quarta-feira, novembro 02, 2011

ALON FEURWERKER - Será diferente?


Será diferente?
ALON FEURWERKER 
CORREIO BRAZILIENSE - 02/11/11

E agora vem o G-20. Mais uma reunião do G-20. Aquele grupo de países que iriam — lembram-se? — concretizar a multipolaridade planetária na esfera econômica e provar que a coordenação supranacional é o caminho da salvação

A reunião do G-20 vai trazer fortes emoções, com a corrosão do apoio político interno na Grécia a um ajuste capaz de reequilibrar a economia daquele país. A Europa vem tentando fazer sua parte, mas arrisca perder o controle da situação.

A Europa obrigou os bancos a engolirem o deságio de metade do valor de face da dívida grega. A União Europeia mostrou que tem líderes e que os contratos não são religião, cumpri-los não é dogma.

Mas o cenário político grego parece frágil demais para ajudar na estabilização. Como quando alguém está se afogando e quem vai salvar corre o risco de ir junto para o fundo. É um jogo perigosíssimo.

A Europa não pode deixar a Grécia sucumbir, e talvez os gregos acreditem que podem conseguir mais. Pois mesmo com metade da dívida perdoada o serviço do resto vai pesar sobre os ombros helênicos.

Fartaram-se no banquete e esperam ficar fora do rateio da conta.

Esse é um problema prático imediato. Outro detalhe preocupante são os vasos que propagam a desaceleração global. O economista Nouriel Roubini apitou ontem no Twitter: os emergentes não estão imunizados contra a crise e sentem o breque na economia.

No nosso caso, nem precisava advertir. Os últimos números da indústria brasileira, por exemplo, são muito ruins. Uma parada generalizada. Uma estagnação que se propaga pelos diversos ramos.

No acumulado, até agora o chamado setor secundário não se recuperou da “marolinha”. E que “marolinha”, hein?

O governo brasileiro tinha uma estratégia esperta para lidar com a crise de 2008/09. Atacar e culpar os países ricos, e esperar quietinho que as providências deles resolvessem nossos problemas por tabela. O melhor dos mundos.

O raciocínio na Esplanada era reto: uma hora os Estados Unidos e a Europa vão ter que descobrir o caminho de saída do buraco, e quando saírem, nós saímos junto. O ufanismo de boca acoplado ao reboquismo na vida prática.

Tanto que maiores providências só foram tomadas mais de dois anos depois, com medidas protecionistas e afrouxamento da política monetária.

Ao ilusório livrecomercismo (quem ainda se lembra da Rodada Doha?) e ao irracional aperto monetário bancados por Luiz Inácio Lula da Silva naquele momento decisivo, Dilma precisa, com atraso, contrapor o protecionismo e a queda forçada dos juros em cenário inflacionário não tão bom.

Precisa lidar com uma herança maldita.
E agora vem o G-20. Mais uma reunião do G-20. Aquele grupo de países que iriam — lembram-se? — concretizar a multipolaridade planetária na esfera econômica e provar que a coordenação supranacional é o caminho da salvação.

Até o momento, não aconteceu nada, mas não custa ter fé. Talvez ela remova essa montanha.

Como de hábito, haverá discursos em profusão e recriminações professorais. Com o Brasil certamente em posição de destaque no plano retórico e na função de palmatória do mundo, uma especialidade recente nossa.

Mas, em termos práticos, o que fazer? Ou, em miúdos, quem vai pagar essa conta? Que contribuintes? Que acionistas? Que consumidores? É disso que se trata.

O melhor cenário seria uma saída em ordem, mas é difícil. Pois é improvável que o balanço das perdas possa ser decidido na mesa de negociações. A humanidade costuma resolver esses impasses de um modo mais cruento. Será diferente desta vez?

Boa parte da prosperidade mundial era fictícia e chegou a hora de cair na real.

Fora os que sempre dão um jeito de sair ganhando, para a maioria da humanidade a vida reserva a destruição maciça da riqueza imaginária. E bem quando os governos já esticam a língua para tentar capturar um restinho de oxigênio.

Não está fácil para ninguém.
A História conta que encrencas assim costumam ser resolvidas na base da força, dentro de cada país e entre as nações. Em geral, os colóquios apenas chancelam esse balanço de vetores objetivos.

Repito a pergunta. Será diferente desta vez?

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