domingo, março 14, 2010

AUGUSTO NUNES



VEJA ON-LINE

A colisão entre um político sem grandeza e um estadista

14 de março de 2010

Traídos pela indiferença ultrajante do Itamaraty, afrontados pela infame hostilidade do presidente da República, presos políticos cubanos e dissidentes em liberdade vigiada endereçaram ao presidente da Costa Rica o mesmo pedido de socorro que Lula rechaçou. Fiel à biografia admirável, Oscar Arias nem esperara pela chegada do apelo (que o colega brasileiro ainda não leu) para colocar-se ao lado das vítimas do arbítrio. Já estava em ação ─ e em ação continua.
Neste sábado, Arias escreveu sobre o tema no jornal espanhol El País. O confronto entre o falatório de Lula e trechos do artigo permite uma pedagógica comparação entre os dois chefes de governo:
LULA“Lamento profundamente que uma pessoa se deixe morrer por fazer uma greve de fome. Vocês sabem que sou contra greve de fome porque já fiz greve de fome”.
ARIAS: “Uma greve de fome de 85 dias não foi suficiente para convencer o governo cubano de que era necessário preservar a vida de uma pessoa, acima de qualquer diferença ideológica. Não foi suficiente para induzir à compaixão um regime que se vangloria da solidariedade que, na prática, só aplica a seus simpatizantes. Nada podemos fazer agora para salvar Orlando Zapata, mas podemos erguer a voz em nome de Guillermo Fariñas Hernández, que há 17 dias está em greve de fome em Santa Clara, reivindicando a libertação de outros presos políticos, especialmente aqueles em precário estado de saúde”.
LULA: “Eu acho que a greve de fome não pode ser utilizada como pretexto para libertar pessoas em nome dos direitos humanos. Imagine se todos os bandidos presos em São Paulo entrarem em greve de fome e pedirem liberdade”.
ARIAS“Seria perigoso se um Estado de Direito se visse obrigado a libertar todos os presos que decidirem deixar de alimentar-se. Mas esses presos cubanos não são como os outros, nem há em Cuba um Estado de Direiro. São presos políticos ou de consciência, que não cometeram nenhum delito além de opor-se a um regime”.
LULA: “Temos de respeitar a determinação da Justiça e do governo cubanos”.ARIAS“Não existem presos políticos nas democracias. Em nenhum país verdadeiramente livre alguém vai para a prisão por pensar de modo diferente. Cuba pode fazer todos os esforços retóricos para vender a ideia de que é uma “democracia especial”. Cada preso político nega essa afirmação. Cada preso político é uma prova irrefutável de autoritarismo. Todos foram julgados por um sistema de independência questionável e sofreram punições excessivas sem terem causado danos a qualquer pessoa”.
LULA: “Cada país tem o direito de decidir o que é melhor para ele”.ARIAS: “Sempre lutei para que Cuba faça a transição para a democracia. (…) O governo de Raúl Castro tem outra oportunidade para mostrar que pode aprender a respeitar os direitos humanos, sobretudo os direitos dos opositores. Se o governo cubano libertasse os presos políticos, teria mais autoridade para reclamar respeito a seu sistema político e à sua forma de fazer as coisas”.
LULA: “Não vou dar palpites nos assuntos de outros países, principalmente um país amigo”.
ARIAS“Estou consciente de que, ao fazer estas afirmações, eu me exponho a todo tipo de acusação. O regime cubano me acusará de imiscuir-me em assuntos internos, de violar sua soberania e, quase com certeza, de ser um lacaio do império. Sem dúvida, sou un lacaio do império: do império da razão, da compaixão e da liberdade. Não me calo quando os direitos humanos são desrespeitados. Não posso calar-me se a simples existência de um regime como o de Cuba é uma afronta à democracia. Não me calo quando seres humanos estão com a vida em jogo só por terem contestado uma causa ideológica que prescreveu há anos. Vivi o suficiente para saber que não há nada pior que ter medo de dizer a verdade”.
Oscar Arias é um chefe de Estado. Lula é chefe de uma seita com cara de bando. Arias é um pensador, conhece a História e tenta moldar um futuro mais luminoso. Lula nunca leu um livro, não sabe o que aconteceu e só pensa na próxima eleição. Arias é justo e generoso. Lula é mesquinho e oportunista. Arias se guia por princípios e valores. Lula menospreza irrelevâncias como direitos humanos, liberdade ou democracia.
O artigo do presidente da Costa Rica, um homem digno, honra o Nobel da Paz que recebeu. A discurseira do presidente brasileiro, um falastrão sem compromisso com valores morais, tornou-o tão candidato ao prêmio quanto Fidel, Chávez ou Ahmadinejad. A colisão frontal entre o que Lula disse e o que Arias escreveu escancarou a distância abissal que separa um político sem grandeza de um estadista

10 INOVAÇÕES QUE MUDARÃO OS NEGOCIOS



10 inovações que mudarão os negócios

Folha de S. Paulo - 14/03/2010
 "Financial Times" mapeia tendências de consumo e de gestão diante de um cenário que concilia o pós-crise a novas tecnologias 

A CRISE econômica que se alastrou pelo mundo no fim de 2008 e causou transtornos só superados, nos últimos cem anos, pelo crash de 1929 pôs em xeque dogmas de gestão. A obsessão pelo lucro, simbolizada por empresas como o Lehman Brothers, o uso insustentável de recursos naturais, materiais e humanos e mesmo a noção de que é preciso esconder os fracassos de uma companhia mostraram-se técnicas ineficientes, quando não prejudiciais, de administração.
Paralelamente, novos comportamentos, associados a tecnologias inovadoras nas áreas financeira, energética e computacional, sinalizam transformações profundas na maneira de fazer negócios em todo o planeta.
Esses fenômenos, alguns dos quais já perceptíveis, foram mapeados por colunistas e repórteres do diário britânico "Financial Times", que nestas páginas apresentam tendências que devem se disseminar até o final da próxima década.
 



GAUDÊNCIO TORQUATO


Campanha escancarada

O ESTADO DE SÃO PAULO - 14/03/10

Em suas notas sobre a Inglaterra, Montesquieu ensinava: "Quando vou a um país, não examino se há boas leis, mas se são executadas as que há, pois há leis boas por toda parte." O Brasil levaria um pito do barão e filósofo do Iluminismo. Basta olhar para a desengonçada paisagem. Neste momento é proibido fazer campanha eleitoral. Mas ela está nas ruas. Transgressores da lei são sujeitos às penalidades, que incluem, até, veto a eventuais candidaturas. Os infratores, porém, passam ao largo, ignorando restrições legais. A mais alta autoridade em matéria de eleições, Carlos Ayres Britto, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), alerta: "Este não é momento de chefias do Executivo saírem a campo para turbinar candidaturas." E o que acontece após o contundente depoimento? Nada. Ocupantes de altos cargos continuam a turbinar candidaturas, caindo, assim, na malha de proibições por Britto anunciadas: perturbar o funcionamento da máquina administrativa, misturar a máquina com propaganda eleitoral, confundir ação de governo com proselitismo eleitoral, misturar projeto de governo com projeto de poder e, por fim, violar o princípio da impessoalidade. Esse foi o escopo que o recém-eleito vice-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) recitou na entrevista a este jornal, domingo passado. De lá para cá, os jornais estamparam chefes de Executivo em palanques, camisetas promocionais com slogans e nomes de candidatos, autoridades pedindo votos e o público gritando jingles eleitorais.

