terça-feira, setembro 14, 2010

FERNANDO DE BARROS E SILVA

(Dirceu) Dilma (Erenice)
FERNANDO DE BARROS E SILVA
FOLHA DE SÃO PAULO - 14/09/10

A Casa Civil teve três titulares sob Lula. O destino ruinoso do primeiro deles abriu a porta do paraíso para a egunda. Dilma Rousseff está hoje na posição que José Dirceu sonhava para si, não houvesse o mensalão no meio do caminho. Dado o histórico da pasta, é o caso de perguntar se Erenice Guerra está mesmo no lugar errado.
Mas há diferenças entre eles. Dirceu era da tropa de elite do PT. Caiu, foi enxovalhado, mas preservou algum prestígio no partido, seu porto seguro. Parte da militância cultiva por ele certo amor bandido.
Preste atenção agora no que diz Dilma da sua afilhada, no debate Folha/Rede TV!: "Eu tenho até hoje a maior e a melhor impressão da ministra Erenice. (...) Agora, eu quero deixar claro aqui: eu não concordo, não vou aceitar que se julgue a minha pessoa baseado no que aconteceu com um filho de uma ex-assessora". Se Lula sacrificou Dirceu em 2005, por que Dilma não sacrificaria Erenice em 2010?
A ex-assessora ocupa circunstancialmente o coração do poder, o lugar mais alto da República depois de Lula, mas é um quadro típico do segundo escalão, contra o qual surgiram evidências de que usou sua posição para favorecer a parentela. Além do filho lobista, facilitador do acesso de uma empresa privada a verbas públicas sobre as quais a mãe-ministra tem influência, foram "descobertos" outros irmãos e agregados de Erenice, acomodados no Estado e/ou agraciados por negócios vários com o setor público.
Nepotismo, tráfico de influência, prevaricação, crime de responsabilidade -sabe-se lá o que pode estar implicado neste caso. Mas ele parece condenado a ser apenas isso -mais um caso, o caso Erenice.
Os escândalos foram banalizados e estão desmoralizados porque Lula quis assim. Não foi obviamente o PT quem inventou o pistolão, o compadrio ou a pilhagem privada do Estado. Mas quando o PT foi criado, a esquerda tinha a veleidade de ser contra o patrimonialismo.

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