quarta-feira, junho 16, 2010

CLAUDIO SALM

Quem é neoliberal?

Claudio Salm
O Globo - 16/06/2010
 
Os marqueteiros do PT estão fazendo de tudo para grudar em José Serra o epíteto de neoliberal. Sua vitória implicaria um retrocesso ao neoliberalismo. Valem três perguntas e uma resposta. Implicaria? Desde quando o neoliberalismo foi enterrado pelo governo do PT? Como é que se formam os dois preços mais importantes da economia, a taxa de juros e a taxa de câmbio? 

Exatamente como antes de chegarem ao governo, os petistas deixaram que esses preços fossem determinados pelos erráticos fluxos de capitais, quer dizer, pelo mercado. A sustentação do crescimento depende dos investimentos e estes, em enorme medida, de taxas de juros e de câmbio que não inviabilizem nossa competitividade, como acontece hoje na indústria. Enquanto a candidata do PT pisa ovos e não perde chance de reafirmar sua reverência às forças do mercado, como fez agora na palestra lida em Nova York, Serra levantou o assunto sem receio de cometer heresias antiliberais. 

A propaganda eleitoral petista busca impingir a Serra intenções impopulares, como a de querer privatizar o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e a Petrobras. Não colou, mas o discurso chantagista não para. 

Uma ameaça feita pelo marketing petista é a de que Serra cortaria o gasto público social, especialmente o gasto assistencial. Quando ele teria feito algo semelhante no passado? Nunca. E nem os grandes teóricos do liberalismo são contra as transferências assistenciais, dado que defendem os gastos públicos que promovam a maior igualdade de oportunidades. Famílias que vivem abaixo da linha da pobreza são as que mais carecem de oportunidades. Os que são contra costumam apelar para o surrado refrão que diz ser melhor ensinar a pescar que dar o peixe. Ora, não se trata de uma coisa ou de outra. Junto com o Bolsa Família, o Estado deve proporcionar saúde e educação de qualidade, o que não acontece por esse Brasil afora. Essa é a crítica do Serra. 

Nossas deficiências educacionais são muito sérias, como atestam as avaliações internacionais (Pisa), nas quais o Brasil sempre aparece entre os últimos colocados. A questão da educação básica é tão grave que deveria ser mais federalizada, assim como a segurança pública, tal como proposto por Serra. Educação e saúde, como segurança, devem ser encaradas como políticas de natureza universal, que demandam vultosos recursos, cortes de desperdícios, planejamento, disposição para enfrentar interesses e aversão ao loteamento político dos ministérios, das empresas, das agências reguladoras. 

O tamanho do gasto público em relação ao PIB não é divisor de águas nem mesmo para o mainstream da teoria econômica. A discussão que interessa tem a ver com necessidades e com os meios para financiar os programas. A questão deve ser tratada de forma pragmática, e não doutrinária. 

Comparada à de outros países, e levando em conta a renda per capita, nossa carga tributária é elevada. Tão ou mais grave, porém, é a injustiça embutida na arrecadação. Basta lembrar que a carga para as famílias que ganham até dois mínimos mensais é o dobro em relação à das que ganham acima de 30. Estudo da Cepal/ONU ("La hora de la igualdad") mostra a importância dos impostos e transferências para a distribuição de renda na Europa, enquanto no Brasil e na América Latina o efeito redistributivo é mínimo, quando não é regressivo. Serra tem se posicionado claramente a respeito desse assunto espinhoso, sempre evitado pelos governos, inclusive pelo do PT e, até agora, também pela sua candidata. 

Por último, a candidata é apresentada como a heroína de um suposto retorno das políticas industriais no Brasil. Serra criou, na Constituinte, o Fundo de Amparo ao Trabalhador, que financia o BNDES, e foi ele quem propôs e aprovou o Fundo Constitucional de Financiamento do Norte, Nordeste e Centro Oeste. Foi ele também que pilotou, no Planejamento, a implantação do regime automotriz que salvou, modernizou e descentralizou a indústria automobilística (incluindo o RJ). Já o PT preside um ciclo de desindustrialização e retorno a uma economia primária exportadora, incapaz de gerar empregos em quantidade e qualidade. Empresta dinheiro subsidiado para empresas comprarem empresas, sem investimento novo, destrói cadeias produtivas, encolhe as exportações de produtos com mais tecnologia, se humilha diante da China e promove a farra dos importados. Haja neoliberalismo! 

JOSÉ (MACACO) SIMÃO

Selexotan do Dunga
JOSÉ  SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 16/06/10

Ganhamos! Apesar do Dunga! E o Kaká não tá 100%. Porque 10% vai pra bispa Sônia

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! Direto da Cópula do Mundo!
Ganhamos! APESAR DO DUNGA! Ufa! Não foi vitória. Foi ALÍVIO!
E o Kaká não tá 100%. Porque 10% vai pra bispa Sônia. A seleção tava dormindo. Eles tomaram Lexotan? A Selexotan do Dunga!
Assim não dá! Vou devolver minha televisão pras Casas Bahia! Rarará!
E a Nair Bello do Twitter acha que os coreanos estavam vendendo Rolex no jogo: "Vai Rolex, Kaká?". E o casaco do Dunga? Dunga veste o casaco da Lady Gaga! O casaco é Herchcovitch! Parecia uma paquita! Rarará!
E o Galvão, o Hexagerado? Passou 45 minutos com o grito engasgado. Galinha com ovo atravessado. Aliás, sabe qual é a origem da vuvuzela? O Galvão teve uma relação extraconjugal com uma boneca inflável e nasceu a vuvuzela: Bóóóm! Goooool! O VOVUZELA DA GLOBO!
E Jong na Coreia do Norte é tipo Zé! Todos se chamam Jong: Jong Kong, Jong Fu, Kim Jong Fui, Kim Jong BUM e Kim Jong Zé! E o norte-coreano conseguiu marcar um gol no Brasil. Vai ser recebido em carro aberto na Coreia do Norte!
E adorei a charge do Dalcio. Responda rápido. Quem é: seu regime é o mais fechado do mundo, tem o hábito de cercear a imprensa, é explosivo e usa cabelo arrepiado? Kim Jong, da Coreia do Norte? Não, o DUNGA! Rarará!
E o outdoor de um motel em Natal: "Não faça como o Dunga! Bota o ganso pra jogar". Rarará!
E essa: "Argentina consegue clonar a primeira cabra da América Latina". E a cabra gritou Peléééé! Pelééé!
E essa: "Deputado comemora gol da Coreia do Norte que lhe deu a vitória no bolão". Como é o nome dele? Hugo LEAL! Rarará!
Seleção dos Peladeiros! Sugestões dos leitores para o hexa garantido. O Dunga devia ter levado o time de Leporace de Franca. Goleiro: Super-Homem Que Caiu do Cavalo. Defesa: Ranca Rabo, Ranca Cabeça, Ranca Tripa e Ranca Tudo! Ataque: ROLA TORTA E CLOACA CABULOSA! Rola Torta é o Maicon. Que fez gol de ladinho. Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza.

