terça-feira, novembro 22, 2011

Mudar a política externa - RUBENS BARBOSA



O Globo - 22/11/2011


Convidado pelo Centro de Pensamento Estratégico da Colômbia, importante fórum de debates entre governo, setor privado e universidade criado pelo Ministério das Relações Exteriores daquele país, participei, em Bogotá, na semana passada, de encontro promovido pela Cátedra Ásia-Pacífico para discutir as percepções e políticas do Brasil em relação a esse continente.

Em minha apresentação, ressaltei a prioridade que o governo brasileiro vem dando à Ásia nos últimos dez anos, no contexto da política Sul-Sul. Chamei também a atenção para as medidas que foram tomadas para ampliar a cooperação com a Asean (Associação dos Países do Leste da Ásia) e para os efeitos da crescente influência, particularmente da China, sobre a economia e a política externa brasileiras.

Em uma década, a Ásia tornou-se a principal parceira do Brasil, superando a União Europeia e a América Latina.

As nossas dinâmicas relações com a China estão trazendo oportunidades e desafios que terão de ser respondidos, não com improvisações, mas a partir de uma visão estratégica de médio e longo prazos. As exportações de produtos agrícolas e de minérios deverão continuar a crescer. E a gradual substituição de produtos industriais brasileiros por produtos importados da China poderá acentuar a queda da participação da indústria no nosso PIB. A tendência da concentração das exportações em poucos produtos primários e a desindustrialização, se no curto prazo não forem enfrentadas com políticas efetivas, poderão reduzir o Brasil à categoria de simples produtor de commodities e nossa indústria, ao mercado doméstico.

Os efeitos negativos da reprimarização das exportações e o desaparecimento de setores industriais pela competição com produtos chineses começam a ser sentidos também nos demais países da região. À luz dessas realidades, o Brasil precisa repensar a visão que temos da parceria com nossos vizinhos. A América do Sul está dividida, dificultando a busca de convergências políticas e comerciais. O crescimento do intercâmbio comercial, apesar da paralisia das negociações para aumentar as trocas entre os países sul-americanos, faz com que se acentue a percepção de que a integração regional não é mais necessária.

O crescimento da economia brasileira e a presença cada vez mais visível de empresas brasileiras nos países vizinhos despertam sentimentos contraditórios. Alguns deles vêem o Brasil como uma ameaça à sua soberania e sua economia. Essa percepção vem propiciando movimentos centrípetos, a formação de coalizões e medidas restritivas ilegais, que, na realidade, são claros contrapesos à crescente importância regional do Brasil.

Como o Brasil reagirá a essa visão desconfiada de nossos vizinhos? Em termos da integração econômico-comercial, a meu ver, o Brasil deveria aprofundar os acordos comerciais com todos os países da região, oferecendo a abertura completa de nosso mercado, com regras de origem claras e rígidas, e acelerar a execução de projetos de infraestrutura - rodovias, ferrovias e melhoria das facilidades portuárias - que facilitem o acesso de produtos brasileiros ao mercado asiático pelos portos do Pacífico .

As dificuldades que os países sul-americanos enfrentarão para exportar produtos não agrícolas ou minerais para os mercados europeu e americano, em virtude da presença da China como produtora industrial global, tenderá a criar nos próximos 15 a 20 anos uma dependência crescente das economias da região em relação ao mercado brasileiro.

Por tudo isso, o mundo sinocêntrico deverá obrigar o Brasil a redefinir sua política externa na região, em especial no tocante ao processo de integração regional, com ênfase na integração física, e a reduzir os custos internos (taxa de juro, energia, impostos, infraestrutura) para aumentar a competitividade da economia com vistas a recuperar o dinamismo, o crescimento e a modernização da indústria nacional.

O pensamento estratégico deve antecipar os acontecimentos e acelerar sua ocorrência. Chegou a hora de pensar mais no interesse nacional do que em parcerias estratégicas e politicas de generosidade.

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