terça-feira, julho 20, 2010

BENJAMIN STEINBRUCH

XÔ, BUROCRACIA!
BENJAMIN STEINBRUCH
FOLHA DE SÃO PAULO - 20/07/10


O custo anual da infernal burocracia brasileira é de R$ 46,3 bilhões, que equivalem a 1,47% do PIB


SEMPRE SE soube que entre os principais obstáculos ao crescimento da atividade produtiva no Brasil estavam a falta de capital e o elevado custo dos financiamentos. Esses dois problemas, porém, aparecem hoje em segundo e terceiro lugares na lista de obstáculos. Na opinião dos empresários brasileiros, neste momento há um problema ainda mais importante a inibir o crescimento econômico: a burocracia. 
A constatação acima emerge de um trabalho robusto, finalizado em junho pelo Departamento de Competitividade e Tecnologia da Fiesp. A conclusão central desse documento, publicada na Folha (30/6/10, pág. B1), mostra, pela primeira vez, o tamanho do custo da infernal burocracia brasileira. São R$ 46,3 bilhões por ano, correspondentes a 1,47% do PIB. 
Os critérios técnicos que permitiram ao Decomtec chegar a essas conclusões estão expostos no trabalho, de mais de 40 páginas. As comparações feitas entre outros países e o Brasil indicam que, quanto maior é o nível de burocracia, menor é o PIB per capita, a escolaridade e a competitividade do país. Além disso, a burocracia estimula o crescimento da economia informal. 
Num momento em que o Brasil é internacionalmente festejado pelo seu desempenho econômico em plena crise global, tornam-se inaceitáveis alguns indicadores competitivos. Dois exemplos: em 2010, segundo o Banco Mundial, o Brasil ficou em 123º lugar na lista dos 183 países mais eficientes em matéria de burocracia; e ocupou o 82º lugar em eficiência alfandegária entre 155 países pesquisados. 
Há outras comparações nas quais o Brasil perde de goleada. O trabalho feito pela Fiesp cotejou o Brasil com as nações da OCDE (ricas) em relação a indicadores de burocracia e registrou deficiências impressionantes. Enquanto no Brasil as empresas gastam 2.600 horas por ano para o pagamento de tributos, essa tarefa requer apenas 216 horas na área da OCDE. 
Para abrir uma empresa são necessários 16 procedimentos no Brasil e apenas 6 na OCDE. O fechamento de uma empresa leva 4 anos no Brasil, em comparação com 1,8 ano nos países ricos. O custo da demissão de um empregado equivale a 45,89 semanas de salários aqui e a 29,62 na OCDE. Esses exemplos não deixam dúvidas de que, quanto maior é a burocracia, menor é a efetividade dos governos e o poder de competitividade dos países e de suas empresas. 
A elevada burocracia também tem um efeito bastante danoso ao colaborar para a criação de um ambiente propício para a corrupção. O acúmulo de exigências formais e a complexidade de procedimentos levam a tentativas de pagamentos de subornos e propinas, como forma de desobstruir os negócios. 
Além disso, essas complicações desestimulam a inserção das empresas na economia formal. A informalidade, por sua vez, tem impacto direto na arrecadação tributária, compromete investimentos públicos e retarda o crescimento do país. Chega-se, portanto, à conclusão de que é urgente desburocratizar o Brasil. E não haveria melhor hora do que agora para discutir esse assunto, diante do início das campanhas para a eleição presidencial. 
Entre as reformas que o Brasil ainda não fez, há duas que poderão contribuir muito para a redução da burocracia: a tributária e a microeconômica. Na primeira, seria bem- -vinda, além do corte da carga tributária, a simplificação e a diminuição do número de tributos. Há 63 tributos federais, estaduais e municipais no país, com 3.200 normas, 56 mil artigos, 34 mil parágrafos, 24 mil incisos e 10 mil alíneas voltadas para a arrecadação. Há quem chame isso de "manicômio tributário". 
Na segunda reforma, espera-se a extinção de uma parafernália de regras, de certidões, de controles cruzados, de registros em cartórios, de cadastros e de licenças que infernizam a vida dos brasileiros, empresários ou não, que se mantêm na legalidade e na formalidade. Seria muito útil que os partidos que pretendem governar o país se manifestassem sobre os pontos incluídos em seus programas a respeito dessas questões. 

BENJAMIN STEINBRUCH, 56, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp.

