terça-feira, novembro 29, 2011

Saiu de moda - ALON FEURWERKER



Correio Braziliense - 29/11/2011


Todo mundo acha lindo estimular a consciência ambiental, mas todo mundo quer mais energia, mais matéria-prima, mais comida. E não dá para condenar. Você, que condena, está disposto a andar para trás se isso for indispensável a que outros possam ir adiante?



A cúpula sobre mudanças climáticas em Durban, África do Sul, acontece num momento ingrato. Se o alerta sobre os efeitos do aquecimento global eclodiu anos atrás num período de bonança, o debate agora se dá em meio à ameaça de estagnação global prolongada, uma curva em "U".

E os mais pessimistas arriscam dizer que será em "L", sem data para voltar a subir a ladeira. Um modelo japonês.

De três anos para cá o mundo passou a preocupar-se mais com o crescimento e o emprego do que com a elevação da temperatura do planeta e os efeitos nocivos.

Pois há os não tão nocivos. Os russos e canadenses, por exemplo, devem estar loucos para aquelas terras todas descongelarem e virarem plantações.

As dúvidas científicas jogam um papel, mas menor. Os céticos do clima não estão com essa bola toda.

O xis do problema aparece na falta de horizontes para o combate radical à pobreza e na falta de oportunidades suficientes para quem mais precisa delas.

Ninguém diz, na real, como fazer as duas coisas ao mesmo tempo. 1) Crescer e combater fortemente a pobreza e 2) reduzir a emissão de CO2 e congêneres.

O tempo foi passando e a luta contra o aquecimento global foi ficando com cara de coisa de quem já tem tudo e propõe que quem não tem nada continue sem ter.

Sem falar na realidade que mudou.

Quando surgiu a onda, o crescimento chinês era apontado pela militância como paradigma do que não fazer, como caminho a combater, pela subordinação das variáveis ambientais às econômicas.

Hoje, o mundo se preocupa ao contrário. Teme que a desaceleração chinesa resulte, com a estagnação europeia e a lentidão americana para decolar, em soma vetorial desastrosa.

A agenda virou do avesso. No Brasil, a fúria mercadológica do etanol ficou na poeira. Pois o mercado mundial para biocombustíveis micou.

Da invencível armada da cana sobrou a fatura, com produtores atrás de garantias para produzir e o governo atrás de garantias de que produzam.

A conta, naturalmente, restará para o contribuinte. O novo proálcool terá o destino do velho.

E agora só se fala no petróleo do pré-sal, cuja extração, aliás, produz bem mais gases do efeito-estufa, dizem. E ninguém está nem aí.

Pode até dar uma vazadinha, a turma fará algum barulho, mas no fim vai ficar por isso mesmo.

Proponha suspender a retirada do petróleo sob a camada de sal, para ajudar a salvar o planeta, e candidate-se a uma vaga na galeria dos folclóricos, dos lunáticos.

Ou dos traidores da pátria.

Epíteto que um dia foi aplicado a quem duvidava do "projeto etanol". Pois o impatriotismo é um rótulo sempre à disposição de governos que precisam justificar o que fazem.

Os otimistas apostam num novo Kyoto, desta vez subscrito por todos, inclusive por nós.

O realismo adverte que, se acontecer, será suficientemente vago e flexível para acomodar interesses antagônicos, oferecer uma photo-op aos protagonistas e resultar em efeito prático nenhum.

Mais ou menos como o primeiro.

A coordenação global contra as mudanças climáticas esbarra numa barreira até agora intransponível.

Para abrir espaço ao crescimento das emissões nos países que vêm atrás, os que vão na frente precisariam não apenas desacelerar, mas reduzir em valores absolutos.

Um impasse político insolúvel, pois quem já saboreia os confortos da civilização não abrirá mão. No máximo engrossará correntes bem intecionadas, propagandísticas.

Para polir a imagem, sempre bom.

Todo mundo acha lindo estimular a consciência ambiental, mas todo mundo quer mais energia, mais matéria-prima, mais comida.

E não dá para condenar. Você, que condena, está disposto a andar para trás se isso for indispensável a que outros possam ir adiante?

Desespero
As Farc começaram a executar reféns.

Já os presidentes da Colômbia e da Venezuela transformaram-se em amigos de infância. Sob aplausos brasileiros e americanos.

O isolamento aumenta muito a tendência ao desespero. E o desespero costuma ser péssimo conselheiro.

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