FOLHA DE SÃAO PAULO - 26/02/10
RIO DE JANEIRO - Batida da polícia numa festa de aniversário à beira da piscina em Feira de Santana, na Bahia, terça-feira, levou à prisão de 106 "suspeitos de tráfico de drogas ou de associação com o tráfico" -disseram os telegramas. A suspeita tem razão de ser: sobre as mesas, em arranjos artísticos, a polícia encontrou 300 gramas de cocaína, 50 pedras de crack, 2 kg de maconha e uma quantidade indeterminada de ampolas de lança-perfume à disposição dos convivas. Suspeita-se de que fossem drogas.
Fosse o níver celebrado com brigadeiros, balas de coco, guaranás e salgadinhos, os donos da festa estariam livres de qualquer suspeita. Mas o que intriga é que, com tanta droga para os convidados (entre os quais, dez menores) e alguns dos presentes portando 38s em vez de línguas-de-sogra, o recato jurídico e jornalístico ainda aconselhe a chamá-los de suspeitos.
Talvez pela crença, há muito arraigada, de que traficantes não cheiram, não fumam, não se picam e não inalam, porque não são trouxas. E, se estavam todos ali numa alegre confraternização regada a droga, é porque não se tratava de traficantes, e sim de usuários. Donde qualquer associação a tráfico é uma hipótese, e eles serão, no máximo, suspeitos.
Mas, como toda suspeita tem limite, a polícia baiana fez uma triagem no próprio recinto e liberou 31 indivíduos, conservando os 65 restantes, estes decididamente suspeitos. Pode ter ajudado nesta triagem o fato de que muitos dos elementos presentes já tinham um histórico de homicídio, fuga da cadeia e mandato de prisão em aberto.
Cocaína, crack, maconha e lança-perfume não foram as únicas drogas encontradas no ágape. Sabendo-se que era uma festa de aniversário na Bahia, pode-se garantir que a música que tocava pelos alto-falantes era axé.
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