sexta-feira, outubro 22, 2010

RUY CASTRO

Lenda indestrutível
RUY CASTRO
FOLHA DE SÃO PAULO - 22/10/10

RIO DE JANEIRO - Pelé, que faz 70 anos amanhã, é o maior desmentido vivo a uma lenda que corre há décadas sobre a Copa do Mundo de 1958, na Suécia, e, por mais contestada, vive sendo repetida. A de que a seleção brasileira que disputou aquela Copa era racista, sempre escalando um branco no lugar de um jogador negro.
Foi assim, dizem, que, ao se iniciar a Copa, o lateral-direito era o branco De Sordi, do São Paulo, e não Djalma Santos, da Portuguesa; o ponta-direita era Joel, do Flamengo, e não o caboclo Garrincha, do Botafogo; e o meia-esquerda era Dida, idem, do Flamengo, e não Pelé, do Santos. Todos os outros titulares eram brancos, exceto o maestro do time, o meia Didi, do Botafogo (porque seu reserva Moacir, ibidem, do Flamengo, também era negro).
Bem, se havia todo esse racismo e nenhuma intenção de escalar os negros, por que estes foram levados para a Suécia? Pelé, por exemplo, poderia ter sido cortado. Às vésperas do embarque da seleção, num jogo-treino contra o Corinthians, no Pacaembu, ele sofreu uma entrada do zagueiro corintiano Ari Clemente que, a rigor, o tirava da Copa. Não teria como se recuperar a tempo de treinar e jogar.
O Corinthians lutara pela convocação do seu próprio meia, o marrento Luizinho, o Pequeno Polegar, ídolo da torcida. Bem, se havia racismo, por que a seleção não cortou o contundido Pelé e convocou o branco Luizinho? Mas a seleção fez diferente -eles o levaram, na esperança de que se recuperasse na Suécia. Pelé entrou na terceira partida, contra a URSS, e o resto é história.
A posteridade se esquece de que De Sordi, Joel e Dida eram grandes jogadores. Aliás, o Brasil teria sido campeão mundial em 1958 mesmo jogando com a seleção que, no fim, se revelou reserva: Castilho, De Sordi, Mauro, Zózimo e Oreco; Dino Sani e Moacir; Joel, Mazzola, Dida e Pepe. Que timaço.

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