terça-feira, novembro 30, 2010

JANIO DE FREITAS

Insegurança pública
JANIO DE FREITAS
FOLHA DE SÃO PAULO - 30/11/10

A presença de militares no Rio criou mais nós no velho problema de participação, ou não, das Forças Armadas


A PRESENÇA de militares na Vila Cruzeiro e no Complexo do Alemão não resolveu e ainda criou mais nós no velho problema da participação, ou não, das Forças Armadas em ações contra a bandidagem armada. Ou seja, contra a insegurança interna: da população, de atividades industriais e imobiliárias em determinadas áreas, e de presença de serviços do Estado sem licença dos chefes locais, caso de obras do próprio governo, como o PAC.
Foi por força desse problema que coube à PM e à Polícia Civil do Rio serem a força avançada na invasão da Vila Cruzeiro, conduzida sua primeira leva por blindados dos Fuzileiros Navais. À Marinha foi pedido, e prontamente atendido, o auxílio de alguns blindados de transporte dos fuzileiros. Ao Exército foi pedido auxílio de tropa, que não foi mandada à operação na Vila Cruzeiro.
Há duas versões para a omissão. Por uma, o comandante do Exército participava de solenidade quando a participação era considerada; então teve que ir, depois, a Brasília para conversar com o ministro da Defesa sobre o assunto; e disso resultou o atraso de um dia e meio para a inclusão do Exército no conjunto de forças.
Ainda bem que não se tratava de acontecimento grave e urgente. Na era das comunicações, Marinha, Nelson Jobim e o secretário José Mariano Beltrame tomaram as decisões preliminares por telefone. Em dez horas os blindados e seus fuzileiros estavam prontos na Vila Cruzeiro, e logo se tornaram um sucesso de público e de eficácia.
Mais simples, a outra versão, vítima de súbito sumiço depois de sucinta publicação, coincide com vários precedentes: o Exército só participaria de operação se o comando fosse seu -o que nem cabia considerar, com o planejamento pronto e tantas providências já efetivadas. Beltrame teve o mérito de não se curvar na situação e registrou para os atentos que só a Marinha estava na operação por ser a que aceitou participar, na definição consagrada, da "recuperação da Vila Cruzeiro para o Estado".
O problema do papel impreciso das Forças Armadas no Brasil em democratização projeta distorções variadas. A operação no Cruzeiro e no Alemão era propriamente policial, em conformidade com a concepção de polícia e de sua função?
Armas pesadas, de combate, não são próprias do equipamento policial. Polícias estaduais e a Polícia Federal têm, há tempos, grupos constituídos como comandos de ações de guerra, imitação iniciada pela PF por adoção dos terríveis ensinamentos difundidos, na TV, pela série "Swat". Até um uniforme sinistro (e irregular), os agentes da PF se deram e estimularam nos comandos bélicos das polícias estaduais: vestem-se de preto, botas militares, tocas ou capacetes, diversas armas militares, cartucheiras por toda parte e signos expressivos.
Tais comandos têm prestado serviços, a par de agressões aos direitos humanos e a todos os outros direitos, mas, em geral, não estão no papel de polícias. No mínimo, ocupam funções atribuídas, por lei, às PMs. E, como operações nas fronteiras exemplificam, nem das PMs, mas do Exército.
"Recuperação do território para o Estado": a frase é o centro das narrativas e considerações em todos os meios de comunicação, a respeito da operação no Cruzeiro, no Alemão e em futuros objetivos. Se, porém, um território brasileiro não está sob controle do Estado brasileiro, trata-se de anormalidade posta pela Constituição sob responsabilidade das Forças Armadas, incumbidas da segurança física nacional. E, portanto, da unidade territorial maculada se uma fração sua se põe à margem do Estado.
Essa barafunda toda vai muito bem com o Brasil, mas não tardará a fazer com que o Brasil vá mal por um novo motivo. Será o de forças armadas demais, cada vez maiores por necessidade, cada vez mais capazes de autonomia e, não por predicado seu, tão mais sujeitas à corrupção quanto mais poderosa a sua presença. Se a Força Nacional deve ser nacional mesmo, se conviria criar a Guarda Nacional, que explicitude deve ser dada à função das Forças Armadas -seja o que for, precisa de atenção, a começar dos olhares dos meios de comunicação.
A insegurança pública criada pela criminalidade explícita tem um outro lado, que é o meio de combatê-la sem criar outras formas de insegurança.

JOSÉ SIMÃO

 Ueba! O Bope vira Ibope!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 30/11/10

E um cartaz num poste do Rio: "Pai Nascimento do Bope: traz a pessoa armada em dois dias". Rarará!

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
Não aguento mais narcotráfico! Tô ficando com complexo de alemão! E o Bope vira Ibope. Adorei a cobertura da mídia: "E atenção, direto do morro do Alemão, um tiroteio com exclusividade pra Globonews". É a primeira vez que vejo tiroteio com exclusividade. Assinaram contrato? E o tiroteio tem vale transporte? Rarará!
E aquela casa, na subida do morro, que pendurou um cartaz: "EU AMO A RECORD!". E a Record ama Jesus! Rarará!
E cartaz num poste do Rio: "Pai Nascimento do Bope: traz a pessoa armada em dois dias". Rarará! E como disse uma amiga minha: "Eu quero ser invadida pelo Bope! Tô trocando complexo de cinderela por complexo de alemão: ser invadida sábado a noite por um monte de homem musculoso e cara pintada!".
E eu vi duas fotos hilárias. Os bopes subindo o morro e, atrás, a placa "Serviços Funerários". Outra, os bopes subindo o morro e um cartaz no poste: "Pensão do Bilau. Alberto Todos os Dias". Esse Alberto Todos os Dias é traficante também?
Aliás, adorei os nomes dos traficantes: Mr. M (faz sumir pó, fumo, lança, cliente, amigo), Sandra Sapatão e Chupetinha do Juramento. Esse vai fazer chupetinha em outro lugar. Rarará!
E a polêmica da bandeira? Que bandeira teria que ser hasteada no alto do Alemão? Brasileira, bandeira do Rio, da Polícia Civil? O povo do Twitter resolveu: tinha que hastear o símbolo do Biscoito Globo!
E uma socialite vendo a invasão: "Chega de pobreza! Daria pra eles invadirem o Country Clube pra eu copiar uns modelos de Réveillon, que eu tô sem ideia?".
E aí apareceu escrito na tela: "Morador cruza com traficante". O quê? Morador cruza com traficante? E nasce o quê? Uma metralhadora? Rarará! E traficante quando morre vira pó?!
E adorei a casa do trafica. A piscina, adorei o golfinho soltando água pela boca. E todo mundo: "Casa cafona, brega pra cacete!". Ué, mas é estética de trafica! Queriam o quê? Sofá da artefato com "chaise longue" do Niemeyer?
E mais um predestinado: sabe como se chama um dos seguranças do Cristo Redentor? JESUS! Rarará! E, quando ele nasceu, a mãe disse: "Meu filho, você vai se chamar Jesus e vai tomar conta da estátua do teu irmão". Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

ILIMAR FRANCO

O ministro do Rio 
Ilimar Franco 

O Globo - 30/11/2010

A presidente eleita, Dilma Rousseff, já fez sua escolha para o Ministério da Saúde. Ela quer que o secretário de Saúde do Rio, Sérgio Côrtes, assuma a pasta. Sua transferência para o governo federal foi discutida ontem, na Granja do Torto, no encontro de Dilma com o governador Sérgio Cabral. O PMDB manteria assim, em suas mãos, o maior orçamento. Mas não se sabe, ainda, qual a reação de seus líderes e dirigentes com essa escolha.

Os três curingas de Dilma Rousseff
A presidente eleita, Dilma Rousseff, considera curingas, na montagem do ministério, os petistas José Eduardo Cardozo, Paulo Bernardo e Fernando Pimentel. Os três serão ministros. Cardozo vai, provavelmente, para a Justiça; Paulo Bernardo está indo para Comunicações; e Pimentel pode ir para o Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Mas os três sabem que podem acabar sendo escalados para outras áreas, dependendo das necessidades criadas na composição com os partidos aliados. O que melhor ilustra essa indefinição é o caso de José Eduardo Cardozo. Até ontem, ele não tinha procurado ninguém do Ministério da Justiça.