ROBERTO DaMATTA

A coluna em questões

Roberto DaMatta
O Globo - 16/06/2010
 
Numa Copa do Mundo e diante de uma eleição crítica para o destino do Brasil, vivemos de perguntas. Como Hamlets fazemos a pergunta perene: seremos ou não campeões? 
Acho curiosa e significativa essa sincronia do calendário futebolístico com o eleitoral. Daquele, temos saído sempre com mais confiança em nós mesmos. Neste, temos nos acertado em termos de princípios, como faz prova a lei dos fichas-limpas, norma crítica para o funcionamento de uma democracia liberal. Essa conjunção de dois eventos críticos numa mesma temporalidade falaria - pergunto - de uma dificuldade em levar o futebol menos a sério do que as competições eleitorais que são, afinal, um dos pontos críticos das democracias? 
Não sei. 
Sei apenas que eu sempre tenho mais perguntas do que respostas. E a mais séria de todas seria a seguinte: qual a origem da pergunta? Um mito reza que, no tempo em que os animais falavam e o mal ainda não havia se instalado no coração dos homens, ninguém perguntava nada. O mundo era tão ordeiro que ele prescindia de perguntas. As receitas estabelecidas pelos deuses davam conta de tudo. Um dia, porém, um sujeito dormiu além da conta e, contrariando as boas maneiras, questionou se era hora do café ou do almoço. A mulher disse almoço, o pai falou em café. Houve debate e dúvida. Rompendo o tabu, alguém falou que a hora não importava, porque era uma convenção. Um grupo entusiasmou-se com a descoberta de que tudo era construído. A comunidade partiu-se e o mundo encheu-se de perguntas como a cabeça de uma criança. Tal como naquele famoso conto de Edgar Alan Poe, "O diabo no campanário", a fratura de uma rotina desenhada em pedra inventou o caos, a divisão e o mundo jamais foi o mesmo. Desde então, o povo vivia períodos em que era proibido perguntar. Daí o nome, "ditado-duro", para essas fases nas quais só cabiam respostas e os perguntadores eram presos. Em contraste com esses momentos sem vozes, havia as etapas nas quais as perguntas suplantavam as respostas. O mito termina afirmando que esse povo era feliz e infeliz tanto com respostas quanto com perguntas, de modo que conviver com essas duas pontas da razão humana era melhor do que tentar ficar com a missa pela metade. 

A vida pode ser resumida em perguntas. Será que você me dá um copo d"água? Terei sucesso? Posso te dar um beijo? Serei um bom pai? Fiz alguma diferença? Será que, um dia, eu vou mesmo morrer? Quando vou parar de roubar e começar a trabalhar para minha cidade, estado e país? Com essa cara, essa ignorância e essa insegurança, vencerei as próximas eleições? Deus, você me ajuda? Sou mesmo um predestinado a governar e a "salvar" o Brasil, sobretudo de mim mesmo e do meu partido? Por que eu não me deixo levar pela indiferença interessada, tão trivial no realismo social brasileiro que enxerga tudo, menos a sociedade? Afinal, sou mesmo republicano ou apenas um hipócrita disposto a tirar partido do republicanismo? Posso cantar? Sou mesmo um professor ou um pulha que empulha? Será que o sucesso me apodreceu totalmente, como fez com X, Y e Z? Ou, pelo contrário, me fez ver o mundo de um ângulo mais generoso? Onde fica o banheiro? Sou um perdedor; mas de onde vem essa energia que brota lá de dentro do meu ser? Um amigo religioso diz que é a fé da qual tão maravilhosamente falou São Paulo Apóstolo. Eu acho que vem de Frank Sinatra cantando "I believe". Como posso estar de pé se minha vida está, como o carnaval, de ponta-cabeça? 

Dize-me o que perguntas, dir-te-ei quem és! Shakespeare faz um resumo estonteante: "Quando eu me pergunto quem sou eu, sou o que pergunta ou o que não sabe a resposta?" 

E, no entanto, caro leitor, a maior e a mais arriscada pergunta que podemos fazer e que, de fato, fazemos a todo momento uns aos outros, é a que Cole Porter produz na musica "In the still of the night", quando indaga: "Do you love me, as I love you? (Você me ama tanto quanto eu te amo?)." Acreditar ou não numa resposta perfeita a essa questão; ter a coragem de fazê-la; viver sem uma resposta, é - eu não tenho a menor dúvida - o que nos torna perfeitamente humanos.

