terça-feira, janeiro 11, 2011

JANIO DE FREITAS

A resposta
JANIO DE FREITAS
FOLHA DE SÃO PAULO - 11/1/11


DE IMPORTÂNCIA sem igual nas intenções jornalísticas assumidas pela internet, a revelação de documentos secretos dos Estados Unidos pelo WikiLeaks vale, também, por outra contribuição não menos significativa. E de alcance ainda mais geral, embora própria da área doméstica do jornalismo.
A invasão e o avanço da internet nos domínios do jornalismo impresso estão fora de discussão. Quer dizer, postas fora de discussão. Não pela internet. Pelos jornais impressos. Intimidados, sentindo-se humilhados e vencidos como se atirados no corredor da morte, sem que à internet -será sempre justo repetir- deva-se o propósito de levá-los a essa indisfarçada desistência de viver.
Você já reparou em uns pequeninos registros, colocados ao pé de textos, com os dizeres "Se quiser ler mais sobre este assunto, veja" (segue-se o endereço do jornal na internet)? Quase nenhum espaço ocupado com isso. Mas diz muito.
É o jornalismo impresso abrindo mão da sua função e transferindo-a à internet que tanto o atemoriza, e que nada lhe pediu. O leitor, que pagou pelo jornal, deve se virar como puder, para ter o complemento de informação pela qual entregou seu dinheirinho. A sonegação de tantas partes em variados assuntos, claro, não terá a correspondência de corte algum no preço do exemplar.
O leitor que integralize a leitura no computador do trabalho, em lugar do trabalho; leia o complemento à noite, contra a atração da TV já atualizada, ou -esqueça e não chateie, basta que compre o jornal amanhã outra vez.
Ainda não a ouvi, mas seria fácil a explicação de que vai para a internet o complemento de pouco interesse. Mas já ouvi, e aceito há mais de meia vida, a maior conveniência, para o leitor desejoso de estar bem informado, de um noticiário bem selecionado e cada assunto tão completo quanto necessário (o que não quer dizer forçosamente extenso, mas bem elaborado).
Isso, em lugar do noticiário variado, ou nem tanto, e comprimido quase à maneira radiofônica. Ainda há isto: se o transferido à internet é dispensável, por que temer a internet que seria (e não é) um repositório de dispensáveis?
Estávamos por aí, quando vem o WikiLeaks com seus documentos. Ou melhor, não vem. Apesar de todas as suas boas condições.
Para que os documentos alcancem a dimensão informativa e política merecida, passa-os a cinco publicações do jornalismo impresso: "Der Spiegel", na Alemanha; "The Guardian", no Reino Unido; "The New York Times", nos Estados Unidos; "El País", na Espanha, e "Le Monde", na França, com Folha e "O Globo" tendo acesso antecipado, no Brasil, ao material liberado.
Diante da internet, seria mesmo o caso de recuo do jornalismo impresso, aos berros para o leitor não deixar de perceber e seguir a sugestão? Ou de estar em ofensiva, remodelando-se para as novas realidades, como seria próprio do jornalismo diário pelo tempos afora? Não sei as respostas.
O WikiLeaks sabe.

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