Desejos
O PT de Pernambuco quer ficar com o Ministério do Desenvolvimento Social, o da Cultura ou o de Ciência e Tecnologia. Os petistas pernambucanos argumentam que seu desempenho nas urnas justifica um cargo no primeiro escalão.

Diferença
Os políticos já perceberam que há uma diferença enorme de estilo entre o atual vice-presidente, José Alencar, e o futuro vice, Michel Temer. Eles dizem que Temer atua com desenvoltura e visibilidade. Alencar é mais discreto.

Jogando contra
O PT trabalha contra a indicação de Fernando Bezerra Coelho, apadrinhado do presidente do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, para o Ministério da Integração Nacional. Os petistas elogiam seu trabalho na Secretaria estadual de Desenvolvimento Econômico e na presidência do porto de Suape, mas reclamam que, politicamente, ele seria um “trator”. Ou seja, o PT teme perder espaço, caso Coelho ocupe a pasta.

Primeiro o PMDB, depois os demais

A presidente eleita, Dilma Rousseff, inicia a semana tratando da participação do PMDB em seu governo. Além da Saúde, decidida ontem, já está certo que o senador Edison Lobão (MA) voltará para o Ministério de Minas e Energia. O partido terá ainda mais duas ou três pastas. O ministro Nelson Jobim (Defesa) não entra na cota do PMDB. Depois disso, Dilma começará a decidir o espaço dos demais partidos da aliança. O PSB vai levar Integração, e o PP pode manter Cidades.

DORA KRAMER

Antes tarde Dora Kramer 
O Estado de S.Paulo - 30/11/2010


Entusiasmo é material perecível, assim como senso crítico é matéria prima indispensável ao desenvolvimento da humanidade. Agora, desqualificar o trabalho das forças estadual e federal no combate ao poder do tráfico no Rio de Janeiro na última semana é, além de uma atitude retrógrada, um exercício de crítica à deriva. Um equívoco, sobretudo.

São poucos, mas ainda há focos de resistência ao reconhecimento de que o que houve no Rio significou um avanço incontestável em relação ao que estávamos acostumados a ver. Principalmente nos últimos 20 anos, quando o crime já havia consolidado suas posições e as autoridades ainda resistiam - por incompetência, compadrio ou indiferença - ao enfrentamento.

Embora seja pertinente o questionamento sobre as razões pelas quais não houve antes uma atuação semelhante às retomadas dos territórios de Vila Cruzeiro e do Complexo do Alemão, na região da Penha, zona norte da cidade, a mera repetição dessa pergunta não leva a lugar algum.

Melhor que perguntar por que o Estado não agiu antes é cobrar das autoridades a continuidade desse tipo de ação. No País todo. Já ficou demonstrado que o poder público, quando quer e se empenha, ganha sempre.

É mais forte que o crime. Detém a legitimidade da força e, a despeito de enfrentar a "desvantagem" da obrigação de atuar dentro da lei frente a um inimigo livre dos ditames legais, é infinitamente superior a ele.

Portanto, não há mais daqui em diante nenhuma justificativa para que não se prossiga nesse combate. Muito menos existem quaisquer explicações para que o governo federal em conjunto com os governadores não elabore e institua uma política de segurança pública de caráter nacional e com sentido prioritário.

Essa é uma tarefa que se impõe ao governo de Dilma Rousseff. Depois de 16 anos consecutivos de fracassos na área, nos governos Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio da Silva, é hora de a sociedade aplicar o critério da tolerância zero em relação à responsabilidade dos governantes no cumprimento do dever constitucional de garantir o direito à vida aos cidadãos.

Isso abrange a inclusão de diferentes áreas: legislativa, judicial, trabalho de fronteiras, posição do Brasil em relação aos países que exportam drogas e não fazem o combate necessário à exportação de armas, combate duro aos barões da criminalidade, o expurgo da corrupção (da polícia, da política, do Judiciário), sem prejuízo também de se revelar responsabilidades sobre décadas de omissão.

A população que não sofre na pele a escravidão pelos traficantes no cotidiano parou de considerar o bandido um herói e, de um modo geral, a mentalidade em relação à defesa dos direitos humanos está se alterando: há o viés social, mas não há que se desprezar o poder da repressão.

A cultura do protesto vão - passeatas da elegantzia e da intelligentzia que o ex-chefe de polícia Hélio Luz denunciava por "protestar de dia e cheirar à noite" - deu lugar à participação objetiva e mais que efetiva por intermédio do Disque-Denúncia.

A polícia, por sua vez, começou a atuar como aliada do cidadão, substituindo a arbitrariedade pela inteligência e o planejamento estratégico, sob um comando sério e integrado.

Nada está resolvido, mas está provado que o Estado sabe o caminho. Se não enveredou por essa trilha até hoje, a hora é agora. Sem recuos, pois as condições estão postas e o rumo da recuperação da soberania do Estado está dado. Sem margem para ambiguidades.

Dona da casa. De Lula a FH, muitos se arvoram o direito de dar conselhos públicos à presidente eleita. Não fica bem.

Mais não seja no que tange ao ex-presidente, porque ele pertence à oposição. Derrotada e "eleita" para se opor.

No Twitter. @DECUBITO: "Que a polícia tire os bandidos das ruas e o povo tire os bandidos da política."

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Otimismo no setor de material de construção cai, diz estudo 
Maria Cristina Frias 

Folha de S.Paulo - 30/11/2010

O anúncio feito ontem pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, da prorrogação das desonerações para material de construção civil por mais um ano deve animar o setor em um momento de desaceleração do otimismo.
As perspectivas dos empresários da indústria para o mês de dezembro apontaram queda em sondagem que será divulgada hoje pela Abramat (Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção).
A pesquisa mostra que houve uma diminuição no otimismo para 75%, um aumento da expectativa regular para 20% e aumento de pessimismo para 5%.
Os últimos levantamentos do nível de emprego na construção civil realizados pelo SindusCon-SP também já apresentavam arrefecimento no ritmo de crescimento.
O fôlego dado ontem ao setor, que inclui redução de IPI, deve voltar a aparecer na próxima sondagem, segundo Melvyn Fox, presidente da Abramat.
"A alta da demanda se mostrou um pouco menor que a estimada. Mas a pesquisa pega um período de mudança e insegurança. Não sabíamos se haveria continuidade do IPI nem como seria o ministério. O governo começa a mostrar que o diálogo continua", diz Fox.
A sondagem entre os associados da entidade foi feita nos últimos 20 dias.
Com relação ao mercado externo, a pesquisa aponta aumento da expectativa pessimista de 38% em outubro para 50% em dezembro.

MÁQUINA PARA ENFRENTAR O CÂMBIO

A Villares Metals tem novo diretor-presidente. Harry Peter Grandberg assumiu o comando da empresa no início deste mês com planos de investir R$ 30 milhões na modernização do parque fabril em 2011.
O valor é superior ao deste ano, que teve orçamento feito em período ainda de crise, segundo Grandberg.
A empresa projeta faturamento de cerca de R$ 700 milhões, também maior em relação a 2009.
As exportações, porém, caíram de 40% para 30% do resultado deste ano .
"O câmbio tem impedido que sejamos competitivos nas exportações", diz Grandberg. "A modernização do maquinário será um diferencial para que continuemos a exportar para os principais mercados, a Europa e os EUA."

i-PAD PARA O CORAÇÃO

A Transform, detentora da marca "i-PAD" no Brasil desde 2007, avalia tomar uma decisão em razão do anúncio da Apple de começar a vender o seu iPad no Brasil.
A Transform fabrica equipamentos médicos e de informática. O seu i-PAD é um desfibrilador. Uma abreviação de Intelligent Public Access Defibrillator.
"Vamos atrás do que a lei nos garante. Esse nome é de nossa propriedade", diz Mario Antonio Michelletti, presidente da Transform.
"A Apple nunca nos procurou", completa ele.
Michelletti diz que a empresa tem planos de, no futuro, fabricar o próprio tablet.
No início deste mês, a Apple entrou com um pedido de cancelamento do registro do desfibrilador da Transform no Inpi (Instituto Nacional da Propriedade Industrial).