ADRIANO PIRES E ABEL HOLTZ

Tributação x benesses no setor elétrico

Adriano Pires & Abel Holtz
O Estado de S. Paulo - 16/06/2010
 
 Segundo a Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace), o consumidor de energia elétrica no Brasil deverá pagar pelo menos R$ 6 bilhões além do previsto, nos próximos quatro anos, para bancar a operação das térmicas poluentes movidas a óleo diesel na Amazônia. Ou seja, a lei premia a irracionalidade econômica, transformando um incentivo que tinha data marcada para terminar numa compulsória obrigação para toda a sociedade brasileira.
O setor elétrico foi transformado, já há algum tempo, num coletor de impostos cuja lógica absurda está levando à perda de produtividade da nossa indústria e transformando o nosso país num simples exportador de commodities e importador de bens e equipamentos. Atualmente exportamos minério de ferro e já importamos trilhos da China.
A incidência tributária se dá até sobre Encargos de Segurança do Sistema, destinados ao despacho de térmicas fora da ordem do mérito econômico e da inacreditável manutenção do subsídio da Conta de Consumo de Combustíveis (CCC), que deveria acabar em 2012(?) e agora foi tornado permanente pela Lei n.º 12.111. Essa lei estende os benefícios e encargos tributários suportados pelo consumidor de energia elétrica a todo o custo de geração e investimento dos Sistemas Isolados - que, por mais incrível que possa parecer, compensa perdas do ICMS aos Estados do Norte, que foram agora beneficiados com a entronização da energia de base hidráulica em substituição à energia de base fóssil.
A sociedade brasileira, que foi onerada pela compra de combustíveis fósseis para uso nas termoelétricas do Norte, será agora definitivamente compelida a suportar os desajustes fiscais de Estados beneficiados por uma energia elétrica mais barata e menos poluente. Ou seja, foi consagrado, definitivamente, o atraso tecnológico por meio de contas públicas geridas de forma particular e única, que tornam permanente um ônus para todos os brasileiros.
Neste contexto de irracionalidade, o governo, para tornar o leilão de Belo Monte viável, resolveu conceder benesses para que uma tarifa irreal fosse tornada uma verdade insofismável. Sintomaticamente, o subsídio embutido no financiamento de longo prazo alcançou valor similar àquele da operação das térmicas poluentes, acima referido, conforme condições anunciadas pelo BNDES.
O argumento principal brandido pelo governo foi atingir a chamada modicidade tarifária. Não resta dúvida de que toda a sociedade brasileira é a favor da modicidade tarifária, e o governo tem obrigação de licitar os projetos com essa característica. É o caso de projetos hidrelétricos que tenham uma escala produtiva que assegure o mais baixo custo do MWh gerado e comercializado.
No caso de Belo Monte, a modicidade foi contraposta à atratividade do projeto, inibindo a presença de grandes grupos empresariais privados e com isso aumentando a necessidade de aportes financeiros do governo. Teria sido melhor buscar a modicidade tarifária, sem contrapô-la à atratividade do projeto, por meio da desoneração da pesada cadeia tributária da energia elétrica gerada no País, hoje de 45,8% no preço da energia elétrica para o consumidor.
Como se vê, poderíamos alcançar a modicidade tarifária em Belo Monte se houvesse mais racionalismo no longo prazo e criatividade nas ações governamentais, que poderiam privilegiar a atratividade de um projeto em sua plataforma produtiva de energia elétrica, desonerando-o dos pesados tributos e abrindo um horizonte claro para outros projetos hidrelétricos na região onde se implantarão cerca de 40 mil MW, conforme o Plano Decenal de Geração Hidrelétrica (EPE 2010/2019).
O grito de alerta já foi dado e, no momento em que as candidaturas à liderança de um novo governo se colocam, exige-se um posicionamento consentâneo sobre a matéria de exorbitar com tributos e encargos a cadeia produtiva da energia elétrica e, consequentemente, o seu preço para o consumidor em prejuízo para o contribuinte.
Adriano Pires & Abel Holtz  SÃO, RESPECTIVAMENTE, DIRETOR DO CENTRO BRASILEIRO DE INFRAESTRUTURA (CBIE) E ENGENHEIRO, CONSULTOR NA ÁREA DE ENERGIA E NEGÓCIOS

TUTTY VASQUES

Dunga já sabia!
TUTTY VASQUES
O ESTADO DE SÃO PAULO - 16/06/10

A torcida se desespera à toa! Depois de tanto treino secreto, é natural que o Brasil tenha escondido o jogo em sua estreia na Copa. Ninguém joga tão mal daquele jeito contra a Coreia do Norte, a não ser que esteja dissimulando qualquer coisa que a gente não saiba, ninguém viu o que foi combinado no ambiente privado da seleção. Podem estar querendo enganar os portugueses, nossos principais adversários nesta fase. "Esses gajos não jogam nada, pá!" - só se falava disso ontem à noite em volta da TV na concentração dos patrícios.
Ou, vai ver, o time atendeu, especialmente no primeiro tempo, a um pedido da Fifa para tentar calar as vuvuzelas em Johannesburgo, missão consagrada pelo silêncio constrangedor no estádio na saída dos jogadores para o intervalo. Ninguém nas arquibancadas tinha ânimo para assoprar nada, contra ou a favor, depois que Felipe Melo, aos 40 minutos de jogo, deu um bico na arquibancada, que, se pega uma vuvuzela de frente, entupa o torcedor. Não à toa, o volante foi mantido no time até quase o final do jogo. Ele mereceu!
Aquele golzinho norte-coreano aos 44 do segundo tempo coroou o planejamento de Dunga: a Costa do Marfim deve estar achando que vai ser mole no domingo. Coitada!