ARNALDO JABOR

Em primeira mão: o "sentido da vida..."
ARNALDO JABOR

O GLOBO - 20/07/10

As notícias, aqui e no mundo, estão repugnantes: mulheres apedrejadas, atiradas aos cães, a lama habitual da política...
Daí, pensei em me jogar num buraco negro - sem duplo sentido, por favor - e sumir nas galáxias. Sou um idiota em cosmologia (e nem só nisso, amigos, ai de mim...), mas extasio-me com o Hubble e li na "Folha" o artigo do Marcelo Gleiser sobre a energia e a matéria escuras que estariam distribuídas por todo o universo.
A matéria escura compõe cerca de 23% da densidade de energia do universo. O restante seria constituído de energia escura, 73%, e da matéria bariônica (a que nós vemos normalmente no céu e na Terra), 4%. Essas forças escuras seriam formadas pelos neutrinos estáveis e as WIMPs - partículas massivas.
Então, deprimido com a realidade, resolvi filosofar do alto de minha ignorância (já ouço a gargalhada sardônica de homens como Mario Novello ou Luiz Alberto de Oliveira...). Repito coisas que disse num artigo dez anos atrás (deve ter sido a faísca de minha ferradura), refletindo sobre a repercussão dessas forças ocultas em nossa vida aqui embaixo.
Diz o Gleiser: "o vácuo não é vazio..."; "o nada determina talvez o comportamento do universo...".
E foi aí que tive a iluminação! Por segundos, abriu-se a "máquina do mundo" e entendi o universo, como a personagem de Borges diante do "Aleph"!. Assim, amigos leitores, aqui vai, em primeira mão, "tam tam tam!": o sentido da vida!
Vamos lá: se existe a matéria/energia escuras com massa, os tijolos que preenchem o universo, desfaz-se a antiquíssima noção de "sim" e de "não". Melhor dizendo, se o invisível tem massa, se os espaços siderais estão ocupados, é sinal de que não há o "nada". Nada não há.
A ideia de "nada" e de "tudo" seria uma ideia de viventes. Como você vai morrer, o seu cérebro se programa para imaginar que "há" uma coisa e "não há" outra. De que há o "cheio" e o "vazio", de que há o vivo e o morto. Ideia de viventes. Descartes, quando falou "Penso, logo existo", estava dizendo: "Penso, logo penso que existo". Descartes estava apenas inventando o "sujeito", ou melhor, inventando o francês, aquele sujeito cheio de dúvidas, com uma "baguette" debaixo do braço.
Muito bem, meus raros leitores, se a "matéria/energia escuras" está em "tudo" (oh, palavra vã...), há um espantoso "continuum" que nos liga a todos, os seres "em si" e os seres "para si" - coisas e homens. (Oh, Sartre... como esta divisão é insuficiente... Somos todos "em si", velho mestre; o fato de desejarmos, de escrevermos este artigo, não nos confere liberdade alguma).
O leitor dirá: como esse leigo ousa filosofar? Respondo, com o lábio trêmulo de ousadia: "se o PT e o PMDB se uniram para fundar a República ‘corrupto-sindicalista’, por que não posso ser um cientista amador e metafísico?".
Os neutrinos, os WIMPs o provam: tudo está preenchido. Assim sendo, o universo não está se expandindo na direção de um outro lugar, pois não há "outro lugar". O universo está se expandindo em relação a si mesmo, para um dia chegar a si mesmo, se bem que não ao ponto de partida, pois não houve partida. O tal Big Bang faria parte do Big Crunch, o colapso do universo sobre si mesmo, recomeçando eternamente. O universo seria aquilo que existe entre o Big Bang e o Big Crunch.
Estamos todos mergulhados num caldo de cultura infinito, onde parece que boiamos; apenas "parece", pois somos também o caldo onde boiamos. A mosca e a sopa são a mesma coisa.
Falamos muito no "fim do sujeito", mas também, de certa forma, não há "objeto" porque só pode haver sujeito e objeto se houver intervalo, vazios, diferença. Não há.
Mas, continuando este brilhante raciocínio, a ciência já deve estar desistindo de chegar a um fim, a uma espécie de "revelação", como se, seguindo a "estrada de tijolo amarelo", chegássemos a Deus, ou, pelo menos, ao mágico de Oz.
E não só não encontraremos ninguém, nem nada, porque o "nada" não há, nem "ninguém" não há, como também nada se definirá, nem energia nem matéria, pois ambas são parte da mesma "substância", uma se bombeando para dentro da outra, numa trepada eterna de desmanches e recomposições, ali nas quebradas dos buracos negros. Assim, a física moderna tira-nos a esperança de encontrarmos uma resposta, o que não é uma coisa ruim, pode ser até o início de uma nova arte de ser.
Chega de ficarmos extáticos diante do "sublime" - fazemos parte dele. Há uma correspondência "ôntica" entre as estrelas e nosso sistema de vida e morte, de "sim" e "não".
Se não vamos chegar a nada, podemos descansar, pois nosso labor diminui; não temos de descobrir resposta para nada, não porque Deus não exista, porque, obviamente, Deus existe, sim; ou melhor, Deus existe não como coisa a ser "atingida". Deus é a substância, e nós, humanos, somos atributos dela. Substância é aquilo que eterna e imutavelmente é. Logo, Deus (substância) é a única coisa que existe. Necessariamente, as outras coisas só existem em Deus mesmo, como parte d´Ele e, Nele existimos, se é que essa palavra se aplica a algo, como descobriu para sempre o Einstein da filosofia que foi Baruch Spinoza...
Nada "ex-iste", no sentido de estar "fora" de algo: "ex-sistere" (estar em pé, do lado de fora) - fora de quê, saiu "de dentro" de onde?
Por isso, em verdade, em verdade, vos digo, oh, irmãos, que Deus existe, mas não é pai. É tão órfão quanto nós, um Deus-matéria, órfão de si mesmo. A única coisa que nos resta não é o desespero, essa carência de viventes em crise; o que nos resta é a paz da ausência de esperança. A razão humana devia se redesenhar, não em um Big Bang indo em direção a um futuro. A razão tinha de ser um Big Crunch, mordendo o próprio rabo, voltada para dentro, para nós, os homens, para nosso prazer e saúde. A ciência como arte. Esse é o sentido da vida, não há mais desculpa. Somos todos iguais; sejamos felizes! Big Crunch não é nome de sanduíche do McDonald’s - é o destino do universo.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Após venda para Carlyle, CVC se prepara para abertura de capital 
Maria Cristina Frias

Folha de S.Paulo - 20/07/2010

Após ter sido comprada em janeiro pelo fundo americano Carlyle, a CVC se prepara para a abertura de capital.
A operadora de turismo acaba de criar uma vice-presidência de administração e finanças, guiada para implementar práticas de governança corporativa, reestruturar custos e controles.
O executivo nomeado para tocar a área é Luiz Fernando Fogaça, que ocupou posição de diretoria no Grupo Femsa.
"Estamos unindo em uma vice-presidência as duas áreas que já existiam como diretorias separadas. O objetivo é suportar o crescimento da empresa, tornar os processos mais previsíveis e implementar alguns controles que seriam necessários para abrir capital", diz Fogaça.
A ideia é deixar a empresa pronta para o IPO em 2011. "Dependerá das circunstâncias do mercado, mas a previsão é colocar a companhia pronta no final do ano que vem", afirma o executivo.
O fundo americano de "private equity" impulsionou a decisão, segundo Valter Patriani, presidente da operadora. "É evidente que a chegada do Carlyle nos dá suporte para isso. Ele tem grande experiência em administração financeira e abertura de capital. A CVC já tinha planos, mas o Carlyle suporta isso de forma forte."
Nesta semana, a CVC abre a loja própria de número 500. Até 2013, a meta é ter mil unidades. "Queremos aproveitar o crescimento da nova classe média", diz Patriani.

O objetivo é suportar o crescimento da empresa, tornar os processos mais previsíveis e implementar alguns controles para abrir capital
LUIZ FERNANDO FOGAÇA
novo vice-presidente de administração e finanças da CVC Brasil

É evidente que a chegada do Carlyle nos dá suporte. Ele tem experiência em administração financeira e abertura de capital
VALTER PATRIANI
presidente da operadora

IMÓVEL RESIDENCIAL MAIS CARO
Com um baixo nível de estoque de imóveis disponíveis para locação na capital paulista, a demanda permanece superior à oferta, o que mantém as taxas de reajustes acima da inflação, segundo estudo do Secovi-SP.
No entanto, o ritmo de aumento da procura por imóveis está se desacelerando na cidade de São Paulo.
Os valores de contratos novos de locação residencial assinados em junho na cidade aumentaram em média 0,3% na comparação com o mês anterior, de acordo com levantamento mensal realizado pela entidade.
O índice registrado no mês passado foi o mais baixo desde o apurado em janeiro, quando os preços de locação de imóveis residenciais haviam subido 0,2%.
"Isso mostra que a corrida por imóvel para alugar está diminuindo", afirma Francisco Virgílio Crestana, do Secovi-SP.
No acumulado dos últimos 12 meses, até junho, o aumento dos valores locatícios é de 11% -percentual superior ao da variação média de preços apontada pelos indicadores de inflação.

Chave... A modalidade garantia com fiador foi a mais usada nos contratos de locação residencial, sendo a opção de 49% dos imóveis alugados no mês passado na capital paulista, segundo o Secovi-SP. O depósito, de até três meses, ou caução foi usado em 31% dos contratos e o seguro-fiança, em 20% deles.