Investimento e câmbio travam competitividade no Brasil, diz CNI

O atual ambiente macroeconômico brasileiro é desfavorável à competitividade das empresas quando comparado ao de países como China, Índia e Argentina.
Estudo elaborado pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), com 14 países, com base em cinco variáveis macroeconômicas, revela que o Brasil aparece em último lugar na média geral.
"As empresas brasileiras enfrentam maior adversidade em relação aos seus competidores diretos", diz Rafael Lucchesi, diretor de operações da CNI.
O país ocupa a pior posição nos casos de taxa de investimento e de câmbio real.
"A baixa taxa de investimento desfavorece um ambiente de negócios. Revela que o país tem de recorrer à poupança internacional. O câmbio tira a competitividade", afirma ele.
Nos quesitos dívida bruta do governo, taxa de inflação, e investimento estrangeiro direto, o país ocupa posições intermediárias: 8ª, 9ª e 10ª, respectivamente.
Na avaliação de Lucchesi, para um ambiente mais favorável, "o governo deveria trabalhar melhor a questão do câmbio, além de criar estímulos para aumentar os investimentos". O estudo será tema do 5º Encontro Nacional da Indústria, que será realizado amanhã, em SP.

USIMINAS COM GÁS EM IPATINGA

A Usiminas começa a usar, a partir desta semana, o gás natural na área de produção da Usina de Ipatinga (MG).
O objetivo é economizar R$ 40 milhões por ano.
O combustível, fornecido pela Gasmig (Companhia de Gás de Minas Gerais), será utilizado no Alto-Forno 3 e na Aciaria inicialmente.
No Alto-Forno 3, o gás substituirá o coque.
A partir de 2011, o gás natural será levado a outras áreas da usina, em substituição total ao óleo combustível e para cobrir o deficit dos gases gerados no processo siderúrgico. Até meados de 2013 serão concluídas obras para uso do gás em áreas de recozimento e caldeiras, linhas de galvanização e outros.

Aquisição de... A brasileira TCI, de terceirização de processos, anuncia a aquisição de 91,25% da Build Up, empresa do Grupo Edenred, antiga Accor Services. A Build Up atua na área de soluções de RH, como processamento de folha de pagamento, e conta com 280 colaboradores e carteira de 80 clientes.

...tecnologia A aquisição deve impulsionar a TCI a alcançar faturamento de R$ 230 milhões neste ano. Como parte da estratégia de expansão, a empresa tem ainda mais quatro aquisições em vista para o próximo semestre.

Manutenção... A Eletrobras Furnas modernizou o sistema de administração de pagamentos e contratos. A nova plataforma de gerenciamento de informações financeiras permitirá centralizar os dados.

...econômica A expectativa é que a mudança de sistema gere economia mensal em torno de R$ 1 milhão, montante que deixará de ser gasto com a manutenção do antigo sistema de informação.

Tragos... O novo presidente do Sindicato da Indústria do Fumo do Estado de SP, Sérgio Vilas Bôas, defende um regime tributário diferenciado para pequenos e grandes fabricantes de cigarro.

...de tributos A batalha do sindicato tabagista começa amanhã, na Comissão de Desenvolvimento Industrial, que a entidade passou a integrar recentemente. O novo presidente foi eleito para o triênio de 2011 a 2013.

GRANDE COMO SÃO PAULO

A iluminação da ponte Octavio Frias de Oliveira, na zona sul, para este Natal formará um pinheiro de 138 metros de altura por 70 metros de largura. As luzes serão acessas amanhã à noite. Serão 40 mil clusters de luz que além de simular uma árvore de Natal também terão cinco animações diferentes inspiradas na cidade.

CELSO MING

Cláusula de calote 
Celso Ming 

O Estado de S.Paulo - 30/11/2010

Por mais paradoxal que pareça, esquerda e direita ou, rotulando de outra forma, populistas ou durões, dos Estados Unidos e da Europa, convergem na proposta de tratamento a ser dado aos credores.

As esquerdas e os populistas avisam que o povo sofrido não pode ser chamado a pagar com perda de salários, desemprego e mais impostos pelas lambanças dos bancos. E os durões e conservadores, tanto nos Estados Unidos como na Alemanha, entendem que os bancos têm de ser chamados a pagar uma boa parte da conta do ajuste.

Nesse fim de semana foi aprovado o socorro de ? 85 bilhões à Irlanda. A contrapartida foi a distribuição do pão que o diabo amassou à população do país: redução de salários, adiamento da aposentadoria e aumento de impostos.

O Prêmio Nobel de Economia de 2008, Paul Krugman, vem escrevendo que o povo da Irlanda não pode ser convocado a pagar pelos desmandos do setor financeiro. A chanceler da Alemanha, a durona Angela Merkel, sugeriu que a dívida dos países quebrados devesse ser submetida a uma reestruturação (renegociação) pela qual os bancos assumiriam um pedaço da conta. O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, foi contra. Avisou que essa proposta acentuaria a rejeição dos títulos da dívida dos países a perigo e puxaria para cima os juros, aumentando o tamanho do rombo futuro.

Ficou definido que, apenas a partir de 2013, a utilização do Mecanismo de Estabilidade Financeira, o sistema que vai herdar regras e recursos do Fundo de Estabilidade criado em maio para resgatar países em dificuldades da área do euro, só pode ocorrer depois que a dívida já tiver sido reestruturada com os bancos, sob monitoramento do Fundo Monetário Internacional (FMI). Mas o presidente da França, Nicolas Sarkozy, conseguiu barrar outra exigência da chanceler Merkel, a de que a reestruturação fosse automática.

O problema de base não foi eliminado. A partir do momento em que os títulos de dívida incluírem cláusulas de calote será inevitável uma mais forte diferenciação entre os juros a serem pagos pelos membros da área do euro. E essa diferença, por sua vez, será a nova razão para ampliação das disparidades entre índices de competitividade dos países do centro (especialmente Alemanha, Holanda e França) e os da periferia (hoje, Grécia, Portugal e Espanha). A derrubada das bolsas europeias ocorrida ontem é reflexo disso.

A longo prazo, ou a área do euro tratará de montar um sistema de governança que unifique a política fiscal e tudo o que a ela está ligado (impostos, despesas públicas, administração da dívida, etc.) ou, então, o próprio euro será refém de forças desintegradoras.

Afora isso, por mais abutres que pareçam os credores diante do sofrimento do povo, não faz sentido culpá-los pelas agruras pelas quais vêm passando tantos países europeus. Quem se atirou ao endividamento até além do admissível foram os governos, seja para gastar mais (caso da Grécia e Portugal), seja para socorrer os bancos (caso da Irlanda). Foram eles que fabricaram a arapuca em que estão metidos. Não podem agora responsabilizar os credores pelos males dos quais os governantes são responsáveis.

Isso não é nem jogo da direita nem da esquerda. É consequência das decisões tomadas ou das omissões cometidas.

O gráfico mostra como cresce o crédito dos bancos em relação ao PIB.

Armínio no FMI?
O New York Times de sábado avisa que o próximo gerente-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI) poderá vir de um país emergente. Aponta como candidato forte o atual presidente da Bolsa, Armínio Fraga.

Questão de qualidade
Em entrevista ao diário Buenos Aires Económico, o ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser-Pereira disse que a economia da Argentina é mais sólida do que a brasileira.

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

O dia seguinte 
Renata Lo Prete 

 Folha de S.Paulo - 30/11/2010

Mais do que sugerir seus nomes para o ministério, o governador Sérgio Cabral (PMDB) veio a Brasília ontem repetir à presidente eleita, Dilma Rousseff (PT), o que tem dito a aliados: para a operação contra o tráfico no Rio ser bem sucedida no longo prazo, ele precisará de cobertura federal. Sua preocupação mais imediata é garantir efetivos e recursos para manter a ocupação dos morros e avançar com o modelo das UPPs.
O peemedebista está, por ora, fortalecido. E sabe que, se prevalecer a avaliação positiva da operação, ele recolherá os dividendos políticos. O PMDB está de olho na movimentação do governador.

Monitor A Câmara constitui hoje uma comissão parlamentar de acompanhamento da crise no Rio. Proposta pelos deputados Chico Alencar (PSOL-RJ) e Luiz Couto (PT-PB), terá como escopo avaliar a ação continuada e preventiva do poder público no combate ao crime.

