terça-feira, outubro 18, 2011

NIZAN GUANAES - A jovem era das revoluções


A jovem era das revoluções 
NIZAN GUANAES
FOLHA DE SP - 18/10/11

A era das revoluções que estamos inaugurando promete muito menos sangue e poluição
Atenção! Se o seu filho, como os meus, frequentemente não escuta o que você diz e vive de cabeça baixa, batucando os dedos freneticamente no smartphone, ele pode estar tramando uma revolução.

Basta isso, um cantinho e uma conexão. Que as revoluções virão. Já estão vindo.

Sintomaticamente, começaram no mundo árabe, uma região sufocada e amordaçada durante décadas por tiranias que pareciam inexpugnáveis, mas que desmancharam rapidamente diante do novo poder popular de informação e de mobilização.

É um poder pulverizado por jovens digitalizados que muitas vezes, sozinhos de suas casas, colocam batalhões de ativistas nas ruas para enfrentarem tanques e baionetas nada virtuais. Os jovens foram da frente da TV, uma janela com grades, para a frente da janela da web, enorme, escancarada. Nesse movimento, ganharam voz e ouvidos, ganharam dentes.

A internet é de todos e para todos, mas os jovens a dominam porque a criam e são criados por ela. Eles têm DNA digital. Agora as chances de suas ideias encontrarem eco e tração são muito maiores. O poder é jovem como nunca foi antes.

É notável a ausência de partidos políticos ou grupos organizados tradicionais, como igrejas e sindicatos, envolvidos na mobilização de milhares de pessoas em mais de 950 cidades de 82 países no último sábado, uma "hola" global de protestos derivativa do movimento Ocupe Wall Street, de Nova Iorque.

Não há uma estrutura tradicional, mas uma ideia por trás dessa onda, a de que os modelos político e econômico não estão funcionando bem e que a correção necessária só virá com protestos de rua.

Concorde-se ou não com suas bandeiras, essa "hola" global é um marco histórico de organização popular horizontal, transnacional, digital e jovem. É uma prova cabal da erosão de fronteiras e outras inibições.

E é só o começo. Ou melhor, é só o começo do começo. Estou em Paris para o 7º Fórum da Juventude da Unesco, a organização da ONU para a educação, a ciência e a cultura, da qual fui nomeado embaixador da Boa Vontade neste ano com meus amigos Vik Muniz e Oskar Metzavaht.

A sede da Unesco em Paris ferve com a emergência jovem. Essa organização respeitada e tradicional tem, como nenhuma outra, capacidade de apoiar e inspirar os jovens, reunindo representantes de dezenas de países e culturas para compartilhar experiências.

Todos devem participar dessa discussão. Ela é global e aberta (www.unesco.org). Estarão em Paris 250 delegados jovens dos 193 países-membros e mais de 250 observadores da sociedade civil. Precisamos entender como eles conduzirão as mudanças no mundo e facilitar essas transformações.

É preciso lembrar que, em vários países, os jovens já começaram a mudar o mundo começando por mudar o seu próprio mundo. Eles estão usando armas como telefones celulares, câmaras digitais e redes sociais.

Essas armas transformaram protestos por democracia em revoluções populares. E ajudam a organizar campanhas por direitos humanos, por melhorias na educação e contra a corrupção.
Com o poder digital, o poder local vira global.

Qualquer um, de sua casa, pode participar dos fluxos ilimitados e incessantes que definem o nosso mundo contemporâneo: o fluxo de informações, de pessoas, de produtos. É um fluxo global, transformador, que derruba todas as barreiras à frente.

A era das revoluções foi um termo usado para definir o período de movimentos tectônicos como a Revolução Francesa e a Revolução Industrial, que mudaram o mundo antigo e moldaram a modernidade.

Vivemos no pós-moderno, no pós-tudo, que justamente por isso é pré-tudo. A era das revoluções que estamos inaugurando promete muito menos sangue e poluição. Seus motes são a colaboração, o respeito ao ser humano e ao ambiente.

Mesmo em meio ao pessimismo que vigora aqui no hemisfério Norte, há razões para otimismo.

O fluxo será mais forte que o refluxo da crise econômica.

Publicitário e presidente do Grupo ABC

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