terça-feira, agosto 30, 2011

BENJAMIN STEINBRUCH - Investir no Brasil

Investir no Brasil
BENJAMIN STEINBRUCH 
FOLHA DE SP - 30/08/11

O Brasil, que passou quase ileso pela crise de 2008/9, tem tudo para se sair bem novamente nesta


Algumas ações de boas empresas brasileiras estão com valor de liquidação, segundo a maioria dos analistas. Grandes companhias, donas de ativos altamente rentáveis, perderam mais de 10% de seu valor de mercado de janeiro no decorrer do primeiro semestre.
É sempre difícil dar palpites em investimentos alheios. Tudo depende do sentimento pessoal de cada investidor, de suas premonições e de suas crenças. Mas, sem dúvida, a queda da Bolsa no Brasil, de quase 25% em 2011 e de 10% neste mês, têm pouco a ver com a economia e com as empresas brasileiras.
Os dados macroeconômicos do país são positivos, em que pese o desaquecimento da produção industrial e das vendas no comércio verificado nos últimos meses. A inflação está contida, a contratação de mão de obra continua, embora em ritmo menor, o comportamento fiscal do governo não inspira desconfiança e tudo indica que o PIB crescerá cerca de 4% neste ano.
Além disso, na área externa, as reservas cambiais de US$ 350 bilhões, mesmo levando em conta os problemas decorrentes da valorização cambial, representam vigorosa barreira para impedir impactos mais fortes de desajustes externos na economia doméstica. Sem esse seguro representado pelas reservas, as contas externas estariam perigosamente expostas, como já estiveram no passado recente.
Por sua vez, as empresas brasileiras estão em boa situação financeira, talvez melhor do que estavam no início da crise de 2008/9. Os balanços do primeiro semestre mostram que 15 grandes companhias brasileiras com ações negociadas em Bolsa tiveram crescimento de 40% nos lucros líquidos quando comparados com o mesmo período do ano passado, segundo dados da consultoria Economática.
A percepção de que o Brasil vai bem, em meio a essa nova perna da crise global, não advém de brasileiros nacionalistas xenófobos. Lá fora, há até mais entusiasmo em relação ao país. Os grandes números sobre investimento direto (IED) mostram isso. Nos últimos 12 meses, o IED total que ingressou no país alcançou US$ 72 bilhões.
A olho nu, podem-se enxergar seguidos casos de empresas estrangeiras que anunciam investimentos e buscam a compra de ativos em diversos setores, desde os de infraestrutura até de consumo e de agronegócios. Empresas chinesas, norte-americanas, coreanas, japonesas, argentinas e outras de várias nacionalidades buscam oportunidades de investir por aqui.
O protagonismo do Brasil pode ser medido também por outras manifestações externas, como a indicação da presidente Dilma em terceiro lugar entre as mulheres mais poderosas do mundo, depois da chanceler alemã, Angela Merkel, e da secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton.
A presidente, há oito meses no cargo, ainda não teve exposição pessoal externa muito grande. Essa escolha, portanto, comprova a emergência econômica brasileira.
Sabe-se, tanto aqui quanto lá fora, que o Brasil apresenta excelentes oportunidades de negócios, independentemente do comportamento da economia global.
Essa percepção decorre do enorme mercado interno brasileiro e das chances de ampliar a produção em setores cuja demanda mundial continuará relativamente firme, como o de commodities em geral e o de petróleo, em particular.
E o Brasil, que passou praticamente ileso pela crise de 2008/9, tem tudo para se sair bem novamente nesta. Precisa, é claro, fazer as lições de casa, como fez na outra: preservar o crédito, estimular o consumo interno e desonerar a produção de itens estratégicos de consumo.
Nossa preocupação fundamental será sempre gerar empregos, sem o que não há como melhorar o nível de vida dos brasileiros. Nesse item, o país continua bem. O índice de desemprego de julho, de 6%, é um dos mais baixos do mundo e o melhor desde que o IBGE iniciou sua pesquisa, em 2002.
Feitas as lições de casa, portanto, não há razão objetiva que justifique um comportamento de pânico dos investidores em relação aos ativos brasileiros.
Querem saber o que estou fazendo nesta crise? Vou lhes dizer: estou investindo no Brasil.

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