domingo, março 07, 2010

ELIANE CANTANHÊDE


"Efeito profilático"
FOLHA DE SÃO PAULO - 07/03/10


BRASÍLIA - Ao justificar o seu voto a favor de manter na cadeia o governador afastado do DF, José Roberto Arruda, o ministro Carlos Ayres Britto, do Supremo Tribunal Federal, comemorou o "efeito profilático" da prisão.
"Dói na alma e no coração ver um governador sair direto do palácio para a cadeia, mas há quem chegue às maiores alturas para cometer as maiores baixezas", disse Britto.
Arruda transforma-se, assim, num símbolo de poderoso que levou o que merecia, pois exagerou na dose na campanha, ao assumir o governo e ao se ver sob investigação. Chegou às alturas do poder, para tentar cometer até a baixeza de corromper testemunhas.
O ministro manda, dessa forma, um aviso a atuais e futuros governadores e homens públicos: ponham as barbas de molho. Faltou acrescentar: "a partir de agora". Porque não tem sido bem assim, e o caso Arruda abre um precedente em momento ideal: no ano das eleições presidenciais e gerais.
Ele não está preso (ainda) pelo dinheiro em meias, cuecas e bolsas, e sim por obstrução da Justiça. Mas não custa lembrar que seu filme de horrores começa exatamente em 2006, com um provável caixa dois de campanha que, como o próprio presidente da República já disse, todo mundo faz. Só que, dali para o governo e para a corrupção pura e simples, foi como costuma ser: um pulo -e de gato.
A decisão do Supremo corrobora a prisão preventiva do STJ (Superior Tribunal de Justiça) e foi no dia seguinte à decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que obriga os partidos a detalhar a origem e o destino das doações de campanha -neste caso, condenada em uníssono por todos os partidos, do PT ao DEM, do PSDB ao PTB.
Não deveriam. O TSE tenta evitar que o STJ seja acionado e que o Supremo, mais uma vez, ou dezenas de outras vezes, tenha de aplicar o tal "efeito profilático". E sob aplausos dos eleitores de norte a sul.

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