domingo, novembro 13, 2011

ELIO GASPARI - Os amigos do mico do PanAmericano


Os amigos do mico do PanAmericano
ELIO GASPARI
FOLHA DE SP - 13/11/11

O banco de Silvio Santos foi saqueado e agora se começa a saber como a CEF comprou metade de um rombo
Todos os malfeitos dos seis ministros varridos na faxina da doutora Dilma não somam os R$ 4,3 bilhões do buraco do Banco PanAmericano. Em dezembro de 2009 o comissariado da Caixa Econômica comprou por R$ 739 milhões metade desse negócio, então pertencente ao empresário Silvio Santos. À época, tudo parecia nos conformes. O Banco Central autorizou a operação, e as contas haviam sido auditadas pela KPMG e pela Deloitte.
Em agosto de 2010 o BC sentiu cheiro de queimado e, dois meses depois, chamou a Polícia Federal. Desde 2007 os diretores do PanAmericano simplesmente vendiam carteiras de crédito sem retirar esses valores de seus balanços. Para começar, um rombo de R$ 2,5 bilhões. A Caixa comprara metade de um mico.
Havia de tudo, dezenas de milhões em bônus dissimulados, casas em Miami e até caixas de dinheiro em porta-malas de carro. Graças à PF sabe-se que há mais. Em 2009, o ex-comissário Luiz Gushiken tinha tratativas com a casa. Nesse ano, o braço direito de Silvio Santos dizia que "ficou de boca aberta" ao saber quem eram os "amigos" que ajudariam a enfiar a Caixa no buraco. Amigos, o banco tinha. Em dezembro de 2006, com Lula já reeleito, seus diretores, valendo-se de empresas próprias, doaram legalmente R$ 500 mil à sua campanha.
Em janeiro de 2010, semanas depois da entrada da Caixa no banco, os diretores recebiam pedidos para nomear amigos do governo. Num e-mail, o presidente Rafael Palladino narrou sugestões para que se aninhasse no PanAmericano o companheiro Demian Fiocca, ex-presidente do BNDES. A essa altura, a explosão do banco era iminente, mas doaram, "na moita", por meio de outra empresa, R$ 300 mil para o Diretório Nacional do PT. Na mesma época, o PanAmericano passou ao tucanato R$ 954 mil. Numa operação escrachada, pagou contas de campanha do governador Teotônio Vilela.
Em agosto de 2010 o Banco Central achou o rombo, no dia 22 de setembro Silvio Santos esteve com Lula e em outubro chamou-se a polícia.
O PanAmericano mudou de dono, Silvio Santos saiu do negócio, os ex-diretores estão indiciados em inquérito, o contador está colaborando com as investigações e os computadores apreendidos pela PF têm mais a contar.

MICROONDAS
Criou-se o Padrão Rousseff de Fritura de Ministros. A doutora Dilma finge que não tira, e o ministro finge que não sai.

REALEZA
O tucanato organizou um seminário intitulado "A nova agenda". No seu primeiro painel, dedicado a temas econômicos, juntou três presidentes do Banco Central durante o governo de FHC -Armínio Fraga, Persio Arida e Gustavo Franco- mais Armando Castelar, ex-diretor do BNDES.
O único nome novo era o da coordenadora da mesa, a economista Monica Baumgarten de Bolle, que em 2001 concluía seu doutorado na London School of Economics.
Os tucanos procuram uma nova agenda só pelo retrovisor. A reunião permite imaginar dois paralelos improváveis:
1) Para evitar a reeleição do companheiro Obama, o Partido Republicano faz um seminário abrilhantado por George Bush, com palestras de Alan Greenspan (ex-presidente do banco central), Henry Paulson (ex-secretário do Tesouro) e a ilustre presença de John McCain, o candidato derrotado em 2008.
2) O governo de FHC terminou há nove anos. Em 1898, d. Pedro 2º já se fora, Campos Salles assumira o Palácio do Catete e já teriam passado pela Presidência Deodoro da Fonseca, Floriano Peixoto e Prudente de Moraes. Numa outra reunião de notáveis, organizada no castelo da princesa Isabel, falariam três ex-ministros da Fazenda de seu pai: o Visconde de Ouro Preto, Gaspar da Silveira Martins e o marquês de Paranaguá.

RECORDAR É VIVER
Na próxima semana realiza-se a eleição do Diretório Central dos Estudantes da USP. Três chapas disputam a entidade. Uma, da situação, é associada ao PSOL. Outra, à esquerda, junta movimentos como o da Liga da Quarta Internacional e o Partido da Causa Operária. Uma terceira, a "Reação," quer a PM na USP. Em 1963, a aliança dos universitários da esquerda católica com os comunistas garantia a vitória da situação na eleição da União Metropolitana dos Estudantes. A disputa parecia estar entre a chapa que simpatizava com a União Soviética, e a dos admiradores das linhas chinesa e cubana. Primeira surpresa: as duas perderam, e ganhou aquilo que se supunha ser a direita. Segunda surpresa: o presidente eleito era simplesmente um homem de bem e manteve a UME longe da ditadura. Chamava-se Osiris Lopes Filho, veio a ser secretário da Receita Federal e exemplo de honradez no serviço público.

EREMILDO, O IDIOTA
Eremildo é um idiota e pretende lançar um derivativo capaz de recuperar as economias europeias, salvando as finanças do mundo. É o Título do Trem-Bala, ou TTB. Ele acompanha a valorização da obra planejada pelos sábios do Planalto e pela Agência Nacional de Transportes Terrestres. Em abril de 2008, segundo Lula, o trem iria até Campinas e custaria US$ 9 bilhões.
A ANTT acaba de informar que o trem deverá custar pelo menos US$ 21 bilhões. Em menos de quatro anos, o TTB valorizou-se 133%. O idiota não sabe quem resgatará seus títulos, mas conversará com o doutor Bernardo Figueiredo, diretor-geral da ANTT. Pedirá que ele leve o caso à Viúva.

LULA E A COMPANHEIRA CONDOLEEZZA RICE
Nosso Guia ficou bem na foto do segundo volume da memórias de Condoleezza Rice, a secretária de Estado de George Bush. Ela conta que Nosso Guia conseguiu estabelecer uma "relação próxima" com seu chefe, quando os dois se encontraram, em dezembro de 2002. A "química" veio do jeitão do brasileiro e de "um brilho cativante" que a professora viu nos seus olhos. Rice lembra que Lula era um "esquerdista", visto com desconfiança no mundo dos negócios "e na Casa Branca". A única coisa com que Bush encrencou foi o pequeno broche com a estrela do PT na lapela de Nosso Guia: "Ele devia usar a bandeira brasileira". Empossado, Lula dispensou o enfeite.
As memórias de Rice na Casa Branca mostram o que é uma assessora fiel e, talvez por isso, sejam pedestres. Ela contou suas impressões da viagem que fez a Pindorama em 2005, quando encantou-se pela Bahia. Vale ouvi-la:
"Durante a visita eu me surpreendi com a divisão racial no Brasil. Os brasileiros sempre sustentaram que não têm problema racial. Pareceu-me que nos serviços braçais ficam os africanos (com a pele escura); nos serviços, os mulatos (birraciais); e os funcionários do governo têm ascendência europeia/portuguesa. O Brasil foi o país mais parecido com os Estados Unidos na sua composição étnica, mas parece ter tirado pouco proveito da revolução pelos direitos civis que mudou a face da política e da sociedade americanas."

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