Eu, heim? Diante da profusão de comentários sobre a influência de Lula na escolha dos futuros ministros, Dilma observou a um integrante do atual governo: "Engraçado. A imprensa gostaria que eu conversasse com o DEM, por acaso?".

De mudança Paulo Okamotto, amigo do peito de Lula e presidente do Sebrae desde 2005, deve deixar a agência para trabalhar no futuro instituto do petista.

Mãozinha A eventual indicação de Lídice da Mata (PSB-BA) para o Ministério da Integração Nacional conta com o apoio entusiasmado do presidente do PDT, Carlos Lupi. Motivo: o suplente de Lídice é o pedetista Nestor Duarte, que dessa forma assumiria cadeira no Senado.

Continuidade Não apenas o presidente José Sergio Gabrielli tende a permanecer no posto na Petrobras. Diretores como Guilherme Estrella (Exploração e Produção) também devem manter suas funções mais tempo.

Só pensa naquilo Em telegrama a Washington divulgado pela organização Wikileaks, o então embaixador Clifford Sobel credita a presença brasileira no Haiti à "obsessão" de Celso Amorim em ampliar as chances de o Brasil obter assento no Conselho de Segurança da ONU.

Curto... O PT espalha o que seria um recado de Dilma: ela estaria determinada a retirar do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) a ascendência sobre Furnas.

...circuito São esperadas mudanças na Eletronorte, presidida por Josias Matos de Araújo. Já na Eletrosul, o comando poderá permanecer nas mãos de Eurides Luiz Mescolotto, ex-marido da senadora Ideli Salvatti (PT-SC).

A pedido Lula tinha programado se despedir de viagens internacionais em Georgetown, na Guiana, para onde foi na semana passada. Mas, atendendo a um apelo de Cristina Kircher, presidente da Argentina, decidiu desembarcar em Mar del Plata nesta sexta para a 10ª Conferência Ibero-americana.

Alicerce Não parte apenas de Geraldo Alckmin a tentativa de estreitar laços com o meio sindical. O PSDB-SP também decidiu criar um núcleo voltado à interlocução com os sindicatos de trabalhadores, que será comandado a partir de hoje por Antonio de Sousa Ramalho, ligado à construção civil.

Panetone Em campanha por novo mandato na presidência da Assembleia, Barros Munhoz (PSDB) promoveu evento de boas-vindas aos deputados eleitos, que têm como primeiro ato a eleição da mesa, em março.

tiroteio

"O 'NYT' estampa que a ação no Alemão visa a segurança para a... Olimpíada! Nós queremos segurança aqui e agora, não para 2016 nem só para estrangeiro desfrutar."

DO DEPUTADO CHICO ALENCAR (PSOL-RJ), sobre a cobertura realizada pela imprensa internacional da ofensiva contra o tráfico no Rio.

contraponto

Melhor dizendo

Aos 18 anos, José Alencar tomou um empréstimo de 15 contos de réis com o irmão Geraldo para abrir seu primeiro negócio, uma loja de tecidos na cidade mineira de Caratinga. Os juros eram de 1,5% ao mês.
Quando um gerente de banco lhe ofereceu 1%, Alencar procurou o irmão, que prontamente explicou:
-Não te cobro juros. Aquilo é aluguel do dinheiro...
Esta e muitas outras histórias do vice-presidente da República são relatadas na biografia "José Alencar -Amor à Vida", da colunista da Folha Eliane Cantanhêde, a ser lançada amanhã em São Paulo.

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Rio 40 graus
Sonia Racy 

O Estado de S.Paulo - 30/11/2010

Empresas de ônibus que tiveram veículos incendiados durante os nove dias de ataques no Rio esperam finalização do diagnóstico de prejuízos realizado pelo advogado Juarez Bonelli. Com os números em mãos, ele decidirá, junto aos empresários do setor, se entra com ação indenizatória contra o Estado.
Bonelli calcula R$ 200 mil por cada um dos 32 coletivos destruídos, em média. "O governo carioca faz pressão para colocar ônibus na rua em dia de violência. Depois, quer retirar os escombros rapidamente por causa da comoção social. Isso tudo sem garantir segurança", lamentou Bonelli, ontem, à coluna.

Rio 2
Adriano, atacante do Roma, afirmou não ter acompanhado a invasão militar na Vila Cruzeiro, favela onde nasceu.
O jogador, aliás, já depôs sobre supostos envolvimentos com o tráfico da região.

Rio 3
Celso Athayde, da principal ONG do Complexo do Alemão, a Cufa, fez uma sugestão à polícia via Twitter. O produtor musical recomendou ao comando instalar uma ouvidoria para moradores da favela.

Rio 4
Denis Mizne, do Instituto Sou da Paz - que briga pelo desarmamento - falou à coluna sobre a invasão da Vila Cruzeiro. Para ele, a solução seria uma política consistente "que desarme e tire o controle territorial, não apenas do tráfico, mas também das milícias".

RSVP
Mais atenção às caixas de correspondências: a partir de sexta, a Presidência começa a postar os convites para a posse de Dilma. É Gilberto Carvalho quem está à frente da comissão que organiza a festa.

Crista da onda
A Praia do Tombo, no Guarujá, será a segunda no Brasil a receber certificação internacional de qualidade ambiental, concedida pela Fundação para o Desenvolvimento da Educação. A Bandeira Azul, que tremula em 521 praias espanholas, referência para o exigente turista europeu, será fincada no balneário em dezembro.

Merci
Na plateia da Jazz Sinfônica, sábado, no Auditório Ibirapuera, Dominguinhos chamou a atenção. A presença do sanfoneiro foi lembrada pelo acordeonista Richard Galliano, que se apresentou no concerto: fez uma pequena pausa e o saudou. Em francês.

Caso Sean, ainda
O padrasto de Sean Goldman, João Paulo Lins e Silva, não desiste. Pedirá a Dilma que interceda junto à Justiça americana. A família brasileira quer o direito de, ao menos, visitar o menino de dez anos que vive com o pai biológico em New Jersey, nos EUA.

Sean 2
Diante da absoluta falta de notícias, a família que mora no Rio pediu aos advogados americanos que mandassem prova confirmando que o garoto estava vivo. A avó, Silvana Bianchi, recebeu, então, um recado no celular: "Oi, vó, tudo bem? Me manda um... (palavra não compreendida). Depois eu te ligo, beijos".
Tudo em inglês.

Um milhão de amigos
Roberto Carlos colocará toda sua obra na internet nos próximos meses. Estão avançadas as negociações entre o empresário do cantor, Dody Sirena, e o grupo que viabiliza na rede canções de Bob Dylan, Barbra Streisand e Elvis Presley.

Saravá
É melhor a Faap se benzer. Francis Coppola, que aterrissaria ontem para première de Tetro, adiou a visita por problemas técnicos no avião que o traria dos EUA. É a segunda vez que a universidade passa algo do gênero.
Oliver Stone veio em maio e ficou preso na alfândega por falta de visto. E quase não chegou para a pré-estreia de Ao Sul da Fronteira.


Na frente

Mesmo com todo tumulto no Rio, o livro Jorge Hue, Vetores de Uma Vocação, com fotos de José de Paula Machado, será lançado hoje. Onde? No Palácio das Laranjeiras.

Quem venceu o Citigold Masters Tour anteontem, foi Ricardo Barbara, da Apple Brasil, e Arnaldo Curvello, da Mira Capital. Este ano, o tenista Ronaldo Barsotti ficou de fora.

Francismar Lamenza lança Os Direitos Fundamentais da Criança e do Adolescente e a Discricionariedade do Estado. Sexta, na Livraria da Vila da Lorena.
Beto Ribeiro autografa Eu Odeio Meu Chefe. Hoje, na Saraiva do Shopping Higienópolis.

Paulo Miklos canta sucessos de Noel Rosa. Hoje, no CCBB.
O Centro da Cultura Judaica abre, a partir de amanhã, o Ciclo Multicultural.
Otávio Piva de Albuquerque, da Expand Wine Bar, abre hoje unidade na Daslu, de sua irmã Eliana Tranchesi.

A Fundação BNP Paribas Brasil convida para retrospectiva de Raymundo Colares. Hoje, no MAM.

Dura é a vida de transição. Com a agenda lotada de pedidos de audiência, Alckmin tem almoçado em bandejões populares do centro de SP e encomendado McDonald"s.

