segunda-feira, dezembro 13, 2010

CLAUDIO DE MOURA CASTRO

Capitalismo na sala de aula?
Claudio de Moura Castro
Revista Veja 
Segundo Santo Tomás de Aquino, ,"produzir com objetivo de lucro trai os princípios da Lei Natural ( ... ), é um pecado tão grave quanto o homicídio". Ao longo dos séculos. persistem as reverberações desse sermão anticapitalista. Com sua robustez e ímpeto criativo, o sistema de mercado saiu vitorioso. Mas, na escola, a erosão dos preconceitos anda mais devagar. Convivemos com estridentes denúncias de que o mercado conspurca os objetivos sagrados do ensino. Ainda presenciamos duelos encarniçados entre "plivatistas" de vários matizes e os defensores  da iniciativa pública.
Para tirar a prova dos noves, Aldo Giuntini (UFMG) e Luciana Lima (Pitágoras) colaboraram comigo na preparação e análise dos dados do MEC, no caso, o CPC (Conceito Preliminar de Curso). Há ambiguidades e falhas nesse assumo pantanoso das medidas de qualidade. Ademais, as fórmulas usadas favorecem as instituições públicas. Mas, ainda assim, para a presente análise, os números são confiáveis. Comparamos  os cursos públicos com os privados. Como já se sabia, encontramos uma considerável superioridade nos públicos. Sua média é de 266 pomos, contra 205,216 e 227 para diferentes categorias de cursos privados. Não obstante, as duas distribuições têm uma grande sobreposiçào. A diferença está, sobretudo, na cauda direita das públicas, que é mais "gorda". ou seja. revela mais instituições melhores. Contudo, surpreende que o siSTema público seja mais heterogêneo que o privado - em termos técnicos, sua variância é maior. Comparado com o privado, há mais instituições com pontuações mais elevadas. Mas as piores escolas públicas são tão ruins quanto as piores escolas privadas.

Temos novidades nas comparações entre diferentes categorias de instituições privadas. Nesse  assumo, sobrevivem os miras da inferioridade guelas instituições movidas pelo desejo de luc Ainda piores seriam aquelas que se juntaram a bancos. para lançar as suas ações nas bolsas de v lares. Afim1a-se que as instituições com fim de I cro (37% do total) têm qualidade pior do que ouu"as, nas quais rodo o excedente precisa ser reivestido.
Afinal, o que os seus donos levam p casa poderia estar sendo usado para melhorar o e sino. Porém, os números têm vida própria. As m . grandiosas teorias têm de se render à diradura d mundo real. Os resultados mostram que as Três c lego rias de instituições privadas têm praticamente a mesma qualidade. O grupo das confessionais, c muniLárias e associações sem fins de lucro obté 215 pontos. Aguelas com fins de lucro obtêm 2 pomos. Já as de capital aberto obtêm 227 pontos.
São diferenças muito pequenas e que pode ser ignoradas ou consideradas como ruído estatístico. Esse é um resultado grande relevo. Em outras pala vras, a presença de um objetivo" de lucro não torna uma instituição melhor ou pior. A intenção de lucro não é uma explicação relevante para as consideráveis diferenças de desempenho observadas entre instituições. Quando sobrepomos as duas distribuições, vemos que a similaridade não está apenas na média. Olhando as duas curvas superpostas, há uma quase total coincidência entre as duas. Ou seja, elas não passam de farinha do mesmo saco, com média quase igual e variância também.
O caso das 23 instituições associadas a grupos que fizeram abertura de capital é algo diferente e não menos curioso. Pensaríamos que os duros compromissos com os bancos resultariam em busca excessiva de resultados a curto prazo e pouco compromisso com a qualidade. Isso não ocorre. pois as instituições que abriram capital mostram médias praticamente idênticas às das demais instituições privadas. Porém, quando superpomos as sua curva à das outras instituições privadas, fica patente que são animais distintos. As de capital aberro têm uma curva com menos variância. Ou seja. é uma curva mais "em pé" ou mais estreita Há menos instituições boas e menos ruins. Todas se parecem, ficando próximas à média. Nesse grupo, não há uma só instituição excelente nem uma só péssima. Em suma, os números se recusam a confirmar alguns mitos e crenças ideológicas. E mostraram também algumas surpresas.

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