Por que isso acontece? A resposta é conhecida: no Brasil algumas leis não são para valer. Ou ainda: os costumes encontram-se tão sedimentados na cultura política que tornam inócuos certos instrumentos legais. Espraia-se, ademais, o sentimento generalizado de que proibição no campo eleitoral é matéria polêmica, sujeita a interpretações divergentes e a longo percurso pelos corredores dos tribunais, ocasionando, às vezes, penas leves. Estranha o fato de que o mesmo tribunal que alerta sobre condutas impróprias na presente quadra em que vive o País já absolveu o presidente Lula e a ministra-chefe da Casa Civil de denúncia por fazerem, tempos atrás, campanha em Minas Gerais. Recorde-se que aquela Corte cassou governadores por terem cometido abusos por ocasião do pleito. Outros - acusados dos mesmos ilícitos - foram absolvidos, a denotar a linha tênue entre eventos de cunho eleitoral. Persiste o sentimento de leniência ante a escalada de desvios que deverá estender-se até 6 de julho, quando a campanha chegará às ruas pela via legal. A verdade é que a campanha está escancarada, chegando a levantar dúvidas: a imensa aprovação popular do presidente da República tem o condão de preservá-lo contra eventual punição, caso seja denunciado por crime eleitoral? A permissividade que se observa no patamar de cima não induz atores de patamares de baixo a caminharem numa rota de ilegalidade?

Não se deve esquecer, porém, que as atitudes percebidas nas ruas apontam para a consolidação de uma práxis que se desenvolve desde 1988, quando se criou o sistema de eleição em dois turnos para os cargos de presidente da República e de governador. De lá para cá, candidatos governistas, seja na esfera federal ou estadual, contam com um fator de diferenciação: a força da máquina administrativa. Por mais que, em anos de disputa, a Justiça erga a bandeira da impessoalidade, pregando a separação dos territórios administrativo e eleitoral, é muito difícil evitar sua imbricação. A inauguração de uma obra, neste momento, não veta a presença de eventuais candidatos. Faz parte da lógica que Dilma Rousseff e José Serra, pré-candidatos à Presidência, queiram tirar proveito da agenda eleitoreira de seus governos. Na mesma onda surfam todos os governistas, candidatos à reeleição ou pela primeira vez. Os situacionistas levam vantagem sobre os outros, na medida em que conseguem presença em palanque, visibilidade e plateias amplas, sem gastar um tostão. Mesmo afastados das máquinas administrativas, poderão contar, até o fim da campanha, com apoio, verbo (e até verbas) dos chefes do Executivo.

Vista sob esse prisma, a pré-campanha não apresenta novidade. O inusitado é a extrapolação de fronteiras. A extravagância ocorre quando postulantes procuram estabelecer associação com obras inauguradas, enquanto aliados e correligionários exaltam seus perfis e pedem votos. A campanha que já se iniciou chega a usar slogans e brindes promocionais. De tão inescrupulosos, os comícios (o termo é esse) resvalam por acusações e ironias entre adversários, típica situação que ocorre nos debates de campanha. (Lula mira Serra quando denuncia que "tem gente inaugurando maquete".) Em contraponto à zorra total, a voz timbrada do poeta ministro Ayres Britto é uma pregação no deserto. Um carão em grãos de areia. A nota desanimadora é o lamento do próprio ministro, ao dizer que partidos e candidatos "não têm interesse no saneamento dos costumes". Trata-se do reconhecimento da incapacidade do País de conviver com a cultura de probidade e zelo. Mas, se o sistema político não faz a sua parte no capítulo da modernização institucional, a Corte eleitoral não pode e não deve cruzar os braços. Impõe-se, neste instante, uma ação enérgica do TSE para coibir abusos. Não adianta ter leis que não são seguidas.

A continuar assim, o país do "jeitinho" corre o risco de pulverizar o regrismo inócuo de Pedro Santos, folclórico médico que se elegeu prefeito de Montes Claros (MG). Por temer estragos no jardim, mandou afixar a placa: "Proibido pisar na grama. Quem não souber ler favor perguntar ao guarda."

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


Sem patente, Viagra pode chegar a 5 milhões de unidades vendidas


Folha de S. Paulo - 14/03/2010

Dentro de três anos, o consumo de Viagra, que hoje gira em torno de 1 milhão de unidades, pode chegar a 5 milhões, se a patente do remédio for quebrada. O julgamento está marcado para o dia 24, no STJ.
O cálculo é de Odnir Finotti, presidente da Pró-Genéricos, associação dos fabricantes de genéricos, que afirma que, em faturamento, o valor chegaria a R$ 500 milhões em 2013.
"Isso pode acontecer um ano antes ou um ano depois. Quanto mais se retarda o fim da patente do produto, mais as pessoas terão que esperar para ter o benefício de consumi-lo na versão genérica, mais barata", afirma Finotti.
Se a extensão for derrubada, o remédio cairá em domínio público mais cedo e possibilitará a produção do genérico. A decisão pode servir de referência para casos semelhantes.
O Inpi (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) tenta derrubar decisão anterior que havia favorecido a Pfizer, fabricante do medicamento para impotência masculina. A empresa prorrogou a vigência até 7 de junho de 2011, mas o instituto defende que o prazo termine em 20 de junho deste ano.
No início do ano, o governo deflagrou ofensiva para impedir que os grandes laboratórios multinacionais usem mecanismos para prolongar o direito de exclusividade de comercialização, no Brasil, de alguns dos medicamentos mais vendidos no mundo. A SDE (Secretaria de Direito Econômico) informa que recebeu muitas denúncias sobre estratégias por parte dos laboratórios de medicamentos de referência para retardar a entrada de genéricos.

CRIME E POLÍTICA

Horacio Lafer Piva, presidente do conselho da Bracelpa (associação de celulose e papel), lê "Neve", de Orhan Pamuk. "Apesar de o Orhan Pamuk dizer que este é seu primeiro e último livro sobre política, "Neve" passeia igualmente pela literatura, pelo amor, pelo ateísmo e Deus. São 500 páginas que resumem três dias de reflexões e reavaliações." Piva também se dedica a ler "Chantagistas Não Atiram". "Ler Raymond Chandler é sempre um prazer. Em "Chantagistas", depara-se com toda a gama de estilos da carreira desta grande personalidade do gênero policial "noir" da literatura americana do século 20. Chandler, diferentemente de tantos outros, não criou um personagem genial, usava pessoas relativamente comuns nas investigações, e prendia, portanto, pela qualidade de seu texto."
TCHAU TRIBUTOS
A Oi chegou em São Paulo como quarto entrante em um mercado já dominado por três grupos multinacionais, Vivo, Claro e Tim. Em dezembro, a empresa atingiu 12% de participação de mercado no Estado e alcançou 15% na região da Grande São Paulo. Um ano após a compra, a integração operacional da Oi e da Brasil Telecom já ocorreu, segundo Luiz Eduardo Falco, presidente da Oi. O setor está investindo fortemente na banda larga. Até o final de 2010, todas as sedes de municípios do país contarão com infraestrutura para conexão a banda larga, segundo Falco. Ainda neste ano, a Oi vai oferecer comercialmente o serviço de banda larga em todas as cidades onde instalou a infraestrutura para conexão. "Antecipamos em um ano o compromisso assumido com a Anatel para oferta comercial de banda larga", diz. "Até dezembro deste ano, todas as escolas públicas urbanas do país terão acesso à banda larga, afirma. São 57 mil escolas no país que serão conectadas, das quais a Oi terá 46,8 mil escolas. Se há cobertura, por que não há disseminação da banda larga no país? A resposta está no custo. "É importante considerar a desoneração tributária e o subsídio do serviço para a população de baixa renda. A utilização de recursos do Fundo Setorial para Universalização de Serviços de Telecomunicações pode contribuir para o avanço da banda larga." A empresa divulga resultados amanhã.
CLAVE DE SOL 

O Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão (SP) vai comprar dois pianos Steinway neste ano, que ficarão no acervo de instrumentos do evento e serão usados nas aulas de alunos bolsistas. "A pianista brasileira Cristina Ortiz, uma das estrelas brasileiras da música erudita internacional, vai escolher pessoalmente os instrumentos na Alemanha", diz Paulo Zuben, diretor-executivo do festival. A estreia dos instrumentos será feita por Nelson Freire, Arnaldo Cohen e Ortiz. O evento terá orçamento 50% maior na edição de 2010, que ocorrerá em julho. É de R$ 7,5 milhões o investimento planejado pela organização social Santa Marcelina Cultura, que gere o projeto. "Esse é o principal evento de música erudita da América Latina e movimenta muito a economia, com contratação de serviços e pessoas. São 60 professores contratados por ano, mais 80 pessoas no staff da produção e 160 bolsistas, além da indústria do turismo, que a cidade de Campos do Jordão acolhe." O festival também terá uma semana extra de atividades e o número de concertos subiu de 46 para 80. Neste ano, também haverá programação na capital, com dez concertos na Sala São Paulo.

com JOANA CUNHA e ALESSANDRA KIANEK

OPHIR CAVALCANTE


Aposentadoria compulsória: punição ou prêmio?
FOLHA DE SÃO PAULO - 14/04/10
É castigo ser aposentado e continuar a receber em casa proventos pagos com recursos públicos depois de cometer crimes?


AS RECENTES e pedagógicas decisões do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) de afastar magistrados que deixaram de observar os mais elementares deveres funcionais e incorreram em práticas de corrupção e malversação de dinheiro demonstram a maturidade alcançada por esse importante órgão de controle externo. Ao mesmo tempo, nos levam a refletir acerca da aposentadoria compulsória concedida a magistrados e membros dos tribunais de contas envolvidos com essas situações. No mínimo, despertando certo grau de perplexidade.
Como está expresso no título deste artigo, é castigo ser aposentado e continuar a receber em casa proventos pagos com recursos públicos após cometer esses crimes? Ou terá sido uma bênção? Em busca de uma resposta digerível, não é à toa que o tema tenha se inserido no Parlamento, a partir de projeto de emenda constitucional apresentado pela senadora Ideli Salvatti (PEC 83/09) e que está prestes a ser analisado no Senado Federal.
Ao decidir dessa forma, o CNJ nada mais fez do que seguir a "penalidade" prevista no inciso VI do artigo 42 da Lei Orgânica da Magistratura Nacional e lei complementar nº 35/79. Editada em um momento singular das instituições, a chamada Loman procurou preservar a independência e a autonomia dos integrantes do Poder Judiciário contra atos arbitrários do passado. A realidade hoje é outra.
O magistrado age com total liberdade e tem a seu favor o preceito constitucional que lhe confere o direito à vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos (artigo 95 da Constituição Federal), justamente os obstáculos à punição daqueles que incorrem em faltas graves no exercício de suas atividades.
Esses obstáculos se apoiam em dois pilares: 1) a vitaliciedade só pode ser afastada por sentença transitada em julgado; e 2) a previsão da aposentadoria compulsória, ou seja, direito à percepção dos subsídios integrais ou proporcionais (dependendo do tempo de serviço), autorizado pelo disposto no artigo 93, VIII, da Constituição, em conjunto com o contido no inciso VI, do artigo 42, da Loman.
De fato, a previsão em causa não encontra base racional lógica. É, antes, uma construção que foge ao razoável e agride o bom senso, configurando violação aos mais elementares preceitos de moralidade pública e administrativa que a Constituição de 1988 expressamente impõe. Sua derrisória e final mensagem é que brasileiros, sobretudo os que integram uma casta privilegiada, após banquetear-se em práticas criminosas, serão "punidos" com régia aposentadoria, mesmo que não preencham os requisitos legais para tanto.
Se o exemplo é bizarro, o que dizer daquele magistrado honesto que tenta, voluntariamente, se aposentar com proventos proporcionais ou integrais? Não, esse não pode. O benefício só alcança aquele que praticou ato ilícito a juízo do próprio tribunal ou do CNJ, depois de submetido ao amplo direito de defesa em processo legal administrativo disciplinar. Vá explicar...
Por outro lado, ao fazer uma comparação entre os magistrados e os demais agentes públicos, não se vislumbra idêntico tratamento ao presidente da República em caso de crime de responsabilidade (Poder Executivo) nem aos deputados e senadores em caso de processo político-parlamentar (não judicial, portanto), muito menos aos servidores em geral, que podem ser demitidos a bem do serviço público sem direito nenhum.
A "punição" também agride o próprio sistema contributivo de aposentadoria a que estão submetidos todos os servidores públicos, incluindo os magistrados e membros dos tribunais de contas. Nele estão previstas a aposentadoria por invalidez permanente, a aposentadoria compulsória (70 anos) e a aposentadoria voluntária, desde que cumpridos ao menos dez anos no serviço público e cinco anos no cargo efetivo de final de carreira.
Nunca, porém, a da aposentadoria compulsória com proventos proporcionais em decorrência de penalidade aplicada em processo administrativo-disciplinar. Como se vê, manter a aposentadoria compulsória nesses casos é afirmar, em alto e bom som, que nem todos são iguais perante a lei. É indigno, injusto, imoral. Agride a isonomia contida na norma constitucional.
Configura privilégio, descolado do conceito de cidadania. Reformado e revigorado nos últimos anos, é chegada a hora de o Judiciário brasileiro provar sua maturidade e enfrentar essa questão com coragem e determinação, nos fazendo crer que a velha e reconfortante máxima "a lei é para todos" ainda não nos abandonou. A sociedade agradece.
OPHIR CAVALCANTE, 49, é presidente nacional da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).

NAS ENTRELINHAS


Um fio condutor

Alon Feuerwerker
CORREIO BRAZILIENSE - 14/03/2010

Mesmo espremendo a cabeça, não consegui encontrar um mísero exemplo no qual nossa diplomacia tenha sacrificado iniciativas econômicas estratégicas ou interesses empresariais amigos

É exercício intelectual fascinante buscar o fio condutor da política externa brasileira sob Luiz Inácio Lula da Silva. Vai estimular muita tese de mestrado e doutorado por aí.

Para começo de conversa, tome-se a ideia de integrar a América do Sul. A meta é óbvia, dadas a proximidade e a nossa dimensão estratégica (território, economia, população). Ajuda, também, o subcontinente não ser área de risco para a superpotência do norte.

Mas Lula faltou à posse de Sebastián Piñera em La Moneda. Certamente foi lido em Santiago com desconforto, ainda mais no contexto do terremoto. Se Lula tinha outras coisas a fazer poderia ter ajeitado a agenda. Ou então carregado com ele as pessoas com assuntos inadiáveis a discutir. Faz isso habitualmente.

O presidente não foi à posse de Piñera porque o chileno é de direita?

Lula dava-se maravilhosamente bem com os Estados Unidos de George W. Bush (adversário cordial) na comparação com Barack Obama (concorrente no rol dos construtores do “novo mundo possível”). Ademais, nosso presidente não pareceu tão empenhado assim em buscar desfecho favorável à esquerda no Chile, desde que estimulou a divisão do campo governista de lá, dando gás ao lançamento do “petista” Marco Enríquez-Ominami.

É possível então concluir, por acaso, que a política externa brasileira se guia pela busca obsessiva de antagonismo com os EUA, amigos da democracia cristã chilena derrotada, e ainda assim certamente satisfeitos com a vitória de Piñera? Difícil. Nossas tropas estão no Haiti inclusive para ajudar Washington. E como explicar, à luz do suposto antiamericanismo, a ruptura com a China e a Índia em julho de 2008 nas negociações da OMC em Genebra? Ali o Brasil desertou do campo “emergente” e aproximou-se dos EUA e da Europa para tentar fechar um acordo na Rodada Doha.

Grande acordo, por sinal, mas para eles. Acenamos com a abertura do nosso mercado de manufaturados e compras governamentais, se os desenvolvidos reduzissem as barreiras para os produtos agrícolas. “Inserção soberana do Brasil na nova ordem internacional?” Nada. Foi mais coisa de república de plantations. De última geração. Bananeirismo high tech. Ou “etanolismo” high tech.

O Brasil tampouco se reivindica, na arena internacional, o dínamo da promoção dos direitos humanos ou da democracia representativa. É razoável, nenhuma nação segue estritamente o critério. Lula não precisava ter sido tão ligeiro, insensível e irresponsável no tema dos presos políticos de Cuba. Mas isso deve ser debitado ao estado mental de relaxamento e onipotência, produto da sua imensa força política e da completa ausência de oponentes à altura. Tem mais a ver com a inimputabilidade, e não com alguma diretriz racional.

Seríamos então a mola propulsora das soluções negociadas e do fim dos conflitos? A potência da paz? Como, aparentemente, mostra nossa posição no impasse iraniano? Difícil. Em Honduras, o Itamaraty exige definir até o cardápio das autoridades hondurenhas no café da manhã, ou a cor do terno que o novo presidente vai usar nas solenidades oficiais, para aceitar reconhecer o governo nascido do binômio golpe-eleições. Atenção: foi ironia. Mas Tegucigalpa é um bom “case” da nossa maneira original de compreender a não ingerência.

Qual é então o norte da política externa do Brasil? Mesmo espremendo a cabeça, não consegui encontrar um mísero exemplo no qual nossa diplomacia tenha sacrificado iniciativas econômicas estratégicas ou interesses empresariais amigos. Inclusive na Bolívia, onde o Brasil conduziu as coisas de modo a no final nossa presença estar reforçada. E fez bem.

Sob Lula, o Brasil completou a emergência como jogador na arena internacional dos negócios. A base material desse salto é a fusão interna das esfera produtiva e bancária, com a subsequente necessidade vital de exportar capitais para reprodução, e de buscar mercados agressivamente. Mesmo que de vez em quando haja tensão entre esses dois aspectos.

Com Lula, o Brasil ficou mais “americano”. Talvez mais imperialista, no sentido estrito. Adicione-se o entrelaçamento do Estado e da política com o capital monopolista, ou oligopolista, e a receita estará completa.

No popular, o negócio é o seguinte. Se Sebastián Piñera oferecer às empresas brasileiras uma fatia suculenta das obras de reconstrução no pós-terremoto, eu aposto que as relações com o Brasil transitarão da água para o vinho.

Não sei se o parágrafo anterior é uma boa síntese, mas não achei outra melhor.

AFFONSO CELSO PASTORE


câmbio e crescimento: uma tréplica

O ESTADO DE SÃO PAULO -  14/03/2010


Na semana passada o professor Luiz Carlos Bresser-Pereira saudou-me com o que ele acredita que seja uma crítica contundente ao artigo que submeti a este jornal na semana anterior. Aqui vai a minha resposta. Afirmei que "contrariamente à China, o Brasil tem poupanças domésticas baixas, e sempre que a taxa de investimentos aumenta, acelerando o crescimento do PIB, surgem déficits nas contas correntes. O Brasil não é um exportador de capitais, e os investimentos exigem a complementação das poupanças externas, que são importadas por meio dos déficits nas contas correntes".

O professor Bresser contesta a minha afirmação, sustentando que o aumento da poupança externa simplesmente substituiria a poupança interna, com o déficit nas contas correntes se dissipando em um aumento transitório de consumo, sem gerar o aumento de investimentos que é necessário para elevar a taxa de crescimento econômico. Ele gasta metade de seu longo artigo apresentando argumentos que "provariam" ser correta a sua visão sobre a substituição de poupanças, e a outra metade mostrando que, como essa minha interpretação sobre a complementação das poupanças domésticas pelas poupanças externas seria, na sua visão, errada, chego a conclusões também erradas. Esta é a coluna-mestra de toda a sua crítica, e por isso concentro-me apenas nela.

Bresser se alonga detalhando mecanismos de transmissão por meio dos quais supostamente seus resultados seriam obtidos, mas o que me importa neste ponto são suas conclusões. Nas suas palavras, "o pressuposto que o nome "poupança externa" sugere é que o déficit em conta corrente se somaria à poupança interna dos países e, assim, a taxa de investimento (que é decisiva para o desenvolvimento) aumentaria", e conclui que esta proposição "é tão verdadeira quanto a de que a terra é plana... Parece ser verdadeira, mas é falsa".

Ridicularizar as ideias discordantes é uma tática descortês e arrogante. Afirmações falsas são aquelas que são negadas pelos fatos, e não aquelas que seguem o rumo contrário ao do acusador. E o que dizem os fatos?

Olhemos para as séries da formação bruta de capital fixo (os investimentos), e das exportações líquidas de bens e serviços (os saldos nas contas correntes). No eixo horizontal do diagrama de dispersão, no gráfico ao lado, estão as exportações líquidas medidas em proporção ao PIB (os saldos nas contas correntes), e no eixo vertical estão as taxas de investimento, também expressas em proporção ao PIB, e medidas a preços constantes do ano 2000.

Os dados foram extraídos das contas nacionais brasileiras calculadas pelo IBGE. É visível a olho nu que quando as taxas de investimento são elevadas, próximas de 18% do PIB, como ocorreu no período entre 1997 e 1998, chegamos a déficits nas contas correntes, e quando as taxas de investimento são baixas, em torno de 14% ou 15% do PIB, como ocorreu entre 2002 e 2006, por exemplo, temos superávits nas contas correntes.