Louras geladas
Era só o que faltava: aquelas 36 lourinhas holandesas de vestidinho laranja nas arquibancadas do Soccer City - coisa que muita gente considerava o melhor da Copa do Mundo até agora - eram, na verdade, um bando de Paris Hilton falsificadas. A roupinha de devassa foi patrocinada por uma cervejaria da Holanda, que teria contratado sul-africanas de olhos claros para uma "publicidade encoberta" no esquema comercial da Fifa. Isso quer dizer o seguinte: de verdadeiro até agora nesta Copa, só o futebol do Messi e da Alemanha.
Copa Fashion Week
A apresentação do Brasil só ficou a desejar pela gola rulê e o sobretudo de porteiro de hotel de Dunga, mas ainda há tempo para corrigir esse detalhe.
À la Dunga
Dilma Rousseff nega que esteja em viagem pela Europa para fugir do confronto direto com adversários. Vai ver decidiu adotar o sistema de treino secreto, né?
Salvação da lavoura
Está cheio de cambista brasileiro atuando na África do Sul. Isso quer dizer o seguinte: vai ter ingresso à venda para a final da Copa até a véspera da decisão!
Cobras & lagartos
O meio-campista português Raul Meireles é sério candidato à tatuagem mais pavorosa nos gramados da África do Sul. A disputa é das mais acirradas nesta Copa. Repara só!
Tendência global
O torcedor se queixa de barriga cheia do futebol feio apresentado na Copa. O pessoal de moda conviveu numa boa com a celulite na São Paulo Fashion Week. 

RUY CASTRO

Mais brasileiros 

Ruy Castro


FOLHA DE SÃO PAULO - 16/06/10


Quando Carmen Miranda chegou a Nova York, em 1939, contratada pelo empresário Lee Shubert, seu inglês mal passava do “I love you” que ela ouvia nos filmes de Joan Crawford a que assistia no Metro Passeio. Era mais do que Carmen precisava para sua estreia na Broadway, na revista musical Streets of Paris, quando se consagrou cantando três números em português e um quarto, 'South American Way', em que o único verso em inglês era o do título.
Verde na América e ainda se atrapalhando com o som do 'th', Carmen pronunciou-o ‘Souse American Way’ – com o que, aos ouvidos da plateia, “à maneira sul-americana”se tornou “à maneira dos americanos bêbados”. A gargalhada retumbou, e a pronúncia estropiada foi incorporada ao espetáculo mesmo depois que Carmen aprendeu a fazer o som direito – por sinal, nada difícil para uma cantora com o seu ouvido.
Nos anos seguintes, Carmen dominou o inglês à perfeição e o falava sem o menor sotaque, exceto nos filmes, em que seus papéis exigiam o jeito ‘latino’ de falar. Era assim também com os franceses do cinema americano, como Charles Boyer, com os mexicanos, como Ricardo Montalban, e com os demais estrangeiros, todos obrigados a forçar um sotaque que há muito haviam perdido. Na Hollywood dos anos 40, só os americanos podiam falar inglês direito.
Mas a prova de que o ‘th’ ainda é espeto para muitos está ressurgindo a toda hora na cobertura da Copa pela TV. É só ouvir alguém tentando pronunciar em inglês o nome do país anfitrião, ‘South Africa’. O resultado é sempre ‘Souse Africa’ – a África de porre.
Este colunista estará ausente pelas próximas três semanas, levando uma exposição sobre Carmen Miranda ao país do qual ela saiu aos dez meses, em 1909 – Portugal –, para nos tornar mais brasileiros com seu jeito de ser e de cantar.

BRASIL S/A

A Coreia de Lula
 Antonio Machado
CORREIO BRAZILIENSE - 16/06/10

No suadouro da Previdência, Lula sanciona aumento maior e veta fim do redutor de aposentadorias



Com uma bola dentro e outra fora, o presidente Lula se livrou da armadilha plantada pelo Congresso, saindo-se, como era previsível, do enrosco das aposentadorias do setor privado. O jogo não acabou: agora falta o governo anunciar como vai compensar o custo extra.

Ele concordou com o aumento maior do que o recomendado pela área econômica do governo, que outra vez ficou vendida pelos interesses eleitorais do presidente, e vetou o fim do “fator previdenciário”.

Projeto do senador Paulo Paim, petista como Lula, o fim do fator foi do Senado à Câmara sem encontrar nenhuma resistência da defesa governista até que Lula sacou o cartão vermelho no ultimo minuto do último dia para decidir o que fazer. Previdência, para ele, foi sempre um “fator de embaraço”, tratado com improvisação.

Lula imaginou ficar bem na foto ao decidir, no fim do ano passado, conceder às aposentadorias com valor acima de um salário mínimo um reajuste maior do que a inflação de 2009. A inflação, acrescida da variação do PIB de dois anos anteriores, só é obrigatória, segundo a lei, para os proventos abaixo de um salário mínimo. Para valores maiores, a correção é limitada à inflação, e nada mais.

Vem daí a proposta, acertada com as centrais sindicais, do índice de reajuste de 6,14%. Seria para o Congresso ratificá-la, e deixá-lo faturar a generosidade, além de provavelmente partilhá-la com a candidata Dilma Rousseff. Esse era o enredo. Deu tudo errado.

Os sindicatos, Lula traz no cabresto. Já com os políticos da base de partidos aliados, a vassalagem é de ocasião. Calejado nas manhas da política, ele se mostrou ingênuo ao supor que bastaria o teatro com os sindicalistas para anular com uma jogada de carrinho o bem armado lobby dos aposentados na Câmara e no Senado. Perdeu feio.

No Congresso, sua proposta de reajuste, embrulhada como presente, foi desembrulhada, substituída pelo aumento de 7,7% e acrescida do brinde arrasa quarteirão das contas do INSS: o fim do tal fator previdenciário — o redutor criado no governo FHC para desestimular aposentadorias precoces, depois da recusa do Congresso de definir uma idade mínima para se aposentar. Ele não tinha como não vetar.

Jovens sacrificados
A idade mínima para aposentadorias existe em todo mundo, até onde os benefícios sociais são generosos, como na Escandinávia. Mas não no Brasil. As pessoas começam a se aposentar jovens, na altura dos 40 e poucos anos, sem terem contribuído para isso, contra mais de 60, em média, na Europa, EUA, Japão, Austrália, Chile, Argentina.

