sexta-feira, fevereiro 25, 2011

BARBARA GANCIA

 Meu malvado favorito
BARBARA GANCIA
FOLHA DE SÃO PAULO - 25/02/11

Amiga minha foi entrevistar o Gaddafi e voltou dizendo que o ditador é muito do cheiroso e delicado


ALGUÉM JÁ CHEGOU a um consenso sobre o nome dele?
É Muammar Gaddafi, Moamar Khaddafi, Mu" ammar al-Qadhaffi ou será que, se a gente disser simplesmente "bucéfalo de Trípoli", as pessoas terão uma vaga ideia sobre quem se está falando?
O coronel Gaddafi é mesmo o filho de um bode desgrenhado. Parece aquele cunhado cujas mutretas todos conhecem e que, ainda assim, é convidado a batizar o novo bebê que chega à família.
Vamos tentar refrescar a memória: Muammar Lockerbie (uma das 72 grafias diferentes para o nome do ditador líbio) andou sendo nomeado presidente da comissão de direitos humanos da ONU (e a gente arrancando os cabelos porque elegeu o Tiririca. Agora conta aquela do Boutros Boutros).
O coronel também foi aplaudido recentemente quando se posicionou contra Osama Bin Laden na chamada guerra contra o terror. Isso depois de passar décadas patrocinando tudo que é sorte de termocéfalo e mercenário que se dispusesse a destruir o Ocidente.
Um dos maiores financiadores do Setembro Negro, Gaddafi deu guarida a Carlos, o Chacal, aos terroristas bascos, treinou os lunáticos do Baader-Meinhof e acolheu como filhos os membros das Brigadas Vermelhas, turma de cordeirinhos cujo único pecadilho na vida foi tentar semear o caos na Itália -e que nós, agora, somos forçados a engolir na pessoa do senhor Cesare Battisti, fugitivo da Justiça que continua aqui em vez de ir ver o sole mio nascer quadrado.
Mas veja: nota de dólar, esteja ela travestida de Aracy de Almeida, de uniforme de gala ou terninho safári do Jânio Quadros, continua sendo nota de dólar.
Nos anos 80, o conglomerado Fiat não viu nada de mais em aceitar que Gaddafi abocanhasse 15% de suas ações. Na esteira, um filho do ditador comprou, em 2002, 7,5% da Juventus de Turim (chora, Barbarica!) por US$ 20 milhões.
Na época, sua prole já andava pelo mundo quebrando narizes de modelos e a mobília dos quartos da prestigiosa cadeia Leading Hotels of the World.
Lembro-me de ter sido convidada com a maior naturalidade para um vernissage, em São Paulo, de obras do filho de Gaddafi. Quis saber se era isso mesmo: "Como assim, exposição do filho do Gaddafi? Vai ser em Presidente Bernardes?".
De que adianta discutir? O camarada vale US$ 60 bilhões. Se bobeasse, além da Juve, ainda comprava minha Vila Belmiro.
Mas sou forçada a admitir que sentirei falta do Cauby Peixoto a camelo, ou melhor, de um mundo que comporte um personagem do seu escopo. Variedade é o tempero da vida e, afinal de contas, Dick Cheney e Donald Rumsfeld continuam circulando livremente, e a Suíça, com suas vergonhosas contas secretas, segue impávida.
Amiga minha foi entrevistar Gaddafi e voltou dizendo que o ditador é muito do cheiroso e delicado. Não sei qual o perfume usado Dick Cheney, mas sou capaz de apostar um picolé de limão que a maioria volta de entrevistá-lo morrendo de sono.

Nenhum comentário: