quarta-feira, dezembro 08, 2010

J. R. GUZZO

A grande desculpa
J.R. Guzzo
Revista Veja - 06/12/2010

O Brasil, e não apenas o Rio de Janeiro, está colhendo nestes dias de guerra civil em miniatura nos morros cariocas o que foi plantado pelas melhores intenções de sua elite pensante, ou por suas dores de consciência, ao longo dos últimos vinte anos. Foi semeada a insensatez. Colhe-se agora, no Rio de Janeiro, o seu resultado inevitável - ou, mais exatamente, um banho de sangue por atacado, em vez do massacre a varejo e em câmera lema que há ta mo tempo tem feito parte da vida diária das principais cidades brasileiras. A origem do mal está na decisão mental, tomada por juristas, legisladores, governos e pela maioria dos que têm acesso aos meios de comunicação para pregar suas opiniões, de que o crime não pode ser reprimido para valer numa democracia; tem de ser entendido como resultado das diferenças de renda, das injustiças sociais, das desigualdades entre pobres e não pobres e de tudo o mais que há de errado no Brasil.

Nessa visão da vida, uma coisa é certa: a culpa pela prática de crimes pode ser de todo mundo, menos do criminoso. Ele seria, na verdade, uma vítima, ou quase isso. Mata, rouba, estupra e viola o Código Penal do primeiro ao último artigo porque “a sociedade” praticamente o obriga a agir assim; é, no fundo, uma espécie de legítima defesa. O resumo dessa maneira de pensar está na sentença que o país já se cansou de ouvir: “A culpa é de todos nós”. Somos nós, portanto, que temos de mudar para diminuir a criminalidade não os criminosos. A eles cabe esperar que as injustiças do Brasil sejam eliminadas para, aí sim, mudar de conduta.

Os defensores da ideia geral de que o crime não se combate com repressão, pois “problema social”, como afirmam, “não é caso de polícia”, podem evitar o emprego de uma linguagem igual à utilizada no parágrafo acima, mas na essência o que estão dizendo é exatamente isso. Mais do que dizer, fizeram - como mostra a evolução das leis penais brasileiras durante as duas últimas décadas. O Brasil é um caso curioso, e possivelmente único no mundo, de país que decidiu combater a criminalidade reduzindo as penas para os crimes, dentro do raciocínio de que punições mais pesadas iriam na contramão da moderna doutrina penal. Ao mesmo tempo, nesse período, as leis ampliaram mais do que em qualquer outra época da história brasileira os direitos dos que são acusados de crimes; na fase da investigação, no estágio judicial e até no regime penitenciário, nas ocasiões em que o sistema consegue prender, processar, condenar e trancar alguém na cadeia. Não importa o tipo de crime cometido, por mais selvagem que seja - o réu tem direito a cumprir apenas um sexto da pena, se for primário. Mesmo nos crimes que a lei considera “hediondos” os condenados fazem jus a esse benefício; o Congresso Nacional decidiu que não deveriam fazer, mas o superior entendimento do Supremo Tribunal Federal resolveu o contrário.

O fundamento dessa filosofia toda, ainda que não seja admitido abertamente, está na crença de que o princípio da responsabilidade individual é algo que se tornou obsoleto ou só pode ser aplicado com restrições. Segundo essa maneira de encarar a criminalidade, não é justo considerar que cada cidadão, basicamente, é responsável por aquilo que faz. Se ele é pobre, mora numa favela ou não tem emprego, seria um dever da sociedade tratá-lo de maneira diferenciada; a responsabilidade pessoal, assim, só deve começar a partir de um determinado nível de renda. Ao mesmo tempo, há estrita vigilância sobre pontos de vista diferentes. Dizer que a pobreza, por si mesma, não torna ninguém mais virtuoso, nem dispensa quem quer que seja de cumprir a lei, é visto como procedimento antipovo, insensível e elitista. Para completar, toma-se a impunidade cada vez mais agressiva que protege os criminosos em atuação na vida pública, e de forma geral todos os que têm dinheiro para se beneficiar de um sistema judicial organizado sob medida para dificultar ao máximo qualquer punição efetiva, como desculpa para deixar tudo como está. Ou seja: em vez de esforços reais para combater a impunidade nas classes de cima, a solução mais democrática é estendê-la para as classes de baixo.Nessas horas, como comprovam os episódios do Rio, é inútil esperar por luzes das lideranças nacionais, a começar pela primeira delas. O Exército e a Marinha estão na linha de frente das operações, mas o seu comandante em chefe demorou para aparecer. Fez o de sempre: esperou o sucesso se consumar e só então entrou em cena.

LYA LUFT

O riso dos traficantes
 Lya Luft
Revista Veja 

Comenta-se à boca pequena que alguma caneta poderosíssima no exterior estava por deletar o Brasil como acolhedor da Olimpíada e da Copa, devido à violência e consequente insegurança; de repente, uniram-se todas as forças militares, as estratégias, os armamentos e veículos de guerra, e ocuparam-se territórios que havia décadas pertenciam aos criminosos.
Não quero ser maledicente, mas a ideia não me parece insensata demais. Seja como for, é de se orgulhar ter homens e mulheres brigando assim por nós.
Acompanhei até emocionada o inicio da invasão de dois morros do Rio, sua ocupação por soldados e policiais. Constatei menos comovida a fuga dos criminosos por canos de esgoto e galerias pluviais, alguns poucos capturados, a maioria certamente espalhando-se por favelas próximas ou distantes, preparando seu contragolpe ou continuando seus fazeres mortais que nós estimulamos, alimentamos, a cada baforada de maconha, cheirada de pó ou injeção de outro veneno na veia.
Embora me alegre muito com quase zero de monos, me espante com os poucos presos para tão grande aparam (parece que os chefões escaparam com calma porque a invasão foi anunciada durante quase 24 horas ames de ocorrer), alguma coisa me deixa desconfortável, mas pode ser inexperiência e tolice minha. Propaganda demais, autoelogios demais, celebração demais quando sabemos que os que fugiram estão instalados em outras favelas, e que enquanto consumirmos drogas eles continuarão donos da festa.
Não tenho cacife para comentar tudo isso, e aqui o faço como observadora comum. Mas cantamos vitória cedo, houve até quem quisesse declarar esse dia o dia da refundação do Rio de Janeiro. Calma! A trabalheira que há pela frente é quase uma Guerra do Afeganistão. Esperemos que nenhum dos nossos soldados seja ferido ou morto. Levaremos anos para que o Rio seja considerado uma cidade limpa. Há muitos morros a ser ocupados, muitos traficantes a ser presos, muita droga a ser encontrada, junto com armamento pesado e o resto.
E o que me preocupa mais é algo que fica abaixo dos morros, e fora das favelas: é a entrada de drogas e armas pelas nossas tão mal vigiadas fronteiras, e são os consumidores. A triste constatação de milhões de usuários que enchem os bolsos dos traficantes e de seus chefes (sempre há um superior qualquer, que lucra muito mais). Nem falo dos doentes, os viciados, os que precisam de tratamento, entendimento e atendimento. Raros se recuperam. Mas vale a pena tentar: uma vida que se salve vale tudo.
Não pretendi ser engraçada nem quis bancar a boazinha quando escrevi e disse, incontáveis vezes, que sempre que um de nós fuma, cheira ou injeta qualquer veneno está fazendo continência a um traficante. Está pagando a bala que, na arma dele ou de um de seus sequazes, vai matar alguém. Quem sabe meu filho, teu filho, nosso filho.
Amigos e leitores meus se horrorizam com esse meu rigor. Lamento, mas continuo acreditando nisso. Se conseguíssemos demo ver do hábito esses usuários não doentes, não viciados, que em lugar de enfrentar as dificuldades da vida se escondem atrás da nuvem de fumaça ou enchem o nariz de poeira mortal, que em lugar de assumir seu lugar no mundo injetam ilusão nas veias, teríamos vencido a maior de todas as batalhas. Ocuparíamos não apenas morros de traficantes, mas vidas humanas, famílias inteiras, atingidas pela fuga em massa de suas pessoas queridas - não pelas galerias de esgoto, mas pelos túneis do esquecimento.
Não sou simpática nesse assumo, eu sei. Mas presto aqui meus respeitos aos que, viciados, conseguem controlar essa doença; e aos que, usuários brincando com as drogas como um colchão amortecedor, caem em si e mudam de placebo. Nossa irresponsabilidade favorece os portadores da desgraça, que, saltitando de morro em morro, podem até temporariamente se esconder, se disfarçar, mas, a cada pedido de mais droga e chegada de mais mercadoria, hão de abrir - quem sabe neste mesmo instante - o seu melhor sorriso.

ALEXANDRE SCHWARTSMAN

Para entender a "guerra cambial"
ALEXANDRE SCHWARTSMAN
FOLHA DE SÃO PAULO - 08/12/10

A questão é identificar qual é a taxa de câmbio de equilíbrio, mas a teoria nos fornece algumas pistas


COMO SABER se um país está "manipulando" sua taxa de câmbio? Em tese, bastaria comparar a taxa observada àquela que deveria prevalecer em equilíbrio.
Caso a taxa observada permaneça sistematicamente mais fraca que o indicado pela taxa de equilíbrio, há bons motivos para acreditar que o país em questão está distorcendo o valor da sua moeda. O único (e nada trivial) problema consiste em determinar a taxa de câmbio de equilíbrio, mas a teoria econômica pode nos dar algumas pistas a respeito.
Em termos teóricos, essa taxa ideal é aquela congruente com o equilíbrio interno e externo de um dado país. Por equilíbrio doméstico vamos entender uma situação na qual o produto da economia esteja próximo ao seu potencial e, portanto, que a inflação também se encontre ao redor da meta.
Há, porém, várias combinações consistentes com essa situação. Se, por exemplo, a demanda interna estiver muito fraca, tal fraqueza poderia ser compensada por uma taxa de câmbio bastante desvalorizada, que produzisse uma demanda externa forte, mantendo a economia próxima ao seu potencial.
Da mesma forma, uma taxa de câmbio mais forte, que levasse à redução das exportações (líquidas das importações), poderia ser compensada por uma demanda doméstica mais aquecida.
A manutenção do equilíbrio doméstico nos termos acima definidos implica, de maneira geral, uma relação direta entre a taxa de câmbio e o ritmo de expansão da demanda interna: a demanda forte requer uma taxa de câmbio forte para manter a economia operando sem pressões inflacionárias, enquanto a fraqueza da demanda doméstica precisa ser compensada com uma taxa de câmbio fraca para evitar a deflação. Se, porém, a demanda estiver forte com o câmbio fraco, a inflação ficará acima da meta, isto é, em desequilíbrio interno.
A definição de equilíbrio externo é um pouco mais complicada. Em princípio seria um nível do deficit externo considerado "sustentável". A dificuldade aqui é a noção de "sustentável", que pode (e deve) significar coisas diferentes em momentos (ou países) distintos. Para fins da presente discussão, aceitemos que o equilíbrio seja um saldo externo zerado, sem, como veremos, grande perda de generalidade.
Imagine, pois, um país em que a demanda interna cresça vigorosamente, requerendo um aumento das importações além das exportações.
Para manter as contas externas equilibradas, a taxa de câmbio tem que se desvalorizar.
Da mesma forma, se a demanda interna fraqueja, a taxa de câmbio pode se apreciar sem prejuízo à manutenção do saldo zerado. A relação nesse caso é inversa à observada no anterior: para manter o equilíbrio externo, uma economia forte precisa de câmbio fraco e vice-versa.
Assim, se observarmos demanda fraca acompanhada de câmbio desvalorizado, o balanço de pagamentos mostrará superavit, revelando desequilíbrio externo.
Na China observamos simultaneamente tensões inflacionárias e grandes superavit externos, duas características do câmbio demasiadamente depreciado. Caso permitisse que a taxa de câmbio se apreciasse, tanto a inflação como os saldos externos cairiam, trazendo a economia para o equilíbrio.
Por outro lado, os Estados Unidos, que enfrentam riscos de deflação no contexto de deficit externos, apresentam taxa de câmbio excessivamente apreciada, requerendo um dólar mais fraco para retornar ao equilíbrio.
Entretanto, enquanto o dólar flutua (e se deprecia), o yuan é fixo com relação a essa moeda, de modo que sua correção só se dá (lentamente) pela aceleração da inflação interna, exigindo uma desvalorização ainda maior do dólar em relação às demais moedas.
Se há, portanto, algo de artificial, é a fixação da taxa de câmbio chinesa, atitude alegremente aceita pelas mesmas autoridades que acusam os Estados Unidos de fomentarem uma "guerra cambial", revelando incompreensão assustadora de um assunto tão relevante.

ALEXANDRE SCHWARTSMAN, 47, é economista-chefe do Grupo Santander Brasil, doutor em economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley) e ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central. 

MÔNICA BERGAMO

ANJOS NATALINOS 
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 08/12/10

A cantora Maria Rita foi uma das personalidades clicadas com crianças portadoras de Síndrome de Down, como Lívia Oliveira, 2, para o calendário "Happy Down" 2011. A obra, que também tem Milton Nascimento, padre Fábio de Melo e o Exaltasamba, entre outros, será vendida pela Livraria Cultura, com renda revertida para o hospital Darcy Vargas.

JULIANA NO LAÇO
O Ministério da Justiça aplicará multa de R$ 1 milhão à AmBev por causa de uma campanha estrelada por Juliana Paes. A empresa espalhou totens em tamanho real pelo país em que a atriz aparecia seminua, coberta por um laço. A publicidade foi considerada abusiva pelo órgão, que recebeu denúncias de que crianças chegavam a passar a mão no anúncio, "em sinais claros de erotismo". A AmBev diz que não comenta processos em andamento.

HORÁRIO AMIGO
Além de uma oferta milionária, a TV Record incluirá em sua proposta ao Clube dos 13, dos principais times de futebol do país, a mudança de horário de transmissão dos jogos. A emissora quer tirar da TV Globo o direito de exibir o Campeonato Brasileiro. E um dos pontos fracos da rede da família Marinho é justamente o fato de transmitir as partidas às 22 h, depois da novela. O horário tem espantado o público e esvaziado os estádios, prejudicando a renda dos clubes.

DEPOIS DO EXPEDIENTE
A Record deve propor a transmissão dos jogos para a faixa das 20h45.

LIVRO ABERTO
Os advogados do juiz Fausto De Sanctis pediram que seu julgamento no CNJ (Conselho Nacional de Justiça), na próxima semana, seja aberto ao público. O órgão vai apreciar pedido do banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity, para que Sanctis seja processado por desobediência ao STF (Supremo Tribunal Federal) ao determinar, em 2008, que ele fosse preso uma segunda vez, logo depois de ser libertado por ordem do Supremo.

SUFOCO
O processo contra Sanctis já tinha sido arquivado pelo TRF (Tribunal Regional Federal), em SP, mas Dantas recorreu ao CNJ. A expectativa é que a votação seja apertada. Uma derrota de Sanctis causará nova crise em torno dele. O juiz acaba de ser nomeado desembargador. A abertura de um processo deve gerar discussão a respeito da possibilidade de ele tomar posse no novo cargo.

LUPA
E o jornalista Raimundo Pereira, que acaba de lançar "O Escândalo Daniel Dantas", em que esquadrinha a Operação Satiagraha e sustenta que o empresário foi linchado por interesses políticos e econômicos, procurou envolvidos no escândalo do mensalão. A ideia era entrevistá-los para um livro. Mas ela não decolou e foi arquivada por tempo indeterminado.

FAZ O CHECÃO!
Andrés Sanchez, do Timão, volta a abrir o verbo -agora na "Playboy". "Quando o Corinthians parar de jogar no Pacaembu, os riquinhos de Higienópolis é que vão ter de pagar a manutenção. Porque eles usam o Pacaembu e não pagam nada! Eles que paguem." Sobre o lobby de Ronaldo para contratar Adriano: "Eu assino o contrato, mas ele que faça o checão!".

NA COLA DA MÁFIA
O ex-secretário nacional de Justiça Romeu Tuma Jr. chegou cedo ao lançamento do livro "Novas Tendências da Criminalidade Transnacional Mafiosa", anteontem, no Iate Clube de Santos em SP. O organizador Wálter Maierovitch deu autógrafos à procuradora Janice Ascari e ao ex-superintendente da PF-SP, Yokio Oshiro. "Eu não furo fila!", dizia a ex-deputada Denise Frossard, enquanto esperava a sua vez.

PROJETO ITINERANTE
Preta Gil fez um show para os convidados da abertura da Daslu Summer House, no domingo. A butique ocupará um espaço na rua Oscar Freire, nos Jardins, até o fim de janeiro.

IVETE À PAULISTANA
Ivete Sangalo alugou uma casa no Jardim Europa, em SP, para morar durante duas semanas com sua família.
A cantora fica na cidade até domingo, para divulgar seu novo CD e DVD.

FÉ DE CRIANÇA
Em "Aparecida - O Milagre", longa sobre Nossa Senhora Aparecida que estreia no dia 17, a diretora Tizuka Yamasaki conta que foi difícil convencer o ator mirim Vinicius Franco a fazer uma cena em que ele brigava com a santa. O menino dizia que tinha passado no teste para o filme após uma promessa para a santa e que não poderia fazer aquilo. Os atores Murilo Rosa e Rodrigo Veronese lhe ajudaram, então, a ver que era o personagem quem iria brigar, e não ele.

CURTO-CIRCUITO

O engenheiro José Otávio Carvalho toma posse no dia 6 de janeiro como o novo presidente do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento.

Rosita Missoni ganha jantar de Karla e Marcelo Felmanas, no Jardim Guedala.

Caco Galhardo e outros dez cartunistas palmeirenses abrem hoje, às 19h, exposição de trabalhos sobre o time, no restaurante do Palestra Itália.

Alessandra Garattoni autografa hoje o livro "It Girls", às 18h, na NK Store.

Jack Vartanian lança coleção inspirada na safira, hoje.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

VINICIUS TORRES FREIRE

Banco Central sob nova administração
VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SÃO PAULO - 08/12/10

Alexandre Tombini estreou ontem em público como presidente do Banco Central do governo Dilma Rousseff - foi sabatinado pela Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Na prática, dá o tom do BC pelo menos desde o ano passado, quando foi reconhecido vice-rei da autoridade monetária, quando Henrique Meirelles discutia com Lula o que fazer de sua vida política.

Apesar da recente fofoca histérica no mercado, Tombini confirmou seu perfil nada extravagante, mas de um economista mais temperado de pragmatismo do que seus colegas mais maníacos, em especial alguns da praça do mercado.

Grosso modo, Tombini foi convencional, tanto que mencionou a necessidade de, em algum momento, o quanto antes possível, reduzir a meta de inflação, o que causa alergia a "desenvolvimentistas". Mas, passada a fase de desordens maiores da economia brasileira, uma meta de 4,5% com margem de dois pontos para cima ou para baixo é mesmo tanto alta como folgada. Não precisa ser as duas coisas ao mesmo tempo, ainda mais se quisermos juros civilizados.

Tombini fez apenas pequenos adendos ao credo habitual dos BCs (autonomia etc.), mas fez. Disse, em suma, que não se pode aceitar que políticas econômicas de outros países nos influenciem e que "situações excepcionais" justificam intervenções no câmbio, por exemplo.

Todo mundo e seu pai sabe que a direção do BC sob Lula 2 é flexível e pragmática a esse respeito. Tombini parece que foi a público dizer que fala muito bem o bancocentralês, mas que pode usar alguma gíria em caso de demências dos mercados (fluxos alucinados de capital e suas bolhas) e de políticas econômicas como a que os Estados Unidos procuram exportar ao resto do mundo, a contragosto do mundo (que aliás em quase toda parte reagiu ao despejo de dólares do Fed).

Tombini parece preocupado com a hipótese de estiagem de capital externo. Neste ano, o Brasil tem sido inundado de dinheiro. O futuro presidente do BC teme que uma crise qualquer ponha o mercado em paniquito e que tais fluxos cessem ou arrefeçam, criando aquelas confusões de sempre -encarecimento de crédito, dificuldade de rolagem de dívida externa privada, desvalorização incômoda do real etc., o de sempre.

A esse respeito, o economista relembrou que uma aparente heterodoxia ou velharia brasileira, os compulsórios altos (dinheiro dos bancos parado obrigatoriamente no BC), fez sucesso global na crise de 2008.

Mas qual a hipótese de crise que incomoda Tombini? O pessoal do BC tem falado dos riscos do imbróglio da dívida europeia, que está mesmo muito mal parada. Não há apenas isso, porém.

Apesar de haver um Fla-Flu sobre o assunto, há gente séria a lembrar que pode haver algum tumulto com a queda de preços de commodities (que exportamos), dado que China e complexo asiático crescerão menos neste ano. Por si só, a desaceleração talvez não fosse forte o bastante para balançar o coreto das contas brasileiras. Mas os preços das commodities estão inflados pelos rapazes "especuladores" do mercado. Podem levar um susto e dar uma corrida nos preços. Não tende a ser dramático, o Brasil deve crescer mesmo uns 4%, mas vai ser um ano mais enrolado, lá fora e aqui, para a equipe econômica de Dilma.

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

Abafa o caso 
Renata Lo Prete 

Folha de S.Paulo - 08/12/2010

Ao desautorizar a declaração de Guido Mantega sobre a necessidade de cortes nos investimentos do PAC, Lula só fez aumentar a preocupação de integrantes da equipe de transição, plenamente cientes de que medidas nesse sentido terão mesmo de ser tomadas logo no início do governo de Dilma Rousseff.
Teme-se que, quanto mais enfáticas forem as negativas agora, maior será o desgaste da futura presidente, que, mesmo sem o acréscimo de novos embaraços, já terá de responder sobre suas declarações de campanha. Como esta, de 30 de agosto: "Não farei ajuste fiscal em hipótese alguma. O Brasil não precisa mais."

Engajada A bancada do PT entrou em campanha para instalar o correligionário Alexandre Padilha no Ministério da Saúde de Dilma.

Pandora Dois nomes petistas já circularam na transição como opção para a Secretaria de Relações Institucionais, caso Padilha siga para a Saúde: Luiz Sérgio (RJ) e Marco Maia (RS).

Primeiros passos Integrantes do núcleo da transição se recordam até hoje, entre risos, da frase inicial do "paper" enviado a Dilma na campanha pelo professor Mangabeira Unger, que anteontem visitou a petista: "A principal atividade econômica do Brasil é a agropecuária".

Alto lá O PT do Nordeste está incomodado com o pedido de Dilma para que os indicados da região sejam mulheres. Alegam que a "cota" não foi pedida a outros partidos. Os petistas querem Eva Chion, chefe da Casa Civil na Bahia, no Ministério do Desenvolvimento Social, e Wellington Dias (PT-PI) no Desenvolvimento Agrário.

Pede pra sair Embora Gim Argello (PTB-DF) ainda dissesse, ao chegar ao Senado, que não renunciaria, o Planalto avisara na véspera ao petebista que era insustentável sua permanência no posto para a votação do primeiro Orçamento de Dilma.

Jogo duplo Telegrama de julho de 2009 obtido pelo WikiLeaks mostra que o Planalto, embora pró-Rafale, alimentava no meio diplomático as expectativas dos EUA no caso da compra dos FX-2. Pelo relato do então embaixador Clifford Sobel, Lula dizia compreender a importância do negócio para as relações entre os dois países. Afirmava também que as tratativas com a agência de segurança norte-americana poderiam avançar.

Saideira 1 Em contagem regressiva para deixar o Bandeirantes, Alberto Goldman programou maratona de inaugurações -que inclui Poupatempo e AMEs. Ele não esconde a esperança de ser aproveitado na equipe de Geraldo Alckmin.

Saideira 2 Antes de deixar o governo, Goldman deve ir ainda ao "Roda Viva", da TV Cultura, na segunda.

Biônicos O terceiro "lote" de secretários anunciados por Alckmin terá perfil político. A lista de deputados federais anima os suplentes da coligação. Vanderlei Macris (PSDB) e Eleuses Paiva (DEM) devem assumir vagas na Câmara em 2011.

Confete Em campanha pela presidência da Câmara paulistana, José Police Neto (PSDB) aproveitou homenagem à Vai-Vai anteontem para anunciar plano para construção de uma arena para a escola de samba.

Visita à Folha Aécio Neves, senador eleito pelo PSDB-MG, visitou ontem a Folha, a convite do jornal, onde foi recebido em almoço. Estava com Heloisa Neves, assessora de imprensa.

tiroteio

"Até dia 31, Lula tem autoridade para desmentir Mantega. E quando não tiver? Vai ser a primeira crise do governo Dilma."


DO DEPUTADO EDUARDO SCIARRA (DEM-PR), sobre o fato de o presidente ter desautorizado o ministro da Fazenda, que anunciara a necessidade de cortes nos recursos do PAC no início da próxima gestão.

contraponto

Escalação


Um petista encontrou na Câmara um colega do PMDB e, na tentativa de aliviar as tensões derivadas da montagem do primeiro escalão do futuro governo de Dilma Rousseff, comentou:
-Calma... Pra que tanta ansiedade com a quantidade de ministérios? Afinal, vocês têm o número dois!
Percebendo que se tratava de uma referência ao vice eleito, Michel Temer, o peemedebista retrucou:
-Aí é que você se engana inteiramente. Nós temos o reserva. O número dois é o Palocci...

DORA KRAMER

O abre-alas 
Dora Kramer 

O Estado de S.Paulo - 08/12/2010

A nomeação do senador Garibaldi Alves para o Ministério da Previdência Social embute um recado político. Quer dizer alguma coisa, além da versão difundida nos bastidores de que seria a única opção do PMDB depois que Renan Calheiros vetou a indicação do senador eleito Eduardo Braga.

Vamos por partes, fazendo um exercício de dedução e de combinação de peças regido por pura lógica. Por que Garibaldi se seria ele o candidato natural do PMDB para a presidência do Senado com apoio de outras bancadas, inclusive de oposição?

Ah, o candidato natural do PMDB não seria José Sarney? Depende do ponto de vista. Na perspectiva do partido talvez sim, mas sob a ótica do governo - o mais poderoso ator da disputa pelo comando do Congresso - provavelmente não.

Sarney conseguiu que o presidente Luiz Inácio da Silva sacrificasse sem piedade o PT do Maranhão para eleger a filha, Roseana, governadora. Conseguiu que Edison Lobão voltasse ao Ministério de Minas e Energia, conseguiu indicar o deputado maranhense Pedro Novais para o Ministério do Turismo.

Das quatro pastas (de verdade) destinadas ao PMDB ficou com a metade. Muito mais poderoso que o vice-presidente, Michel Temer, que indicou um ministro (Agricultura) e meio (Secretaria de Assuntos Estratégicos).

Seria lógico que ainda ficasse com a presidência do Senado acumulando um poder digno da criação de uma república do Maranhão dentro do governo do PT? Pois é. O segundo da fila era Garibaldi.

Ora, se dizem que ele foi escolhido para o ministério porque não havia outro, então quem haverá para a presidência do Senado?

De onde se conclui que a Previdência foi dada a Garibaldi para remover uma peça importante do caminho na disputa pela presidência do Senado.

Só não é possível vislumbrar quem seria, então, o predileto. Se no PMDB não "há ninguém", do PT é que o próximo presidente não pode ser. O partido vai presidir a Câmara ficando com a vice no Senado.

A terceira bancada mais numerosa é a do PSDB, com dez senadores. Sim, mas e o governo com isso? Não há a menor chance de o novo governo aceitar, por exemplo, Aécio Neves na presidência da Casa.

De fato, não haveria mesmo, mas quem sabe que tipo de artifício pode ser engendrado por cabeças políticas cujos olhos miram muito adiante?

Quem sabe também se a oposição quer mesmo se opor? E quem sabe onde estará um político no futuro?

De nítido mesmo nessa história o que dá para enxergar é um Aécio conversador demais para quem está prestes a integrar a pouco influente bancada da oposição.

Noves fora, tudo isso quer dizer o quê?

Nada de muito objetivo, só um exercício de dedução e de composição de peças regido pela lógica para convidar o caro leitor, a amiga leitora a pensar.

Roupa nova. Só não se pode dizer que se arrependimento matasse o PMDB estaria mortinho da Silva porque para o partido é melhor ser governo que oposição.

A parte que coube ao partido no latifúndio da Esplanada desagradou, à revolta, à bancada na Câmara e à cúpula do partido, que promete esperar o governo na esquina.

Não na disputa pela presidência da Casa, mas mais à frente quando a presidente precisar de votos no plenário ou de solidariedade em comissões de inquérito.

Os dirigentes acham que foram humilhados e um deles fez a frase: "O PMDB estava louco para mudar a imagem. Mudou, antes era fisiológico e esperto agora é fisiológico e bobo."

Antes tarde. Gim Argello renuncia à relatoria e deixa a Comissão de Orçamento, aonde nunca deveria ter chegado.

Dá licença. Dessa conversa sobre "refundação" do PSDB o que deu para entender até agora é que se trata de uma espécie de programa de aceleração do afastamento de José Serra.

CELSO MING

Ainda falta muito 
Celso Ming 

O Estado de S.Paulo - 08/12/2010

Esta é a última das 76 reuniões do Copom que contou com a condução de Henrique Meirelles, o mais longevo presidente da história de 45 anos do Banco Central do Brasil.

Embora vistas as coisas ainda muito de perto, dá para dizer que o balanço da atual administração do Banco Central foi positivo. Algumas vezes ficou a reboque da inflação e, outras, precipitou-se e comeu cru. Mas nenhum desses percalços foi um erro tão grave que não pudesse ser compensado em seguida.

Nos últimos oito anos, o Banco Central manteve a inflação quase sempre dentro da meta, aí considerada a faixa de flutuação permitida. E conseguiu, na maior parte do tempo, um gerenciamento adequado das expectativas dos remarcadores de preço da economia, condição importante de eficácia do sistema de metas de inflação. Embora nunca contasse com aprovação maciça à sua política de juros, a atual administração fez com que a palavra de um dirigente do Banco Central passasse a ter mais peso do que tinha no início de 2000, quando o Brasil ainda engatinhava no sistema de metas.

O presidente Lula teve uma boa participação nesse processo porque afinal entendeu que o maior inimigo do trabalhador é a inflação e, nessas condições, decidiu dar à direção do Banco Central liberdade para combatê-la.

Os juros ao ano no Brasil continuam entre os mais altos do mundo, mas, em oito anos, caíram 15,25 pontos porcentuais, o que não é pouco. Poderiam ter caído mais, se a política fiscal (controle das despesas públicas) não tivesse sido tão flácida. O presidente Lula fez excessivas concessões na área do gasto público e deixou o Banco Central sozinho no combate à inflação. Ainda há um longo caminho a andar em direção à normalidade monetária.

O momento é de retomada da inflação, que pede contra-ataque tanto da política fiscal como da política de juros. O ministro Guido Mantega está passando o recado de que vai apertar o cinto mesmo a custo do atraso das obras do PAC. E isso é indicação de que a nova administração perseguirá com mais empenho o equilíbrio das contas públicas, pelo menos nos primeiros meses de mandato.

Na semana passada, o Conselho Monetário Nacional e o Banco Central tomaram decisões cujo objetivo foi restringir o crédito, de maneira a impedir o aparecimento de bolhas especulativas e de reduzir a exposição dos bancos a ativos de retorno duvidoso. Nesse sentido, tiveram caráter prudencial. Não vieram com o objetivo direto de conter a inflação, mas algum efeito colateral nesse sentido acabarão por ter. O próprio Meirelles já avisou que essas providências não substituem a política monetária (política de juros).

A maioria dos observadores entendeu que essas decisões contribuíram para reduzir a hipótese de um aperto imediato dos juros. Mas também compreenderam que esse aperto ficou inevitável para ser aplicado no primeiro trimestre de 2011, possivelmente já na próxima reunião de janeiro, agendada para dia 19.

Não se deve afastar a hipótese de que o Copom entenda que seria melhor agir imediatamente para que os efeitos sobre a inflação apareçam também mais rapidamente. No entanto, não é essa a expectativa geral e não é do feitio do Banco Central agir sem que os agentes da economia estejam preparados.

CONFIRA

A escadinha acima reflete a trajetória dos juros básicos (Selic) desde janeiro de 2008. Será esta a foto final dos juros da temporada Lula?

Mais um naufrágio à vista

Na sua edição de ontem, o New York Times avisa que o economista Nouriel Roubini, que ficou famoso por ter sido o primeiro a prever a eclosão da crise global, está denunciando que os bancos americanos ainda vão ter de enfrentar perdas de US$ 1 trilhão em empréstimos hipotecários não honrados. Roubini afirma também que o mercado imobiliário vai passar por novo Mergulho.

