quinta-feira, agosto 25, 2011

DENISE ROTHENBURG - O carregador da estrela


O carregador da estrela
DENISE ROTHENBURG
Correio Braziliense - 25/08/2011

Nas entrelinhas Lula enxerga longe. Trabalha dia e noite de forma a não permitir que as eleições municipais deixem o PSB ou o PMDB magoados como o PT ao ponto de se atirarem nos braços de Aécio Neves em 2014


Nas conversas mais reservadas em todos os partidos de dentro e de fora do governo, a conclusão sobre os últimos movimentos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é uma só: ele tem que permanecer na ribalta porque, sem Lula, o PT se acaba. Os próprios petistas dizem que só conseguem a unidade graças ao ex-presidente. E nunca se discutiu tanto a próxima eleição presidencial num primeiro ano de mandato como agora. E tudo porque Lula está no páreo, uma vez que os adversários — os tucanos Aécio Neves, José Serra e Geraldo Alckmin — estão quietos, esperando o que vai ocorrer na base governista.

E, por falar em base governista, ali, Lula interfere em tudo. Ou quase tudo. Ontem, por exemplo, foi um parto arranjar um presidente para a Comissão Especial que vai avaliar o novo Código de Processo Civil (CPC). Queriam um nome que não tivesse nada que explicar e que pudesse ficar no lugar do deputado João Paulo Cunha (PT-SP), réu do mensalão. Optaram por Sérgio Barradas Carneiro (PT-BA), na esperança de que ele desista de concorrer à vaga de ministro de Tribunal de Contas da União (TCU). Carneiro terminou com a relatoria porque é suplente de deputado e, portanto, não poderia presidir a comissão especial do CPC. Carneiro diz que não vai desistir do TCU. Afinal, diz que sua candidatura obedece aos princípios constitucionais do artigo 73, que fala dos requisitos necessários para quem deseja compor aquela Corte, como experiência na área jurídica e administrativa.

Lula não interferiu diretamente na escolha de Barradas Carneiro, mas, no PT, há quem diga que ele bem avisou sobre as pretensões de João Paulo Cunha e o desgaste que isso poderia trazer para o partido. João Paulo é presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, um palanque de primeira linha, e já foi desgastante para o PT nomeá-lo. Portanto, Lula considerou que "o companheiro João Paulo" não precisaria de outro lugar para aparecer. A própria presidente Dilma entrou também nessa tarefa de pedir a João Paulo que avaliasse ficar fora da presidência da comissão.

Mas, voltemos a Lula: o ex-presidente tem rodado o país, preparando o partido para as eleições municipais. E já percebeu que o PT não está com essa bola toda para "bombar" nas três principais capitais do país. À exceção de São Paulo — onde o ex-presidente tenta refrigerar o partido carregando o ministro Fernando Haddad por todas as panificadoras paulistanas que passam pela sua cabeça —, o PT não tem nomes capazes de surpreender o eleitor de forma positiva. Lula está convicto de que Marta Suplicy não ultrapassa a sua marca e que, se o PT quiser fazer bonito contra os tucanos, tem que chegar com algo novo e confiar no "taco" do seu maior líder, ele próprio.

No Rio de Janeiro e em Belo Horizonte, o PT está fadado a segurar os aliados. Na capital mineira, baixou a ordem de apoio a Márcio Lacerda (PSB), de forma a não deixar o socialista livre para voar ao lado de Aécio Neves. Também pediu votos para Ana Arraes (PSB-PE), a deputada mãe do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, presidente do PSB. Ela é uma das candidatas a ministra do TCU. No Rio, o ex-presidente também já avisou que não tem conversa que não seja apoiar Eduardo Paes, do PMDB.

Lula enxerga longe. Trabalha para não permitir que as eleições municipais deixem o PSB ou o PMDB magoados como PT ao ponto de se atirarem nos braços de Aécio Neves em 2014. Seja para si próprio ou para Dilma, Lula quer os petistas bem colocados com os aliados. Esse apoio no Rio e em Belo Horizonte tem um preço: deixar que o PT indique os vices nas duas chapas. Assim, Lula espera preparar o seu partido para ganhar essas prefeituras em 2018. Ih! Aí, Lula foi longe mesmo. Mas ele é assim. Começou a preparar Dilma Rousseff dois anos antes para ser presidente. Só falta ele arranjar quem o substitua no papel de carregador da estrela do PT. Esse, ainda não surgiu.

Enquanto isso, no rame-rame dos cargos...
O líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), já acertou a indicação do procurador da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Marcelo Bechara, para a vaga de diretor aberta com a saída de Antonio Bedran. O PMDB, como todos sabem, não dorme no ponto. Resta saber se o PT vai concordar. afinal, se tem uma coisa que tem incomodado o governo, é a briguinha de bastidores pelos cargos que, às vezes, chega aos jornais, como o caso do PR de Alfredo Nascimento e o do PP de Mário Negromonte, o ministro das Cidades que hoje balança muito mais que o do Turismo, Pedro Novais.

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