impediu que adotasse o combate à corrupção como ação política, favorecida pelo fato de que os desvios éticos foram problemas da política brasileira agravados nos dois primeiros governos do PT, de 2003 a 2010, estendidos à larga ao governo Dilma.

A oposição consumiu-se na luta interna

A oposição levou ações aos tribunais, discursou, pediu punições, convocou membros do governo ao Congresso, conseguiu tirar alguma vantagem política, embora não tivesse número para o principal, criar Comissões Parlamentares de Inquérito.

Muito mais que os políticos de oposição, porém, obteve vantagem dessas denúncias a presidente Dilma Rousseff, a líder da situação. Comprometeu-se pouco com os aliados, entregando ministros no limite da pressão, livrou-se de nomes impostos pelo antecessor que nomeou a contragosto para pagar a fatura da eleição, e ainda apareceu para a sociedade como a corajosa promotora de uma faxina ética em um governo corrupto à sua revelia, uma imagem que elevou seus índices de popularidade às alturas.

Nem o combate à corrupção, portanto, a oposição conseguiu faturar sozinha. O ano termina sem que PSDB, DEM e PPS tenham realizações políticas a apresentar ao seu eleitorado, numerosíssimo por sinal: 43 milhões de votos só na disputa presidencial de 2010, fora as conquistas dos governos de Estados importantes da federação.

Tudo isto desapareceu neste ano. Divididos, consumidos em lutas internas, sem projeto unificador, deixaram falando sozinho quem tentou socorrê-los. O principal foi o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Conseguindo manter com a competência de sempre sua postura de ex-presidente, discreto, respeitou e foi respeitado e reconhecido pela presidente Dilma Rousseff. Acabou obrigando seus aliados a também reconhecê-lo. Não reverberaram, contudo, os novos discursos, caminhos e projetos que o ex-presidente propôs, didaticamente, como temas modernos, de interesse da sociedade, a serem adotados por uma oposição renovada.

São duas as questões que dificultam o exercício da oposição, no Brasil. Uma é que, sendo o eleitor brasileiro fisiológico, vai se dar melhor quem estiver com o cargo, a caneta, o poder em mãos. É quem pode "fazer algo" pelo cidadão, pelo município, pelo Estado, pelas organizações e corporações. Outra é que os partidos não só não querem ficar na oposição, como não sabem exercê-la. A preponderância do Executivo na vida do cidadão-eleitor é acachapante.

O ex-deputado Arnaldo Madeira (PSDB-SP), um analista incansável do desempenho do seu partido e da reforma política, no Brasil, avalia: "O sujeito que é oposição é visto como intransigente, radical, está de mal com a vida, de mau humor. Pede desculpas por fazer oposição. "Olha, estou fazendo oposição mas, veja, é construtiva, a minha crítica não é ao país, é ao governo".

O PT ficou muitos anos na oposição, perdia eleições sucessivas, só conquistou o poder central nos últimos nove anos. A avaliação que se faz, hoje, no entanto, é que o partido dos trabalhadores também não conseguiria mais fazer oposição tal a avidez com que aparelhou o governo.

A política parlamentar não foi de todo perdida para a oposição, na avaliação de um de seus senadores novatos que chegou com grande disposição ao Congresso, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP). "Fizemos alguma investigação, ministros compareceram para arguições, mas como parte do caminho do cadafalso. A oposição fez o que o governo deixou fazer. A função fiscalizadora do Congresso, exercida pela oposição, ficou prejudicada. O governo montou uma maioria acachapante nas duas Casas do Congresso".

Essa base do governo é tão grande, e tão heterogênea, que roubou à oposição até a refrega com o Palácio do Planalto, eles brigaram entre si. "O Executivo adquiriu poderes de agenda, de urgência constitucional, de grande número de iniciativas privativas. Tudo isto se acentuou com os governo do PT pela preferência pela medida provisória", diz Aloysio.

"A gente faz, obstrui, pede vista, discursa, não damos trégua", afirma o senador, que tem uma explicação para a falta de reconhecimento na sociedade: "O PT tem conexões fora, especialmente com as corporações. Hoje o PT estatizou tudo, dos partidos à UNE, os movimentos, as conferências corporativas municipais, estaduais, federais. A falta de conexão real dos partidos de oposição com o público externo, com quem está fora do Congresso, é notável. Vereadores, deputados estaduais, as bases, estão distantes da ação no Congresso".

Fora das atividades do Parlamento, como na disputa de poder, na política eleitoral, o principal grupo de oposição, hoje, é o que se reúne em torno do senador Aécio Neves, do PSDB, recebido em 2011 com expectativa de líder das oposições e delas candidato a presidente da República em 2014. Mas consumiu o ano em luta interna e andou em círculo.

Lutou para tomar a máquina partidária nacional, e conseguiu. Nomeou toda a cúpula do partido que hoje está ligada ao seu comando. De posse dessa máquina, todo o grupo continuou só enxergando um adversário, ou melhor, sua sombra, pois o ex-governador José Serra, já isolado e recolhido, não oferecia resistência à tomada do partido. Partiu, da máquina federal, para a da juventude partidária, desta para a máquina dos Estados, já no fim do ano, e certamente agora para se dirigirão aos municípios.

Se não dedicar os dois próximos anos apenas à disputa interna, como neste, é possível à oposição alimentar expectativa de sobrevivência. Quem sabe não venha a se sentir preparada até para apresentar um projeto político ao país.

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