MÍRIAM LEITÃO

As agências erram 
Miriam Leitão 

O Globo - 08/12/2010

Já virou lugar comum dizer que as agências de rating erram ao classificar os riscos. Erros sequenciais foram detectados nas avaliações que fizeram sobre os países e empresas ao longo dos últimos anos. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, é só mais um que aponta esse erro, ao comparar o BBB- do Brasil com as nota entre A e A- que a Standard & Poor’s dá para os encrencados Irlanda e Portugal.

Elas são indefensáveis. Davam nota A para a Enron, um pouco antes de a gigante americana se espatifar. O mesmo com a seguradora AIG, que acabou resgatada pelo dinheiro do contribuinte americano. A General Motors era outra empresa bem avaliada até que quebrou. O Lehman Brothers foi um banco que morreu com um atestado de saúde perfeita. Assim foi também nas crises da Ásia, quando países com suas notas robustas, como a Coreia, despencaram em agudas crises cambiais.

Meirelles disse que as agências deveriam melhorar a nota do Brasil porque a dívida bruta é de 60% do PIB, enquanto Irlanda, Portugal e Itália estão com 65%, 77% e 116% e têm notas melhores que a nossa.

A primeira impressão que fica da declaração do presidente do BC é que o Brasil melhorou. Não é fato; foram os outros que pioraram. Esse é o mesmo erro que está na declaração da presidente eleita, Dilma Rousseff, ao “Washington Post”. Ela disse: “não é para me gabar, mas o nosso déficit é 2,2% do PIB”.

Não é mesmo para se gabar, porque só está abaixo de 3% porque o país cresceu forte este ano, mas em vez de aproveitar o momento e buscar o déficit zero, o governo ampliou os gastos para atender ao ciclo eleitoral. Ministro confirmado e presidente eleita disseram durante a campanha que o Brasil não precisava de ajuste nas contas. Hoje, o ministro muda o discurso radicalmente em flagrante desrespeito à memória alheia.

O perigo não é apenas o 60% de dívida bruta/PIB. É o fato de que os juros são altos porque o governo gasta demais e juros altos realimentam o déficit público. Nesse circulo vicioso, o ajuste é fundamental para abrir espaço para a queda dos juros. Além de cara, a dívida é de curto prazo. Além de alta, cara e curta, há poucas perspectivas de que caia, porque o superávit primário tem sido corroído pelo aumento dos gastos e pela manipulação estatística do governo.

Enquanto o Brasil estiver crescendo e a situação internacional nos favorecer, 60% de dívida bruta não parece muito, mas o mais sensato seria aproveitar o momento para derrubá-la. E o que o governo promete é reduzir a dívida líquida. Há três problemas com esse objetivo. O indicador está meio desacreditado, dado que o superávit primário foi falsificado. A dívida líquida não inclui certas operações, como o dinheiro transferido para o BNDES. Se as reservas subirem muito, a dívida líquida cai, apesar de o custo de carregar as reservas ser muito alto. Mas o pior problema é que o governo promete derrubar de 40% para 30% do PIB a dívida líquida sem dizer como, e apostando apenas numa meta de juro real de 2%. Ora, a queda dos juros será consequência de uma política fiscal mais sensata.

O fato de os países europeus terem piorado tanto suas contas públicas não é motivo para relaxarmos as nossas. Se as agências de rating dão nota A para países sobre os quais se fala em risco de renegociação da dívida soberana, o problema é mais uma vez da incapacidade das agências de verem os fatos antes de acontecerem. Deveria ser obrigação profissional delas antecipar- se aos fatos, mas elas sempre rebaixam as notas quando já é tarde e, ao rebaixarem, acabam afundando mais o paciente.

Mas quem se importa com o que as agências dizem? Essa é uma pergunta que ouço sempre. Ninguém, exceto o mercado financeiro internacional. Isso significa que quando o país é rebaixado, as dívidas do governo e das empresas do país ficam mais caras. Os erros passados não fizeram com que elas deixassem de ser levadas em consideração.

Então é bem possível que as agências mais dia menos dia melhorem as notas do Brasil, mas o mais provável é que, antes disso, rebaixem a dos países europeus que estão com notas maiores do que as do Brasil.

O esforço de equilíbrio fiscal tem que ser feito antes de tudo para nós mesmos. O Brasil é um país cuja carga tributária subiu 10 pontos percentuais do PIB em 15 anos. A carga é alta, mal distribuída, pesa sobre as empresas e o contribuinte pessoa física, tirando recursos de investimentos e consumo.

A piora dos outros países não melhora a nossa situação, pelo contrário. Quanto mais instável estiver o cenário internacional maior será o desafio brasileiro. E há muitas incertezas. Num ambiente assim, o melhor a fazer é ajustar a casa retirando fatores que podem ser gargalos numa crise. Um deles é o fato de que mesmo num ano de crescimento acima de 7,5% o Brasil tem déficit e gasta mal. Outro é que há gastos ainda não contabilizados adequadamente.

Há quem, no governo, insista em dizer que comparados aos outros estamos bem. Por que nos comparamos a quem piorou e não aos países que passaram pela crise com desempenho melhor do que o do Brasil?

ROBERTO DaMATTA

A política da não política
Roberto Damatta 


O Estado de S.Paulo - 08/12/10
Seria possível viver sem política? Haveria alguma situação humana sem necessidade de decisão e, portanto, de politizar? De escolher e inventar destinos?
Só nos intervalos, nos entreatos, nas pausas e na plenitude das grandes passagens - quando o mundo fica suspenso entre alguma coisa que vai chegar, mas ainda não está presente - surge o não político, o que não pode ser falado. Só aí o jogo é interrompido. A política do jogo ou o jogo como político continua, mas deve ser visto como um "não jogo". Fica como aquelas fases pré-vestibulares, quando a expectativa é maior do que o exame. Na preparação de uma peça ocorre o mesmo. O texto está pronto, mas a produção requer um duro encontro entre os atores e os papéis a serem representados. Nos ensaios, vive-se um momento crítico de representações que não são representações, mas experimentos. Não se pode negar que não exista teatro nos ensaios, mas não se pode afirmar ou confundir o ensaio com a peça. Nesses casos, surge o humano do humano: o ser e o não ser; o papel sem ator e o ator sem papel. Nascimentos e mortes, seguidas de renascimentos e ressurreições.
* * *
Assistir a um ensaio é testemunhar, como está acontecendo agora no Brasil, a política da não política. Há muita politicagem, mas tudo ocorre em nome de uma não política. Predomina o silêncio dos fracos e não o grito dos poderosos. Estão todos "tapados", como o caso mexicano exprimia de modo nítido. A peça só vira espetáculo quando a cortina é solenemente aberta.
* * *
Estamos nessa fase. Temos os papéis, temos a presidente eleita e o presidente que vai sair de cena, mas a peça ainda não está pronta. E como há teatro na política, mas política não é teatro, pois nela não há ensaio e os custos são impagáveis; temos o preocupante não saber como os atores vão viver esses papéis. Revela-se em toda a sua nudez de corista os bastidores da peça a ser montada pelo governo da presidente Dilma. Olhar o não político no político mostra o lado pessoal e relacional da vida palaciana. Nada mais complicado que escolher, num universo de coalizão, um mundo onde se deseja tudo, menos ter o que se foi: oposição. Ademais, quem escolhe: o Lula (que, me fez) ou eu (que devo me fazer)? Fico com o PT ou com o PMDB que imagina ser o partido da modernidade política nacional? Convoco aquele canalha ou fico com este conhecido canastrão porque, afinal, ele me foi indicado por X que, sendo amigo de Z do partido N, tem influência junto a F que pode ser útil justamente porque é de uma teórica oposição?
* * *
Sobre os canastrões pairam as dúvidas de sempre. Mas mesmo sobre o diretor-ator principal da peça - a presidente eleita - cabem incertezas porque até hoje ninguém sabe se o teatro imita a vida ou se a vida imita o teatro. Sem ensaio, ninguém pode dizer como a pessoa vai se sair no papel (e o papel na pessoa). Se os dois vão se juntar como a luva branca na mão do mordomo inglês ou se o ator presidente vai usar luvas de boxe. Já vivemos os dois casos. Sabemos, porém, que todo palhaço usa botinas maiores do que os seus pés, o que acentua a ambiguidade que conduz ao riso e a comiseração. Quem não riu e chorou com Carlitos? Ou com os presidentes que iam liquidar de uma vez por todas a corrupção nacional e, no curso da peça, revelaram-se larápios dignos de um Oscar?
* * *
Esse momento sem política revela os bastidores da politicagem. Primeiro a luta por um partido do Brasil, algo impossível numa sociedade democrática, liberal e igualitária. Impossível porque isso seria equivalente a ter uma única marca representando toda uma indústria ou um time englobando todo um esporte. Como ser o melhor e o mais eficiente, se não existe o mais ineficiente?
A disputa relacional, a conta de chegar entre princípios e pessoas anunciam a peça a ser vista. Pagamos pela sua qualidade de tragédia ou farsa. Pagamos pelos artistas e pelo teatro. Aliás, somos nós - os cidadãos comuns - esse "povo" com ou sem Deus que segura todos os espetáculos deste mundo. Dos enterros anônimos aos funerais faraônicos; das escolhas baseadas na competência dos atores e das que pagam um favor ou se cumpre um requisito formal de apoio de modo que lá vai um canalha para o papel de ministro o qual, diga-se de passagem, vai desempenhar com o mesmo rigor de um Procópio Ferreira.
* * *
Pois atores somos todos desde o dia em que, sem convite ou contrato, viemos ao mundo para tomar parte do dramalhão humano. Uma peça que não iniciamos e jamais iremos terminar. Felizes seremos se, dentro dela, pudermos compreender algum entrecho ou cena. Mais gratos ainda, se tivermos a sinceridade para nos havermos bem nos papéis que nos foram confiados e que, no fundo, são muito mais importantes que nós. Afinal, nós todos passamos, mas os papéis ficam - eis a lição que nossos políticos ainda não atinaram. Melhor seria disputar menos e pensar mais nas competências. Quanto mais não seja porque a noção de limite do papel que se disputa. O que, afinal de contas, não é disputado nesse nosso Brasil? Com todas essas claras aspirações autoritárias e um grupo de mandões devidamente entrosados e prontos a enriquecer com o nosso trabalho? 