Seja pela crise global, seja pela tendência de envelhecimento da população e de aumento da expectativa de vida, a idade mínima para se aposentar está sendo aumentada em toda parte. É problema social grave não fazê-lo, já que não há mais como extrair do assalariado da atual geração e futuras o custeio da geração aposentada.

O ônus demográfico
Em vários países, já há mais gente aposentada ou muito jovem que pessoal empregado. É o caso do Japão, Alemanha, Itália, Rússia. E é o que se projeta para o Brasil. A redução da taxa de natalidade e a desaceleração do crescimento do número de jovens, iniciadas na década de 1980, indicam que a população total começará a declinar entre 2020 e 2025 no Brasil. Desde 2004, a população jovem, com 15 a 24 anos, encolhe em termos absolutos. Tudo isso contribui para o agravamento dos desequilíbrios do plano atuarial da Previdência.

A nobreza e a ralé
Além da tendência de envelhecimento da sociedade, no país há duas classes de aposentados: a nobreza do Estado e a ralé. Tal situação amplia os ônus sociais quanto mais tempo perdurar a iniquidade dos dois regimes: do funcionalismo público, que se aposenta recebendo praticamente o último salário, e os outros, confinados ao teto de R$ 3.416 antes do novo reajuste. Lula tinha ciência dessas coisas.

Ele teve a chance de rever as distorções no primeiro mandato e a deixou passar. No segundo governo, teve em mãos um projeto que só previa mudanças para quem se aposentasse depois que fosse aprovado — ou, ainda mais restritivo, valesse apenas para quem ainda fosse ingressar no mercado de trabalho. Nem isso ele topou propor.

O abacaxi previdenciário se tornou mais amargo para seu sucessor. Seria pior se não vetasse o fator previdenciário, contra o qual se opôs no governo FHC. E ficará complicado se o conselho do ministro da Fazenda, Guido Mantega, for outra vez ignorado: o de compensar o custo do aumento maior, da ordem de R$ 1,6 bilhão, com cortes de gastos, incluindo as emendas de parlamentares. É justo.

Ministros figurantes
Muitos dos desatinos cometidos na economia só produzem efeito em prazo maior, o que faz com que seus méritos sejam julgados apenas à luz dos resultados imediatos. É quando a respeitabilidade de um ministro, normalmente da área econômica, faz a diferença.

Lula os tem como assessores, não como conselheiros seniores cujos pareceres equivalem aos de juristas ou médicos. Afora o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, em sua área específica, e do então ministro Antonio Palocci, a quem ouvia e ainda dá ouvidos, o resto é figurante. O resultado está aí: só se escreve o que sai da área econômica após o sim de Lula, mesmo à revelia do bom senso.

Tal estilo de governar não deu propriamente errado com ele, o que não significa que esteja certo e que não deixará sequelas.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Brasil é o 7º entre os países com maiores reservas 
Maria Cristina Frias

Folha de S.Paulo - 16/06/2010

O Brasil está entre as sete economias com o maior nível de reservas em moeda estrangeira, segundo dados de 66 países coletados pelo FMI.

Com pouco mais de US$ 250 bilhões, a maior parte aplicada em títulos do governo dos EUA, o Brasil tem estoque de recursos superior ao da maioria dos emergentes.

O valor está abaixo, no entanto, do acumulado pelas outras três economias que fazem parte do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China).

A China é o país com as maiores reservas, US$ 2,4 trilhões, seguida por Japão (US$ 1 trilhão).

Por ser um seguro contra crises, a acumulação de recursos tem custo. A estimativa é que esse valor seja próximo de US$ 30 bilhões.

O valor atual supera o necessário para evitar ataques especulativos contra o país, segundo o professor Fabio Kanczuk, da FEA (Faculdade de Economia e Administração da USP). Hoje, há recursos para pagar toda a dívida externa (US$ 206 bilhões).

"Estão sobrando recursos. E essas reservas custam caro. Basta ver a diferença entre o juro que a gente recebe e a taxa que o governo paga na dívida interna", diz Kanczuk.

Apesar do custo elevado, as reservas evitaram oscilações mais fortes do dólar nas crises internacionais, segundo o economista Flávio Serrano, do BES Investimentos.

"É relativamente custoso manter esse estoque, mas quanto maior for o colchão de recursos, maior a capacidade de absorver turbulências", diz Serrano.
Ericsson e Telefónica Negociam
Ericsson, fabricante de equipamentos de telecomunicações, e Indra, que desenvolve sistemas, estão para assinar um acordo inédito com a Telefónica.

Pela proposta, uma empresa em sociedade entre a sueca Ericsson e a espanhola Indra assume o desenvolvimento industrial de soluções tecnológicas, originalmente criadas pela Telefónica I+D, unidade de pesquisa e desenvolvimento do grupo Telefónica, com sede em Madri.

A sociedade também vai incorporar a totalidade das ações da Telefônica Pesquisa e Desenvolvimento, a filial brasileira, em que trabalham cerca de cem funcionários.

Fisco Até 12 de junho, só 191.383 empresas se adequaram para ter a nota eletrônica (NF-E) que substituirá o documento em papel, segundo o diretor de Alianças da Mastermaq Softwares, Roberto Dias Duarte. O número é baixo. O processo de adequação de alguns setores começou há quatro anos. As 27 secretarias da Fazenda esperam 1 milhão de empresas registradas em 2010.
NY, NY
O número de novas locações de escritórios em Manhattan, em Nova York, mais do que duplicou nos primeiros quatro meses deste ano. O volume de contratos assinados cresceu 257% de janeiro a abril sobre igual período de 2009, segundo a Cushman & Wakefield. Em metros quadrados, foram cerca de 730 mil no quadrimestre, o equivalente à média de 2002 a 2007.
Caça-talentos
O foco das contratações serão profissionais capazes de influenciar e obter o melhor das equipes -ainda escassos no mundo corporativo.