Diz o provérbio chinês que "uma imagem vale mais do que mil palavras". Se o prof. Bresser tivesse razão, de que o aumento da poupança externa se dissiparia em pura e simples elevação do consumo das famílias, impedindo o aumento do investimento, a correlação negativa mostrada no gráfico não existiria, e as taxas de investimento seriam independentes dos saldos nas contas correntes expressos em proporção ao PIB.

Os dados claramente negam a sua proposição. Mas não negam a minha de que as poupanças domésticas no Brasil são insuficientes para financiar investimentos maiores, e requerem a contribuição das poupanças externas, que crescem com a elevação dos investimentos.

Ao ignorar o fato demonstrado no gráfico acima que os investimentos requerem a contribuição das poupanças externas, postulando que os déficits nas contas correntes apenas são usados para financiar acréscimos de consumo, Bresser lança a sua crítica aos ingressos de capitais.

Neste ponto ele assume uma posição extremamente radical, rebelando-se contra os próprios investimentos estrangeiros diretos, argumentando que em nada contribuiriam para o desenvolvimento, porque financiam apenas o crescimento do consumo. Ele quase chega a dizer que o País estará melhor se rejeitar qualquer tipo de ingressos de capitais.

Como nos ensina a filosofia de ciência de Karl Popper, proposições científicas não são aquelas feitas por cientistas, mas aquelas que não são negadas pelos fatos. "Matéria atrai matéria na razão direta das massas e na razão inversa do quadrado das distâncias" não se tornou parte da física por ser uma proposição enunciada por um cientista do calibre de Isaac Newton, mas simplesmente porque nunca foi negada pelos fatos.

Mas há pessoas que divergem dessa postura, e diante de fatos negando suas "teorias" preferem ignorá-los. Afinal, elas resistem em abandonar uma "bela teoria" porque um "mero fato" a nega. Quando isto ocorre preferem desprezar os fatos, apegando-se apenas à sua retórica. Não é o meu caso. Pelo menos posso dormir tranquilo, tendo a certeza de que afinal a terra não é plana, poupando-me do risco de cair no abismo quando me movimentar sobre ela.

EDITORIAL - O GLOBO


Gol contra
O GLOBO - 14/03/10

Passados os primeiros momentos de euforia que juntaram torcedores, dirigentes esportivos e autoridades nas comemorações pela indicação do Brasil como sede da Copa do Mundo de 2014, veio a hora de o país mostrar que a candidatura era para valer. E logo no primeiro teste a impressão deixada pelas cidadessede foi preocupante.

O prazo dado pela Fifa (1º de março) para o início das obras dos estádios em que serão realizados os jogos, e dos projetos de infraestrutura urbana dos municípios, não foi cumprido. Em decorrência, o secretáriogeral da entidade, Jérôme Valcke, mandou um duro recado: os brasileiros não devem duvidar das exigências da federação. A preocupação da Fifa procede. No início do mês, o quadro de ações prometidas era desolador nas cidades-sede. No Maracanã, candidato a sediar a final da Copa, encenou-se o início de obras a título de “análise do terreno”.

Na prática, foi um movimento para inglês ver, porque até agora sequer se fizeram as licitações para as reformas. No Morumbi, São Paulo, começou-se a mexer nas tubulações — muito pouco para a monta das intervenções previstas. A situação não é mais animadora nos outros centros. O presidente da CBF e do Comitê Organizador Local (COL), Ricardo Teixeira, repicou a advertência do secretário-geral da Fifa, enviando um duro recado às 12 cidades-sede. Cobrou explicações por atrasos e ameaçou tomar medidas restritivas em relação a quem não revelar a real situação dos projetos.

Mas dobrou-se à realidade: acabou estendendo até maio o prazo para o início efetivo das obras.

É imperioso, no entanto, que os responsáveis por tocar os projetos não confundam o alívio da pressão com licença para relaxar. Em maio, é bom lembrar, faltarão pouco mais de 31 meses para o fim do prazo de construção dos estádios (31 de dezembro de 2012). É tempo suficiente, mas sem espaço para novos atrasos. A África do Sul, lembra a Fifa, construiu os estádios em 30 meses.

“Mas estamos chegando perto desse limite no Brasil e nada foi feito”, advertiu Valcke.

O projeto Copa é um compromisso assumido pelo país com um evento que movimenta bilhões em dinheiro, mobiliza diversos países e mexe com a autoestima de quem sedia a competição. Para o bem da imagem do Brasil, e para a credibilidade do país quando se candidatar a trazer para cá outras e rentáveis competições, é bom que as advertências da Fifa sejam levadas a sério. Não cabe, no país do futebol, imaginar que somos incapazes de promover a Copa do Mundo. Seria marcar o maior gol contra e envolver definitivamente em sombras o projeto das Olimpíadas de 2016.

DANUZA LEÃO

Os diversos sexos


FOLHA DE SÃO PAULO - 14/03/10


Tem tudo a ver com a moda. Os rapazes são divinos, a produção, fantástica, a foto é deslumbrante, e ponto final


OS SEXOS estão cada vez mais variados: gays, drags, sapatos, sapatinhas, transexuais, bissexuais, trissexuais -por que não?- e muitos outros que não lembro agora. Mas eis que surge um novo grupo, provando que a imaginação humana não tem limites. Descobri isso folheando uma revista dessas bem modernas.
Já vi muito homem babando e se confessando fissurado por diversos tipos de mulher, desde as antigas, que eram chamadas de boazudas, até as mais modernas, se não forem magras demais (as do tipo Kate Moss só agradam aos playboys profissionais, aqueles que só namoram manequins).
E quem nunca ouviu uma mulher dizendo "ai, por esse Richard Gere eu perdia o rumo de casa"? Eu ouvi várias vezes, mas nunca soube de nenhuma, mesmo num camarote de Carnaval, dizendo que treme nas bases por Jesus. Jesus, aliás, é um belo símbolo desse novo sexo; e na versão feminina, Madonna, claro. Feitos um para o outro.
Esse novo sexo tem tudo a ver com a moda. Sabe aqueles rapazes inegavelmente lindos, que aparecem em fotos maravilhosas numa praia deserta ou diante de uma pirâmide, anunciando o novo aroma de um Armani da vida? Eles são divinos, a produção, fantástica, a foto é deslumbrante, e ponto final. Com tudo que Madonna fez e continua fazendo, nos palcos e ensaios fotográficos, nunca soube de um homem que tivesse loucura -aquela- pela diva.
É sexy? É; mas faz parte desse misterioso mundo novo (do sexo), que reconheço quando vejo, mas não entendo muito bem, nem sei explicar. Alguns rapazes acham que iludem e passam por metrossexuais, mas não têm nada a ver com David Beckhmam, e só quem vê novelas sabe do que eu falo: dos "gatos" que não inspiram desejo algum a ninguém. Será isso o que chamam de conceito?
São muitos os homens lindos e assexuados; geralmente têm uma profissão ligada à beleza, deles as revistas não contam de um namoro, uma transa, mesmo de uma só noite, e não se pode dizer que sejam gays, pois os anos passam e eles continuam no armário. Aliás, no armário, não: no closet. Esses homens são elegantes e discretos, enquanto as mulheres são ousadas, escandalosas e passam a vida exibindo pelo mundo uma sexualidade duvidosa, como Lady Gaga -ou você acreditou?
Eles -e elas- estão em todas, só bebem água (e levam sempre uma garrafinha na sacola de grife), as fotos estão em todas as revistas, mas nunca são vistos dançando, saindo com alguém da festa, e ninguém sabe onde passam as férias. Seus destinos são sempre bizarros, para não correrem o risco de serem vistos, mas em compensação frequentam muito as academias, geralmente em horários noturnos. Além de bonitos, são os reis da simpatia, mas nunca foram vistos olhando para uma mulher -nem para um homem. Devem ser apaixonados por eles mesmos; um desperdício, aliás.
E falando em novos sexos, não podemos nos esquecer de um novíssimo: o de rainha da bateria. Os homens e as mulheres normais têm que reconhecer: estão totalmente fora de moda.

