quinta-feira, novembro 24, 2011

Serra e o PT - JANIO DE FREITAS


FOLHA DE SP - 24/11/11

Recusar prévias é negar aos que terão representantes o direito de escolhê-los de acordo com critérios seus


A recusa a prévias nos seus partidos, para escolha de candidatos a prefeitos nas eleições do ano que vem, tira do desprezo mútuo para a fraternidade de ideias o declarado social-democrata José Serra e o presidente do PT, Rui Falcão.

É bastante óbvio que a recusa de Serra a prévias no PSDB não pode convencer com a alegada "falta de candidato viável" no partido.

A alegação começa por não ficar bem para o próprio Serra. Prefeito da capital e em seguida governador de São Paulo até o ano passado, foi muito tempo de poder político e comando local do partido para que Serra, em vez de fortalecer o PSDB, deixasse-o desprovido até de um único correligionário em condições "viáveis" de disputar a prefeitura da capital. É o que está dito pelo próprio Serra.

Não só, porém. Sua proposta é a de que o PSDB, dispensada a prévia, atrele-se ao PSD de Kassab e à candidatura de Guilherme Afif Domingues. Aí, sim, está a origem da recusa à prévia no PSDB.

A opinião de Serra sobre seus companheiros de partido não é suficiente para retirar de vários deles a intenção de candidatar-se, e a muitos mais a disposição de apoiar um pretendente. Nestas condições, a improbabilidade de que a prévia do PSDB adotasse Afif é maior que a criatividade de Serra. Logo, se a prévia se opõe a Serra-Kassab-Afif, Serra se opõe à prévia.

Quem queira ir adiante nesta senda tem à disposição fatos e hipóteses bastantes para possível ligação entre a atitude de Serra e a eleição presidencial de 2014. Para a qual o PSDB de hoje olha com os olhos de Aécio Neves e Serra poderá ver, amanhã, com um olhar de PSD. Quando se diz "o PSD de Kassab", talvez se devesse dizer, e alguns querem mesmo dizer, "o PSD de Serra-Kassab".

Por seu lado, Rui Falcão tinha jantar marcado ontem com a prefeita de Fortaleza, Luiziane Lins, levado por objetivo bem definido: tentar demovê-la das prévias para indicar a candidatura petista à sua sucessão na prefeitura. O argumento da cúpula petista não brilha mais que o de Serra. É que, havendo mais de um pretendente, "a disputa em prévia divide o partido".

Nos dois casos simbólicos, é o espírito do autoritarismo fugindo do seu casulo. Prévias partidárias são eleições diretas, não mais do que isso. Recusá-las é negar aos que terão representantes, dirigentes ou governantes o direito de escolhê-los em conformidade com critérios seus.

E em lugar desse direito impingir, por qualquer tipo de força, o domínio autoritário de alguém ou de um grupo. É um golpe branco aplicado por pequena minoria contra a maioria.

Em suas origens, o PSDB e o PT propunham-se a ser democracias partidárias. Os peessedebistas chegaram a adotar o rodízio dos presidentes em prazos curtos, três meses no início.

O PT definiria decisões sempre em assembleias e por maioria. Não tardou a que, das origens, só restassem palavras. Algumas.

As convicções democráticas são mais falsificáveis do que os interesses e os oportunismos, ambos nos seus sentidos mais deploráveis.

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