MERVAL PEREIRA

A polícia e o estado de direito 
Merval Pereira 

O Globo - 30/11/2010

Os relatos que começam a surgir de abusos de poder por parte de policiais na ocupação do Complexo do Alemão têm que ser investigados e reparados o mais rapidamente possível pelas autoridades responsáveis pela segurança pública no Rio, para que não se quebre o clima de solidariedade entre a população e as forças da lei, a principal razão do sucesso da operação.

Houve uma mudança fundamental na atuação das forças de segurança nesse episódio, com os limites da lei sendo respeitados e os direitos dos cidadãos, até mesmo dos traficantes, norteando a ação de repressão. Desvios eventuais têm que ser reparados.

No domingo, a Globo News colocou no ar diversos depoimentos de estudiosos que destacaram em uníssono o que fez a diferença desta ação policial das anteriores.

O psicanalista Joel Birman, professor da Uerj e da UFRJ, considera que a população sentiu que a polícia deixou de ser ambígua, o que a motivou a sair da inércia.

“A polícia se firmou como sujeito de um estado de direito. O imaginário das pessoas faz com que elas se sintam protegidas por uma autoridade e saiam do medo paralisante que até então os dominava”, comenta Birman.

O recorde de telefonemas para o Disque-Denúncia demonstra, segundo ele, que, quando os cidadãos passam a acreditar na ação das autoridades, no momento em que fazem a denúncia, acham que estão trabalhando para ajudar a limpar a comunidade de elementos nefastos.

“Foi a maneira decidida de agir que deu à população a sensação de segurança”, diz Birman, ressaltando que não só a polícia não se deixou intimidar pelos traficantes como se apresentou com uma força muito maior, e não negociou para entrar na favela.

O recado dado aos traficantes e à própria população foi: “Nós vamos entrar e prender vocês. Nós estamos do lado do bem e vocês, do lado do mal. Nós estamos do lado da lei e vocês, do lado do crime. O Estado vai recuperar esse território”. Para Joel Birman, a imagem da fuga dos bandidos “foi como se a gente sentisse a reconstituição da sociedade do Rio”.

Uma sociedade é uma associação de pessoas, lembra Birman, e com a operação “surgiu a possibilidade de uma população fragmentada, assustada, cada um tratando de sobreviver no seu canto, de repente reconstituir os laços sociais e participar com solidariedade através do Disque- Denúncia, através das redes sociais, do Twitter”.

Para Joel Birman, o fato de a TV Globo ter transmitido ao vivo os primeiros momentos da ocupação deu maior transparência à operação e evitou que qualquer excesso eventual fosse cometido.

O sociólogo Ignácio Cano, da Uerj, preocupa-se com o reforço da lógica da guerra, e ficou aliviado por não ter havido um banho de sangue.

Ele temeu que tivéssemos um retrocesso com a ação da polícia meramente reativa às ações dos bandidos, deixando de lado o planejamento estratégico que rege a instalação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs).

“Há centenas de comunidades no Rio de Janeiro ainda dominadas pelo tráfico e pela milícia, e não há sentido em cantarmos vitória”, ressalta.

Para ele, o mais importante é a retomada do território, e, para isso, as forças de segurança terão que continuar no Complexo do Alemão até que se instale uma UPP.

Diante de um comentário meu, Cano ressalvou que não é possível punir as comunidades que estão sob o domínio do tráfico com a falta de obras públicas.

Eu me referia às bandeiras hasteadas no teleférico do Complexo do Alemão que, se por um lado sinalizam uma vitória das forças legais, também relembram que as obras do PAC estavam sendo feitas com a favela dominada pelo tráfico, o que demonstra que havia um acordo com os traficantes.

A própria rota de fuga pelas tubulações subterrâneas e os túneis que os operários teriam sido obrigados a construir mostram que não há possibilidade de fazer acordo com bandidos sem se envolver com algum tipo de desvio.

Francisco Carlos Teixeira, professor de história contemporânea da UFRJ, classifica de “uma vitória” não ter acontecido a grande explosão de violência, o banho de sangue que se temia.

A operação, destaca, mostrou que as forças policiais e militares tiveram uma boa atuação dentro do estado de direito. “Vimos que é possível ser duro, manter a ordem, sem violação dos direitos civis, do direito da população. Também vimos que há eficiência, há competência”.

Ele destaca, no entanto, a importância de o governo federal agir. “Não se trata de colocar à disposição do estado carros blindados e tropas, porque isso é uma exceção. Tem que agir é no cotidiano: a Receita Federal tem que controlar a lavagem de dinheiro, a Polícia Federal tem que tomar para si a missão constante de controle de fronteira, não apenas na crise, e a Polícia Rodoviária Federal não pode deixar chegar cocaína, maconha e armas ao Rio de Janeiro”.

Ele acha que houve nitidamente uma diferenciação na ação, destacando que “infelizmente nos lembramos claramente que as incursões da polícia nas comunidades populares no Rio eram movidas pela vingança e culminava em coisas lamentáveis como Vigário Geral e outras tantas até recentemente”.

Jacqueline Muniz, antropóloga, professora da Ucam e da UFRJ, diz que a diferença desta vez “foi a qualidade da ação do governo. Diante da incerteza, da imprevisibilidade, do temor, responderam com superioridade de método, regularidade”.

Também demonstraram, ressalta, uma capacidade de ação coordenada, integrada, e, portanto, “uma ação de natureza federativa”.

Jacqueline Muniz também acha que foi importante a prestação de contas regular que foi feita à população. “Na normalidade democrática, as forças da lei dependem da cooperação da população. Como fazer busca e rastreamento sem mandado de busca e apreensão? As próprias casas são geminadas, umas se ligam às outras. É preciso fazer isso com a cooperação da população. Quanto menor o nível de resistência da população à polícia, menor é o risco em operações especiais”, destaca.

Ela destacou dois aspectos importantes na operação do fim de semana: o centro de triagem e identificação, para minimizar a possibilidade de erro nas detenções, e a montagem de centros de socorros.

MÍRIAM LEITÃO

O dia seguinte 
Miriam Leitão 

O Globo - 30/11/2010

É emblemático que o símbolo da conquista seja uma bandeira brasileira numa obra do governo. O teleférico é do PAC, o PAC é do governo. A bandeira ser o retrato da reconquista exibe a ambiguidade da situação. Mas nunca tivemos tanta chance de enfrentar nossas contradições e vencer uma forma de organização da economia do crime no Rio que incluía o controle territorial.

O Rio sonhou muito com este momento. Foi um avanço quando todos passaram a entender que os bandidos tiranizam as populações locais. Parece simples agora que o conceito se firmou, mas por muito tempo havia desvios na forma de pensar o problema das áreas do Rio onde o crime se instalou. Os governos sempre pediram licença às “autoridades” locais para entrar, o que significava legitimá-las. Por isso a palavra “libertação” se justifica. Depois da euforia, é hora de pensar com racionalidade os passos seguintes, os dias seguintes.

O que apareceu até agora foram os frutos do crime: um enorme volume de drogas e de armas apreendidas. Sabese pouco do paradeiro dos chefes. A Polícia e as Forças Armadas ocuparam o terreno para estrangular fisicamente o tráfico, mas os canais financeiros que alimentam o negócio continuam abertos. É uma atividade que gera muito dinheiro e muito desses recursos acaba circulando pelo sistema bancário.

O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e o Banco Central foram importantes quando se combateu o PCC em São Paulo. As pessoas ligadas direta ou indiretamente ao crime precisam ter suas movimentações financeiras analisadas cuidadosamente pelo Coaf, cuja função é esta mesma. O órgão não faz trabalho de campo. Ele analisa informações de movimentações financeiras suspeitas para evitar que dinheiro ilegal vire legal. Oficialmente, o Coaf tem que ser informado apenas de movimentações acima de R$ 100 mil. No caso do tráfico, há milhares de depósitos de pequeno porte numa mesma conta. É mais difícil de flagrar. O órgão já está atento.

