quinta-feira, janeiro 13, 2011

CELSO MING

A sina da moeda forte 
Celso Ming 

O Estado de S.Paulo - 13/01/2011

O ministro Guido Mantega segue dizendo que tem uma infinidade de opções à sua disposição para enquadrar o câmbio. Com isso passa a impressão de que a solução está logo aí, na gaveta da frente.

E, na verdade, não há como inverter a tendência à valorização cambial (baixa do dólar) no Brasil. Isso posto, é preciso ajustar a economia de modo a conviver com moeda forte.

Não há quem não esteja preocupado com a atual tendência à valorização do real, situação que tira competitividade do produto nacional porque o deixa mais caro em dólares.

A economia brasileira está se fortalecendo por várias razões. Porque está mais equilibrada, tem um forte mercado interno e é uma das economias do mundo com mais perspectivas.

Ainda ontem, John Drzik, do Fórum Econômico Mundial, com sede em Davos, na Suíça, advertiu que, até 2030, a procura global por alimentos crescerá 50%; a por energia aumentará 40%; e a demanda por água doce, 30%. E, atenção: 2030 está logo aí; são apenas 19 anos.

O Brasil tem um enorme potencial para atender a essa demanda, na condição de grande produtor de alimentos, de energia e de água doce. E basta isso para se ver que o País está fadado a ser uma economia forte - a menos que os brasileiros façam enormes besteiras.

O problema é que economia forte tem necessariamente moeda forte, independentemente do arsenal contra valorização cambial que o ministro garante ter à sua disposição. Em entrevista concedida a jornalistas brasileiros em novembro, o presidente do Banco de Israel (banco central), Stanley Fischer, advertia que não é possível ter economia forte com moeda fraca. Essa verdade já está martelando na cabeça dos brasileiros e vai continuar a martelar nos próximos anos.

Até agora, sempre que, por uma razão qualquer, o produto nacional perdia competitividade, o governo tratava de providenciar uma desvalorização cambial. Mas esse truque acabou. O País tem de se acostumar a tirar competitividade não mais da desvalorização cambial, que está ficando cada vez mais difícil, mas por meio do aumento da produtividade e da redução do custo Brasil.

A Alemanha nem moeda tem e, portanto, não pode manobrar o câmbio para desvalorizar sua moeda para dar competitividade a seu produto. No entanto, a partir do momento em que tomou a decisão de abrir mão da soberania monetária, o governo da Alemanha não fez outra coisa senão garantir competitividade por outros meios. Eles impuseram austeridade às contas públicas maior do que a dos outros países da área do euro, comprimiram os salários e as aposentadorias, fizeram reformas de base e investiram em infraestrutura, o que reduz custos de produção e de distribuição. Hoje, mesmo sem moeda, os alemães são os campeões da competitividade de toda a Europa e não só da área do euro.

O Brasil não é a Alemanha e ninguém espera que repita a trajetória vencedora desse país. No entanto, vai ter de descobrir outro jeito de ter uma economia forte com moeda forte.

Felizmente há muito espaço para a redução do custo Brasil. É derrubar o excesso do custo do Estado, derrubar a carga tributária excessiva, derrubar os juros escorchantes, derrubar o custo da Justiça, fazer as reformas... O ministro Mantega tem razão, há uma infinidade de providências a tomar.


CONFIRA

Cotação do dólar

Apesar das compras do Banco Central e das decisões do Ministério da Fazenda para segurar o câmbio, o dólar não para de cair, como mostra o gráfico acima.

Dedo chinês

Ontem, os mercados festejaram o sucesso das vendas de ? 1,2 bilhão em títulos de Portugal. "A procura foi o triplo da oferta", comemorou o ministro das Finanças de Portugal, Teixeira dos Santos. Nos bastidores, comentava-se a novidade: "Foi a China que comprou 1,1 mil milhões de euros de dívida a Portugal", noticiou o Jornal de Negócios, de Lisboa.

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