segunda-feira, agosto 15, 2011

LEONARDO ATTUCH - Será que Lula quer perder?

Será que Lula quer perder? 
LEONARDO ATTUCH
REVISTA ISTO É
Os números das pesquisas internas do PT para a disputa municipal de São Paulo são cristalinos: Marta Suplicy tem 30%, o tucano José Serra aparece com 23% e Gabriel Chalita, do PMDB, é o terceiro, com cerca de 6%. Além disso, a rejeição a Marta diminuiu, enquanto a de Serra cresceu, em razão das feridas abertas pelo estilo da sua campanha presidencial de 2010. O que significa que o PT, goste-se ou não do partido ou da sua candidata natural, tem chances reais de reconquistar o comando da cidade mais rica do País.

Diante disso, chega a ser surpreendente - e também acintosa - a movimentação do ex-presidente Lula em favor de uma candidatura, a do neófito Fernando Haddad, que se move como um clandestino nas pesquisas, sob o argumento de que São Paulo, saturada da polarização entre Serra e Marta, precisa do "novo". Qual é a lógica? Será que Lula joga a favor ou contra o seu partido? Ele pretende ganhar ou perder a eleição em São Paulo?

Perder? Mas como assim? Pois o fato é que existe hoje uma única disputa relevante na política brasileira, que já não tem mais oposição. Ela se dá entre o criador e a criatura, ou seja, entre Lula e Dilma. E a grande dúvida é: quem será o candidato em 2014? Ele ou ela? É nesse jogo que se insere a disputa municipal de 2012 em São Paulo, onde uma eventual vitória de Marta Suplicy seria um pilar importante para a reeleição de Dilma.

No partido, ninguém ousa enfrentar o ex-presidente abertamente. Mas o que é bom para Lula não necessariamente é bom para o PT. Ele já mostrou sua capacidade política ao fazer de uma até então desconhecida tecnocrata presidente da República. Mas isso não significa que a mágica se repetiria com Haddad, que também tem vulnerabilidades, como os erros do Enem e dos livros didáticos. Além disso, nem todas as ideias de Lula são geniais. Basta lembrar que ele tentou emplacar Ciro Gomes como candidato ao governo de São Paulo.
Lula se preocupa com um único dado: seu futuro político. Mesmo que, para isso, tenha que esmagar seus antigos aliados.

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