O tráfico é uma atividade econômica. Criminosa, bandida, mas que tem os mesmos elementos de qualquer outra: emprega, gera renda, tem uma logística de distribuição dos seus produtos, tem financiamento e mercado. Mesmo se por milagre todos os chefes do tráfico forem presos, outros tomarão seus lugares e a atividade econômica continuará. O economista Sérgio Besserman avalia que a vitória foi contra um dos absurdos, o maior deles:

— Os Estados Unidos gastam US$ 15 bilhões por ano lutando contra as drogas e estão perdendo. O que houve neste fim de semana foi uma vitória contra a lógica de controle territorial do crime que existe no Rio. Mesmo que em Los Angeles ou São Francisco circule mais droga do que aqui, os criminosos não são donos de partes da cidade. Quando o Estado aceita não entrar em uma área, ele passa a admitir tudo. Esse foi o sentido dessa vitória.

Como o Estado organizou as obras do PAC? Como as empreiteiras fazem seu trabalho? Que poder têm os bandidos sobre os trabalhadores contratados? Obviamente tudo foi feito com negociação ou anuência do tráfico, do contrário a Polícia não instalaria uma bandeira no teleférico como símbolo da libertação.

Nós vivemos agora a agradável sensação de alívio. Uma fortaleza que parecia inexpugnável foi conquistada com vários ineditismos, como a cooperação entre as forças do Estado. Foi um dia realmente histórico, mas para não perder a vitória é preciso dar os outros passos.

O secretário de Assistência Social, Ricardo Henriques, já tem pensado esse futuro. O PAC social tem projetos em andamento. Já beneficiou 2.700 famílias com novas casas e apartamentos, instalou uma escola de ensino médio de qualidade, fez uma UPA. Aquele morro que foi visto por todo mundo com os bandidos fugindo da Vila Cruzeiro para o Alemão será reflorestado para ser área de preservação ambiental. Com a UPP, chegará também a UPP Social, que vai olhar antes a realidade local.

— Cada comunidade tem uma realidade diferente. Pavão- Pavãozinho, Chapéu Mangueira são diferentes do Alemão — diz Ricardo Henriques.

O economista André Urani confirma essa ideia, lembrando que em algumas favelas da Zona Sul há uma economia no entorno. No Alemão, não.

— Em volta do Alemão é um cemitério industrial. E não adianta pensar em novas indústrias, porque as grandes cidades estão se desindustrializando. Lá, moram pequenos prestadores de serviços, pintor, a mulher que faz o sacolé (picolé em saco), o serralheiro. É um mundaréu de pequenas atividades órfãs. Não adianta querer formalizar tudo. Se a mulher do sacolé tiver que pagar pela luz do freezer — e o governo estadual ainda cobrar 40% de imposto sobre a luz — ela vai preferir a informalidade — diz Urani.

É preciso não esquecer que todas as favelas da Zona Oeste ainda estão sob o domínio das milícias, e que das 13 comunidades onde há UPP, só uma, a do Batan, foi tirada da milícia.

Os dados sobre o Alemão são pouco confiáveis, segundo Besserman, porque há uma subdeclaração. Moradores preferiam não dizer que são de lá pelo estigma do local. Agora, o Complexo será mais bem estudado.

Enfim, o desafio da vitória se multiplica e se bifurca como as ruelas do Alemão. Há muito a fazer no dia seguinte a uma vitória como essa. Mas que bom que chegou o dia seguinte.

ARNALDO JABOR



A segunda entrevista do bandido

Arnaldo Jabor 

O Estado de S.Paulo
-Em maio de 2006, tu me entrevistou... Estou lembrado da tua cara... Saiu até no Harper"s Magazine... em inglês...
Agora estão me mudando de Catanduvas, acho que para Roraima, sei lá. Mas, creia que eu não ordenei ataque nenhum, que não sou burro. Você acha que eu ia queimar ônibus e jogar a população contra nós? Isso é coisa de traficas idiotas... Na época, você me perguntou como entrei no crime e eu te disse que eu era invisível desde menino... Vocês nunca me olharam durante décadas... E olha que era mole resolver o problema da miséria... O diagnóstico era óbvio: migração rural, desnível de renda, poucas favelas, ralas periferias... A solução é que nunca vinha... O governo federal alguma vez alocou uma verba para nós? Nós só aparecíamos nos desabamentos de barracos ou nas músicas românticas sobre a "beleza dos morros ao amanhecer", essas coisas... Os policiais eram considerados bandidos e nos éramos heróis, lembra? "Vítimas da miséria." É; mas quem fez o crime crescer não foi a miséria; foi o capitalismo, cara. Com a multinacional do pó, ficamos ricos e as armas chegaram... Aí começou o "que horror!", "que medo!" entre vocês do asfalto. Nós fomos o início tardio de vossa consciência social...
- Como assim?
- Nós somos filhos tortos do crescimento econômico; e vocês também. Nosso enriquecimento e virulência obrigaram vocês a se modernizarem na repressão. De certa forma, vocês aprenderam conosco, numa espécie de "formação reativa dialética". Viu, como sou culto? ...Li centenas de livros em Catanduvas.
- Sim, mas você que viveu na barra-pesada, me diga, qual é a solução?
- Vocês só chegam a algum sucesso se desistirem de defender a "normalidade". Olha aqui, mano, não há mais solução! A própria ideia de "solução" já é um equívoco pequeno-burguês... há há ...é filosoficamente uma esperança vã!
Mas, vou ser franco contigo, na boa, na moral: estamos todos no centro do "Insolúvel". Vocês no bem e eu no mal e, no meio, a fronteira da morte, a única fronteira.
Só que nós sabemos que não há saída. Só a morte ou a merda. E nós já trabalhamos dentro delas. A morte para vocês é um drama cristão numa cama. A morte para nós é o "presunto" diário, desovado na vala... Vocês, intelectuais, não falavam em "luta de classes", em "seja marginal seja herói"? Pois é: somos nós! Há há...
Há uma terceira coisa crescendo aí fora, cultivada na lama, se educando no absoluto analfabetismo, se diplomando nas cadeias, como um monstro "Alien" escondido nas brechas da cidade. Você não ouve as gravações feitas "com autorização da Justiça"? Pois é. É outra língua. Estamos diante de uma espécie de Pós-Miséria. Isso. Há uma nova cultura assassina, ajudada pela tecnologia, celulares, internet, armas modernas. É a merda com chips, com megabytes. Meus comandados são uma mutação social, são fungos de um grande erro sujo.
- O que mudou nas periferias?
- Grana. A gente hoje tem. Você acha que quem tem US$ 40 milhões, como o Beira Mar, não manda? Com 40 milhões a prisão é um hotel. Quem vai queimar essa mina de ouro, tá ligado?
Vocês são o Estado quebrado, dominado por incompetentes.
Nós temos métodos ágeis de gestão. Vocês são lentos e burocráticos. Vocês são regionais, provincianos. Nossas armas e produtos vêm de fora; somos globais.
- Você acha que o caminho é esse?
- Vocês estão fazendo uma crítica da própria incompetência. Esse negócio das UPPs é muito bom. É a primeira coisa imaginosa que apareceu. Mas, se não houver uma reforma geral das instituições, as UPPs podem morrer na praia. Elas mantêm o paciente vivo, mas não combatem a doença original.
Tem de haver uma reforma radical do processo penal do País, tem de haver comunicação e inteligência entre policias municipais, estaduais e federais, programas sociais e educação. Tudo bem... agora melhorou muito; aumentou o pragmatismo e a eficiência. Nós sempre estivemos no ataque; vocês na defesa. Agora tudo se inverteu. Parabéns.
A repressão aprendeu muito conosco. A polícia e a política aprenderam com o excesso de horrores que já produzimos nos últimos 30 anos, aprenderam com os tremores da população, com os ônibus pegando fogo, com as cabeças cortadas, com os micro-ondas torrando os X-9s , aprenderam que não há mais solução e sim "processo" e por isso vocês estão ganhando terreno. Parabéns. Mas, agora como se diz no Exército, está na hora do "aproveitamento do êxito". Não adianta tomar o morro e depois sair, não adianta matar, celebrar vitórias, não adianta nada se...
- Sim, o que devem fazer as forças policiais?
- Vou dar um toque, mesmo contra mim. Escreve aí: peguem os barões do pó! Tem deputado, senador, tem generais, tem até ex-presidentes do Paraguai nas paradas de cocaína e armas.
Isso não é assunto para polícia, não. Isso é uma questão de Estado, é tão importante quanto impedir o desmatamento. Está havendo uma mudança psicológica na população. Faz parte do crescimento econômico. Não é bom para o mercado uma zorra como a nossa. A produção no mundo está nos obrigando à modernização e à democracia. Eu estou falando como um cientista político porque sou um cientista sobre mim mesmo - há, há... Meu destino está traçado, o sangue está grudado em mim, mas o destino de vocês também está. Eu vejo hoje muito mais do que via, mas vocês também têm de mudar. Estou lendo o Klausewitz - Sobre a Guerra - e digo que vocês não podem esperar uma vitória total, solução, a paz em Ipanema e o mundo voltando atrás. Nunca mais.
É com no Oriente Médio, com os homens-bomba. Nunca haverá uma vitória clássica. Dá para melhorar, urbanizar, civilizar, mas o mundo de hoje tem um preço trágico que todos terão de pagar. Todos vamos conviver com a própria miséria.
De qualquer forma, parabéns... por linhas tortas chegaram lá. A história não é uma linha reta. É um ziguezague.
Vocês nunca terão uma solução completa, mas, ao menos, já conhecem o problema...
Vamos lá... Vou vazar para Roraima... mas, olha, cara: não há mais segurança máxima na vida...
Bye bye, Catanduvas... 