PEDRO S. MALAN


Fatos, versões e bravatas

O ESTADO DE SÃO PAULO -  14/03/2010


"Não tenho dúvidas de que o Brasil evoluiu positivamente ao longo dos últimos 15 anos. No governo Fernando Henrique, mudanças que hoje temos de reconhecer como muito favoráveis, tais como a consolidação do sistema financeiro - que se revelou muito mais sólido que o de outros países - ou a Lei de Responsabilidade Fiscal, representaram claros avanços para a economia. Da mesma forma, no governo Lula, conquistas sociais como a significativa elevação do salário mínimo ou a dimensão alcançada pelo Bolsa-Família, bem como a expressiva melhora de emprego formal e do crédito, constituíram exemplos de nosso progresso." O texto acima é de autoria do atual ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, na apresentação do belo livro Brasil Pós-Crise: Agenda para a Próxima Década, organizado por Fabio Giambiagi e Octavio de Barros.

Na mesma linha, vale lembrar o que escreveu, mais de sete anos atrás, o então coordenador do grupo de transição do já eleito presidente Lula, Antônio Palocci, no seu Relatório Final, apresentado formalmente a Lula e aos ministros já escolhidos, no final de 2002. "A instabilidade atual questiona os próprios avanços que se obtiveram com a estabilidade da moeda (...) e um marco institucional fortalecido pela responsabilidade fiscal. Estes foram progressos a serem creditados em boa parte ao governo que ora se encerra, conquistados com os esforços de todos os brasileiros. Não fazemos tábula rasa dos últimos oito anos, e não partilhamos da visão daqueles que acham que tudo deva ser reinventado."

Anos mais tarde (2007), em seu livro Sobre Formigas e Cigarras, do qual a citação acima foi extraída, Palocci nota, corretamente, que "os ganhos obtidos pelo Brasil a partir de 2003 se assentaram sobre avanços realizados em governos anteriores, que deram contribuições importantes para a estabilidade da economia (ao longo dos últimos 25 anos) como (...) a criação do Tesouro Nacional e o fim da conta-movimento do Banco do Brasil (...), a abertura da economia, estimulando ganhos de produtividade na economia nacional (...), o lançamento do real (...), a negociação das dívidas dos Estados, a resolução dos problemas dos bancos estaduais (e federais) e a instituição da Lei de Responsabilidade Fiscal. Fazer tábula rasa destas contribuições seria atentar contra a própria história do País".

O respeito aos fatos, claramente expresso por Bernardo e Palocci, se contasse com o respaldo das vozes mais sensatas de seu partido e do movimento lulista, representaria um avanço considerável em direção a um debate público mais sério e de melhor qualidade sobre o País e seu futuro. Um debate voltado para "o que fazer" com vista a assegurar a gradual consolidação do muito que já alcançamos como país e, principalmente, como - e com que tipo de lideranças - avançar mais, e melhor, no processo de mudança e de continuidade que nos trouxe até aqui.

Para tal seria fundamental evitar o lamentável maniqueísmo expresso no falso dilema do "nós" contra "eles", em que eles, os outros, seriam toda e qualquer pessoa tida como não entusiasta defensora do lulo-petismo (ou do culto à personalidade de Lula). Sempre definidos de forma variada, conforme a audiência e as conveniências do momento: os ricos, a imprensa, as elites, os que são contra os pobres, os que são contra investir no social, os que se opõem à tentativa de nos transformar num País birracial, os que não querem um País altivo e soberano, os neoliberais, os antidesenvolvimentistas.

Vago, simples e genérico assim. Em suma, uma ressentida e frequentemente raivosa "retórica da divisão", como se fôssemos um país partido em dois. Uma aposta em decisões tomadas por meio de confrontos de natureza plebiscitária, com jargões, palavras de ordem e a versão oficial adotada como verdade, independentemente da análise de dados e fatos.

A ideia de que no mundo da política o que importa é a versão, e não o fato, tem ampla disseminação entre nós. A aceitação dessa "máxima" tem implicações nada triviais para o debate público, em particular durante períodos eleitorais, nos quais, como nas guerras, a verdade figura sempre entre as primeiras vítimas.

Pois veja o eventual leitor: se o que realmente importa não são tanto os fatos, mas as versões sobre eles, por vezes muito distintas e conflitantes, segue-se que as versões que tendem a predominar - pelo menos no prazo relevante para o calendário eleitoral - são aquelas mais constantemente repetidas, aquelas mais bem financiadas por esquemas profissionais dos departamentos de agitação, propaganda e marquetagem política. Afinal, todos aprenderam com Goebbels que uma versão, se mil vezes repetida com convicção e eloquência, pode acabar assumindo foros de verdade; pelo menos para aqueles - que podem ser maioria - sem muito tempo ou condições de se debruçar sobre as evidências, os fatos e as distintas interpretações possíveis deles. O problema é particularmente preocupante quando as versões "mil vezes repetidas" estão respaldadas, direta ou indiretamente, pela ampla utilização, sem quaisquer peias, de cargos e recursos públicos, em campanhas eleitorais explícitas, iniciadas com anos de antecedência, sob o olhar complacente daqueles que preferem dar menos importância aos fatos e às leis do que às versões e às bravatas.

Há quem diga que tudo isso é apenas efeito do calor da hora, expressão das vastas emoções que fazem parte natural de processos eleitorais em sociedades de massa. Para estes, passadas as eleições, e qualquer que seja o seu resultado, o País continuaria - à nossa pragmática maneira - a avançar em seus complexos processos de continuidade e mudança. Bravatas seriam o que são; bravatas simplesmente, e nada mais. Será?
PEDRO S. MALAN, ECONOMISTA, FOI MINISTRO DA FAZENDA NO GOVERNO FHC

JOSÉ SIMÃO


Ueba! É a Cópula da África!
FOLHA DE SÃO PAULO - 14/03/10

Depois da passagem do Dunga, vão incluir mula sem cabeça em safári; só vale se puder atirar!