...de casa As casas e os sobrados foram os tipos de imóveis locados mais rapidamente no mês passado na cidade de São Paulo. Tais moradias demoraram de 11 a 27 dias para serem alugadas. Os apartamentos escoaram mais lentamente, com Índice de Velocidade de Locação de 17 a 35 dias, segundo o Secovi-SP.

Ficha... Cerca de 7% dos executivos brasileiros consideram a corrupção o fator mais problemático para os negócios no país, segundo pesquisa do Fórum Econômico Mundial. O Brasil ocupa a 121ª posição entre 133 economias no quesito desvio de fundos públicos, segundo o fórum.

...suja Para discutir o tema, Michael Pedersen, diretor da iniciativa anticorrupção do fórum, participa, na sexta-feira, da Conferência Latino Americana Anticorrupção, em São Paulo. A iniciativa, criada em 2004, reúne 155 empresas, das quais 98% adotam programas contra a corrupção.

Consumo... A desaceleração da economia brasileira esperada para o segundo semestre deste ano tem de ser relativizada. Os segmentos de consumo devem continuar em forte expansão, de acordo com Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados.

...em expansão A consultoria estima entrada de quase R$ 100 bilhões de consumo a mais em 2010. Para o ano que vem, a expectativa é de R$ 75 bilhões. "Móveis e eletrodomésticos devem voltar à trajetória de expansão mais acelerada do que supermercados e farmacêutica, por exemplo", afirma Vale.

PALAVRA CRUZADA
A editora Ediouro vai entrar no mercado de passatempo educacional, para alunos do Ensino Médio.
A empresa vai lançar no início do mês que vem uma publicação com jogos de palavras cruzadas, exercícios de lógica e sudoku, cujo conteúdo é voltado para preparação para provas de vestibular e Enem.
O produto vai trazer também capítulos específicos sobre carreiras.
"Passatempos sempre foram voltados para o conhecimento geral, mas não com conteúdo editorial para matérias específicas. Isso nunca tinha sido feito. Essa será uma publicação lúdica", afirma Vânia Tavares, diretora da Ediouro.
O mercado editorial espera mudanças no setor. Na última semana, a Abril Educação fechou a aquisição do Anglo, empresa de educação que envolve o Anglo Sistema de Ensino, o Anglo Vestibulares e a Siga, de preparação para concursos públicos.

PAINEL DA FOLHA

Lenha na fogueira
RANIER BRAGON (interino)

FOLHA DE SÃO PAULO - 20/07/10

A polêmica em torno das declarações de Indio da Costa (DEM-RJ) reacendeu a briga interna na campanha de José Serra (PSDB) entre a ala tucana preterida na escolha do vice e o grupo de "demos" que patrocinou a instalação do deputado no posto. No PSDB, os derrotados de junho aproveitaram o incêndio para tentar retomar espaço na coordenação da campanha.
"O gol contra foi deles", disse um dirigente tucano, se referindo aos "padrinhos" de Indio. Do outro lado, o discurso foi que o vice conseguiu mobilizar todo o staff de Dilma Rousseff (PT) para debater um assunto delicado à petista, cumprindo à risca o papel destinado a ele pela própria aliança "demo-tucana".


Artilharia No meio da reunião da coordenação da campanha de Serra, ontem, alguém fez a associação entre "a falta de calibragem" de Indio e o discurso do "ex-demo" José Jorge, então vice de Geraldo Alckmin (PSDB) em 2006, quando disparou que Lula "bebia muito".

Dilema Lula havia sido convidado a participar em novembro da assembleia geral da SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa), no México. Depois que o presidente da entidade, Alejandro Aguirre, declarou que o governo do petista "não pode ser chamado de democrático", o Planalto não sabe como responder ao convite.

Copa eleitoral Na passagem pelo Rio, na sexta, Lula recomendou a Dilma que explorasse na campanha a ameaça de São Paulo ficar de fora da lista de cidades sede da Copa-2014 devido a divergências entre o governo paulista e a CBF. Não é à toa que o presidente ontem reclamou publicamente do governador Alberto Goldman (PSDB).

Chef Na assinatura da MP da Copa, Lula resolveu comparar os investimentos à preparação de um "mingau", que já estaria pronto para comer. "Nos vamos virar essa polenta na mesa, numa tábua e vamos comer como italiano come a polenta, cortada com barbante."

Compras 1 O Congresso entrou em recesso, mas o setor de compras continua ativo. O "Diário Oficial da União" publicou ontem licitação de R$ 632 mil para renovação na copa e cozinha do Senado e dos senadores -entre outros itens, lista-se 148 máquinas de café e 311 frigobares e geladeiras.

Compras 2 Também ontem houve atualização das empresas habilitadas à construção de uma praça de alimentação no Senado, obra orçada em R$ 1,9 milhão.

Hélice 1 Com salto patrimonial de 177% em quatro anos, Jorge Viana (PT-AC) intermediou a venda ao Acre, em 2008, de um helicóptero da Helibras, empresa em que chefiou o Conselho de Administração, no valor de R$ 7,9 milhões. À época, o governador Binho Marques (PT), aliado de Viana, disse que obteve desconto de R$ 400 mil.

Hélice 2 Antes mesmo de levantar voo, a Procuradoria da República bombardeou o negócio. Motivo: Binho mandou desenhar na fuselagem uma estrela vermelha, símbolo do PT -que, até agora, não foi retirada.

Crise na Gávea Mais uma crise entre PT e PMDB no Rio: petistas afirmam que o material de campanha de deputados do PMDB omite o nome de Lindberg Farias (PT), candidato ao Senado na chapa. O PMDB diz que Lindberg faz o mesmo em seu material: ignora o PMDB.

Outro lado O DEM da Bahia diz que o comitê de Paulo Souto (DEM) não traz fotos de Serra porque o local foi inaugurado na semana passada sem que a estrutura estivesse toda concluída.
com SILVIO NAVARRO e LETÍCIA SANDER

tiroteio

O PT está partindo para uma atitude intimidatória, de mordaça, querendo calar as instituições e a oposição.
DO PRESIDENTE DO PPS, ROBERTO FREIRE, em resposta ao anúncio do PT de que processará o vice de José Serra, Indio da Costa, além de estudar ingressar no Conselho Nacional do Ministério Público contra a vice-procuradora-geral eleitoral, Sandra Cureau, que apontou possível mau uso da máquina.

contraponto

Gente da gente

Em discurso no sábado em Jales (SP), Dilma Rousseff (PT) resolveu fazer brincar com o aliado Netinho de Paula (PC do B), candidato ao Senado, que tinha um quadro num programa de TV chamado "Dia de Princesa", destinado a oferecer tratamento de beleza para garotas da periferia. Como Netinho havia chamado de "mano" o petista Aloizio Mercadante, a candidata não perdeu o embalo:
-Princesa eu não quero ser, mas "mana" eu quero!
Netinho concordou, e a plateia foi ao delírio.

DORA KRAMER

O fato que virou fardo 
Dora Kramer 

O Estado de S.Paulo - 20/07/2010 

E pensar que há dois anos os tucanos pareciam ter a solução perfeita para derrotar o presidente Luiz Inácio da Silva e impedi-lo da fazer o sucessor: uma chapa só do PSDB unindo os governadores de São Paulo e Minas Gerais, os dois maiores colégios eleitorais do País.


