quarta-feira, abril 14, 2010

RUY CASTRO

Pasto para os paparazzi
RUY CASTRO

FOLHA DE SÃO PAULO - 14/04/10

RIO DE JANEIRO - Outro dia, antes das chuvas, quem caminhou de manhã bem cedo pelo calçadão do Leblon deparou com o Flamengo treinando na praia. Lá estavam Adriano, Vagner Love, Leo Moura, Bruno, Petkovic e todo o álbum de figurinhas, correndo e driblando cones na areia, a dois metros do passeio. Alguns transeuntes pararam para espiar. Ao fim, os jogadores deram autógrafos, deixaram-se fotografar, tomaram o ônibus do clube e foram à vida.
Nem era a primeira vez que o clube mais popular do Brasil se exercitava ali, quase na rua. Aliás, não faz muito, era comum ver Romário, Edmundo e Renato Gaúcho jogando futevôlei em Ipanema nas folgas de seus clubes. E, até aquele episódio com o travesti, Ronaldo Fenômeno podia circular sem causar qualquer distúrbio -como, antes dele, Zico, Garrincha, Zizinho ou Leônidas. Ou Tom Jobim, Chico Buarque, Fernanda Montenegro.
Não é esnobismo, é hábito. O Rio convive com figurões desde que era sede da Colônia e do Vice-Reino, capital do Império e da República e habitat das estrelas do teatro de revista, da Rádio Nacional e da TV Globo. E de personalidades como Brigitte Bardot, que, depois de provocar algum tumulto ao chegar em 1964, logo passou a ser saudada com a frase, "Ih, lá vem a chata da Brigitte!".
Já existiam revistecas como "Escândalo" e "Confidencial", que viviam de futricas, mas a imprensa se dava relativamente ao respeito. Nunca ocorreria à "Manchete" ou mesmo à "Revista do Rádio" plantar fotógrafos atrás de árvores para flagrar indiscrições.
Hoje os famosos servem de pasto para os paparazzi no Leblon e na Barra. Mas o Rio é inocente. Tais fotos alimentam revistas feitas longe daqui, para leitores de outras plagas, siderados por celebridades que o carioca vê todo dia ao vivo sem se alterar.

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