ILIMAR FRANCO

A bronca do PT 
Ilimar Franco 

O Globo - 08/12/2010

Os parlamentares do PT não estão satisfeitos com a forma pela qual a presidente eleita, Dilma Rousseff, monta seu Ministério. Sentem-se excluídos. Os deputados defendem uma pasta para o Nordeste, querem o ministro Alexandre Padilha na Saúde e a ida de um deles para Relações Institucionais. Dizem que os petistas já escolhidos não têm bancada, mas vão engolir o prato feito porque não podem criar caso contra a nova presidente.

O seu lugar é no Senado
Com o apoio dos governadores do Nordeste e das bancadas no Congresso, o senador Wellington Dias (PT-PI) trabalha intensamente para assumir o Ministério do Desenvolvimento Agrário. Contando ainda com o aval da Contag, houve manifestação em seu favor ontem, na abertura de Seminário de Crédito Fundiário. Apesar de toda essa movimentação, Dias já recebeu recado da presidente eleita, Dilma Rousseff, e da equipe de transição de que dificilmente será nomeado. Disseramlhe que seu lugar é no Senado. Os petistas do Executivo estão traumatizados com as agruras que passaram no Senado nos dois governos Lula.

Pegadinha
Ao passar ontem pelo senador Antônio Carlos Valadares (PSB-SE), cotado para assumir um ministério, o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) chamou: “Ministro!” Rindo, Flexa disse para seu acompanhante: “Viu como ele olha?”

Terceira via?
Do prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda (PSB), sobre o jantar que aconteceria ontem do presidente do partido, Eduardo Campos, com o senador eleito Aécio Neves (PSDB): “Ninguém aguenta mais a briga do PT com o PSDB.”

Bolsa Tio Sam
Em telegrama de 2006 para Thomas Shannon, então secretário de Estado adjunto para o Ocidente, o embaixador Clifford Sobel mostra-se preocupado com o ceticismo brasileiro acerca do comprometimento dos EUA com o país. Sugere que os EUA retomem programas humanitários no Nordeste, “uma região com mais de 50 milhões de pessoas, com enormes disparidades de renda e uma qualidade de vida abaixo da da Bolívia.”

A reação do presidente Lula

Logo após o anúncio do nome do senador Garibaldi Alves (PMDB-RN) para a Previdência, políticos começaram a especular sobre a reação do presidente Lula. Garibaldi, quando foi presidente do Senado, devolveu ao Executivo uma Medida Provisória. Depois, em solenidade de aniversário da Constituição, criticou o excesso de MPs, constrangendo o presidente Lula. Com Garibaldi no Executivo, o PV terá um senador. Seu suplente é o deputado estadual Paulo Davim.

O VICE-PRESIDENTE eleito, Michel Temer (PMDB-SP), tentou até o último momento emplacar o deputado Mendes Ribeiro (PMDB-RS) no novo Ministério das Micro e Pequenas Empresas.

O GOVERNADOR Eduardo Campos (PSB-PE), depois de ter feito Fernando Bezerra Coelho ministro da Integração, quer agora manter o comando da Chesf e da Codevasf.

FALA o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), sobre a escolha dos ministros do partido: “Foi um processo doloroso. Essa coisa desgasta muito. Vamos encerrar esse ciclo e tocar o barco.”

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Com substituição, micro e pequena pagam mais ICMS 
Maria Cristina Frias
Folha de S.Paulo - 08/12/2010

Micro e pequenas empresas optantes do Simples nacional pagam cerca de 112% a mais de ICMS devido ao regime de substituição tributária, mostra pesquisa da Fundação Getulio Vargas para o Sebrae. O valor considera as declarações de 2009.
O regime de substituição tributária cobra o ICMS na indústria. Empresas inscritas no Simples Nacional adquirem as mercadorias sujeitas à substituição tributária já com o valor do ICMS contido no preço. O Simples, por sua vez, se propõe a reduzir os impostos a um pagamento.
Com a substituição, o pequeno empresário deixa de pagar o ICMS calculado pelo Simples e passa a pagar como uma grande empresa.
Apenas com o Simples o valor total da arrecadação do ICMS seria de R$ 1,5 bilhão. Mas, com a substituição, o valor sobe para R$ 3,2 bilhões, ou 112% a mais.
"Quem vende, por exemplo, óculos em Minas Gerais pagaria 1,25% de ICMS pelo Simples, mas arca com 9,42% da substituição, ou 653,6% a mais", diz André Spinola, do Sebrae.
Os mais prejudicados são os varejistas que vendem para as classes C e D, afirma.
Eles pagam a mesma proporção de ICMS sobre produtos de menor valor agregado e têm dificuldade de inserir o ônus no preço, pois competem com o grande varejo.
Segundo a pesquisa, os Estados perderiam em média 1,45% da arrecadação se abrissem mão da substituição tributária para empresas optantes pelo Simples.

NA GELADEIRA
Entra em operação no país na próxima semana a Revert Brasil, empresa nacional de reciclagem de refrigeradores e ar condicionados que possuem gás CFC em sua composição.
A fábrica, em cujo pátio estão estocadas mais de 10 mil geladeiras, recebeu investimento de quase R$ 25 milhões. A meta é reciclar 400 mil geladeiras ao ano.
Além de empresas estrangeiras que ingressaram no país com o mesmo foco, a Revert reacende, de acordo com seu sócio Pablo Magalhães, o projeto iniciado pelo governo de substituição de 10 milhões de refrigeradores no Brasil.
"Começa a ficar mais provável agora que o país ganha capacidade instalada e tecnologia, além da nova Política Nacional de Resíduos Sólidos", diz.

PRATA LIDERA POPULARIDADE
Prata e preto ainda são as cores preferidas para os automóveis neste ano em todo o mundo, com 26% e 24%, respectivamente, de acordo com levantamento anual da DuPont.
As duas cores subiram um ponto percentual no ranking deste ano na comparação com o do ano passado.
Já o cinza ganhou três pontos de popularidade, empatando com o branco em terceiro lugar entre as cores preferidas de 2010.
O Brasil segue a tendência mundial. Porém a popularidade do prata é bem maior, com 34%. É o maior percentual da cor entre as regiões/ países pesquisados.
O preto é a segunda cor preferida no país, com 24%, seguido pelo branco (13%).
"A análise nos permite compartilhar com as montadoras conhecimentos sobre as tendências globais", disse Nancy Lockhart, gerente de marketing e cores da DuPont.
O relatório inclui a popularidade de cores em 11 principais regiões do mundo automotivo, como América do Norte, Europa, Japão e Brasil.
A prata lidera em quatro regiões, com percentuais acima de 33%. O branco é preferência em cinco, como África e América do Norte. O preto lidera na Rússia e na Europa.