A conclusão é de Joseph McCool, presidente da The McCool Group LLC, que lança amanhã, em São Paulo, o livro "Escolhendo Líderes" (editora Saraiva/Fesa, com 246 páginas).

Além de ter experiência, o executivo precisa estar disposto a aprender sempre, lembra o autor.
"Se ele parar, sua capacidade de liderar e inspirar os outros diminui."
Números da Energia Brasileira

R$ 490 mi
ESS previsto até mai/2010
O Encargo de Serviços do Sistema cobre a manutenção da confiança e da estabilidade

R$ 14,96 bi
Encargos totais da energia elétrica em 2009

Fonte: Abrace
Inadimplência Cai Em São Paulo
O número de títulos apresentados nos cartórios e os protestados diminuiu na cidade de São Paulo neste ano.

De janeiro a maio, foram protestados 318,5 mil títulos -entre duplicatas, cheques, notas promissórias e outros-, com queda de 23% sobre igual período de 2009.

Os dados são do Instituto de Estudos de Protesto de Títulos da Seção São Paulo.

O total de títulos apresentados, que inclui os pagos após a notificação, os cancelados e os protestados, caiu 12% no acumulado do ano.

"Os credores, tanto empresas como pessoas físicas, estão tendo menos necessidade de enviar os títulos para protesto", diz José Carlos Alves, presidente do instituto.
Momento MinskyO livro "Estabilizando uma Economia Instável", do economista norte-americano Hyman P. Minsky (1919-1996), apresenta uma teoria sobre investimentos. O autor explica por que a economia global tem períodos de inflação, de aumento na taxa de desemprego e de desaceleração econômica, além dos motivos da crise de crédito, que ele teria previsto.

CÁSSIO SCHUBSKY

Ode ao filho da tortura
CÁSSIO SCHUBSKY
FOLHA DE SÃO PAULO - 16/06/10


Os escritos e exemplos de Luiz Gama são legados de um tempo que não acabou: a tortura no Brasil continua impune, corroendo presídios



Com sua pena afiada e cirúrgica, Darcy Ribeiro foi ao ponto, ao descrever a escravidão no Brasil como uma "máquina de moer carne humana". Séculos de sevícias não se esquecem facilmente. Índios dizimados e enterrados em todos os recantos do país impedem que se transforme a história do Brasil num conto de fadas de concórdia e fantasia. Sertanejos de Canudos. Trabalhadores de Eldorado do Carajás. Presos do Carandiru.
Ironia do destino nos armou o centenário da Revolta da Chibata. Em 1910, os marinheiros, em plena República, estrugiram contra a sanha dos açoites impingidos como castigo aos trabalhadores do mar, sob o comando da Marinha.
Agora, em 2010, cem anos depois, ministros do 
Supremo Tribunal Federal transformaram a fundamentação histórica de seus julgados sobre anistia a torturadores da ditadura em história da carochinha, ao fabularem um brasileiro pacífico e cordato, amigo do acordo, a justificar a impunidade. Sejam feitas as ressalvas aos preclaros ministros Carlos Ayres Britto e Enrique Ricardo Lewandowski.
A história tem mesmo o condão de nos pregar peças... Pois em 21 de junho celebram-se os 180 anos de nascimento de Luiz Gonzaga Pinto da Gama (1830-1882). "A quem a história não esqueceu", mas que vinha recebendo diminuto reconhecimento. Ressaltem-se esforços recentes para trazer à tona os feitos obumbrados de Gama.
Caso do embaixador Rubens Ricupero e do professor Fábio Konder Comparato, por meio de artigos e discursos; ou da pesquisadora Lígia Fonseca Ferreira, com várias obras publicadas; e do historiador e advogado trabalhista Nelson Câmara, que lança agora um livro ("O Advogado dos Escravos"), desvelando os dotes de causídico de Gama, que conseguiu, rábula, a libertação de centenas de escravos, com bem articulados habeas corpus.
Filho da negra liberta Luiza Mahin e de um fidalgo português de identidade desconhecida, o baiano Luiz Gama foi vendido como escravo pelo pai, com dez anos de idade.
Ainda jovem, conquistou a liberdade. Maçom, ativista político, abraçou, com fervor, as causas da abolição e da República, atuando na loja América, com pares como Castro Alves, Rui Barbosa e Joaquim Nabuco. Impedido de estudar direito nas Arcadas, fez-se advogado por si mesmo.
Poeta, jornalista, educador e tribuno, articulou seus afazeres em prol da libertação dos escravos. Seu estilo ferino rendeu-lhe reprimendas várias. Funcionário da polícia paulista, foi exonerado.
Fustigou a magistratura, com picardia, por não respeitarem muitos dos juízes as leis em vigor, que proibiam o tráfico e a própria escravidão, como demonstrou Luiz Gama na Justiça. Poeta engajado, advogado atilado, jornalista cáustico e percuciente, seus escritos e seus exemplos são legados de um tempo que não acabou: a tortura no Brasil continua impune, corroendo delegacias e presídios. Legiões de desesperados minguam prostrados na marginalidade no campo e na cidade.
Em afronta às leis em vigor, a começar da Lei Maior -nossa pisoteada Constituição cidadã.
CÁSSIO SCHUBSKY, 44, editor e historiador, é organizador do livro "Clóvis Beviláqua, um Senhor Brasileiro" (Editora Lettera.doc).

PAINEL DA FOLHA

Urna de pressão 
Renata Lo Prete 

Folha de S.Paulo - 16/06/2010

A três meses e meio do primeiro turno, reina no TSE um ambiente conflagrado não apenas pela greve dos funcionários, mas também pelo choque entre estes e a diretora-geral Patrícia Landi Bastos, nomeada pelo novo presidente do tribunal, Ricardo Lewandowski.