E pensar que o governo e o PT passaram dois anos morrendo de medo do impacto que a escolha do vice do PSDB provocaria na eleição presidencial.

O vice, aguardado como o grande fato político da temporada enquanto houve possibilidade de o mineiro Aécio Neves compor uma dobradinha com José Serra, acabou se transformando em um fardo.

Primeiro, por causa das atribulações da escolha, feita na base da eliminação, com direito a chilique e exigências do DEM ? um debilitado que teve seus 15 minutos de possante porque o PSDB não podia se arriscar a perder metade do tempo do horário eleitoral de rádio e televisão.

Agora o PSDB enfrenta aborrecimentos com o vice, escolhido sabe-se lá por qual critério: juventude, fina estampa ou para tentar suprir a lacuna de uma confusa e pouco profícua aliança com o PV no Rio de Janeiro, terceiro colégio eleitoral da Federação.

O deputado Índio da Costa é mais jovem que Aécio, bonitinho tanto quanto, mas desprovido de cancha, peso político e estrada.

E, a julgar pela primeira entrada em cena, não oferece compensações: o que lhe falta em experiência não lhe sobra em sapiência e extrapola em imprudência.

Na segurança de terras amigas (o portal do PSDB) e sem medir palavras contra os inimigos, Índio da Costa simplesmente disse que "todo mundo sabe" que o "PT é ligado às Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), ao narcotráfico, ao que há de pior".

No dia seguinte retratou-se: "O PT não faz narcotráfico." Que bom, não é?

O desmentido deve ter soado tranquilizador ao titular da chapa, José Serra, aos partidos e aos demais cidadãos do Brasil, quiçá do mundo, que, segundo a primeira versão, sempre souberam da ligação do PT com o narcotráfico. Não precisam se sentir cúmplices por não terem denunciado à polícia o que sabiam.

Índio da Costa tampouco precisará demonstrar a veracidade de afirmação tão peremptória. Apenas terá de responder a ações do PT por injúria, calúnia e difamação e danos morais.

Isso no exato momento em que o candidato à Presidência na chapa integrada por ele procura tirar dividendos das exorbitâncias contra a legalidade cometidas pelo presidente Luiz Inácio da Silva em nome da construção de um êxito eleitoral.

O candidato ontem ainda saiu em socorro do companheiro, deixando o narcotráfico para lá, mas "endossando" a história das Farc, mais velha que a Sé de Braga e absolutamente inócua em termos eleitorais.

E pensar que José Serra achou que a escolha de um candidato à Vice-Presidência fosse um assunto secundário. Bastaria, segundo seus critérios, encontrar alguém que não lhe trouxesse "aporrinhação".

Com se viu, não era tão trivial assim. Embora até pudesse ter sido se o próprio PSDB e adjacências não tivessem alimentado a expectativa de que daí sairia a grande, revolucionária e definitiva solução.

Mas, como diria o Barão de Itararé: "De onde menos se espera é que não sai nada mesmo."

Goldman explica. O governador de São Paulo, Alberto Goldman, acha um "exagero" comparar suas menções ao candidato e antecessor José Serra aos atos do presidente Lula e escreve para "esclarecer".

"Minhas citações são referências ao fato de que aquilo que estou inaugurando é um programa que começou no período em que era governador. O que entrego agora começou com ele. São fatos concretos. Não peço votos nem faço elogios, ainda que eles estejam implícitos."

Guardadas todas as proporções entre as citações do governador e as variadas extrapolações do presidente, Dilma Rousseff usa o mesmo tipo de argumento quando diz que Lula apenas faz "constatação da realidade" ao atribuir a ela esse ou aquele projeto de governo.

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Estamos dentro? 
Sonia Racy 

O Estado de S.Paulo - 20/07/2010

Na conversa reservada que teve com Ricardo Teixeira, da CBF, ontem em Brasília, Lula disse uma só coisa sobre São Paulo: não admite que a cidade fique fora da Copa de 2014.
Mas em relação a abertura e encerramento da Copa, nada.

Vitória do verde
Em uma clara sinalização de que o setor está percebendo as novas exigências do consumidor em relação ao meio ambiente, o JBS/Bertin, Marfrig e Minerva entregaram a Paulo Adário, do Greenpeace, um balanço fresquinho.
Responsável por 39% do abate na Amazônica Legal, e nove meses após a assinatura de acordo entre os frigoríficos e o Greenpeace, o trio deixou de comprar gado de... 221 fazendas. E colocou outras 1,7 mil em observação.

Cadeira vazia
Dos 193 convidados, Brasil e Nepal foram os únicos que não enviaram representantes para a Conferência Mundial dos Presidentes de Parlamentos, em Genebra.
Michel Temer, segundo a organização do evento, não achou espaço na agenda.

Herança
Três anos depois dos jogos Pan-americanos sediados no Brasil, há ainda ao menos sete processos em andamento no TCU. Um deles será julgado hoje.
Por supostas irregularidades em contrato de empresa de tecnologia.

Paulínia
No melhor estilo goleiro Iker Casillas, Kiko Goifman arrancou aplausos em Paulínia. logo depois da apresentação do longa Leite e Ferro, da sua mulher Cláudia Priscilla.
O produtor fez merecida declaração de amor e deu-lhe um beijo cinematográfico no meio do palco.

Paulínia 2
Já o diretor Nelson Hoineff deu exemplo de má-educação durante o Festival.
Foi convidado a se retirar do teatro por ter se recusado a desligar seu celular.

Paulínia 3
E o prêmio de "equipe mais emocionada" foi para a turma de 5 Vezes Favela.
Renata de Almeida Magalhães, produtora e idealizadora do projeto com seu marido Cacá Diegues, não se conteve: chorou copiosamente no depoimento dos atores e diretores.

Jardim em flor
O Shopping Cidade Jardim está gestando novo "filhote". Pretende transformar o antigo espaço Fasano, nos Jardins, em um pequeno shopping sofisticadíssimo, composto por 45 a 50 lojas. De nome Cidade Jardins Shops.

Troca das togas
Termina em setembro o mandato de Gilson Dipp - mão firme na moralização da magistratura como corregedor do CNJ. Para sucedê-lo nas eleições de agosto, Eliana Calmon é cotada.

Dança comigo?
Mesmo antes da abertura marcada para dia 28, já está em ritmo de soft-opening, o espaço Anacã Corpo e Movimento.
Próximo ao Ibirapuera, o novo empreendimento de 700 m² é projeto das empresárias Ana Diniz e Claudia Pirani, associadas à dançarina Heloísa Gouvêa. Nasce com 15 modalidades de dança, além de abrigar biblioteca interativa, workshops e serviço de turismo para... Dançarinos.

Caça-talentos
O empresário italiano que promoveu festa privê para Silvio Berlusconi, em hotel de SP, continua a busca por garotas brasileiras para programa em um de seus canais de TV. Nome? Casting.


Chuteiras para cima
Antes da CBF bater o martelo sobre novo técnico da Seleção, Leonardo resolveu espairecer. Volta para o Brasil só em agosto.

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO

O lúgubre circo de Chávez
EDITORIAL
O Estado de S.Paulo - 20/07/10

Está na cartilha dos autocratas populistas: se escasseia o pão, amplie-se o circo. Com a economia do seu país em frangalhos e o espectro de uma acirrada eleição legislativa em setembro, o protoditador venezuelano Hugo Chávez faz o que pode ? e o que não poderia fazer se tivesse um mínimo de bom senso e autocrítica, para desviar as atenções de seus desafortunados concidadãos da crise que o seu "socialismo do século 21" fez desabar sobre a economia, com reflexos devastadores para o nível de emprego e a inflação.

O circo chavista segue o formato clássico. O repertório inclui a fabricação ou exacerbação de ameaças internas e externas e a exploração do culto aos símbolos nacionais de que o caudilho se reveste para aparecer como o detentor exclusivo desse legado, e, por isso mesmo, alvo dos inimigos da nação. Nos últimos dias, ele levou ao lúgubre picadeiro um programa completo.

O mais novo perigo para os venezuelanos é o cardeal Jorge Savino, que teve a temeridade de afirmar que o coronel está atropelando a Constituição e levando o país ao socialismo marxista. O prelado denunciava a prisão do opositor Alejandro Esclusa, acusado de armazenar explosivos para atos terroristas. O advogado de Esclusa assegura que o material foi plantado pelos policiais que invadiram a casa de seu cliente, considerando o retrospecto, uma acusação mais do que plausível.

No seu programa Alô, Presidente, Chávez investiu contra o denunciante com a costumeira ferocidade. "Vou te dedicar toda a minha vida, cardeal", rugiu. "Não vais conseguir derrubar Chávez, cardeal. Porque eu sei quem és e a estatura moral pequena que tens." No embalo, voltou-se contra a Igreja, anunciando a revisão de um acordo de 1964 que, segundo o caudilho, dá "certos privilégios" ao Vaticano.

Em suma, passou a incluir a Santa Sé no extenso rol de aliados do "Império" que desejariam vê-lo morto ou apeado do poder por temerem "o sucesso da revolução". No país, os principais inimigos são os meios de comunicação, que o regime ainda não conseguiu aplastar, e o empresariado, primeiro, os das multinacionais; agora, os donos de estabelecimentos locais, sem distinção de porte e capacidade de influência. No exterior, descontados os EUA, assoma a Colômbia.

Desde 2007 as relações entre os dois países vieram se deteriorando. Chegaram à beira da ruptura no ano seguinte, quando Bogotá autorizou um ataque a um acampamento das Farc no lado equatoriano da fronteira. Anteontem, no que foi interpretado como sintoma de divergências sobre a questão venezuelana entre o presidente Álvaro Uribe e o sucessor Juan Manuel Santos, que tomará posse em 7 de agosto, Uribe tornou a acusar Chávez de abrigar dirigentes farquistas em território venezuelano.

Ao que se diz, Santos preferiria deixar esse problema em fogo brando para não atrapalhar a reaproximação com Caracas, que interessa a Bogotá por motivos econômicos. De todo modo, Chávez explorou o caso ao máximo: convocou o seu embaixador na Colômbia, disse que não irá à posse de Santos e, bem ao seu modo, chamou Uribe de "mafioso". O toque verdadeiramente circense da ofensiva chavista ? no gênero grand-guignol ? foi exibido na última sexta-feira em rede nacional.

Depois de pedir aos pais que retirassem as crianças da sala para poupá-las das imagens fortes que se seguiriam - um truque velho como serrar o corpo de um figurante -, o caudilho apresentou o que seriam os restos mortais de Simón Bolívar, exumados na véspera do Panteão Nacional por ordem dele, alegadamente para provar que ele não morreu de tuberculose, mas sim, assassinado.

"Chávez sabe que bolsos vazios têm um potencial de mobilização maior do que os discursos da oposição", observa o economista José Rafael Zanoni, da Universidade Central da Venezuela, ao comentar as manobras do autocrata para neutralizar o efeito eleitoral das agruras enfrentadas pelos venezuelanos. "As fichas econômicas de Chávez estão acabando", ressalta o consultor Maikel Bello. "Ele aposta na repressão política e no aumento do controle institucional."

JOSÉ ROBERTO CARDOSO

Escolas demais, engenheiros de menos
José Roberto Cardoso 
O Estado de S.Paulo - 20/07/10

Em novembro de 2009 o Estado estampou a matéria Ministério espera dobrar a oferta em 6 a 8 anos, em que o Ministério da Educação (MEC) apontava incentivos à criação de novos cursos de Engenharia para suprir a necessidade de mais engenheiros. Dentre as razões apresentadas, citava que a excessiva quantidade de denominações dos cursos de Engenharia limita a expansão da área!

De fato, temos um exagero de denominações nos cursos, mas nem de longe essa é a razão de tal limitação. O causa principal do excesso de denominações dos cursos, fruto da tendência especialista praticada pelas escolas de Engenharia na década de 1970, foi prejudicar sobremaneira a mobilidade de nossos formandos nesse campo. Não tem sentido atribuir nomes a cursos que o próprio setor produtivo não conhece, mais ainda, que os próprios alunos do ensino médio não têm a mínima ideia do seu significado. Várias especialidades foram criadas para acomodar divergências internas nas universidades públicas e/ou para atrair novos alunos com denominações de cursos ilusórias, oriundas mais de ações de marketing do que da real necessidade da Nação. Não são poucos os estudantes que tiveram sua contratação cancelada simplesmente pelo fato de que o nome de seu curso não coincidia com o nome colocado no edital, apesar de sua especialidade ser uma ênfase da modalidade exigida.

A Europa já resolveu essa questão via tratado de Bolonha, que limitou em 14 as denominações dos cursos europeus; na América do Sul, a Argentina já fez a sua lição de casa, reduzindo-as a 22. No Brasil a discussão é intensa e estamos longe de chegar a bom termo, pois são grandes as reações contrárias à proposta. Esquecem os dirigentes que os benefícios oriundos dessa redução para os estudantes serão sensíveis, sobretudo quanto à facilidade decorrente das mudanças de rumo de sua carreira e à expansão do leque de opções pós-formatura, além de possibilitar uma revisão em nossos cursos no sentido de levá-los a um conceito mais generalista, como parece ser a tendência atual em todo o planeta.

Com relação aos números, o Brasil apresenta quase 1.500 cursos de Engenharia, que oferecem aproximadamente 150 mil vagas por ano. Apesar de tal oferta generosa, temos apenas 300 mil estudantes nessa área (deveríamos ter 750 mil!) e apenas 30 mil se formam anualmente. A realidade é que a evasão nos cursos de Engenharia é vergonhosa, tudo isso sem contar que recentes avaliações apontam que apenas um quarto desse contingente tem nível de formação considerado satisfatório.