Hong Kong espera Petrobras

Após o anúncio de que a Vale vai negociar na Bolsa de Hong Kong, o secretário de Finanças da região administrativa chinesa, John Tsang Chun-wah, diz esperar que mais companhias "brasileiras sigam essa tendência".
A começar pela Petrobras. "Tomariam uma ótima decisão de negócio, baseada nas atuais condições", opina.
O secretário defende que a regulação financeira está se alinhando e que negociar em Londres, Nova York ou Hong Kong se dá, cada vez mais, com as mesmas regras. "Somos o mesmo."
No Brasil para divulgar a região como "o mais forte centro financeiro no fuso horário asiático", Tsang diz que a crise global de 2008 mostra "a necessidade do fortalecimento de uma aliança entre os países emergentes".
"Hong Kong vai facilitar essa aliança", afirma.
"O centro de gravidade da economia global se descolou para o Oriente", diz.
Tsang opina que a guerra cambial citada por Dilma Rousseff e por Guido Mantega é "só uma expressão".
Segundo o secretário, o que ocorre é uma "tentativa dos EUA de criar liquidez", "que está na Ásia".
Isso, analisa, afeta as exportações de países com moedas fortes, como o Brasil, mas também cria "vantagem para comprar mais barato".
"A relação entre China e Brasil será de suprema importância." "A complementaridade é quase perfeita."
Para manter o alinhamento regulatório, ele defende o Financial Stability Board e a representação do FMI, que deve "acompanhar o deslocamento da gravidade [econômica] para o leste e o maior peso dos emergentes".

INGRESSOS ESGOTADOS
A oferta de shows internacionais no Brasil deve ser 25% maior no ano que vem. Em São Paulo, grandes turnês vão gerar receita de R$ 345 milhões com venda de ingressos em 2011.
A estimativa é da Smart, empresa especializada em controle de acesso de shows, que atuou nos espetáculos de Madonna, Metallica, Oasis e festival SWU. "Em São Paulo, o público total dos grandes espetáculos deve chegar a 5,4 milhões. Em todo o país, o aumento de público e de receita devem ser de 20% e 15%", diz André Bertolucci, sócio da Smart.
Os eventos estrangeiros recebidos pela capital paulista neste ano foram vistos por 4,5 milhões de pessoas.

JOSÉ SIMÃO

WikiLeaks! A camisinha vazou! 
José Simão
FOLHA DE SÃO PAULO - 08/12/10

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Manchete do Comentando: "Polícia procura Polegar do Alemão e o Mindinho do Lula". Rarará. E essa: "Polícia prende traficante Dedinho em Madureira". A Mão do Tráfico! Pegaram o Dedinho mas falta o Polegar. Secretário da Segurança garante que o Indicador, o Fura Bolo e o Seu Vizinho serão os próximos a cair nas mãos da polícia! Rarará!
E eu sei por que o Aerolula não tem autonomia de voo. Precisa parar pra reabastecer o Lula! Aliás, diz que o Lula ligou pra Dilma: "Cumpanhera Dilma, eu quero um ministério pro Corinthians". Deve ser Manos e Energia. Ministério de Manos e Energia! E diz que agora o Timão entrou pro ramo dos shoppings: Center Norte, Center Paulista e Center Nada! Rarará!
E o WikiLeaks? O site que vazou 250 mil documentos secretos dos Estados Unidos! O criador do WikiLeaks foi preso. Acusado de estupro e crimes sexuais. Então a camisinha vazou. Não foram só os documentos. Rarará!
Estupro?! É verdade. Estuprou o Tio Sam! Estuprou a Elite Universal! Esse WikiLeaks é um estupro ao poder mundial. Parece o "TV Fama" do Nelson Rubens. Causa constrangimento internacional. E a Hillary é a Sonia Abrão. Ops, Sonia Macabrão.
A Hillary Fofoqueira Abelhuda do Chifre Mal Curado vai passar 2011 pedindo desculpas. Metas pra 2011: pedir desculpas pro mundo inteiro!
E eu já disse mais de mil vezes: o criador do WikiLeaks só deveria ser preso se revelasse a idade da Glória Maria. E o nome do cabeleireiro do Celso Amorim! Aquele de cabelo porco-espinho! Rarará!
E a Sarah Palin disse que o Assange do WikiLeaks devia ser caçado como o Bin Laden. Só que o Bin Laden continua solto. Rarará!
O Brasileiro é Cordial. Cartaz pendurado no banheiro de uma empresa em São Bernardo: "Aqui é lugar de fazer necessidades e não ver revista de putaria, se eu pegar o cabrunco que fica aqui dentro com semvergonhice vou cortar o pinto na prensa. Conto com todos. Assinado: Gervásio". E tem gente que ainda tem medo do Ahmadinejad! Esse Gervásio é o paladino da justiça!
E mais um predestinado. É que um amigo de Curitiba achou a Empresa de Cobranças Barbosa e CAPOTE! O Barbosa cobra e o Capote visita. Rarará.
Nóis sofre mas nóis goza.
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

MERVAL PEREIRA

Dois comandos
MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 08/12/10


O presidente Lula chegou à perfeição, dá ordens no seu governo, que está chegando ao fim, e no de Dilma Rousseff, que nem mesmo começou. Indicou mais da metade do Ministério, e o ministro Guido Mantega, que é e continuará sendo o titular da Fazenda, está experimentando a estranha sensação de ter dois chefes.

Um dia, ele anuncia que os cortes serão drásticos e não pouparão nem mesmo obras do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), a galinha dos ovos de ouro da presidente eleita, Dilma Rousseff.

Certamente não falou isso sem o consentimento dela. Mas ambos esqueceram-se de combinar com Lula, e deu no que deu.

O presidente, que já demonstrou, por palavras e obras, que não está se sentindo muito confortável com o fim de seu "reinado", desautorizou seu ministro, que também é ministro do futuro governo.

Lula garante que a próxima presidente não terá necessidade de cortar "nenhum centavo" das obras do PAC, a menina dos olhos de seu governo.

É a situação mais esquizofrênica de que já se teve notícia na política brasileira.

Mantega, na atual administração, é um ministro gastador, responsável pela mudança de orientação que resultou na busca de um crescimento do PIB que superasse a média de 3,5%, considerada o teto para a economia brasileira ficar protegida da inflação.

Ainda no Ministério do Planejamento, e depois no BNDES, Mantega defendia a tese de que o PIB potencial brasileiro era mais próximo de 5% e pautou sua atuação à frente da Fazenda, quando substituiu Antonio Palocci na crise da quebra de sigilo bancário do caseiro Francenildo Pereira, na busca desse crescimento sem inflação.

Na crise internacional de 2008, não colocou obstáculo à política de Lula de estimular o consumo interno para enfrentar a ameaça de depressão econômica e aderiu de corpo e alma aos estímulos fiscais para animar o mercado interno.

Ao mesmo tempo, o BNDES passou a ter papel relevante no financiamento de empresas, diante da falta de crédito no mercado internacional. E passou a ser a principal fonte de direcionamento de política econômica, escolhendo setores e empresas.

O superávit primário foi reduzido ao mínimo possível, e os gastos do governo foram acelerados, mais para financiar salários, pensões e programas assistenciais do que para investimentos.

O crescimento do PIB deste ano, que deve estar por volta de 7%, é uma demonstração viva de que a política expansionista deu certo, ajudando o país a enfrentar a crise internacional de maneira exitosa.

Mas também trouxe de volta o fantasma da inflação, e por isso, ainda no governo Lula, várias medidas estão sendo tomadas para contê-lo.

Os efeitos serão sentidos apenas no próximo governo, e talvez por isso o presidente não tenha se incomodado tanto.

As medidas de restrição do crédito tiveram também a intenção, tudo indica, de evitar que a última reunião do Banco Central na administração de Henrique Meirelles, e, sobretudo, a última do governo Lula, decretasse o aumento da taxa de juros.