Servidores alegam que Patrícia, além de maltratá-los, desconhece o trabalho da Justiça Eleitoral -economista, ela acompanha Lewandowski desde o TJ-SP, há mais de uma década. Eles apontam risco à realização do pleito caso seja levada adiante a ameaça de demitir funcionários da Secretaria de Tecnologia da Informação, centro nervoso do processo eleitoral.

Insistente Eduardo Cunha (PMDB-RJ) provocará o TSE na tentativa de esclarecer dúvida sobre a possibilidade de exigir fidelidade partidária durante a campanha. O prazo para respostas do tribunal se encerrou sem que o caso fosse analisado, mas o deputado alegará que a consulta sobre o "ficha limpa" foi examinada com o processo eleitoral já em curso.
Para entender
A consulta de Cunha visa dar à cúpula do PMDB um instrumento para enquadrar os diretórios não alinhados com Dilma Rousseff (PT).
Truque
O Planalto acha que Eduardo Pinho Moreira (PMDB) se encontrou Dilma, a quem prometeu dar palanque em Santa Catarina, só para aumentar o cacife na negociação com Raimundo Colombo (DEM), com quem acabou se entendendo, ao arrepio do PMDB nacional.

Placar Depois de São Paulo, Pernambuco, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina, outros dois diretórios do PMDB oficializaram que não apoiarão Dilma. No Rio Grande do Sul, José Fogaça ficará "neutro". No Acre, o partido irá de José Serra (PSDB).
A ou B
O PP gaúcho, que ameaçou pular fora da chapa da governadora Yeda Crusius (PSDB), acabou por indicar dois nomes para ocupar a vice da tucana: Otomar Vivian, ex-chefe da Casa Civil na gestão dela, e João Carlos Machado, ex-secretário estadual de Agricultura.

É agora José Eduardo Dutra (PT) irá a Minas no fim de semana firme no propósito de sair de lá com o vice de Hélio Costa (PMDB) definido.
Para ontem
Apesar dos dez dias dados por Lula para que os ministros de Comunicações, Planejamento e Casa Civil lhe apresentem um raio-X da crise dos Correios, órgão fragilizado por disputas partidárias e diagnósticos de ineficiência, uma ala do governo defende a demissão imediata de Marco Antonio Oliveira, diretor de Operações e um dos apadrinhados do ex-ministro Hélio Costa.
Vuvuzela
Momento boleiro provocativo no Twitter de Flexa Ribeiro (PSDB-PA): "Daqui a pouco o PT vai solicitar à Fifa que mude o tempo de jogo. Dois de 45 é muita exposição do número".
Dilmasia
Em Minas, o PRB do vice José Alencar anunciou apoio à candidatura de Antonio Anastasia (PSDB) ao governo. No plano nacional, a sigla aprovará aliança com Dilma Rousseff.

A bordo Geraldo Alckmin viajou a Nova York com o deputado estadual Paulo Barbosa (PSDB), adjunto de Gabriel Chalita na Educação quando o tucano era governador e cotado para integrar sua equipe se for eleito.
Relíquia
Quase três meses depois de José Roberto Arruda renunciar ao cargo, nem ele nem a mulher, Flávia, devolveram os aparelhos celulares que pertencem ao governo do Distrito Federal.
Tiroteio
Lula aceitou conviver com uma central de dossiês e agora quer usar sua alta popularidade para manipular a realidade.

DO SENADOR ÁLVARO DIAS (PSDB-PR) em resposta ao presidente, que, passando a borracha sobre os aloprados de 2006, disse que ninguém "nunca viu numa campanha minha qualquer jogo rasteiro".
Contraponto
Casa real
A certa altura da reunião na qual Lula decidiu sancionar o reajuste de 7,7% para os aposentados, um dos participantes mencionou o discurso de José Serra na convenção do PSDB em Salvador, no qual o candidato comparou o presidente a Luís 14. Aqui e ali ouviram-se críticas, mas Lula cortou, magnânimo:

-Eu acho que ele foi induzido ao erro.

Ninguém entendeu, e então presidente explicou:

-É que na véspera eu fui à Bahia, e as pessoas diziam na rua: "Lula, meu rei!". O Serra se confundiu...

ELIO GASPARI

Dilma, Lula, Serra, Garrincha e Sartre 
Elio Gaspari 

O Globo - 16/06/2010

Dilma Rousseff, Lula e José Serra sabem que, em tempo de Copa, candidatos a presidente são pesadelos da realidade interferindo num instante de alegres fantasias. Poderiam aproveitar as próximas semanas para refletir sobre as semelhanças entre suas ansiedades e os das torcidas do “Jogo Bonito”.

Multado quatro vezes pela Justiça Eleitoral, Lula está numa situação semelhante à de Diego Maradona na Copa de 1986, durante o jogo contra a Inglaterra. Aos seis minutos do segundo tempo, o craque (1,65 metro) subiu na pequena área, disputou uma bola com o goleiro Steve Hodge (1,85 metro) e marcou.

Maradona não cabeceou. Mais tarde, atribuiu o gol à “mão de Deus”. Se tivesse ficado nisso, teria entrado para a história das infâmias esportivas. Quatro minutos depois, pegou a bola no campo argentino e correu 60 metros em 10 segundos driblando seis ingleses, inclusive o goleiro. Esse gol, considerado melhor da história do futebol, levou-o à glória, e a “mão de Deus” tornou-se uma vinheta de pé de página. (Registre-se, com o depoimento do próprio Maradona, que teria sido fácil para os ingleses derrubá-lo com uma falta.

Ele deveu o êxito a um respeito a regras que violara.) Se Dilma Rousseff for eleita, Lula terá feito a campanha do século. Se perder, será um manipulador fracassado e ela, um poste perdido.

