segunda-feira, abril 12, 2010

GEORGE VIDOR

 De escada
O GLOBO -  12/04/2010


O economista José Júlio Senna cunhou, certa vez, uma frase ótima sobre o comportamento das taxas básicas de juros no Brasil: “elas sobem de elevador e descem de escada”. Mas é possível que este ano os juros básicos passem a subir também de escada, com o propósito de acalmar o pessoal do mercado financeiro, impressionado com a trajetória recente da inflação

Os índices de preços já estão recuando e muito em breve estarão rodando na faixa de 0,25% ao mês. A economia continuará crescendo, embora não mais a um ritmo chinês. A fase de rearrumação dos preços relativos, depois de superado o pior momento da crise financeira internacional, parece estar chegando ao fim.

Ainda assim, o mercado financeiro tem alimentado expectativas de uma inflação acima do ponto central da meta (4,5%) em 2010, com previsões já entre 5% e 6%, e será necessário neutralizálas, pois de fato podem fazer a cabeça dos demais agentes econômicos, contribuindo para um ambiente em que todos se acomodem diante de reajustes de preços não justificáveis (o que, temporariamente, pressionaria os índices).

No Brasil, como em várias outras economias, não se deve menosprezar o fator psicológico na composição da inflação.

O crédito facilitado é visto pelos analistas financeiros como um dos propulsores da inflação. Não é uma opinião unânime.

Ernane Teixeira Torres Filho, superintendente da Área de Pesquisa Econômica do BNDES, chama a atenção, em artigo na última “Visão de Desenvolvimento” do banco, que o crédito no país — atualmente correspondendo a 45% do Produto Interno Bruto — caminha para um quadro mais compatível com a realidade da economia brasileira. Chegaria a representar 70% do PIB por volta de 2014, padrão inferior a de países desenvolvidos.

O crédito de longo prazo começa a ganhar importância no Brasil e isso deve favorecer mais a estabilidade da economia do que provocar graves desequilíbrios.

Nesse sentido, seria bem ruim que os juros básicos voltassem a subir de elevador. Se tiverem de subir, que subam de escada.

Nova York talvez não seja um bom termômetro do atual ambiente da economia americana, embora, como centro financeiro do mundo, estivesse no olho do furacão durante a fase mais aguda da crise que jogou o planeta na pior recessão desde o fim da Segunda Guerra. De fato ficou mais fácil por lá reservar lugares em hotéis, restaurantes, apresentações de grupos musicais etc. Mas, numa observação superficial, não parece faltar consumidores nas grandes lojas e nos locais da moda (os preços da maioria dos produtos em oferta continuam a surpreender os visitantes, e não por acaso os Estados Unidos permanecem com o título de templo do consumo).

Annette Herster, economista brasileira casada com um geólogo canadense, ambos residentes em Calgary (a capital dos hidrocarbonetos no Canadá), divide seu tempo pelas Américas, pois ela, que se especializou na geopolítica do petróleo, continua tentando decifrar a excessiva obsessão de Washington pelo Oriente Médio na área de energia. Os principais fornecedores de petróleo para os Estados Unidos hoje estão nas Américas (Canadá, México, Venezuela, Brasil e Equador). O Oriente Médio responde por bem menos que 20% das importações americanas, sendo que a Arábia Saudita participa com 11% — a fatia dos demais, somados, não passa de 7%. Com sua política no Oriente Médio, os Estados Unidos têm protegido mais os interesses da China, da Índia e do Japão (efetivamente os que mais dependem da região para suprimento de óleo) do que os deles mesmos.

Annette foi durante muitos anos sócia de Jean Paul Prates em uma consultoria no Rio (no momento ele está se dedicando à secretaria de Energia do Rio Grande do Norte).

Recebi mensagens dos ex-secretários Tito Ryff e Márcio Fortes com certo tom de desapontamento por não ter mencionado na coluna da semana passada o esforço na área de desenvolvimento econômico, já a partir dos anos 90, para tirar o Estado do Rio da espiral negativa. Evidentemente que esse trabalho (para o qual contribuiu um competente segundo escalão nesse setor específico, mantido por sucessivos governadores de partidos diferentes) pavimentou o caminho da recuperação.

A atração de empresas como Volkswagen Caminhões, Guardian, Galvasud, Riopol, PeugeotCitroën e CSA ThyssenKrupp foi marcante, mas por si só não venceu o tremendo ceticismo que havia em relação ao Rio. A visível mudança de clima entre investidores em geral é mais recente, e a intenção aqui foi registrar esse momento. Mas sintamse homenageados todos os que contribuíram positivamente, na administração estadual, para esse processo.

A Reader’s Digest, que edita a revista “Seleções”, vendeu no Brasil, no ano passado, 1 milhão de CDs, o que equivale a 5% do mercado fonográfico. Esse tipo de vendas responde por 60% do faturamento da empresa (a revista é o carrochefe, mas significa 20% do negócio). Luiz Fichman, executivo de 37 anos que dirige a empresa americana no país, espera estender essa experiência pra o comércio eletrônico — não de maneira generalizada, mas com foco em determinados produtos — o que será inédito no grupo, no mundo.

No ano passado, a subsidiária brasileira passou da oitava para a quarta posição na Reader’s Digest.

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