sexta-feira, agosto 20, 2010

RUY CASTRO

O antivoto
RUY CASTRO
FOLHA DE SÃO PAULO - 20/08/10


Li por aí que, se você for se casar e quiser medir a intensidade da vida sexual a dois, é só reservar uma pia no apartamento do casal e, no primeiro ano de casamento, depositar nela uma bolinha de gude cada vez que fizerem amor. E, a partir do segundo ano, retirar uma bolinha cada vez que acontecer. Você ficará besta de ver como foi fácil encher a pia – e como parece difícil esvaziá-la. 
Tirando o cinismo e o pessimismo, resta o realismo da observação: o ser humano é assim mesmo, capaz de banalizar o sublime. Mas a ideia de um monitoramento diário poderia muito bem ser aplicada à administração presidencial.
Funcionaria assim: encerrada a campanha, efetuada a votação, apurados os votos e empossado o vencedor, a avaliação começaria imediatamente. Uma certa quantidade de cabines eleitorais, com mesário, fiscal etc., continuaria a funcionar full-time em cada cidade, apta a receber eleitores que, arrependidos, quisessem retirar seu voto no candidato.
A apuração desses antivotos seria diária e pública, e confrontada com a votação original. Os telejornais e a internet divulgariam o resultado daquele dia: “Hoje, o presidente recebeu 94.715 antivotos, perfazendo um total de 6.211.457 antivotos depositados desde a posse por pessoas insatisfeitas com sua administração. Mas, considerando-se os 48.313.989 que recebeu ao ser eleito, ainda mantém a confortável margem de 42.102.432 votos”. Se chegar a um patamar xis de desaprovação, o presidente deverá devolver o mandato e convocar novas eleições.
Tecnologia para apurar esses milhões de votos temos de sobra. Pena que, se vier a ser aplicado, tal sistema não alcançará a eleição de Dilma, Serra ou Marina. A julgar por suas campanhas, desconfio que, em menos de dois anos, qualquer um deles, se eleito, já estaria no negativo.

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