José Serra chegou ao jogo com a popularidade de Neymar e, em poucas semanas, passou a comandar uma campanha interessada em cavar faltas. Pode-se garantir que Maradona jamais passaria por uma defesa que reunisse Delúbio, Gushiken e José Dirceu. Neymar sofre faltas verdadeiras, mas nenhum time ganha campeonato cavando penalidades.

Parece difícil que Serra consiga chegar ao Planalto impulsionado pelo estrondo de dossiês.

A campanha eleitoral ainda não começou. Pelo que já se viu, Serra, está mais para Usain Bolt ( 100 metros em 9,683), um monstro do desempenho individual, do que para a versatilidade de Pelé. Já Dilma Rousseff, na melhor das hipóteses, assemelhase a Coutinho, aquele jogador que fazia tabela com o Lula do Santos. Ambos têm seus planos e marquetagens.

Terão os próximos quatro meses para se desvencilhar daquilo que pode ser chamado de a Dúvida de Garrincha: “O senhor combinou tudo isso com os russos?” Até agora, Lula conseguiu que “os russos” se comportassem como antevia o técnico Vicente Feola, mas isso não significa que a sopa dure até outubro. A resposta à “Dúvida de Garrincha” está na “Crítica da Razão Dialética”, de Jean-Paul Sartre (assim como no balcão do botequim mais próximo): “Numa partida de futebol tudo se complica pela presença do outro time.” Serra e Dilma têm mais algumas semanas para apresentar seus próprios jogos, complicando a vida do outro, talvez em benefício da galera. Tomara que o futebol lhes ensine a calçar as chuteiras da humildade.

(Quase todas as informações deste artigo saíram do livro “Soccer and Philosophy”, uma coleção de ensaios organizada por Ted Richards, um exjogador semiprofissionalizado, professor de filosofia na universidade do Tennessee. Levado a sério, é pedante.

Como brincadeira, franga filósofos como Armando Nogueira e Nelson Rodrigues.

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Regras de voo 
Sonia Racy 
O Estado de S.Paulo - 16/06/2010

Congonhas será centro de audiência pública na Câmara Municipal de São Paulo.

Ministério Público, Infraero e moradores da região estarão frente a frente, amanhã, para discutir se o aeroporto está cumprindo as exigências do Relatório de Impacto Ambiental de 2008. Foram apontadas 96 irregularidades, resultando em multa de R$ 10 milhões.
Regras de voo 2
A Comissão de Meio Ambiente quer cronograma da Infraero para deixar Congonhas em dia.
Fala português?
Só se ouvia português ontem, na inauguração da Casa Brasil, em Johannesburgo. Criado para atrair investidores estrangeiros para a Copa 2014, o evento custou R$ 10 milhões.
Língua de sogra
Aproveitando que agora tem agência de publicidade, a Câmara Municipal de SP começa a organizar festejos pelos 450 anos do poder legislativo paulistano. Terá lançamento de livros e de um selo oficial da casa.
Olhos de águia
Mas a Justiça Eleitoral terá que ficar em cima para coibir abusos nas propagandas da Câmara. Dos 55 vereadores, 23 disputam o próximo pleito.
Troféu torcedora
Susana Werner não perde por nada o dom de torcedora coruja. Na falta do maridão, Julio César, foi torcer pelo filho, Cauet, no fim de semana. O menino participou de torneio de futsal no Rio.
Ah, o amor
Xuxa e Sheila Mello inovam. Na lista de presentes de casamento incluíram impressora multifuncional, máquina fotográfica e até chapinha. Só faltou a lista do supermercado.
To be or not to be
Traz poemas inéditos de Ferreira Gullar a nova edição da Dicta&Contradicta. Que será lançada hoje, na Cultura do Shopping Villa-Lobos. Com direito a palestra de Gustavo Franco sobre seu livro Shakespeare e a Política no Brasil.
Acorde afinado
Será da Orquestra Acadêmica da USP o concerto de abertura do Espaço Cultural Tattersal, antiga área de leilões do Parque da Água Branca. A sala, com 175 lugares, foi restaurada pelo governo estadual, em parceria com a Uninove, USP e Unesp.
Tipo exportação
Acaba de sair do forno o livro Recados da Bola - Depoimentos de Doze Mestres do Futebol Brasileiro. Entre as 160 fotos garimpadas para estampar a publicação, está a página da fotonovela ao lado. Datada de 1959, a história relata a ida do jogador Didi para o Real Madrid. No melhor estilo dos nossos "reis" e "imperadores" que dizem adeus ao País todos os anos.
Ação requentada
Anunciado semana passada, o projeto apoiado pela Fifa para colocar 76 milhões de crianças na escola, até 2014, existe desde 2008. Surgiu no estádio Emirates, em Londres, durante encontro de Joseph Blatter com Nicolas Sarkozy e Gordon Brown.
No oxigênio
A Prefeitura paulista acertou ao delegar para o Sírio Libanês a administração de seu hospital Menino Jesus. Em um ano, o movimento por lá cresceu 25%. E sem aumentar os custos.
Candidato POP
Kiko do KLB revela: foi a pedido de Kassab que resolveu transformar o palco em palanque, dando assim, novo rumo à sua vida: é candidato a deputado federal pelo DEM.
Você é tucano?
Desde pequeno, eu participava do "clube do tucaninho".
Por que o DEM?
Pelo Kassab. Trabalho com ele desde que assumiu a Prefeitura. Sou voluntário na CPI da Pedofilia.
Já tem jingle?
Estou compondo um que será usado por mim e pelo meu irmão Leandro. Ele concorre a deputado estadual. Estou atrasado o Kassab me cobra o jingle todo dia.
Qual é sua plataforma?
Defesa da família. Devo algo aos que me prestigiam na música.
O que pensa do aborto?
Acho que cada caso é um caso e que precisa ser julgado de maneira separada.
É a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo?
Acho que deveriam ser felizes.
A favor?
Sou a favor da família, de pai, de mãe, irmão.
Então é contra?
Não sou contra nem a favor.