A questão foi jogada para a frente, quando teremos que ver na prática o que significam as palavras do futuro presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, que ontem, na sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, repetiu um mantra que poderia ter saído da boca de Meirelles: "Taxas elevadas de inflação têm efeitos nocivos sobre a economia e perversos sobre a renda da população, em particular sobre segmentos de renda mais baixa."

Ora, manter a inflação em níveis baixos, embora um assunto técnico, sempre teve um caráter político no governo Lula justamente porque a inflação alta afeta a base de apoio popular do presidente.

Deve-se ao então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, o feito de ter convencido o presidente Lula desse efeito nocivo da inflação sobre qualquer projeto de melhoria da capacidade de consumo das classes mais baixas.

A partir daí, qualquer outro objetivo está subordinado ao controle da inflação.

Mesmo o descontrole de gastos dos últimos dois anos foi feito com um acompanhamento técnico da área econômica, que deve ter medido até que ponto o governo poderia chegar para ganhar a eleição sem perder o controle da situação.

A contenção de custos agora anunciada certamente já era de conhecimento da candidata Dilma Rousseff, mas não podia ser alardeada na campanha eleitoral.

Aliás, esta e outras medidas e posições surgidas após a vitória nas urnas demonstram que a campanha eleitoral de pouco serve para que se saiba como vai governar este ou aquele candidato.

Suas juras e promessas são mais falsas que as de amantes de bolero.

Veja-se o caso da presidente eleita. Após a vitória nas urnas no segundo turno, fez um discurso de estadista e calou-se, atitude, aliás, das mais sensatas.

Abriu a boca oficialmente para o "Washington Post" e, na entrevista, deu pistas fundamentais sobre seu próximo governo, ensaiando inclusive um ligeiro distanciamento do governo de seu preceptor em questões de política externa.

Um distanciamento nem tão grande que pareça um rompimento, mas também não tão tímido que não sugira a possibilidade de um voo solo, pelo menos em questões sensíveis como os direitos humanos.

Resta ainda saber a amplitude dessa mudança, mas já existe uma expectativa de haver vida própria no próximo governo, e não apenas a repetição enfadonha de gestos e movimentos ditados pelo manipulador dos cordéis.

Talvez por isso Lula tenha sentido a necessidade de dar palpite público sobre um assunto que só diz respeito ao próximo governo.

Resta saber se ele fez isso porque ainda está no comando ou se está querendo continuar no comando depois do dia 1º de janeiro de 2011.

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Pacote comunista
SONIA RACY
O ESTADO DE SÃO PAULO - 08/12/10


Dilma pretende, finalmente, acertar os is com o PC do B. Deve se encontrar com Renato Rabelo, presidente do partido, antes do fim da semana.
O PC do B avisa: quer o Ministério do Esporte, a Autoridade Pública Olímpica e a empresa Brasil 2016. E conta com a permanência de Orlando Silva à frente do Esporte, com Haroldo de Lima na ANP e Manuel Rangel na Ancine. E colocarão "à disposição" Manuela D"Ávila, Flávio Dino e Aldo Rebelo.
Cobertor curto
Não é porque o Rio está conseguindo avanços na sua guerra contra o tráfico que a vida dos "combatentes" ficou fácil. Os policias dos novos batalhões da PM no Rio, que começaram a atuar anteontem nos complexos Penha e Alemão, foram acomodados, de última hora e, provisoriamente, no 16º BPM.
E para guardar suas roupas, tiverem que "emprestar" armários catados em muitos... presídios.
Ano velho
Com a autoestima relativamente em alta, os cariocas querem pular ondas e o passado no réveillon de Copacabana. O tema deste ano espelha o desejo: Década de Ouro. A próxima.
Contramão
Oito entre dez analistas de mercado acreditam que o Copom manterá a taxa de juros atual.
Entretanto, esta coluna foi convencida por um sábio: a Selic sobe hoje dando um recado claro de que o governo combaterá a inflação custe o que custar. Facilitando assim, a vida de Dilma.
Recuperação
A depender da torcida de médicos do Sírio Libanês, Gonçalo Vecina Neto será mesmo o novo ministro da Saúde. Ontem, o prognóstico que corria no hospital é de que Neto tem 90% de chance de emplacar.
Alias, Orestes Quércia está há mais de duas semanas internado no hospital. Para espairecer, tem feito caminhadas diárias pelo hospital. A família acredita que ele possa passar o Natal em casa.
Trauma
Gustavo Mello pretende produzir documentário sobre as vítimas do confisco no governo Collor. Está em busca de captação de recursos para rodar seu Confiscados.
Quem ficou sem um só tostão no bolso, em 1990, não esquece

WikiLeaks no ventilador
Há quem queira pegar carona no sucesso do WikiLeaks. O Instituto Brasileiro Contra Fraudes expande, dia 1º, o universo de sua atual página na internet, a lesadosporseguradoras. Colocam novo sistema: "Envie aqui seu documento sigiloso". Com proteção da identidade do colaborador.
Manobrada
Ao receber seu carro no estacionamento do Iguatemi, uma conhecida empresária tomou um susto daqueles. Seu Touareg estava "empinado", com a suspensão traseira rebaixada. Reclamou na hora, preencheu formulário e ainda ouviu do funcionário que o automóvel "já estava assim". Em casa, ela chamou mecânico que diagnosticou: o problema era novinho em folha.
Amiga de Carlos Jereissati, não sabe se reclama ou não para o dono do shopping.
À paisana
Sábado, entrou no Gero do mesmo Iguatemi um senhor vestindo bermuda, tênis e camiseta esporte. Foi conduzido a uma mesa de canto, onde estava sua mulher. Simpático, sem nenhum segurança, Guido Mantega cumprimentou a todos.
Rir faz bem
Patrick Siaretta, da TeleImage, investirá mais em comédias. Tudo por causa de sua experiência bem-sucedida como coprodutor de Muita Calma Nessa Hora, que superou 1 milhão de espectadores no fim de semana.
Cilada.com, de Bruno Mazzeo, é a sua próxima estreia.
Chuva de arroz
Roberto Podval, advogado criminalista que defendeu Alexandre Nardoni, se casa, pela segunda vez, em junho. Na ilha de Capri.
Com direito a convidados para os dois dias de comemoração.

Na frente

A Camargo Correa Cimentos avança e abre escritório em Lisboa. Dia 15.
A 5ª edição do Prêmio Paladar revela os melhores pratos da cidade em nove categorias. Hoje, no Hyatt.
Jack Vartanian lança coleção nova no Iguatemi e NK Store. Amanhã.
Fernanda Kujawski abre flagship. Amanhã, no Itaim.
Jacqueline Aronis lança Matéria Gráfica Ideia e Imagem. Na Casa das Rosas. Amanhã.
Ronaldo postou foto no Twitter com camiseta escrita "Nós vivemos de Corinthians". Adversários logo fizeram uma fotomontagem na internet: "Nós vivemos de mimimi...".
Noite de craques
Acompanhado da mulher Bia Antony, Ronaldo - acreditem - foi barrado no Teatro Municipal do Rio, anteontem, palco do Prêmio Craque do Brasileirão. "Cadê seu convite?", perguntou um segurança. Surpreso, o jogador admitiu não ter nada em mãos. Ao ver o Fenômeno naquela situação, torcedora do Fluminense não perdeu a chance de provocá-lo. "Se eu lhe der minha camisa do Fluzão, você me dá um sorrisinho?" Nenhuma reação. O sem-convite ligou para Andrés Sanchez, que estava dentro do teatro e logo apareceu para liberá-lo.
Maior sucesso da noite? Não foi um jogador e sim Marcelo Adnet. E a comissão de frente da Unidos da Tijuca, que se esmerou na troca de roupa, conforme o time homenageado. Eleitos discursos mais chatos, os dos ministros Orlando Silva e Carlos Gabas. E o mais aplaudido foi Conca, que não fez um discurso.
Sanchez subiu ao palco para receber de Lula uma placa pelo centenário do Timão e provocou, com palavras capciosas, o tricolor carioca, vencedor do Brasileirão. Foi vaiado. Maior emoção ficou por conta da homenagem a Ronaldo, que depois de ser aplaudido de pé, chorou diante da plateia.
Colaboraram Bruno Lousada e Sílvio Barsetti