segunda-feira, março 29, 2010

RUY CASTRO

Memórias do 3D

FOLHA DE SÃO PAULO - 29/03/10

RIO DE JANEIRO - Devo ser o único brasileiro vivo que não viu nem pretende ver "Avatar" (não gosto de filmes com gente pintada de azul). Em compensação, quando se anunciou que, por causa dele, o 3D vinha agora para ficar, duvidei que alguém neste país tivesse uma coleção de óculos do gênero, com uma lente azul (ou verde), outra vermelha, igual à minha.
Nada menos que cinco óculos, dos quais três de época, sobreviventes dos anos 50, quando se tentou implantar pela primeira vez o 3D. Um deles, a joia da coleção, é o que acompanhava uma edição de "Mindinho" em 3D, de 1955, estrelando não Pernalonga, herói habitual do gibi, mas os Três Patetas. Outro veio num "Superman" especial do mesmo ano. E não sei que fim levou o que me permitia seguir as aventuras de Thor, o homem das cavernas, no "Almanaque da Vida Juvenil", também de 1955.
Sim, vários dos nossos heróis foram servidos em 3D naquele tempo. Mas o processo só tinha graça nas primeiras vezes, em que se aplicavam os óculos sobre a página fora de registro e vinha aquela sensação de profundidade. Logo o interesse se dissipava, a coisa perdia a graça e os óculos se tornavam um estorvo. O jeito era abandonar o 3D, o que nós, os meninos de 1955, fizemos em massa e, com isso, voltamos ao querido 2D.
No cinema, a moda durou menos ainda. Depois de duas ou três idas ao Cineac para ver curtas com girafas esticando o pescoço ou tigres saltando sobre a plateia, não havia mais a que assistir. Filmes como "Disque M para Matar", de Hitchcock, o glorioso musical "Dá-me um Beijo" e o ótimo "Museu de Cera", rodados originalmente em 3D, só foram exibidos em tela plana -o processo já se extinguira nos EUA quando eles ficaram prontos.
Em 1956, o 3D já estava mais fora de moda que a piorra e o bilboquê.

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