quarta-feira, janeiro 27, 2010

ZUENIR VENTURA

O xerife e o violeiro

O Globo - 27/01/2010


São dois exemplos: o mau, pra variar, vem de Brasília; o bom, de Caruaru, a 130 quilômetros de Recife.

O primeiro é do senador Romeu Tuma, que gastou R$ 14.127 de sua verba indenizatória de R$ 15 mil num resort de Barretos durante a Festa do Peão de Boiadeiro, em agosto. Como havia ainda as despesas com locomoção, restaurante, etc., ele recebeu de volta R$ 20.945,70 pelos três dias que ali passou. Segundo o site Congresso em Foco, que fez essas revelações, já em julho eram creditadas ao senador outras extravagâncias com dinheiro público. Da sua prestação de contas constava o gasto de R$ 1.484.89 numa churrascaria e R$ 600 numa pizzaria, sem falar nas suas despesas com combustível que em 2009 chegaram a R$ 31.620 — numa mesma empresa. O delegado conhecido como “xerife” porque pertencia ao temível Dops durante a ditadura militar é há 15 anos corregedor do Senado, a quem, como se sabe, compete corrigir os erros e desvios dos colegas. Em sua defesa, Romeu Tuma alega que viajou para trabalhar, e não para se divertir: “Sou uma espécie de padrinho da festa. Não fui por lazer. Foi uma atividade política.” Na verdade, ele funcionou como jurado do festival culinário da “queima do alho” e participou do lançamento de uma grife do campeonato de rodeio. Não ficou claro se também estavam em “atividade política” os “dois ou três assessores” que acompanhavam o senador e que ocuparam quatro suítes do Barretos Country Hotel, cuja diária foi de R$ 1.177,25 por unidade. Barretos não viu nada. Verá mesmo o que é gastança se o senador e sua comitiva retornarem à cidade não para trabalhar, como dessa vez, mas para se esbaldar.

Enquanto isso, afinal nem tudo está perdido, a repórter Leticia Lins conta a história do vereador Rogério Meneses Sobrinho, que acaba de devolver R$ 1 milhão à prefeitura de Caruaru, pois como presidente da Câmara Municipal deu um jeito de extinguir a verba indenizatória, entre outras despesas descabidas. Repentista e tocador de viola, ele explica em versos a providência: “Eu acho que a nossa Câmara/Está no certo caminho./Aqui o dinheiro público/É tratado com carinho./Não se gasta em panetone/ Nem passeio de jatinho.” Ao contrário de Romeu Tuma, que parece nada ter sofrido por gastar de mais, Rogério Meneses pagou por gastar de menos. A extinção da verba indenizatória e outras iniciativas moralizadoras lhe custaram algumas retaliações.

A principal delas foi a mudança no regimento interno para que ele não volte a dirigir a Câmara.

Antes, o mandato de dois anos à frente da Mesa Diretora podia ser renovado por mais dois. Agora não mais. Moral da história: o Senado lucraria mais se trocasse o seu corregedor perdulário pelo violeiro poupador.

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