Por essas razões, podemos concluir que não estamos com déficit em número de cursos, mas o rendimento de nossas escolas de Engenharia é muito baixo. As universidades públicas paulistas, estas, sim, poderiam fazer um esforço adicional para aumentar suas vagas nas Engenharias ? há espaço para isso, pois nessas instituições de ensino superior apenas cerca de 25% de suas vagas são destinadas às carreiras tecnológicas, o que mostra um desequilíbrio em relação às demais carreiras.

Levantamentos indicam também que mais de 50% de nossos estudantes abandonam o curso ao final do segundo ano por não conseguirem acompanhá-lo, seja pela dificuldade inerente à formação ou por questões financeiras, visto que o curso de Engenharia é caro, entre outros motivos, pela exigência de laboratórios especializados, que precisam de contínua renovação.

O MEC, por sua vez, precisa encontrar uma solução para mitigar esse baixo rendimento, que ocorre apenas nas carreiras tecnológicas. Já apontamos em outros artigos que uma das razões está ligada à pouca importância que o ensino médio dá às matérias de Física, Química e Matemática, vetores de incentivo à carreira tecnológica. Adicionalmente, o País apresenta um déficit de mais de 150 mil professores dessas matérias, de modo que temos mais de 150 mil profissionais que ministram Física, Química e Matemática sem formação na área, que transformam essas três disciplinas num "bicho de sete cabeças" que afasta os nossos jovens das carreiras tecnológicas, sobretudo da Engenharia. Já foi apontado também que a baixa carga horária de Física, Química e Matemática no ensino médio é outra questão que precisa ser revista, pois, se o País pretende atingir um patamar de desenvolvimento superior, suportado por uma tecnologia própria e de alto nível, apenas uma formação sólida nessas disciplinas garantirá a segurança que buscamos no futuro, senão continuaremos fadados a ser apenas exportadores de commodities, e não de produtos manufaturados. Acontece, no entanto, que as ações para resolver essas questões levarão algumas décadas, mesmo que as atitudes corretivas sejam tomadas de imediato. Apesar de algumas décadas serem um tempo muito curto para uma Nação, são, no entanto, demasiado longo para a Engenharia nacional, de modo que precisamos de ações emergenciais, dado o volume de investimentos projetados para os próximos anos.

Dentre essas ações, julgamos que um plano de acompanhamento dos estudantes dos primeiros anos das Engenharias seja fundamental. As escolas investem recursos e esforços substanciais para atraí-los, mas não para mantê-los. O governo, considerando a dificuldade do momento, pode injetar recursos nas escolas de Engenharia para atualização de laboratórios, revisão de estruturas curriculares, atualização da base de T, I & C para acelerar o processo de ensino e aprendizagem e garantir uma boa formação. Quanto aos professores, devem entender que a Engenharia mudou. Está mais centrada na gestão do que no projeto, de modo que a estrutura curricular deve contemplar esta evolução sentida pela nossa profissão.

DIRETOR DA ESCOLA POLITÉCNICA DA USP, É COORDENADOR DO CONSELHO TECNOLÓGICO DO
SINDICATO DOS ENGENHEIROS DO ESTADO DE SÃO PAULO

MÍRIAM LEITÃO

Pelo motivo certo 
Miriam Leitão 

O Globo - 20/07/2010

Há dois motivos para a redução das previsões de alta dos juros: está havendo uma revisão para baixo das expectativas de inflação e do ritmo de crescimento econômico, para um patamar de maior equilíbrio. Esse é o bom motivo. Mas alguns analistas estão refazendo as contas porque acham que está havendo interferência política, por causa das eleições, no Banco Central.

Há economistas revendo projeções de alta nos juros de 0,75 ponto para 0,50, para a reunião do BC que começa hoje e termina amanhã. O Bradesco, por exemplo, fez isso ontem. De manhã, a análise do banco era de 0,75 ponto e, de tarde, em outro texto, baixou para 0,50. Motivos existem. Nas últimas duas semanas a pesquisa feita pelo Banco Central com as instituições financeiras mostrou redução das previsões de alta da inflação para o ano.

Ainda está acima do centro da meta, mas caindo.

No começo do ano, houve choques pontuais de preços, como o de alimentos, e um ritmo muito acelerado do crescimento. No segundo trimestre, o ritmo foi reduzido. O BC mostrou isso no seu novo indicador de atividade.

O economista José Márcio Camargo, da PUC e da Opus Gestão de Recursos, acha que a situação internacional ainda é de muita incerteza com a crise fiscal europeia e que isso levará a economia mundial, e brasileira, a reduzir o ritmo de crescimento no segundo semestre, naturalmente: — Uma crise fiscal, como nós sabemos, não é fácil de resolver. As economias europeias estão frágeis e estão sendo duramente atingidas. A situação pode inclusive evoluir para uma nova crise bancária, não tão intensa quanto a outra. O BIS, em um estudo, mostrou que os bancos franceses e alemães estão com uma exposição de C 2 trilhões às dívidas dos países mais frágeis da Europa.

Há vários sinais de que a crise europeia ainda está em andamento. Neste fim de semana, o FMI suspendeu as negociações com a Hungria para a liberação de uma nova parcela de um empréstimo dado ao país em 2008.

Ontem, a Moody’s rebaixou a nota da dívida pública da Irlanda. O país, que tinha uma dívida pública de 25% do PIB, viu ela subir para 64% por causa dos estímulos para tirar a economia da crise e resgatar os bancos. A dívida deve continuar crescendo até chegar a 95% do PIB. Duas agências já haviam rebaixado a nota da dívida, porque se considera que dificilmente o país conseguirá levar o déficit público a 3% do PIB em 2014.

Entre outras coisas, porque os bancos irlandeses continuam precisando de injeções de dinheiro público, o saneamento não está completo.

Portugal foi rebaixado na semana passada. A Itália pode ser a próxima.

Num contexto assim, a economia mundial reduz seu ritmo e isso acaba provocando uma redução do crescimento da economia brasileira também.

— Nós, na Opus, estamos avaliando que o crescimento vai ceder e por isso não compartilhamos com as projeções que o mercado vinha fazendo de crescimento econômico muito forte. Além do mais, a aceleração do primeiro trimestre ocorreu como efeito dos estímulos fiscais, que acabaram. Houve antecipação de consumo e, portanto, menos consumo agora. Isso pode levar a um aumento de juros de 0,50 p.p.

— diz José Márcio.

O Bradesco também considera que houve uma mudança no cenário com aumento da incerteza internacional e novos dados mostrando um ritmo menor da economia e, assim, justifica a mudança feita ontem na sua previsão de elevação dos juros, para 0,50 p.p., o que elevaria a taxa para 10,75%.

