domingo, março 27, 2011

LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO

A última
LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO

O GLOBO - 27/03/11

Um Lugar ao Sol é um filme dirigido por George Stevens, baseado num romance de Theodore Dreiser chamado Uma Tragédia Americana. Jovem pobre (Montgomery Clift) recebe proposta de tio rico para trabalhar na sua empresa, começando por baixo. No trabalho ele conhece moça pobre (Shelley Winters) e os dois iniciam um namoro. Convidado para uma festa na casa do tio rico o moço se sente deslocado entre os grã-finos, sem ter com quem falar. Até que atrai a atenção de outra convidada na festa, que se aproxima dele. E então a Elizabeth Taylor entra na sua vida.
O filme de Stevens, lançado em 1951, é em preto e branco. Não destaca os pontos mais comentados da beleza da atriz, então com seus 20 anos se não me falha a matemática: os faiscantes olhos violetas. Mas não há outro caso – com exceção, talvez, da primeira visão de Rita Hayworth em Gilda – de uma entrada em cena como a dela, na história do cinema. No momento em que a vê, o pobre moço está perdido. Literalmente, pois a história deles começará como romance – e raramente o cinema foi tão romântico como na descrição do amor dos dois, que incluirá um longo beijo filmado por Stevens como uma espécie de suma da paixão arrebatadora, e isso que beijo de língua era desconhecido na época – e terminará em tragédia, com a execução do 
personagem de Clift, por assassinato. Pois quando tudo parece encaminhá-lo para um mundo perfeito, o casamento com uma menina rica que, além de tudo, é a Elizabeth Taylor, a Shelley Winters lhe diz que está grávida e que ele precisa casar com ela.
E ele a mata. No livro de Dreiser, mata mesmo. No filme fica a dúvida: talvez tenha sido um acidente. Mas ele é executado.
Outra diferença entre o livro e o filme é que este atenua a crítica social do livro. Dreiser escreveu sobre a desigualdade e a angústia da ascensão social como causas da tragédia americana. No filme, sensatamente, a ameaça de perder uma mulher como Elizabeth Taylor basta como motivação para o crime. Pois de Elizabeth Taylor se pode dizer que foi a última beleza de Hollywood que justificaria qualquer coisa, inclusive assassinato. 

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