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta! Médico diz que Arruda está com problemas de circulação. Ah, tá mesmo. TÁ EM CANA! Rarará! O cara de paunetone tá num spanetone e vai acabar tendo um edema pulnetone.
E hoje teve duas corridas: Fórmula 1 e Indy. E fórmula pra fazer desaparecer o Galvão, não tem! Diz que no Brasil temos dois Galvão: o santo e aquele bichinho que dá no saco. Rarará! E o BBB tá o retrato do Brasil: não temos em quem votar! E com a recusa do Aécio já estão sugerindo a Sonia Abrão pra vice do Serra.
E na Bahia não tem mais assalto. O ladrão grita: "Bota a mão na cabeça" e todo mundo dança o "Rebolation".
E a Copa da África? Depois da passagem do Dunga, vão incluir mula-sem-cabeça em safári. Só vale se puder atirar! E deu no "The Guardian": "São esperadas 40 mil prostitutas na Copa da África e distribuição de UM BILHÃO de camisinhas". Então é a CÓPULA DA ÁFRICA! E como o Ronaldinho Gaúcho, o Ronalducho Fofômeno e o Adriano não vão, pode cancelar metade! Resumindo, se pinto fosse corneta, ninguém mais iria dormir nesta Copa! Todo jogador tem que honrar a camisinha!
E um amigo meu estava trocando de canal, futebol, filme pornô, futebol, filme pornô, até que a mulher gritou: "Deixa no filme! Jogar futebol você já sabe!". Rarará!
E a Dilma inaugura um formigueiro e o Serra, um buraco de tatu. A Dilma inaugura uma pedra e o Serra, uma maquete. E aí eles abrem a cortina da sala e INAUGURAM A JANELA! E como disse aquele cara do povo: "Tão analgurando tudo!".
A Vigilância Sanitária já interditou o Dourado do BBB?! O Homem Gorila. Ou melhor, HOMEM GOLIRA!
E não tem essa lenda de que o brasileiro é cordial? Tem várias placas provando isso: "Aviso! Não entre! Se entrar, leva tiro! Avisado tá". E numa coluna no mercadão: "Proibido urinar! Sujeito a corte!". Outra: "Não mexa nos ninhos, sujeito a levar paulada". E numa escola infantil: "Não vale jogar pedra nos colega". Nos "colega", no singular mesmo. E esta: "Fuja do cão! DILACERADOR DE VÍSCERAS". E por último: "Proibida a entrada. Vaca brava. Cão bravo. Cerca elétrica. Búfalo assassino. E Empregado louco".
E Indy é o sonho de todo paulista: conseguir correr na marginal. Porque na marginal só se usam três marchas: parado, paralisado e ponto morto! Quem deveria ganhar era um motoboy! Eu já sei: caiu num buraco, ganhou. E se chover, é tua, Aquassab. Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje, só amanhã! Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
E vai indo, que eu não vou!

CLÓVIS ROSSI


De silêncios e civilização
FOLHA DE SÃO PAULO - 14/03/10


SÃO PAULO - Se Lula fosse presidente em 1939, teria justificado Hitler. Em 1937 Hitler aprovou uma lei que tornava legal prender pessoas por serem judias. Ou seja, se é mesmo para respeitar, como disse Lula, "a Justiça e o governo cubano", ter-se-ia que respeitar também a Justiça e o governo alemão da época.
A observação é de Marcelo Bigal, brasileiro de 40 anos, neuropsiquiatra residente na Pensilvânia, onde é diretor-global de Assuntos Científicos da Merck.
Não se trata de um representante da "direita", essa palavrinha que a esquerda debiloide saca do coldre nas infinitas vezes em que não tem um só argumento para rebater críticas a seus ídolos e prefere, por isso, tentar desqualificar o crítico. Foi militante do PT, sim, senhor, mas saiu desiludido com o que chama de "pallocismo" em sua terra, Ribeirão Preto.
Seu argumento é nítido: "Um presidente não expressa apenas seu pensamento ou joga para a plateia. Ele representa os princípios do povo que o elegeu". No pressuposto de que a maioria dos brasileiros valoriza direitos humanos e a democracia, não há como silenciar em relação a Cuba ou a qualquer outro país que viole tais valores.
Não cabe, portanto, a fuga ensaiada por Marco Aurélio Garcia ao dizer que, às vezes, "a melhor forma de ajudar é não tomar partido". Pode-se, de fato, não tomar partido entre correntes políticas ou entre governos em confronto, mas, entre a civilização e a barbárie, qualquer omissão equivale a tomar o partido da barbárie.
Nem é tão complicado assim: Hillary Clinton, a secretária norte-americana de Estado, disse que a iniciativa israelense de construir novas residências em áreas palestinas "é um sinal profundamente negativo sobre a abordagem de Israel para as relações bilaterais". Tomou partido ou apenas disse o que deveria dizer?

ANCELMO GÓIS

'Caminho’ em DVD


O GLOBO - 14/03/10


 
Está em fase de edição o DVD de “Caminho das Índias”, a novela das oito premiada de Glória Perez.

Aliás, a trama da TV Globo faz uma grande carreira internacional.

Já foi vendida para 70 países.
Coisa de louco 
Outro dia, Lula explicava a um dirigente europeu a sua política de aproximação com o Irã: — Vocês aqui na Europa não deveriam isolar o Irã. Muito pelo contrário. Vocês não podem deixar um louco solto. Tem que ir lá, segurar o homem, pelo menos uma vez a cada quatro meses.

É o que eu faço com o Chávez.

De vez em quando, vou lá na Venezuela segurar as pontas.
O que fazer? 
Uma pessoa próxima a Lula e a este caso garante: o presidente não sabe ainda o que fazer com Cesare Battisti, o ex-guerrilheiro italiano preso no Brasil.

Manda para Itália ou não?
Ai, que calor 
Veja como este verão excede em calor.

A Spirit, fabricante de ventiladores de teto, líder do mercado brasileiro nas classes A e B, fechou as contas da estação e registrou um aumento de 300% nas vendas no país, entre outubro de 2009 e fevereiro de 2010.
Freire é pop 
A Livraria da Travessa fez um ranking dos CDs mais vendidos de 2009 em sua rede no Rio. O 1ofoi Roberto Carlos, com 1.523 CDs. Mas, logo abaixo, à frente de Chico, Caetano etc., veio...

Nelson Freire, tocando Debussy! Aliás, chega amanhã às lojas o novo CD do grande pianista (com “Noturnos”, de Chopin), pelo selo londrino Decca.
Tantos anos 
Para marcar o centenário de nascimento de Rachel de Queiroz, a Editora José Olympio vai relançar dois títulos: “Não me deixes” e “Tantos anos”.
Casamento forçado 
A Previ, como se sabe, não gosta da ideia de casar a Neoenergia, controlada pelo fundo, com a CPFL, controlada pela Camargo Corrêa.

O casório, que tem adeptos no Olimpo lulista, visa a criar uma superelétrica privada sob o comando da empreiteira.
É que...

Na visão do pessoal da Previ, não é justo a CPFL engolir a Neoenergia. Alegam que a saúde financeira da sua empresa, que tem em caixa uns R$ 4 bi, é melhor que a da Camargo.

É. Pode ser.
Visite o Chile 
Para tentar conter a perda de turistas, por causa do terremoto, o Chile lançou uma campanha publicitária para lembrar que seus principais destinos turísticos estão intocados.

A propaganda diz que Santiago, a Patagônia e as estações de esqui funcionam normalmente.
ZONA FRANCA 
Helena Theodoro lança amanhã, na Travessa do Centro, “Iansã, rainha dos ventos e das tempestades”.

