sábado, abril 09, 2011

DOM EUGENIO SALES - Processo vital

Processo vital 
DOM EUGENIO SALES

O GLOBO - 09/04/11

O Concílio Vaticano II promulgou, a 18 de novembro de 1965, um importante documento sobre a revelação divina denominado Constituição Dogmática "Dei Verbum". Ele impulsionou sobremaneira a redescoberta da Palavra de Deus na vida da Igreja, a reflexão teológica e o estudo da Sagrada Escritura. Passados 45 anos, a 30 de setembro de 2010, o santo padre Bento XVI publicou a Exortação Apostólica "Verbum Domini", fruto da 12ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, realizada em 2008.
Embora o assunto já tenha sido tratado aqui, sua importância nos permite abordá-lo em outras perspectivas e refletir sobre a grandeza da Sagrada Escritura.
A exortação apostólica "Verbum Domini" destaca na sua introdução que "nas últimas décadas, a vida eclesial aumentou a sua sensibilidade relativamente a este tema, com particular referência à revelação cristã, à tradição viva e à Sagrada Escritura. (...) houve um crescendo de intervenções visando a suscitar maior consciência da importância da Palavra de Deus e dos estudos bíblicos na vida da Igreja, que teve o seu ponto culminante no Concílio Vaticano II. E a Igreja, ciente da continuidade do seu próprio caminho sob a guia do Espírito Santo, com a celebração deste Sínodo sentiu-se chamada a aprofundar ainda mais o tema da Palavra divina" (nº 3).
A princípio, a Palavra do Senhor era transmitida apenas de viva voz, de geração em geração. A seguir, foi aos poucos consignada por escrito, donde resultou a verdadeira biblioteca sagrada, redigida no decorrer de um longo período. No limiar da era cristã, foi ela encerrada. Dentro do contexto vivo da Tradição, é regra de fé.
Deste modo afirmamos, com a Exortação, que "(...) no centro da revelação está o acontecimento de Cristo, (...) que a Palavra divina exprime-se ao longo de toda a história da salvação e tem a sua plenitude no mistério da encarnação, morte e ressurreição do Filho de Deus (...) e é transmitida na tradição viva da Igreja. Por conseguinte, a Sagrada Escritura deve ser proclamada, escutada, lida, acolhida e vivida como Palavra de Deus, no sulco da tradição apostólica de que é inseparável" (nº 7).
A boa exegese nos diz que os episódios relatados, na contextura geral da Bíblia, aparecem como tipo de outros fatos, segundo os valores definitivos. Descobrimos, portanto, que "um autêntico processo interpretativo nunca é apenas intelectual, mas também vital, que requer o pleno envolvimento na vida eclesial enquanto vida "segundo o espírito" (Gl 5,16)" (nº 38).
Impõe-se afirmar a convicção de que esse livro possui admirável atualidade e juventude. O comportamento de cada cristão afirma ou nega sua verdade, quando põe em prática ou infringe as orientações nele contidas. Um exame de consciência pode esclarecer a posição de cada um diante desse monumento da bondade de Deus.

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