sexta-feira, abril 23, 2010

REGINA ALVAREZ

Jogando contra
REGINA ALVAREZ 
O GLOBO - 23/04/10


Agora ninguém mais questiona. Os juros básicos vão subir na semana que vem com o aval da equipe econômica e do próprio presidente Lula. A escalada da inflação assusta e é consenso que o Banco Central precisa aplicar o torniquete dos juros imediatamente.

Para o mercado, a medida já vem com atraso. Mas por que mesmo estamos condenados a conviver com as maiores taxas de juros do mundo?

Essa pergunta pode ter muitas respostas, mas a mais óbvia é a forma como vem sendo conduzida a política fiscal. A expansão dos gastos do governo é uma trava poderosa à queda nos juros. Ao contrário, contribui para eleválos. Em 2009, a crise global serviu de justificativa para a elevação dos gastos. De todo o tipo de gasto, ressalte-se, principalmente despesas permanentes, como as de pessoal, que ficarão para sempre no Orçamento, comprometendo as administrações futuras.

A crise passou, mas os sinais de que a política fiscal continuará expansionista permanecem. E o Banco Central tem que atuar a partir desses sinais.

Com o ritmo de crescimento dos gastos do governo acima do crescimento do PIB e a política fiscal contribuindo para expandir a economia, o BC usará os juros para contrair a demanda do setor privado, no esforço para conter a inflação.

O problema são os efeitos colaterais dessa medida.

— No curto prazo, a rigidez monetária trava a escalada da inflação, mas no médio e longo prazo inibe o investimento. O recomendável seria gerar superávits primários maiores — observa o economista Flávio Castelo Branco, da CNI.

Acontece que os superávits do governo estão cada vez mais magros. A meta de 3,3% do PIB para os próximos anos foi mantida no papel, mas vem sendo desidratada com o abatimento das despesas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e nem tudo é investimento puro. Para 2010, o Banco Central já trabalha com um abatimento de 1,12% do PIB da meta. Para 2011, o projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias traz uma regra ainda mais frouxa. Na prática, tudo que o governo quiser incluir no PAC e descontar do superávit primário poderá fazê-lo, pois não existe mais limites para essa dedução.

Assim, ninguém sabe exatamente qual a meta de superávit para 2011.

Na visão do economista Fernando Montero, da Convenção Corretora, o governo acredita que criou um novo modelo de desenvolvimento, baseado no consumo, pois continua gastando como no auge da crise, estimulando uma demanda que já está muito aquecida.

Mas o modelo esbarra no risco da inflação e só reforça a necessidade de elevar os juros. O consumo ocupa um espaço na economia que seria dos investimentos.

— Com essa política, o governo está mesmo é criando problemas para 2011 — alerta.
Grécia encurralada

A Moody‘s rebaixou a nota de risco da Grécia e o governo local anunciou a revisão do déficit fiscal de 2009, de 12,7% do PIB para 13,6%. Duas notícias ruins em um só dia que expõem a fragilidade fiscal e das estatísticas gregas. A economista Monica de Bolle, da Galanto, compara a situação daquele país com a da Argentina, onde ninguém confia nos resultados do Indec (o IBGE de lá). “Os números que o governo grego divulga não condizem com a realidade. Já há previsões de que o déficit esteja acima de 14%. Isso faz com que os C 45 bilhões para salvar a Grécia fiquem defasados”, diz. O aumento da desconfiança pode ser visto no gráfico. A diferença de juros pagos pela Grécia para rolar sua dívida disparou em relação aos juros pagos pela Alemanha.
Em alta I

Em 2009, ano da crise, o governo conseguiu ampliar os gastos com publicidade em 2,6%, além da inflação.

Os números divulgados ontem mostram gastos de R$ 1,179 bilhão, incluindo administração direta e indireta. Em 2008, esses gastos somaram R$ 1,149 bi.

Entre as mídias, a publicidade em revistas foi a que mais cresceu: 18%.
Em alta II

Outra tabela divulgada pela Secom mostra que os gastos com publicidade da administração direta e das empresas públicas que não concorrem no mercado cresceram bem acima da média geral: 20,5%. Passaram de R$ 377,6 milhões em 2008 para R$ 455 milhões em 2009. Já nas estatais, os gastos caíram 6,1%, de R$ 771,5 milhões para R$ 724 milhões.

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