Outros economistas dizem, no entanto, que apesar da mudança no cenário, há mais razões técnicas para continuar com o mesmo ritmo de elevação dos juros. O Banco ABC Brasil explica que o mercado interno continua aquecido, sustentado pelo nível de emprego, renda e crédito. Por isso, permanece achando que os juros serão elevados para 11%. No seu relatório, registra que a comunicação do Banco Central na última ata e no Relatório de Inflação mostrou que está “bastante preocupado com o descompasso entre oferta e demanda e com o aquecimento do mercado de trabalho.” O economista-chefe da Máxima Asset, Elson Teles, também acredita em aumento de 0,75 p.p. pelo mesmo motivo: é isso que o Banco Central tem dito implicitamente nos seus comunicados. Outros economistas lembram no entanto que em março, quando tudo levava a crer que os juros iriam subir, o Banco Central manteve a taxa sem alteração e fez uma ata dizendo que estava preocupado.

Essa diferença entre intenção e gesto acabou provocando muito ruído.

O Bank of America também aposta em aumento de 0,75 p.p., assim como a Ativa Corretora.

O BofA revisou para baixo a previsão de crescimento no segundo trimestre, para 0,4%, mas sustenta que o crescimento no segundo semestre será forte, levando o PIB a fechar o ano em 7,1%.

Enfim, os economistas têm formas diferentes de analisar a mesma realidade.

Muita coisa mudou na conjuntura desde a última reunião do Copom. Há como justificar tecnicamente uma redução do ritmo de elevação dos juros. O que tem um efeito bumerangue é o sinal que sai do governo de que a decisão do Copom terá que obedecer à conjuntura eleitoral.

Isso reduziria a confiança no Banco Central, o que leva a mais inflação.

EDITORIAL - O GLOBO

Postura de Lula tensiona campanha
EDITORIAL
O GLOBO - 20/07/10
O choque entre o presidente, sua candidata e o Ministério Público eleitoral vem sendo construído com afinco desde o início do segundo mandato, quando Lula decidiu antecipar a campanha eleitoral e colocar o nome da ministra Dilma Rousseff na rua.

Como, queiram ou não, há prazos legais para as diversas fases de qualquer campanha, Lula, de forma consciente, criou este conflito. Decidiu pagar o preço para tornar a ministra conhecida da massa do eleitorado.

A legislação existe para supostamente dar condições de igualdade na disputa entre candidatos da situação e da oposição. Procura impedir o uso da máquina e do dinheiro públicos em benefício de uma única corrente política, forma deletéria de privatização do imposto pago pelo contribuinte, exemplo clássico de patrimonialismo, distorção da vida política brasileira praticada à direita e à esquerda. A Justiça eleitoral — talvez inibida diante da popularidade recorde de Lula — demorou a agir. E quando passou a multar o presidentecabo eleitoral, em obediência à lei, não houve recuo do ocupante do mais elevado cargo da República.

Um primeiro efeito negativo da lerdeza da Justiça foi estimular a oposição a cometer os mesmos delitos: José Serra, ainda governador, recebeu honras de candidato em eventos típicos de governo, e, há poucos dias, seu sucessor, Alberto Goldman, imitou Lula ao propagandear em solenidade oficial alegadas virtudes do candidato tucano.

O último lance da escalada de Lula ocorreu no comício realizado na Cinelândia, na sexta à noite, em que o presidente, sem citar nomes, se referiu a “uma procuradora qualquer aí”, que o estaria impedindo de fazer menção a Dilma Rousseff. Sábado, no interior de São Paulo, foi a vez de a própria Dilma criticar a representante do MP.

O alvo lulo-petista é Sandra Cureau, vice-procuradora-geral eleitoral. Tudo porque, como exige o cargo, ela acompanha atenta candidatos desafiarem a lei. A irritação do presidente se deve à notícia de que Sandra pediu vídeos às TVs do pronunciamento de Lula no lançamento do projeto do trem-bala, feito com menções a Dilma Rousseff de cunho eleitoral. Num discurso seguinte, em outro evento, o presidente, sob pretexto de comentar o fato, repetiu os elogios à candidata, com o agravante de estar na presença do presidente do TSE, ministro Ricardo Lewandowski. A ousadia e o desafio à Justiça foram indiscutíveis.

A rigor, outra coisa não faz o presidente há no mínimo dois anos. Os índices das últimas pesquisas eleitorais mostram que Lula teve êxito e tornou a ministra conhecida.

Mas, para isso, desafiou e desafia as instituições, dá um péssimo exemplo como a mais importante autoridade do Executivo — daí a oposição fazer o mesmo — e cria uma indesejada tensão na campanha.

A popularidade presidencial não vale como salvo-conduto para o atropelamento de qualquer legislação. Ou retrocederemos ao estágio de uma republiqueta tropical. O lulopetismo testa e ultrapassa os limites do estado de direito bem ao estilo das falanges que se digladiam na luta sindical. O presidente não esconde que deseja eleger a sucessora a qualquer custo. Mas a nação discorda que tenha de pagar o preço do desrespeito impune à lei.

Não é justificável qualquer afronta ao estado de direito

ANCELMO GÓIS

Bolsa Miami 
Ancelmo Góis 

O Globo - 20/07/2010

Com a corrida desembestada de brasileiros rumo aos EUA, a American Airlines comunicou a Sérgio Cabral, ontem, que em novembro serão 17 voos semanais saindo do Rio. Hoje são 7.

Em agosto agora, 45 executivos da voadora americana desembarcam aqui para bater o bumbo.

Rainha do Fado

Uma missa hoje na Basílica da Estrela, em Lisboa, vai celebrar os 90 anos do nascimento de Amália Rodrigues, a Rainha do Fado, que morreu em 1999.

A nossa Maria Bethânia vai participar do evento.

O samba de Marina

Um dos jingles da campanha de Marina Silva é de Paulinho da Mocidade e Afrânio Mello.

Um trecho: “43 é Marina/43 é PV/Pra mudar a nossa história/ Só depende de você/Mulher guerreira/Que o mundo admira/Orgulho da gente...”

Música gospel

Veja como cresce esse filão da música gospel.

A Sony, líder no mercado fonográfico, conta em sua lista com nove artistas de música religiosa e acaba de contratar a cantora Cassiane, que já vendeu mais de 20 milhões de discos.

Sabor carioca

Tem um dedinho de Brasil no casamento de Chelsea, filha de Bill e Hillary Clinton, dia 31 agora, em Nova York.

O noivo, Marc Mezvinsky, trabalha na empresa 3G Capital, que pertence aos cariocas Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira.

Batalha de São Paulo

Lula andava um pouco com o pé atrás em relação a Ricardo Teixeira.

Achava, por exemplo, que a CBF não estava se empenhando em levar a abertura da Copa para São Paulo.

Deixa comigo

Ontem, os dois conversaram, apararam as arestas sobre o imbróglio paulista e combinaram o enredo daqui para a frente.

Lula prometeu: se a CBF não chegar a um acordo amanhã com o governo paulista, tentará pessoalmente desatar o nó.

Aliás...

Lula deu um pito no governador Alberto Goldman por não ter chamado todo mundo para conversar e encontrar uma solução em vez de “ficar brigando pela imprensa”.

Ótima ideia. Que tal o governo federal fazer o mesmo com os aeroportos, que é o maior problema da Copa?

Rúgbi no Vasco

O COB oficializa hoje o estádio São Januário como sede dos jogos de rúgbi na Olimpíada de 2016.