Estreou ontem, no Teatro Ipanema, “As aventuras da família Adams”, dirigida por Oscar Francisco.

Maria Cláudia Chaves se une ao Escritório de Advocacia Cassano, Sá, Alkimim & Rambauske.

O advogado Pedro Trengrouse fez palestra em Berlim sobre a Copa e a Olimpíada (kas.de/wf/de/17.40148/).

Carlos Eduardo Bulhões Pedreira faz workshop sobre Lei das SA — Capital Social, terça.

Quarta, Keila Grimberg e Ricardo Salles lançam “O Brasil imperial”, da Argumento.

O professor Kleber Figueiredo é o novo diretor do Coppead da UFRJ.
‘BBB’ é cultura 
Você aí se lembra de Elenita Rodrigues (foto), a ex-big brother deste ano que vivia falando sobre sua inteligência no programa? Está confinada novamente para terminar o livro “O homem ideal e outras conversas”, destinado ao público jovem. Será lançado já no mês que vem.
Brasil negro 
Um acervo com mais de mil horas de gravações em VHS de eventos, espetáculos e campanhas institucionais sobre a cultura negra no Brasil será disponibilizado na internet, a partir do dia 23 agora, no site cultne.com.br.

Um ciclo de palestras no cine Odeon e no Espaço Cinema Nosso, no Rio, de 23 a 27, marcará o lançamento. O encerramento será com festa no Estrela da Lapa.
Os evangélicos 
A disputa este ano pelas duas vagas do Rio no Senado pode ter três candidatos evangélicos.

São eles: Marcelo Crivella, Benedita da Silva e Manoel Ferreira.
No mais 
Nosso Ruy Castro pegou pesado ao lembrar que o deputado Ibson Pinheiro, autor da lei que tungou os royalties do Rio, chegou a ser acusado de ser um dos anões do Orçamento: — Ibsen quer reduzir o Rio à sua categoria de anão. Mas não vai conseguir.
A miséria do funk

O pessoal do funk carioca deveria tomar umas aulas de como ganhar dinheiro com a turma da música da Bahia, onde, como se sabe, há artista até dono de jatinho.

Veja só. Os irmãos MC Leonardo, 34 anos, e MC Jr., 35, autores do funk-fenômeno “Rap das armas”, que tem feito um baita sucesso no mundo inteiro, ganham uma merreca em direitos autorais. Ano passado, a média mensal foi de R$ 1.500. Este ano, nem isso, uns R$ 500.

Os dois irmãos, nascidos e criados na Rocinha (veja a foto deles com a favela ao fundo), acham que os funkeiros são vítimas de preconceito. “Se este sucesso todo fosse com um medalhão da MPB, a mídia falaria, e a gente estaria na TV”, acredita MC Leonardo. “Não há julgamento com o funk. Há uma condenação. As pessoas acham que traficante financia o funk. Não tem isso.

O funk não quer ser marginal. É empurrado para a marginalidade.” Para piorar, a exemplo do filme “Tropa de elite” (“Rap das armas” faz parte da trilha), o funk deles também foi pirateado. Circula na internet uma paródia feita pelos MCs Cidinho e Doca.

“O que deixa triste é que a versão plagiada vai na contramão da gente, que é contra a entrada de armas nas favelas”, lamenta Leonardo.

“A versão faz a apologia do fuzil, da matança, o contrário da gente. Não processamos porque não foi comercializada.” Ouça a original e a paródia no site da turma da coluna (oglobo.com.br/ancelmo).

DORA KRAMER


Credenciais ao candidato

O ESTADO DE SÃO PAULO - 14/03/10


Sinceridade, serenidade, crítica sem agressão, propostas no lugar de promessas, são as linhas gerais da campanha presidencial do governador de São Paulo, José Serra, que já estão delineadas e farão parte do discurso dele no ato oficial de lançamento da candidatura, previsto para o fim da primeira semana de abril em Brasília.
As datas mais prováveis são sexta-feira, 9, ou sábado, 10 de abril, dias considerados mais eficazes em termos de aproveitamento nos meios eletrônicos. A decisão de não fazer o ato no início da semana é porque logo depois do feriado da Semana Santa os convidados poderiam ter dificuldades de estar em Brasília.
Definida a agenda, a hora agora é de Serra preparar a transição administrativa do governo de São Paulo e pensar na melhor forma de se apresentar ao eleitorado com um esboço de seu programa de governo, onde o conceito de “Estado ativo” é o fio condutor.
Questões políticas ficam para depois. A organização das coligações estaduais será feita em abril e maio, mas a definição do candidato a vice-presidente pode só ocorrer perto da realização da convenção do partido, em junho.
Por enquanto, Serra não quer falar _ e gostaria muito que o partido também não falasse _ da questão Aécio Neves. No entendimento dele, a pressão é contraproducente.
Tanto para o êxito da formação da chapa tal como os tucanos consideram o ideal, quanto para a candidatura presidencial, pois fica a impressão de que a vitória depende do vice.
A matriz do discurso de Serra, e consequentemente de seu programa, no lançamento da candidatura é o pronunciamento feito na posse como governador de São Paulo, há três anos.
Na ocasião, José Serra disse que iria governar o estado “voltado para o Brasil”. Foram palavras nitidamente referidas no projeto futuro de voltar a se candidatar a presidente da República e que será retomado agora, no momento da concretização do plano.
José Serra apresenta-se como defensor do “ativismo governamental”, que define como um meio-termo entre “o poderoso Estado Nacional Desenvolvimenista do passado” e o “Estado da pasmaceira, avesso à produção”.
Até porque “aquele Estado ficou no passado, mas a questão nacional e a questão do desenvolvimento continuam no presente”.
“O objetivo de materializar as condições de uma plena cidadania exige políticas nacionais, exige ativismo governamental na procura do desenvolvimento e da maior igualdade social”.
Assistência social? Na visão de Serra, tais políticas são “justas e necessárias”, desde que o Estado se empenhe em promover o desenvolvimento para não transformar os pobres em uma “clientela cativa do assistencialismo”.
E o que falta para aumentar a capacidade produtiva e o emprego? Na opinião do candidato, capital há. O que não existe são oportunidades lucrativas de investimentos, “espantadas pela pior combinação de juros e câmbio do mundo, em meio a uma carga tributária sufocante”.
Serra prega a “necessidade de uma prática transformadora na política brasileira”, começando pelo repúdio ao “mote fatalista e reacionário de que a desonestidade é inerente à vida pública, que o poder necessariamente corrompe o homem. Não é assim, alguns homens corrompem o poder”.
Essa transformação implica o controle firme do Estado por ele próprio, “funcionando como um todo coerente sob o ponto de vista moral, da eficiência e das metas” sem aceitar a banalização do mal na política.
Um instrumento indispensável é o controle do Estado “por uma sociedade atuante, capaz de se defender dos abusos e de influir nas ações públicas”.
Sobre o papel da oposição Serra falava na perspectiva de opositor ao governo federal, mas mantém, como pretendente a presidente, a validade do conceito: “À oposição cabe, óbvio, se opor. A governabilidade é tarefa de quem obteve das urnas o mandato para governar. Quem é altivo na derrota não se sujeita. Quem é humilde na vitória não exige sujeição.”