HEITOR MELLO PEIXOTO



A bolha vai estourar?

Heitor Mello Peixoto 
O Estado de S.Paulo - 30/11/10
O Brasil vive um boom imobiliário. Milhões de famílias adquirem o primeiro imóvel, mudam para um maior ou investem num ativo real que tende a se valorizar com o tempo. É uma euforia geral. Nunca antes neste país o preço dos imóveis subiu tanto em tão pouco tempo.
Um amigo, por exemplo, vendeu há três anos um imóvel de dois dormitórios nos Jardins, em São Paulo, por R$ 160 mil. Hoje esse imóvel custa R$ 450 mil - valorização de 30% ao ano por quatro anos consecutivos. Um retorno invejável se comparado a outras aplicações. Pesquisa da Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp) revela que o preço do metro quadrado de imóveis de dois dormitórios em São Paulo subiu 42,86% no primeiro quadrimestre de 2010, na comparação com igual período de 2009. Segundo cálculos do administrador de investimentos Fabio Colombo, o capital investido no período em CDIs valorizou-se 9,19% e na caderneta de poupança, 6,68%. Em ouro, teve desvalorização de 6,84% e, em dólar, retração de 23,83%. Outro estudo da Embraesp mostra que o preço médio do metro quadrado do apartamento de um dormitório subiu 75% entre 2008 e 2010.
A questão é: esse crescimento é sustentável? Vivemos uma bolha imobiliária?
Para o grande grupo que afirma que não (banqueiros, investidores e construtores), esse crescimento é sustentável e a tendência é de mais alta nos preços. Essa maioria argumenta que o crédito imobiliário no País é baixo em relação ao PIB, algo em torno de 2%, insignificante se comparado aos 68% nos EUA, 75% na Inglaterra ou 20% no Chile. Também aponta o grande déficit habitacional do País, a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016 como impulsores do crescimento do setor.
Não nos vamos iludir. Vivemos uma bolha imobiliária e ela pode estourar em breve. Alguns "sinais periféricos", no jargão dos futuristas, nos levam a pensar assim.
Regras básicas do negócio de imóveis: um pronto vale mais do que na planta, o aluguel gira em torno de 0,5% a 1% do seu valor, o preço do metro quadrado de dois semelhantes varia consideravelmente se tiverem "idades" muito diferentes. Para uma boa compra, muita pesquisa e paciência. Tais regras não valem atualmente.
Pode parecer sedutor um apartamento na planta no litoral sul de São Paulo vendido pelo mesmo preço de outro já pronto no mesmo empreendimento, em outra torre, com melhor localização. Mas o valor é parcelado, terá incidência de juros após a entrega das chaves. Tão estranho quanto isso é o fato de esses imóveis serem vendidos pelo mesmo preço de uma cobertura vizinha, pronta há três anos, mas com o dobro da área útil.
E por que pagar 50% a mais pelo metro quadrado por uma diferença de apenas três anos entre os imóveis, já que as demais condições (localização, infraestrutura, etc.) são as mesmas? A justificativa do corretor é a grande alta no preço dos terrenos nos últimos três anos. Ah, bom, então está explicado! Imóveis têm sido vendidos no prazo de uma semana - o prazo normal era de meses e até anos em épocas anteriores. Quebras de lógica assim já ocorreram no boom dos negócios da internet, no final dos anos 1990, e no boom dos flats em São Paulo, no início dos anos 2000. Ambas viraram bolhas que estouraram.
Recente reportagem na TV mostrou um casal que foi passear num shopping, entrou no estande de uma construtora e saiu com apartamento novo. Compra de apartamento por impulso? Essa é nova. Os aluguéis reforçam a suspeita. Em tese, a locação de um imóvel que duplicou de preço deveria também dobrar. Mas a renda do inquilino não duplicou no mesmo período. Se esses aumentos generalizados forem absorvidos pelo mercado, causarão pressão inflacionária generalizada pelo País. Imóveis residenciais para todas as faixas de renda e comerciais de todos os tamanhos sofrem alta. Pesquisa da Cushman & Wakefield aponta, por exemplo, que o preço em reais de locação do metro quadrado comercial de alto padrão, no Rio de Janeiro, subiu 60% entre o terceiro trimestre de 2009 e o terceiro trimestre de 2010.
Essa pressão inflacionária, se somada a outras possíveis, como o aumento da taxa de câmbio, pode desencadear inflação, já que um quinto dos bens consumidos hoje no Brasil provém do exterior. Mais inflação significa aumento da correção e do valor das parcelas de financiamentos superior ao que muita gente pode pagar. Começaria uma onda de inadimplência. Resultado: algo semelhante à crise do subprime americano. E lá a taxa de juros do crédito imobiliário é de 5%, ante os 12% daqui.
Se os aumentos de aluguel não forem absorvidos pelo mercado, o investimento em imóveis deixaria de ser interessante, pois o valor da locação cairia muito em termos porcentuais em relação ao valor do imóvel. Investidores teriam de vender "estoques" e buscar algo mais rentável, desencadeando uma onda de vendas, contribuindo para estourar a bolha.
O brasileiro, em geral, calcula se a parcela cabe no salário, esquece taxas de juros, manutenção, impostos e fator de correção monetária escolhido. Também nunca teve tanta disponibilidade de crédito, e aproveita - para imóvel, carro, eletrodomésticos, computador, etc. Recente Relatório de Inflação do Banco Central informa que as dívidas "comem" 23,8% da renda dos brasileiros, ante 17,02% dos americanos. E se a inflação subir? E se a China parar de crescer tanto? E se todo esse dinheiro estrangeiro que inunda o Brasil deixar o País em busca de outras praias, como será o dia seguinte? Em tempo: há uns dois anos não víamos tantos anúncios de imóveis novos em jornais com comparativos de preços por metro quadrado. Será um sinal de mudança no rumo dos ventos?
Agora é acompanhar a escolha de toda a equipe de Dilma, a inflação, a entrada de recursos no País, o desemprego e o mercado imobiliário em si. Sinceramente, espero estar errado. Mas não vou investir no mercado imobiliário até 2012.
SÓCIO-FUNDADOR DA EYESONFUTURE (WWW.EYESONFUTURE.COM.BR), CONSULTORIA ESPECIALIZADA EM CENÁRIOS EMPRESARIAIS, FOI SÓCIO-FUNDADOR DA BUSINESS SCHOOL SÃO PAULO (BSP) 

ANCELMO GÓIS

FESTA DA VITÓRIA
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 30/11/10
 
Eduardo Paes promete uma grande festa de réveillon na Igreja da Penha. O Iphan-RJ vai começar em breve o processo de tombamento da Igreja da Penha.

OFERTA E PROCURA 
Com o tráfico acuado, o preço da maconha e da cocaína no Rio chegou a subir, no varejo, até 100%, segundo fontes da polícia.

TEMPO QUENTE 
Uma notícia-crime da Chemtech, empresa de tecnologia da informação do grupo Siemens, foi apresentada contra Luiz Rubião, ex-diretor da empresa, na Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática, no Rio.
É acusado pela Siemens de “se apropriar de informações” ao deixar a Chemtech, em abril, e abrir a concorrente Radix.

