quinta-feira, dezembro 01, 2011

BCs ajudam mas não resolvem - ALBERTO TAMER


O Estado de S.Paulo - 01/12/11


As tensões econômicas aumentaram esta semana e os principais bancos centrais - é mangueira fina para apagar um incêndio que se alastra rapidamente - saíram ontem em socorro do mercado financeiro.

Os principais banco centrais do mundo vão oferecer empréstimo em dólares a juros reduzidos para aumentar a liquidez do sistema e atenuar a dificuldade que os bancos estão encontrando para financiar suas operações.

À primeira vista, parecia a chegada da cavalaria para libertar o forte cercado, mas logo se constatou que se tratava apenas de uma tropa ligeira. A mais pesada continuava estacionada em Bruxelas e Berlim, com o general alemão, de espada embainhada, dizendo "vamos esperar porque eles ainda aguentam ..."

O suspiro de alívio no mercado durou pouco. Ficou logo muito claro no mercado que a ação conjunta anunciada pelos bancos centrais, principalmente dos Estados Unidos, pode aumentar a liquidez, mas não resolve o problema da dívida soberana e dos déficits orçamentários que os governos da Eurozona discutem há quase três anos sem chegar a qualquer solução.

O comunicado emitido pelos seis bancos centrais (EUA, Reino Unido, Canadá, Japão, Suíça e Banco Central Europeu) foi muito claro: "O objetivo dessas ações é aliviar as tensões sobre o mercado financeiro e por esse meio mitigar os efeitos dessas tensões no fornecimento de crédito para as famílias e empresas e ajudar a promover a atividade econômica."E ponto final. Nada. Nem uma só palavra sobre a rolagem da dívida.

Na avaliação do mercado financeiro, os bancos centrais decidiram agir para evitar algo parecido como a crise financeira de 2008.

No fundo, diziam, não é que os bancos irão comprar títulos da Grécia, da Itália, da Espanha e até da Alemanha a juros razoáveis porque podem ter mais dólares em caixa. Quando muito, voltariam a emprestar ao setor privado, como pretende e deixa claro o comunicado dos bancos centrais, mas não para os governos endividados.

Se a revista britânica Economist comentou com muito realismo que "os bancos centrais providenciaram hidratante para um paciente de câncer; uma coisa útil de fazer, mas, em última instância, apenas ganha tempo.... A dinâmica subjacente da crise do débito soberano continua sem mudança."

E os analistas do mercado concordam. Atacam a margem do problema, mas deixam a sua essência intocada, como quem vai pagar ou rolar a dívida da Itália, da Espanha e da Grécia?

Resumindo, com a ação integrada dos bancos centrais, fica tudo como está, só não piora, por enquanto. E todos continuam esperando pela França, a Alemanha e o Banco Central Europeu para comprar esses papéis que só estão sendo colocados com valores reduzidos a juros de quase 8%. Os maiores na história da União Europeia.

E a reunião da Eurozona. Os ministros das Finanças da Eurozona estiveram reunidos esta semana em Bruxelas mas apresentaram apenas propostas vagas que não animaram os investidores.

Falam agora em criar um "co-fundo do fundo" financeiro, cujos títulos os países dos G-20 já se recusaram a comprar.

O Brasil foi categórico, só compramos do Fundo Monetário Internacional (FMI). Tudo ficou adiado para o encontro dos presidentes do bloco marcado para o dia 9, mas sem muita esperança pois o governo da Alemanha continua vetando a criação do Eurobônus e quer que o BCE compre mais títulos dos países que estão endividados.

Desde março de 2008, ele já comprou 203 bilhões, mas, sob pressão do representante alemão no seu conselho, deu sinais de recuar nos últimos dias.

O BCE não compra, a Alemanha e a França não compram, o mercado também não, e quando muito, os bancos centrais oferecem dólares a juros baixos para quem quiser, mas isso não animou ninguém.

Restou nesta semana mais um alerta - outro do comissário de (ministro) de Assuntos Econômicos da UE, Olli Rehn, - "Estamos entrando em um período crítico de 10 dias para completar e concluir uma reação à crise da União Europeia", disse. Eles estão dizendo isso há muito tempo mas como não fizeram nada até agora, perderam a confiança dos investidores, com o novo "co-fundo"que inventaram esta semana.

Resumindo e sendo até um pouco grosseiro, ou alguém "engole" esses papéis assumindo, como os bancos europeus, perda de 50% do seu valor, ou a crise financeira da Eurozona poderá causa algo parecido com 2008. Há mais de 1 trilhão de dívida para rolar. E isso, por enquanto, sem contar a Espanha.

E o que resta? O FMI, dizia a Eurozona nesta semana. Com a ajuda dos países fora do bloco. Se não confiam em nós, que confiem no fundo...

Só que o FMI, em plena crise existencial neste momento, saiu por aí a pedir recursos - madame Christine Lagarde veio passar a bolsa até no Brasil e, acreditem, na América do Sul - nesta semana sem muito sucesso.

A posição dos G-20 não mudou, que os governos da Eurozona se entendam, que assumam a dívida mesmo que isso implique em imprimir euros, e depois voltem para conversar.

Só que até agora só não vieram o que aumenta a febre que começa a contaminar o sistema financeiro internacional socorrido agora pela fina mangueira dos bancos centrais... Ufa!

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