segunda-feira, fevereiro 08, 2010

ROBERTO ZENTGRAF

Ação e reação

O Globo - 08/02/2010


Impressionante o que um sustinho em Bolsa faz com a gente, não é mesmo? Pois bastou este tropeço na Bovespa - que acumula queda de 6,78% até o fechamento de 4 de fevereiro - para me fazer olhar despesas com mais cuidado, apagando luzes desnecessariamente acesas ou usando mais o metrô, por exemplo. E por que tudo isso? Porque, tendo alguns trocados em fundos FGTSPetrobras, a presente queda fez meu patrimônio diminuir um pouco. Nada de se tirar o sono, mas que automaticamente me colocou na defensiva, querendo compensar a perda financeira com um ganho operacional. No meu caso, que, de forma idêntica a uma legião de brasileiros, vivo basicamente de salário, isto significa que precisarei diminuir minhas despesas, por pura incapacidade de aumentar a própria receita.

Refletindo sobre este movimento das ações, ainda não tenho uma visão clara do que virá pela frente, pois os sinais, como já comentei anteriormente aqui neste espaço, estão contraditórios: o país vive um momento único, com otimismo exuberante, contas razoavelmente em ordem, inflação sobre controle; tudo aparentemente apontando para um 2010 tranqüilo. Entretanto, no cenário externo ainda há temores e indefinições, como por exemplo, a situação da dívida dos PIGS (sigla para designar Portugal, Itália, Grécia e Espanha) ou os dados do desemprego americano, dentre outros fatores. Analistas que li (e ouvi) estão divididos entre aqueles mais otimistas, que acham que a atual queda é apenas um reajuste de preços (investidores realizando os polpudos lucros obtidos em 2009) e os mais pessimistas, que acham que a atual queda é apenas o início de uma grande correção.

Voltando à questão apresentada no início do artigo, decerto você, meu bom e querido leitor, possivelmente já tenha experimentado reações parecidas, tanto no sentido da que apontei hoje - tornar-se mais " mão-de-vaca " diante das perdas financeiras -, como no sentido oposto - tornarse perdulário diante dos ganhos. Reconheço que administrar ganhos é muito mais suave, já que para evitar detoná-los com excessos, sair de casa sem cheques ou cartões é uma ação simples, com potencial para nos colocar na linha. A questão relevante portanto é: como lidar com as perdas - como a de agora, por exemplo - sem infernizar a vida daqueles que nos cercam? Uma sugestão que funciona bem comigo é separar o que é impressão (emoção) do que é fato (razão). E um grande aliado destas horas é o controle dos ganhos e dos gastos em bases periódicas - o não-tãopopularassim orçamento pessoal. Por meio dele, posso descobrir, por exemplo, que a perda do fundo FGTS afetou apenas meus resultados financeiros, deixando intacto o meu equilíbrio operacional - meu salário continuou suficiente para cobrir as minhas despesas. Neste caso, faria mais sentido eu procurar proteger o saldo do fundo (usando desde estratégias muito simples, como resgatar o valor lá aplicado, até as mais sofisticadas, com o auxílio dos mercados futuros), do que economizar na conta de luz, não é mesmo? Até porque os valores envolvidos são olimpicamente distantes.

Mais infelizmente o assunto - orçamento - é imenso, e o espaço aqui é curto. Prometo mais artigos sobre o tema! Um grande abraço e até a próxima semana!

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