O rúgbi, que exige um agarraagarra danado, vai estrear em Jogos Olímpicos aqui no Rio, assim como o golfe.

Aliás...

Por falar em golfe, há uma articulação para se construir um novo campo na Barra da Tijuca com vistas aos jogos de 16.

A cidade conta atualmente com o Gávea Golf and Country Club e o Itanhangá Golf Club

Final feliz

Sabe o recém-nascido, com problemas nos olhos, que foi devolvido por duas famílias à Vara da Infância e Juventude do Rio? Foi adotado por um médico e sua mulher. Ele está bem e o problema nos olhos, segundo os exames, não é nada demais e deve ser reversível. Que bom!

‘Tente outra vez’

A 17° Vara Cível RJ determinou que a Warner Brasil repasse os direitos autorais do falecido compositor Marcelo Motta para as herdeiras de Raul Seixas.

Motta, morto em 1987 sem deixar herdeiros, foi parceiro de Raul em sucessos como “Tente outra vez”. Pelas contas do advogado Nehemias Gueiros, Raul Seixas vende cerca de 30 mil CDs por mês no mundo.

Calma, Santa

Da drag queen argentina Isabelita dos Patins, quando abordada outro dia por uma fã que queria tirar foto numa festa: — É da imprensa? Não faço foto pra álbum de família. No, no, no.

AMEAÇADO DEPOIS das chuvas do início deste ano no Rio, o suntuoso prédio da Igreja Positivista do Brasil (1891), na Rua Benjamim Constant, na Glória, está de portas fechadas desde que o seu telhado despencou.

A biblioteca com 16 mil livros foi coberta, assim como a tela com o modelo da primeira bandeira brasileira. A umidade e os cupins continuam lá.

O presidente da igreja, Danton Voltaire Pereira de Souza, aguarda resposta do Ministério da Cultura (alô, ministro Juca Ferreira!) para o projeto pedindo recursos para consertar o telhado e as reformas. O custo das obras deve ser de cerca de R$ 2 milhões. Os positivistas tiveram grande importância na Proclamação da República. O lema “Ordem e Progresso” da nossa bandeira é de inspiração positivista

ANGÉLICA, linda como sempre, posa no Projac durante gravação das chamadas do Criança Esperança, que completa 25 anos em 2010

A ATRIZ Fernanda Montenegro abraça Zoé Chagas Freitas, que comemorou seus 80 anos, em Ipanema

PONTO FINAL

Nesse embate de Lula com a Justiça Eleitoral para associar o nome de Dilma Rousseff ao trem-bala, uma coisa chama a atenção.

Para que tanta insistência em colocá-la como mãe de um projeto que: 1) está sendo lançado com dois anos de atraso; 2) cujo edital será publicado a 14 dias do fim do governo; 3) para uma obra que já está duas vezes mais cara no papel do que se esperava; e 4) que depende do Estado para ir adiante? Que gente estranha. Com todo o respeito...

ANDRÉ FRANCO MONTORO FILHO

Muito além de fiscalizar fronteiras
ANDRÉ FRANCO MONTORO FILHO
FOLHA DE SÃO PAULO - 20/07/10

Só com melhor compreensão de como as quadrilhas estão organizadas será possível às autoridades desarticular essa indústria do contrabando



Tem aumentado acentuadamente, no Brasil, a apreensão de mercadorias contrabandeadas.
Balanço divulgado pelo Departamento de Operações de Fronteira da Secretaria da Justiça e Segurança Pública de Mato Grosso do Sul mostra esse crescimento. De acordo com seu comandante, coronel Joel Martins dos Santos, "o número de ocorrências que vem aumentando consideravelmente é o contrabando de cigarros e, como novidade, o de pneus novos e seminovos".
De igual teor são os informes da Polícia Federal e da Receita Federal em que são relatadas crescentes apreensões de drogas, como cocaína, haxixe e crack, e armas e munições. Esses relatórios informam que a maioria destas mercadorias entra no Brasil pelo Paraguai, mesmo que não tenham sido lá produzidas, e pela Bolívia.
Pelo que esses crimes representam de risco para sociedade, eles devem ser tratados como um tema prioritário na agenda pública.
Por exemplo, na indústria de cigarros, pesquisa de mercado (2009) aponta que 30% das vendas são de cigarros ilegais (35 bilhões). Grande parte é proveniente do Paraguai, que produz cerca de 40 bilhões de unidades, volume bem superior à demanda interna, de 3 bilhões. O excedente é desviado para o Brasil e outros países sul-americanos.
O maior estímulo a esse comércio ilegal é a expressiva diferença da carga tributária de cigarros. Enquanto no Brasil essa carga é de aproximadamente 63%, no Paraguai ela é inferior a 10%.
Essa disparidade tributária gera enormes distorções nos preços. Enquanto o preço médio de uma marca de menor valor no Brasil é de R$ 3, a média de preços dos produtos contrabandeados é 50% menor.
É importante ressaltar que preços ilegalmente baixos facilitam o acesso dos jovens e das classes de renda menos favorecidas ao produto, indo em direção contrária às políticas públicas do Ministério da Saúde de desincentivo ao consumo de cigarros.
Os consumidores, por sua vez, são expostos a produtos de qualidade e procedência duvidosas, que nem sequer possuem o registro na agência reguladora (Anvisa) e não estão dentro dos padrões de controles exigidos e previstos na legislação em vigor.
O trabalho das autoridades brasileiras no combate ao contrabando é digno de reconhecimento. Entretanto, nossa legislação prevê para esses crimes penas baixas, o que faz com que o caráter punitivo perca a sua eficácia e que as pessoas envolvidas continuem soltas e praticando o mesmo crime.
A problemática do contrabando não é de solução trivial. Exige um esforço conjunto e permanente de todas as autoridades para combater esse crime. Investimentos são essenciais, sobretudo na área de inteligência, pois só com melhor compreensão de como as quadrilhas estão organizadas será possível desarticular essa indústria paralela. Igualmente relevante é aplicação de penas mais rigorosas para tais crimes.
Finalmente, a demanda pela construção de agendas bilaterais entre os governos do Brasil com o Paraguai e a Bolívia a cada dia se torna mais urgente. A lucratividade dessas atividades ilegais é muito maior do que o retorno das atividades legais, tornando a repressão à ilegalidade difícil tanto econômica como politicamente.
O governo brasileiro pode e deve contribuir para a pesquisa e o desenvolvimento de opções econômicas rentáveis que possam viabilizar a transferência de atividades ilegais para atividades legais e o consequente desestímulo à indústria do contrabando. Com isso, ganharíamos todos: brasileiros, paraguaios e bolivianos.
ANDRÉ FRANCO MONTORO FILHO, doutor em economia pela Universidade Yale (EUA), é professor titular da FEA-USP e presidente do Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial - ETCO. Foi secretário de Economia e Planejamento do Estado de São Paulo (governo Mário Covas) e presidente do BNDES (1985 a 1988). Site: www.etco.org.br .