PAUL MCCARTNEY 
Sai ano que vem no Brasil pela Best Seller a edição de “Intimate life of Paul McCartney”, biografia do ex-beatle escrita pelo jornalista Howard Sounes. Vem a ser o mesmo autor de uma elogiada biografia de Bob Dylan.

VERÃO DA TROPA 
Num casamento na Casa das Canoas, sábado, no Rio, quando o DJ tocou Tropa de elite, as madames foram ao delírio.

ÓPERA DE EUCLIDES 
Isaac Karabtchevsky, o maestro, encomendou ao compositor João Guilherme Ripper, diretor da Sala Cecília Meireles, no Rio, uma ópera sobre a chamada Tragédia da Piedade.
Vem a ser o caso da morte de Euclides da Cunha. A estreia será em dezembro de 2011.

CASA DOS ARTISTAS 
Os problemas de Sílvio Santos não param. O TJ de São Paulo manteve a sentença que condenou o SBT por plágio no programa Casa dos Artistas, exibido pela emissora entre 2001 e 2002. O processo foi movido pela produtora holandesa Endemol, criadora do “Big Brother”, e pela TV Globo.

MULHER DE JOGADOR 
Camile, mulher do ex-lateral-esquerdo Roger, do Grêmio e do Fluminense, defendeu numa pós-graduação em Novo Hamburgo, RS, a teoria de que “esposa de jogador é profissão”.
O assunto polêmico foi tema da dissertação de Camile, que entrevistou outras mulheres de jogadores. Confira só em roger6.com.br/ver_camile.php?id=14.

MEMÓRIA DAS NUVENS 
O coleguinha Genilson Araújo, repórter-aéreo da CBN, aproveita seu trabalho no ar para tirar fotos do Rio.
O resultado virou um livro, Memória das nuvens, que será lançado dia 8.

TEMPOS MODERNOS 
De uma menininha de uns 6 anos, acompanhada da mãe, sábado, por volta de 17h30m, no supermercado Zona Sul do Parque das Rosas, na Barra, no Rio, para uma moça que perguntou, de brincadeira, se a bonequinha que a miúda carregava era filha dela:
— É. Mas não é do mesmo pai da outra que ficou lá em casa...

KÁTIA ABREU



O Código Florestal precisa ser revisto?
Kátia Abreu 


O Estado de S.Paulo 30/11/10
Essa é uma interrogação que se tornou presente entre nós e para respondê-la temos de afastar o radicalismo e desfazer as desinformações. É natural que a opinião pública, às vezes, se sinta insegura diante das versões contraditórias que são divulgadas.
A lei em vigor está desatualizada, pois foi editada há 45 anos, quando nossa agricultura era ainda pequena, diferente da máquina produtiva de hoje. Por outro lado, os movimentos ambientalistas ortodoxos defendem a tese de que nossa lei é a melhor do mundo e não pode ser atualizada. Refletindo o pensamento político dos verdes e dos interesses econômicos europeus, um influente jornal espanhol publicou que "o Brasil concederá anistia aos responsáveis por catástrofes ambientais". Com quem está a verdade?
A opinião geral tende a ser formada com retalhos de informação, escolhidos e dispostos de forma a induzir determinadas conclusões. Ou seja, a informação destina-se a convencer. Com isso, quem sai perdendo são a verdade e o equilíbrio. Vou tentar reduzir a questão a termos claros, para que a névoa dos equívocos não turve o olhar das pessoas que se interessam pelo problema.
As mudanças propostas ao Código Florestal não contêm uma só norma que facilite o desmatamento. O que se prevê é uma moratória para suspender o desmatamento em áreas de florestas por cinco anos. Qualquer afirmação em contrário é falsa. Se a lei atual é boa, boa continuará. E nenhuma árvore a mais será derrubada em razão das modificações na lei.
E o que querem, então, os produtores? O código tem uma regra que determina que todas as propriedades rurais devem manter uma área, entre 20%, na maioria dos biomas, e 80%, na Amazônia, chamada "reserva legal", a qual não pode ser objeto de exploração e deve ser conservada com sua vegetação original. As propriedades que não tenham hoje essa "reserva" devem, sob as penas da atual lei, replantar a vegetação nativa, mesmo nas áreas abertas antes dessa exigência.
A reserva legal não existe em nenhum outro país do mundo. As propriedades rurais nos Estados Unidos, na Europa, na Argentina ou em qualquer outro país podem ser exploradas integralmente, em 100% de sua área. Nesses países as áreas de preservação natural são grandes áreas continuas de propriedade do Estado, e não pequenos fragmentos de propriedades particulares, muitas vezes desprovidos de função ecológica.
Ao contrário do Brasil, a agricultura e a pecuária na América do Norte, na Europa e na Ásia ocuparam quase que exclusivamente áreas originais de florestas. Nenhum outro país, no entanto, jamais cogitou de inutilizar 20% ou 80% de suas áreas de produção agrícola para reconstituir ambientes naturais do passado. Nesses países, os conceitos e funções de uma unidade de conservação e de produção são distintos.
Além do mais, a ocupação do nosso território com a agricultura e a pecuária foi um processo secular, iniciado nos tempos de colônia, ocorrido sem transgressão de qualquer lei. O Brasil tem hoje 354,9 milhões de hectares ocupados com lavouras e pastagens. Desse total, 272 milhões de hectares, ou seja, 68%, eram explorados em 1965, quando foi editado o Código Florestal.
De lá para cá os produtores acrescentaram apenas 83 milhões de hectares para produção, o que significa menos de 10% de nosso território, de 850 milhões de hectares. Só que em 1965 produzíamos 20 milhões de toneladas de grãos e agora, 150 milhões. Produzíamos 2 milhões de toneladas de carne e hoje, mais de 25 milhões.
Nossos produtores não devastaram a natureza, ao contrário, realizaram a mais impressionante revolução técnica da agricultura e da pecuária no mundo. Além disso, a maior parte das áreas acrescentadas após a vigência do código não eram áreas de florestas, e sim de cerrados. Aliás, o processo de ocupação foi promovido e financiado pelo governo, que conseguiu transformar o Brasil no segundo maior produtor e exportador de alimentos do mundo.
Dos 100 milhões de hectares cultivados hoje no bioma cerrado, 80 milhões estavam abertos quando foi instituída a reserva legal, em 1989. Como mostram os números, os produtores brasileiros não são culpados por nenhuma catástrofe ambiental, mas talvez sejam responsáveis por uma catástrofe econômica para os produtores agrícolas da Europa.
A exigência da "reserva legal" é contrária ao interesse do País. Esperamos que com o tempo a sociedade reconheça isso. Mesmo assim, a proposta de revisão do código mantém inalterada essa exigência. A diferença é que reconhece como legal a ocupação das áreas consolidadas com produção de alimentos, evitando a sua diminuição.
Se a revisão não for aprovada, é bom que todos saibam que mais de 90% dos 5 milhões de propriedades rurais permanecerão na ilegalidade injustamente, pois suas áreas foram ocupadas antes da vigência do código e suas posteriores modificações. Para superar a ilegalidade imposta vamos ter de esterilizar por volta de um quinto das áreas em produção, com a redução brutal da renda dos produtores, das safras destinadas ao consumo doméstico, das exportações, e um consequente aumento dos preços dos alimentos. Tudo isso não se materializou ainda porque os sucessivos governos, cientes das consequências desastrosas, vêm, com prudência, adiando, por meio de decretos, sua vigência.
Está claro que a reforma que queremos diz respeito ao passado, mas interessa ao futuro. Devolver a segurança jurídica ao campo é útil para todos. Assegurar a irretroatividade da lei é uma maneira civilizada de remediar um dispositivo legal injusto, incompatível com a realidade, o interesse do País e o Estado de Direito.
A luta pela conservação ambiental só será efetiva se houver mais consensos, menos conflitos ideológicos e, principalmente, paz. Nesse tema, apenas leis, punições e ameaças servem pouco. Elas não plantam árvores. Ou, como dizia o poeta Drummond: "As leis não bastam./ Os lírios não nascem das leis."
SENADORA, É PRESIDENTE DA CONFEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DO BRASIL (CNA)